sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Setor privado confia no aval de Palocci

http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/8/27/setor-privado-confia-no-aval-de-palocci

Brasil
Autor(es): Claudia Safatle
Valor Econômico - 27/08/2010
Banqueiros e empresários atribuem ao ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci o papel de fiador de um eventual governo Dilma Rousseff

Banqueiros e empresários que estiveram com o deputado Antônio Palocci (PT-SP) recentemente atribuem ao ex-ministro da Fazenda o papel de fiador de um eventual governo de Dilma Rousseff. À medida que as pesquisas de intenção de voto reforçam a vantagem de Dilma sobre o candidato do PSDB, José Serra, aumenta também a torcida dos empresários para que a influência de Palocci no novo governo seja, de fato, uma garantia de que não haverá qualquer mudança relevante nos fundamentos da política macroeconômica. E mais: que o deputado, colocado por Lula no comando da campanha eleitoral da candidata do PT, seja o articulador político do governo no Congresso. A ele, nesse modelo, caberiam duas trabalhosas funções: moderar as ambições do aliado PMDB e conter os arroubos do PT.

Os interlocutores do ex-ministro não têm, nesse momento, certeza absoluta de que essa será a verdadeira moldura da nova administração, caso Dilma seja eleita, mas realçam que esses têm sido os sinais que eles vêm recebendo desde meados do primeiro semestre. Mais precisamente, depois que a candidata foi a Nova York, acompanhada do ex-ministro, para participar de uma homenagem ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Na ocasião, ela teve reuniões com investidores e empresários internacionais e reafirmou seu compromisso com a atual política econômica. Desde então, Palocci tem concentrado suas ações em São Paulo e mantido conversas sistemáticas com representantes do setor privado.

Na expectativa dos banqueiros e empresários ouvidos pelo Valor, a suposta nova administração sob o comando de Dilma Rousseff até poderá avançar em algumas das várias reformas abandonadas pelo presidente Lula - como a da previdência social e a tributária - no seu primeiro ano de gestão. Mas se não ousar tão logo tome posse, não terá condições de fazer reformas importantes pelo resto do governo, acreditam.

A iniciativa de maior probabilidade, cita uma das fontes, seria a regulamentação da reforma da previdência do funcionalismo público, aprovada em 2003. Para isso, basta votar um projeto de lei, que não exige quórum qualificado.

No primeiro ano do primeiro mandato, o presidente Lula encaminhou a proposta de emenda constitucional (PEC 41) ao Legislativo para igualar o regime de aposentadoria dos funcionários públicos ao do RGPS, o regime geral dos trabalhadores do setor privado. A emenda foi aprovada, mas a regulamentação da criação do Fundo de Previdência Complementar, premissa para a validade da PEC, nunca saiu.

De lá para cá, o déficit previdenciário com o pagamento de pouco mais de 937 mil aposentados e pensionistas do setor público chegou a R$ 47 bilhões em 2009. O déficit do INSS, de R$ 43 bilhões, refere-se ao pagamento de pouco mais de 27 milhões de trabalhadores da iniciativa privada, urbanos e rurais.

Além de ser uma questão de justiça, os dados da previdência são insustentáveis no tempo. Em 2011, o funcionalismo deverá gerar um déficit de 1,13% do PIB e os assalariados privados, de 1,1% do PIB, prevê o Ministério da Fazenda.

Mesmo sem reformas, mas com uma gestão fiscal mais austera - o que é aguardado para o primeiro ano de governo - e uma melhora na taxa de investimento, nos próximos anos o país poderá crescer entre 4% e 4,5% ao ano.

É bom, mas aquém das possibilidades. Nesse cenário, a hipótese básica é de que o mundo não vai piorar. A China conseguirá, com sua demanda, manter atrativos os preços das principais commodities e Europa e Estados Unidos continuarão com taxas bastante modestas de crescimento.

Para obter um desempenho melhor do que esse, porém, o país vai ter que trabalhar muito e o governo, particularmente, precisará dedicar-se a a uma velha agenda, largada na gaveta, que trata da redução do custo Brasil. Isso envolve desde os ônus causados pela falta de infraestrutura adequada para escoamento da produção ao elevado custo da mão de obra e outras questões microeconômicas. Se até 1994 o Brasil resolveu seus problemas de baixa competitividade com taxa de câmbio depreciada, esse não é um mecanismo replicável.

É necessário arregaçar as mangas para cortar custos de produção, com a diminuição do custo do capital, do peso tributário e das perdas provocadas pela péssima logística, dentre outros. Caso contrário, ressaltam as fontes, o país vai perder ano a ano a oportunidade de crescer mais do que os 4% a 4,5% .

Lula deixa legados importantes. Dentre eles, destacou um banqueiro, o presidente reduziu sobremaneira o risco de ruptura com a chegada do PT ao poder. Os mercados não "precificam", atualmente, nenhum desvio no caminho, caso Dilma seja eleita.

Palocci pode ter papel notável nessa transição - embora nem todos os envolvidos na campanha da candidata compartilhem dessa percepção e ele próprio trate o assunto com extrema cautela. É provável que essa atribuição decorra do desconhecimento sobre como Dilma, já testada no Ministério de Minas e Energia e na Casa Civil, vai se conduzir numa nova e muito mais abrangente função.


O Estado de S. Paulo
29/ago/2010

Manchete: Dirceu tenta barrar Palocci em eventual governo Dilma
Ex-ministro quer evitar que seu rival tenha poder de um “premiê”, com controle da Casa Civil ou da Fazenda.

A 35 dias da eleição, o ex-ministro José Dirceu quer reduzir o poder de Antonio Palocci num eventual governo de Dilma Rousseff (PT), relatam os repórteres Wilson Tosta e Vera Rosa. Após emitir sinais contrários à possível indicação de Palocci para a Casa Civil, Dirceu luta agora para impedir que ele volte a ditar a economia. Se Palocci for para a Casa Civil, o grupo de Dirceu – que quer empurrar o deputado para a Saúde – espera “compensação”. Sob o argumento de que um governo Dilma “não pode ter a cara do ajuste fiscal de Palocci”, aliados do ex-chefe da Casa Civil defendem que Guido Mantega fique na Fazenda em dobradinha com “alguém de esquerda” no Planejamento. (Págs. 1, A4 e Nacional)

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