Autor(es): Gabriel Caprioli | |||||||||||||||
Correio Braziliense - 31/08/2010 | |||||||||||||||
Gasto exagerado do Executivo e aperto monetário promovido pelo BC minam as contas públicas.
As dúvidas dos agentes econômicos em relação à forma como o Comitê de Política Monetária (Copom) devem conduzir a taxa básica da economia (Selic), somadas às incertezas em torno da inflação e da corrida ao Palácio Planalto, continuam levando o mercado financeiro a exigir do governo remunerações maiores para comprar papéis da dívida pública. A fatura está caindo no colo dos brasileiros, que assistiram, atônitos, a conta de juros paga pelo país atingir R$ 108,1 bilhões entre janeiro e julho, valor recorde para o período e 13,66% superior ao computado nos sete primeiros meses de 2009. Diante dos encargos maiores, o governo enterrou de vez a promessa do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de equilibrar as contas públicas, ou seja, chegar ao deficit nominal (1)até 2012. Somente em julho, quando a economia para o pagamento de juros da dívida foi de apenas R$ 2,4 bilhões, faltaram R$ 14,3 bilhões para cobrir a totalidade das despesas com os débitos do governo, de R$ 16,7 bilhões. A tendência desse buraco é de aumentar nos próximos meses, já que o endividamento ainda não captou toda a alta da Selic, iniciada em abril. Quer dizer: mais impostos serão direcionados para cobrir as estripulias fiscais da administração Lula, que gasta sem parar e se endivida sem compromisso com o futuro, inibindo a capacidade de investimentos em saúde, educação e segurança pública. Para Cristiano Souza, economista do Banco Santander, com a disposição de ampliar os gastos, ninguém nunca acreditou na possibilidade de o governo chegar ao deficit nominal zero. Nem em 2010, o primeiro prazo dado por Mantega, nem em 2012, devido aos estragos provocados pela crise mundial, e nem em 2014, agora o novo alvo do ministro. “Nunca imaginamos um deficit nominal zero, porque ele só seria possível se houvesse um corte expressivo nas despesas. E o que estamos vendo é que, mesmo em um ano de arrecadação recorde, os gastos consomem todas as receitas, sobrando pouco o pagamento de os juros”, disse. O custo médio da dívida mobiliária federal, acumulado em 12 meses, passou de 9,42% ao ano em dezembro para 10,50% ao ano em julho, mas também pesam na conta o aumento do estoque dos papéis emitidos, de R$ 1,4 trilhão para R$ 1,6 trilhão, no mesmo período. Na avaliação do economista-chefe da Máxima Asset Management, Elson Teles, mais importante do que reduzir o deficit nominal é garantir a trajetória de queda da dívida em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). “Perseguir a meta de 3,3% (do PIB para o superavit primário) é suficiente para reduzir essa relação”, afirmou. 1 - Descrença geral A gastança desenfreada do governo tem obrigado o Banco Central a forçar a mão na taxa básica de juros. Com isso, a dívida acaba se tornando uma bola de neve. De um lado, ela cresce porque seu custo é elevado. De outro, com a administração Lula gastando mais do que arrecada, o Tesouro Nacional é obrigado a emitir mais títulos para financiar as despesas. Por isso, a descrença generalizada na hipótese de cumprimento da meta de superavit primário de 3,3% do PIB neste ano. PIB cresceu de 0,5% a 1% São Paulo — Na tentativa de criar um contraponto à reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltou a ressaltar ontem que o ritmo de crescimento da economia brasileira desacelerou, não sendo necessário mais um aumento da taxa básica de juros (Selic). Ele ressaltou que o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu entre 0,5% e 1% no segundo semestre do ano contra os 2,7% computados nos três primeiros meses do ano. O dado oficial será divulgado na próxima sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “O PIB do segundo trimestre será muito inferior ao do primeiro, evidentemente”, disse Mantega durante o 7° Fórum de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV). Apesar disso, o ministro garantiu que a taxa de crescimento em relação ao ano anterior deve manter-se entre 6,5% e 7%, acima da média projetada de 5,8% a 6% entre 2011 e 2014. Para o ano que vem, especificamente, a projeção é de alta de 5,5%. “O Brasil está entre os países mais dinâmicos do mundo. E o seu crescimento está sendo puxado, sobretudo, pelos investimentos, ajudando a manter a inflação perto da meta”, ressaltou. Na opinião de Mantega, um dos principais desafios do próximo presidente da República será manter os investimentos em um patamar elevado. Para isso, será preciso que o setor privado participe mais do financiamento de longo prazo. O ministro assegurou que o governo está preparado para incentivar novas fontes de empréstimos ao setor produtivo, reduzindo o peso sobre o BNDES. Segundo ele, será lançada uma agência de garantias a financiamento, de forma a reduzir os riscos de calotes, e haverá mudanças nas regras das debêntures e das Letras Financeiras, títulos usados para irrigar o caixa da indústria e do comércio. Inflação sob controle Em meio às desconfiança do mercado quanto à contaminação política do Banco Central, o Comitê de Política Monetária (Copom) inicia hoje a reunião que definirá a taxa básica de juros (Selic) que vigorará pelos próximos 45 dias. A grande maioria do mercado aposta na interrupção do ciclo de alta iniciado em abril, com os juros ficando em 10,75%. Na opinião de Cristiano Souza, economista do Banco Santander, a possível estabilidade da Selic no atual nível não deve reduzir a pressão do mercado por taxas maiores para financiar a dívida pública. A razão é simples. “Pelas nossas contas, a Selic encerrará o ano em 10,75%, mas deve subir para 13% em 2011. Ou seja, a parada no aperto monetário só teria impacto (nas taxas exigidas pelo mercado para a compra de títulos públicos) se todos os agentes esperassem uma inflação estável para o próximo ano”, disse. De acordo com o boletim Focus divulgado pelo BC ontem, as instituições financeiras reduziram a estimativa da inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano para 5,07%. Foi a segunda queda seguida, mas dificilmente as expectativas dos agentes econômicos vão convergir para o centro da meta definida pelo governo, de 4,5%. Para 2011, as projeções subiram para 4,87%, depois de permanecerem estacionadas por um longo período em 4,80%. Na segunda prévia do mês, o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), usado para corrigir os aluguéis, deu um salto de 0,77%. Com meta de superávit inferior a 3,3%, próximo governo terá mais para gastar
As preocupações com a proposta orçamentáriaDéficit externo do país pode chegar a 10% do PIB em 2015
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terça-feira, 31 de agosto de 2010
Dívida consome R$ 108 bi em juros
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/8/31/divida-consome-r-108-bi-em-juros
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