segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Fracasso do saneamento

http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/8/22/fracasso-do-saneamento
O Estado de S. Paulo - 22/08/2010

Rede de esgotos, fundamental para a saúde e para o desenvolvimento econômico, ainda é um luxo em quase metade das cidades brasileiras. Em menos de meio século, a migração do campo para a cidade mudou radicalmente a distribuição espacial da população. Pelo menos 85% dos brasileiros vivem hoje em cidades. Mais do que nunca precisam de serviços públicos de saneamento. Em 2008, no entanto, só 55,2% dos municípios dispunham de coleta por meio de rede sanitária. A informação é da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico divulgada na sexta-feira pelo IBGE. A melhora foi mínima desde a virada do milênio. Em 2000, a proporção era de 52,2%. O aumento foi de apenas 3 pontos porcentuais, embora o País tenha atravessado uma fase de prosperidade. Nesse período, a receita de impostos e contribuições cresceu rapidamente em todos os níveis de governo.

A média nacional de 55,2%, no entanto, ainda esconde situações dramáticas na maior parte dos Estados e regiões. No Sudeste, em 2008, havia redes coletoras de esgotos em 95,1% dos municípios. Em nenhuma outra região a proporção chegava a 50%. A melhor condição era a do Nordeste, com o serviço em 45,7% dos municípios.

O saneamento continuou precário mesmo nas áreas com redes coletoras. Nessas, 33,5% dos domicílios tinham acesso ao serviço em 2000. Oito anos depois eram 44%. (Mais de metade, só no Sudeste, com a proporção de 69,8%.) Só três unidades da Federação tinham números superiores a 50%: Distrito Federal (86,3%), São Paulo (82,1%) e Minas Gerais (68,9%).

Vários fatores contribuíram para a persistência de condições tão ruins. A Lei do Saneamento Básico só foi aprovada e sancionada em 2007, depois de quase dez anos de discussões. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva só assinou o decreto de regulamentação dessa lei há cerca de dois meses, no dia 21 de junho. Alguns Estados e municípios dispõem há muito tempo de serviços bem estruturados e com boa base técnica. Esses foram menos prejudicados pela demora na tramitação do projeto de lei.

Houve dificuldades, em muitas partes do Brasil, para a conclusão de contratos entre o setor público e possíveis prestadoras de serviços de saneamento. Além disso, muitos governos municipais foram incapazes, por falta de qualificação técnica, de preparar os projetos necessários para o recebimento de recursos federais. Havia dinheiro, mas faltavam condições técnicas e administrativas para a sua aplicação em programas de saneamento.

Esse detalhe foi aparentemente menosprezado quando se elaborou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em 2007. A participação dos governos estaduais e municipais seria essencial para a realização de investimentos importantes, mas não estavam preparados. O problema só foi percebido muito depois. Resultado: apenas 12% das obras de saneamento previstas no PAC foram concluídas até abril deste ano, segundo levantamento publicado na quinta-feira pela organização Contas Abertas, especializada no acompanhamento das finanças e da gestão públicas. Os dados constam de 27 relatórios estaduais do Comitê Gestor do PAC divulgados em junho.

Das 8.509 ações programadas para o período 2007-2010, só 1.058 foram terminadas até abril. Estavam sendo executadas 2.627. As demais 4.824 continuavam em licitação, contratação ou ação preparatória - no papel, portanto.

A Fundação Getúlio Vargas tem realizado pesquisas sobre os problemas de saneamento e suas implicações econômicas e sociais. Segundo estudos citados num desses trabalhos, cada R$ 1 aplicado em saneamento resulta em economias na faixa de R$ 1,50 a R$ 4 em gastos com saúde. Além disso, há uma significativa redução nas faltas à escola e ao trabalho e, portanto, menor desperdício de recursos e de oportunidades. Um trabalhador com acesso à rede de esgotos tem produtividade cerca de 13% maior que a de pessoas sem esse benefício. Tem maior possibilidade, portanto, de ganhar mais e de elevar as condições de vida e as perspectivas de progresso da família. Nesse caso, como no da educação, os efeitos tendem a multiplicar-se e os benefícios vão muito além do indivíduo.


30 milhões de casas sem esgoto

Metade do país na lama
Autor(es): Carolina Khodr
Correio Braziliense - 21/08/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/8/21/30-milhoes-de-casas-sem-esgoto
Breno Fortes/CB/D.A Press
Maria, de Águas Lindas: sem rede de esgoto há mais de uma década

Maria Rodrigues Lima, 56 anos, mora em Águas Lindas de Goiás há 12 anos. Nesse período, o marido já construiu quatro fossas sanitárias diferentes, isso porque na rua onde moram nunca existiu rede de esgoto. Essa é a realidade de cerca de 30 milhões de domicílios por todo o país. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quase metade dos municípios brasileiros (2.495) não tem rede de esgoto. A pesquisa revelou também que apenas 27% das cidades destinam os resíduos sólidos a aterros sanitários. E apesar de 99,4% dos municípios receberem água encanada, cerca de 320 mil pessoas de 33 cidades brasileiras ainda dependem de carros-pipa ou poços particulares.

A pesquisa apresentada pelo IBGE comparou dados de 2000 com aqueles apurados em 2008. Nesse período, a PNSB apontou que a quantidade de municípios com rede de esgoto aumentou apenas três pontos percentuais, passando de 52,2% em 2000 para 55,2% em 2008. Os estados com pior desempenho na cobertura de esgotamento foram Piauí, Maranhão e Pará, onde mais de 90% dos municípios não têm esgoto encanado. Na região de Maria Rodrigues, em Goiás, 71,9% dos municípios também não têm rede de esgoto. “Aqui na rua onde moro ninguém tem esgoto. Há mais de um ano veio um grupo da prefeitura. Eles fizeram umas medidas, mas até agora nada. O pessoal constrói as fossas, mas logo elas enchem e têm de construir outra”, lamenta. Das cidades onde o serviço é oferecido, apenas um terço faz o tratamento dos dejetos. Mais de 1.700 municípios do país despejam esgoto sem nenhum tratamento em rios, lagos e lagoas. “É uma questão de planejamento urbano, de política de gestão pública, buscar adequação do esgoto”, afirma o analista do IBGE Antonio Tadeu Oliveira. Para o especialista, as questões relacionadas à água, ao esgotamento sanitário e ao lixo são os principais desafios revelados pela pesquisa.

Os dados do IBGE indicam que o Brasil ainda não conseguiu atingir as metas de cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs). A ideia era reduzir em 50% a quantidade de pessoas sem acesso à rede de esgoto ou à fossa séptica nas áreas urbanas. Os municípios menores, com menos de 50 mil habitantes, são os mais prejudicados. Segundo a pesquisa, as redes gerais coletoras são mais presentes naqueles de maior população. Todos com mais de 500 mil habitantes têm o serviço e 90% das cidades com população entre 100 mil e 500 mil habitantes também. “A questão do esgoto é mais complicada nessas áreas porque tem que se implantar o sistema em municípios inteiros”, explica o especialista.

Resíduos
Quanto ao fornecimento de água, a solução seria ampliar a rede de abastecimento. Mas também melhorar a qualidade da água disponibilizada, já que 365 municípios recebem água sem nenhum tipo de tratamento e 526 não protegem as fontes de captação. Ou seja, a água que chega à casa dessas pessoas pode estar exposta a diversas formas de contaminação. Menos de um terço dos municípios brasileiros tem leis para proteção de mananciais — minas de água, as nascentes. Outro problema apontado pela pesquisa é o destino dos resíduos sólidos: “A maioria do lixo ainda é destinada a vazadores a céu aberto, conhecidos como lixões”, afirma o pesquisador. No Nordeste é onde isso mais ocorre — 89,3% dos municípios destinam os resíduos a lixões. Em compensação, o número de programas de coleta seletiva de lixo aumentou no país, passando de 451 para 994, nos últimos oito anos.

DILMA RECLAMA
» A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, disse que os números divulgados pelo IBGE sobre saneamento básico ainda não refletem os investimentos que foram feitos pelo governo Lula nos últimos anos. Os números indicam uma realidade de 2008, em que 44% dos domicílios não tinham acesso à rede de esgoto. “Nós começamos as obras do PAC, na área de esgoto, em 2008, porque levamos todo o ano de 2007 selecionando projetos”, justificou.
Longe da meta


Na última terça-feira, o Correio apresentou estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) mostrando que 16 estados do país ainda não conseguiram reduzir em 50% o número de pessoas sem acesso a saneamento básico. De acordo com o compromisso firmado com a Organização das Nações Unidas, o Brasil tem até 2015 para cumprir esse que é um dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. 

NO PAÍS, 34,8 MILHÕES DE PESSOAS VIVEM SEM COLETA DE ESGOTO

BRASIL TEM 34,8 MILHÕES DE PESSOAS QUE VIVEM SEM COLETA DE ESGOTO
Autor(es): GABRIELA MOREIRA, LUCIANA NUNES LEAL e MÁRCIA VIEIRA
O Estado de S. Paulo - 21/08/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/8/21/no-pais-34-8-milhoes-de-pessoas-vivem-sem-coleta-de-esgoto
A expansão da rede de saneamento básico no Brasil não acompanhou o crescimento da população entre 2000 e 2008. A Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, divulgada ontem pelo IBGE, mostra que, em 2008, 34,8 milhões de pessoas, ou 18% da população, viviam em locais sem nenhum tipo de rede coletora de esgoto. Em 2000 eram 34,7 milhões, ou 20,4%. A proporção de domicílios com acesso à rede geral subiu de 33,5% para 44%, alta de 31,3%. O porcentual de municípios com rede coletora passou de 52,2% para 55,2%, um aumento de 194 municípios. Pouco mais de um quarto dos municípios (28,5%) trata o esgoto coletado.
O número de brasileiros que vivem em municípios sem rede coletora de esgoto aumentou no País em oito anos - e o crescimento do serviço, bastante tímido, não acompanhou o avanço populacional no período. Em 2008, a falta de infraestrutura sanitária afetava 34,8 milhões de pessoas (18% da população). Em 2000, eram 34,7 milhões (20,4%) - 100 mil pessoas a menos.

Os dados são da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento mostra também que mais da metade dos domicílios brasileiros (56%) não tem acesso à rede de esgoto - as Regiões Norte e Nordeste são as mais deficientes nesse ponto.

Os números sobre o tratamento do material coletado também são preocupantes: pouco mais de um quarto dos municípios (28%) trata o esgoto coletado. Também foi pequeno o crescimento dos municípios com rede coletora de esgoto: de 52% em 2000 para 55% em 2008. Isso representa um aumento de apenas 194 municípios.

O estudo do IBGE é feito com base em dados fornecidos pelas prefeituras, associações comunitárias e órgãos públicos e privados responsáveis por serviços de saneamento de todos os municípios brasileiros. Portanto, são dados oficiais dos governos.

O retrato do saneamento básico no País pode ser ainda mais preocupante do que revelam esses números. Na metodologia adotada, o IBGE considera que o município tem rede coletora de esgoto quando pelo menos um distrito é atendido. Nem a extensão nem a qualidade da rede estão incluídas nessa conta. Ou seja, mais brasileiros podem estar à margem das estatísticas.

A extensão das mazelas provocadas pela falta de saneamento é grande. A Organização Mundial de Saúde calcula que cada R$ 1 gasto em saneamento gera uma economia de R$ 4 em despesas com saúde. O próprio IBGE reconhece na pesquisa que "o saneamento básico é fundamental em termos de qualidade de vida, pois sua ausência acarreta poluição dos recursos hídricos, trazendo prejuízo à saúde da população, principalmente o aumento da mortalidade infantil".

Desigualdade. Além de ter avançado pouco, o saneamento básico no País é distribuído de maneira desigual entre as regiões e é deficiente especialmente no Nordeste e no Norte. Dos 34,8 milhões de brasileiros que vivem em municípios sem rede coletora, 15,3 milhões (44%) são nordestinos.

O País tem hoje 32,2 milhões de casas sem acesso à rede. Apenas Distrito Federal (86,3%), São Paulo (82,1%) e Minas Gerais (68,9%) têm mais da metade dos domicílios atendida por rede geral de esgoto. Rio de Janeiro, com 49,2%, e Paraná, com 46,3%, ficaram acima da média nacional (44%). Os outros Estados apresentaram menos de 35% de cobertura.

"Uma parcela importante da população ainda não tem acesso a rede de esgoto", analisa Antônio Tadeu de Oliveira, gerente da pesquisa. "Os dados mostram que houve evolução em todos os serviços. Mas o avanço mais tímido foi o esgotamento sanitário. Cresceu pouco. É preciso implantar o sistema nos municípios e fazer com que chegue às residências", sugere.

Para Yves Besse, presidente da Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto, é preciso mais que isso. "Estamos patinando em termos de rede de esgoto", diz. Segundo ele, hoje 90% da rede é administrada pelo poder público. "O setor precisa de políticas para o saneamento", acredita.

GOVERNO LULA NÃO MUDOU A CALAMIDADE NO SANEAMENTO

RETRATO DE SUBDESENVOLVIMENTO
Autor(es): Agencia o Globo/ Rafael Galdo
O Globo - 21/08/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/8/21/governo-lula-nao-mudou-a-calamidade-no-saneamento

Pesquisa do IBGE revela que em 2008, sexto ano do governo Lula, o país ainda enfrentava situação de calamidade no saneamento: nada menos que 32 milhões de domicílios brasileiros (56% do total) ainda não eram atendidos por rede de esgoto, índice de pais subdesenvolvido. Em 2000, quando a pesquisa foi feita pela última vez, havia 36 milhões de domicílios sem esgoto (66%) - o que mostra que a situação pouco mudou. Neste período, os municípios sem rede coletora diminuíram apenas de 2.630 para 2.495 - cinco deles no Estado do Rio. O Ministério das Cidades descumpriu prazo para apresentar um plano de orientação dos investimentos em saneamento. Ele acabou em dezembro de 2008.

Pesquisa do IBGE mostra que, em 2008, 56% dos domicílios não tinham rede de esgoto



Num país que é considerado a oitava maior economia do mundo, 32 milhões de domicílios (56% do total) ainda não eram atendidos por rede geral de esgoto em 2008, sexto ano do governo Lula. Os números, com contornos de calamidade pública, foram revelados na Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB) 2008, divulgada ontem pelo IBGE. De acordo com o levantamento, 2.495 municípios (44,8% do total) ainda eram totalmente descobertos de redes de esgoto dois anos atrás, e seus moradores tinham que recorrer a alternativas como fossas sépticas e rudimentares ou despejar esgoto em valões, rios ou terrenos vazios.



Dos temas investigados pela pesquisa do IBGE, (esgoto, lixo, abastecimento de água e drenagem), o saneamento foi o que apresentou os piores resultados e que avançou menos em relação à pesquisa anterior, em 2000. Em oito anos, só 135 cidades passaram a prestar o serviço. Os municípios sem rede de esgoto diminuíram apenas de 2.630 (em 2000) para 2.495 (em 2008). Neste período, o número de domicílios sem rede de esgoto diminuiu apenas de 36 milhões (66,5% do total) para apenas 32 milhões (56%).



A situação era mais grave nos estados mais pobres, no Norte e no Nordeste, e nas cidades menores, expondo desigualdades regionais. Enquanto 86,3% dos domicílios do Distrito Federal eram atendidos por rede geral de esgoto, em Rondônia o sistema só beneficiava 1,6% das residências. Quase a totalidade (99,8%) dos municípios paulistas prestavam o serviço, mas no Piauí eram só 4,5%, na lanterna do ranking nacional.



Rio: 31 cidades não tratam o esgoto


Mesmo no Sudeste, de onde vieram os melhores resultados, grande parte das cidades enfrentava graves deficiências em saneamento. No Rio, por exemplo, só cinco municípios (Teresópolis, Guapimirim, Mangaratiba, São Francisco do Itabapoana e Japeri) não tinham rede coletora, mas o serviço de saneamento era oferecido a menos da metade (49,2%) dos domicílios fluminenses.



Em Engenheiro Pedreira, distrito de Japeri, município com cerca de 100 mil habitantes na Baixada Fluminense, a doméstica Ana Marcelina Lins, de 61 anos, instalou fossas sépticas no quintal para receber o esgoto. Mas na porta da sua casa corre um valão. O córrego segue até o Rio Guandu, que quilômetros à frente receberá mais de 160 toneladas diárias de produtos químicos, a elevados custos ao estado, para ter suas águas tratadas e abastecer cerca de 9 milhões de pessoas na cidade do Rio e em parte da Região Metropolitana.



- O esgoto de Engenheiro Pedreira vai todo para o Guandu. É bom que o povo do Rio, que consome essa água, saiba disso, e que aqui tentem uma solução - reivindica Ana, enquanto o município diz buscar parcerias com o estado e a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) para obras de saneamento.



Para André Castro, ex-presidente do Instituto Trata Brasil, esse desenvolvimento a passos lentos reflete o subdesenvolvimento que ainda persiste no país:



- O Brasil se orgulha de estar se desenvolvendo e de poder ser, em alguns anos, a quarta ou quinta economia do mundo. Mas não prioriza questões básicas como saneamento. Isso é a prova do nosso subdesenvolvimento. Não adianta dizer que é desenvolvido se não garante condições básicas de vida.



De acordo com a pesquisa, a situação em 2008 era ainda mais grave quando o assunto era o tratamento do esgoto, o que só 28,5% dos municípios, menos de um terço deles, fazia. E mesmo as cidades que o coletavam, muitas despejavam esses efluentes sem qualquer cuidado na natureza, na maioria das vezes em rios. No Rio, por exemplo, 31 municípios com rede de esgoto não o tratavam. Como resultado, rios degradados e obstáculos à recuperação de lagoas e da Baía de Guanabara, com prejuízos não só ao meio ambiente, mas também à saúde e à qualidade de vida de milhares de fluminenses.



O lixo e a água escura da Praia do Catalão, na Ilha do Fundão, são o retrato desse problema, a despeito dos milhões gastos em programas de despoluição da Baía. É nessa praia que o aposentado Genival de Oliveira, de 79 anos, morador da Favela Nova Holanda, passa parte de seus dias há mais de 50 anos, pescando. Mas, se antes voltava para casa com fartura de peixes, hoje o que mais traz do mar no anzol é plástico:



- Chamo de "peixe saco". Às vezes passo o dia aqui, e volto para casa sem peixe. Todos os rios que chegam à Baía estão poluídos.



Na mesma praia, o serralheiro Rui Fernando Bastos, de 63 anos, morador de Bonsucesso, se exercita diariamente na curta faixa de areia que sobrou:



- Bom é quando a maré leva todo o lixo embora e deixa a areia branquinha. Apesar de todo esse lixo, a natureza aqui sobrevive. Ainda espero ver esse lugar livre da poluição. 




Crise consolida Brasil como 8ª economia

Autor(es): Jamil Chade
O Estado de S. Paulo - 20/08/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/8/20/crise-consolida-brasil-como-8a-economia

Com base nos números do 1º trimestre, País superou a Espanha; PIB nominal brasileiro seria de US$ 1,8 tri e o espanhol, US$ 1,5 tri


A crise espanhola permitiu que o Brasil se firmasse na oitava posição entre as maiores economias do mundo. Com base em números oficiais, o jornal econômico espanhol Expansion revelou que o ranking das maiores economias foi bastante modificado com a crise global nos últimos dois anos.

A China ultrapassou o Japão e agora se tornou a segunda maior economia do mundo. Já o Brasil supera a Espanha e é a oitava potência, em termos de Produto Interno Bruto (PIB) nominal. Com base nos números do primeiro semestre, o PIB brasileiro seria de US$ 1,8 trilhão, ante US$ 1,5 trilhão da Espanha. Segundo o jornal, a Espanha chegou a ficar na sétima posição em 2007, quando ainda vivia um boom econômico. Mas, com 20% de desemprego, um déficit colossal e uma economia estagnada, perdeu posições.

Já dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), organizados por Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating (ver gráfico), indicam que a ultrapassagem da Espanha pelo Brasil teria acontecido ainda em 2009. Mas a persistência da crise nos países ricos e a rápida recuperação dos emergentes, como o Brasil, fizeram com que a diferença entre os dois países disparasse em 2010.

Em 2009, segundo os dados do FMI, o Brasil, com PIB de US$ 1,57 trilhão, estava na oitava posição do ranking, mas colado na Espanha, que era a nona colocada com US$ 1,46 trilhão. Já a projeção do Fundo para 2010 joga o PIB brasileiro para US$ 1,91 trilhão, bem acima do US$ 1,56 trilhão previsto para a Espanha.

Dependência. Sem um mercado interno dinâmico por causa do desemprego, a Espanha passou a depender apenas das exportações. Mas, com a Europa em crise, produtos não competitivos e uma queda da demanda nos Estados Unidos, empresas não aguentaram e muitas faliram. No total, foram sete trimestres de encolhimento do PIB, também prejudicado pelo fim da bolha imobiliária que mantinha 25% do crescimento da economia. Agora, a recuperação apenas patina e já se fala em nova queda no fim do ano.

No Brasil, a crise internacional foi compensada pelo mercado doméstico em expansão, crédito e consumo. Pelo ranking do FMI, os Estados Unidos continuam no primeiro lugar, com um PIB nominal projetado para 2010 de US$ 14,8 trilhões, quase o triplo do chinês. A China vem em segundo, com US$ 5,4 trilhões, seguida pelo Japão com US$ 5,3 trilhões.

O primeiro país europeu no ranking é a Alemanha, com US$ 3,3 trilhões, seguido de longe pela França, com US$ 2,7 trilhões, Reino Unido, com US$ 2,2 trilhões e Itália com US$ 2,1 trilhões. O Brasil vem na oitava posição, colocação que já ocupou nos anos 90, com US$ 1,9 trilhão.

Em entrevista ao jornal espanhol, o ex-ministro de Assuntos Exteriores do país, Josep Piqué, apontou que, juntas, as economias latino-americanas já seriam a quarta maior economia do mundo, superando a Alemanha. Para ele "a Europa é o doente da economia mundial".

O ranking do FMI indica que a posição do Brasil variou muito desde meados da década de 90. Em 1995, o Brasil era a sétima maior economia do mundo em PIB nominal, com US$ 769,7 bilhões. As crises cambiais e econômicas da segunda metade dos anos 90, porém, acabaram forçando a desvalorização do real em 1999, que foi acentuada nas turbulências de 2001 a 2003.

A conjunção de moeda desvalorizada e baixo crescimento fizeram o Brasil recuar seis posições no ranking do FMI, caindo em 2003 e 2004 para a 13.ª colocação no ranking global de PIBs. Nesses dois anos, o Brasil ficou atrás de países como Espanha, Canadá, México, Coreia do Sul e Índia.

Pulando degraus. A partir de 2005, porém, com a valorização do real, e de 2006, com a aceleração do ritmo de crescimento, o Brasil recuperou cinco posições, e chegou em 2009 ao nono posto no ranking dos PIBs. Segundo Agostini, da Austin Rating, "vale lembrar que a boa colocação do Brasil obtida nos anos 90 se deveu ao câmbio artificialmente valorizado, que aumentava o PIB em dólares".

Para o economista, hoje a realidade é diferente, pois, mesmo com o câmbio relativamente valorizado, o País está em um nível de abertura comercial e competitividade muito maior que no passado. "Isso são fatores que reforçam a solidez da economia brasileira nos dias de hoje, o que fica demonstrado, até mesmo, pela forma como superou com louvor a crise mundial", acrescenta.

As projeções do FMI indicam, porém, que o Brasil deve se manter na oitava posição pelo menos até 2015, quando o PIB nacional atingirá US$ 2,6 trilhões. Mas haverá uma mudança significativa no ranking, já que o País ultrapassará a Itália e será, por sua vez, ultrapassado pela Rússia, que deve chegar a 2015 com PIB de US$ 3,1 trilhões.

Em 2015, segundo as previsões do FMI, o PIB americano atingirá US$ 18,2 bilhões. Com US$ 9,4 trilhões, o PIB chinês já será um pouco mais do que a metade do americano.


Cenário
ALEX AUGUSTIN ECONOMISTA-CHEFE DA AUSTIN RATING

"Vale lembrar que a boa colocação do Brasil obtida nos anos 90 se deveu ao câmbio artificialmente valorizado, que aumentava o PIB em dólares."

"Isso são fatores (abertura comercial e maior competitividade) que reforçam a solidez da economia brasileira nos dias de hoje, o que fica demonstrado, até mesmo, pela forma como superou com louvor a crise mundial."

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