quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Qual internacionalização?

http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/8/5/qual-internacionalizacao
Autor(es): Glauco Arbix e Luiz Caseiro
Valor Econômico - 05/08/2010

Movimento de internacionalização reforça o protagonismo dos países emergentes no redesenho do mundo dos negócios e da geopolítica internacional
Algumas das principais multinacionais brasileiras - como a Gerdau, Votorantim, Braskem e Marfrig - voltaram a se movimentar agressivamente, após um período de cautela no ano passado. O volume investido pelas empresas brasileiras em aquisições no exterior de janeiro a maio já soma US$ 11,16 bilhões. Esse é um recorde de aquisições realizadas por empresas brasileiras no exterior.
A mais recente onda de internacionalização de empresas de países em desenvolvimento mostra-se tão ou mais agressiva do que a primeira, que projetou no cenário internacional os tigres asiáticos.
O Brasil desponta nesse grupo em clara ruptura com um histórico de orientação para o mercado interno. Pela trajetória recente, o esforço pela internacionalização foi incorporado como estratégia corporativa, ainda que restrita a um universo seleto de empresas. Mais ainda, dados da Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica (Pintec, do IBGE) realçam que as empresas que inovam foram as que mais se internacionalizaram.
Para essas multinacionais, a demanda dos novos mercados exige um esforço contínuo de elevação da qualidade de seus processos, produtos e serviços. Esse padrão superior tende a se reproduzir em sua rede de fornecedores, o que potencializa os impactos positivos no conjunto da economia.
Do ponto de vista da economia política, a consolidação de multinacionais de países emergentes contribui para aumentar seu poder de negociação e barganha e, dessa forma, reposicioná-los na arena internacional. Isso significa que o movimento de internacionalização, além de gerar corporações mais robustas e ágeis, reforça o novo protagonismo dos países emergentes e introduz novos ingredientes no redesenho do mundo dos negócios e da geopolítica internacional.
Por captarem os potenciais benefícios que a internacionalização das empresas pode gerar, governos de muitos países emergentes elaboraram políticas públicas específicas para estimular esse processo, de modo a diminuir riscos e otimizar o impacto da atuação dessas corporações e elevar o padrão de competitividade de suas economias.
Nesse sentido, desde 2004, a China conta com uma política agressiva de estímulo à internacionalização de suas empresas, o Go Global. O EximBank chinês oferece crédito subsidiado para projetos no exterior que atendam ao menos um dentre quatro objetivos: 1) obter recursos naturais escassos no país; 2) propiciar o desenvolvimento tecnológico das firmas; 3) aumentar as exportações; e 4) fortalecer os laços de política externa com países estratégicos. No campo diplomático, assinou acordos de proteção mútua de investimentos com 115 países e com 89 para evitar a bitributação - problema presente no Brasil. Como suporte público, qualquer empresa chinesa pode acessar uma rede online com informações sobre negócios e oportunidades de aquisições no exterior, em especial de empresas de base tecnológica.
Ainda que timidamente, o Brasil também deu passos na mesma direção. Desde 2005, o governo apoia a internacionalização das empresas por meio do BNDES, dos Centros de Negócios da Apex e do Banco do Brasil. Essas iniciativas representam uma inflexão positiva na política industrial brasileira. Porém muito ainda pode ser feito no campo tributário, financeiro, diplomático e na construção de uma rede internacional capaz de captar tendências e difundir informações sobre oportunidades para empresas brasileiras no exterior.
Como a busca pela elevação do patamar tecnológico e de inovação das empresas brasileiras é chave para o país, é essencial que o investimento público entre em sintonia com as prioridades da política industrial e tecnológica - seja da Política de Desenvolvimento Produtivo, seja do Plano Nacional de Ciência e Tecnologia. Isso porque, quanto mais a construção de multinacionais brasileiras estiver limitada aos setores pouco intensivos em conhecimento, menor será o potencial de impacto positivo em outros ramos da economia.
Claro que a atuação do setor público não se fará ao arrepio do setor privado. Como o Brasil amadureceu, construiu instituições e uma economia diversificada, o dirigismo estatal dos anos 50 e 60 é tão impossível quanto indesejável. Mas nem por isso a atuação do Estado deixou de ser essencial, principalmente pelo seu poder de articulação dos agentes econômicos em torno de novas estratégias para o país.
As políticas industriais que tiveram êxito na promoção de transformações relevantes em diversos países emergentes primaram pelo foco na construção de novas competências, de absorção e geração de tecnologia e na elevação da competitividade da economia. Foi assim na experiência japonesa e na coreana.
A título de ilustração, a chinesa Geely, até recentemente uma fabricante de geladeiras, contou com apoio do governo para comprar neste ano a montadora Volvo (controlada pela Ford) por US$ 1,8 bilhão, valor correspondente a cerca de 40% dos desembolsos do BNDES para a internacionalização dos frigoríficos JBS Friboi e Bertin.
A crise econômica mundial, que derrubou o valor de mercado de muitas empresas europeias e americanas, gera oportunidades para os países emergentes adquirirem empresas com densidade tecnológica, encurtando as rotas de sua capacitação e desenvolvimento.
Às empresas brasileiras não faltam músculos nem dinamismo. É fundamental que seu apetite empreendedor entre em sintonia com esforço do país para elevar o padrão de tecnologia, produtividade e de competitividade da nossa economia. A atuação clara das instituições de Estado nessa direção é urgente.


Governo fortaleceu as estatais com mais capital

Brasil
Autor(es): Ribamar Oliveira
Valor Econômico - 05/08/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/8/5/governo-fortaleceu-as-estatais-com-mais-capital
 
De 2003 a 2009, o Tesouro Nacional utilizou R$ 68,3 bilhões, em valores correntes, para capitalizar empresas estatais, segundo dados do Balanço Geral da União (BGU). Só nos últimos dois anos, os recursos do Tesouro para aumento de capital atingiram R$ 45,9 bilhões, sendo R$ 13,8 bilhões em 2009. Os números mostram que a estratégia utilizada pelo governo Lula não foi a de criar estatais em outras áreas da economia, mas a de fortalecer as empresas já existentes. Nos dois mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quatro novas empresas foram criadas. No mesmo período, a União também ampliou a participação minoritária em outras empresas.

De acordo com os dados do BGU, ao fim de 2002 o Tesouro Nacional tinha participação acionária majoritária em 52 empresas - sendo 32 sociedades de economia mista e 20 empresas públicas - e participação minoritária em outras 49, sendo 28 empresas de telecomunicações. Ao final de 2009, a participação majoritária tinha caído para 45 empresas (23 sociedades de economia mista e 22 empresas públicas) e a participação minoritária tinha crescido para 76, das quais 9 do setor de telecomunicações.

Os dados do BGU se referem apenas à participação direta do Tesouro nas empresas, não incluindo a participação acionária de entidades da administração indireta. A administração indireta é composta pelas autarquias, fundações públicas, empresas públicas e sociedades de economia mista. Por isso, o número de estatais é diferente daquele definido pelo Departamento de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (Dest), do Ministério do Planejamento, que trabalha com um universo de 114 empresas. O Dest elenca, por exemplo, todas as empresas do Grupo Petrobras e do grupo Eletrobras, enquanto que os dados do BGU referem-se à participação direta do Tesouro na Petrobras e na Eletrobras.

Em seus dois mandatos, o presidente Lula criou quatro novas estatais, sendo uma delas a empresa binacional Alcântara Cyclone Space, em parceria com o governo da Ucrânia, a partir de um tratado de cooperação de longo prazo para a utilização do do veículo de lançamentos Cyclone-4. As outras três foram a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), com a finalidade de prestar serviços na área de estudos e pesquisas para subsidiar o planejamento do setor energético; a empresa Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada S.A (Ceitec), com a finalidade de explorar diretamente atividade econômica no âmbito das tecnologias de semicondutores, microeletrônica e áreas correlatas; e a Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás), com o objetivo de garantir aos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) o fornecimento de medicamentos hemoderivados ou produzidos por biotecnologia. O governo Lula criou também a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), mas em substituição à antiga Radiobrás.

O número de empresas com participação direta do Tesouro caiu, durante o governo Lula, em virtude, principalmente, de programas que já estavam em andamento desde o governo Fernando Henrique Cardoso, como é o caso do programa para reestruturação dos bancos estaduais, que teve o objetivo de reduzir a atuação dessas instituições no mercado bancário, através da privatização ou liquidação desses bancos. Durante o governo Lula, desapareceram o Banco do Estado do Ceará (BEC), o Banco do Estado do Piauí (BEP), o Banco do Estado do Maranhão (BEM), o Banco do Estado de Santa Catarina (Besc) e o Banco Catarinense para Crédito e Investimento (Bescri). O BEP, o Besc e o Bescri foram incorporados pelo Banco do Brasil. A Rede Ferroviária Federal (RFFSA) foi finalmente liquidada, depois de um longo processo que também teve início no governo anterior. Ou seja, o governo não iniciou qualquer processo de privatização.

No processo de fortalecimento das estatais já existentes, os dados do BGU mostram que o governo concentrou os recursos para aumento de capital em seis empresas, principalmente: Petrobras, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Banco do Brasil , Caixa Econômica Federal (CEF), Eletrobras e Valec-Engenharia, Construções e Ferrovias. A Petrobras foi a principal beneficiada, pois apenas em 2008 recebeu um aporte de R$ 26,3 bilhões, sob a forma de incorporação de reservas. Em 2007, a Petrobras já tinha obtido outros R$ 4,4 bilhões, também por incorporação de reservas.

A capitalização do BNDES tem sido uma preocupação constante do governo Lula. Em 2009, o Tesouro fez uma capitalização com ações no banco, no valor de R$ 4,4 bilhões. Fez ainda, no mesmo ano, outro aumento de capital no valor de R$ 2 bilhões, por conta de lucros acumulados de 2007. Em 2006, o banco tinha recebido R$ 903,3 milhões sob a forma de adiantamento para futuro aumento de capital (afac). Em 2005, o aumento de capital do Tesouro Nacional no banco foi de R$ 1,6 bilhão.

O elevado aporte de capital do Tesouro nas instituições financeiras federais parece ter refletido a importância dada pelo governo Lula à atuação dos bancos públicos, e que foi fortalecida durante a crise financeira de 2008/2009. Nos últimos três anos, o Tesouro destinou R$ 6,6 bilhões para aumento de capital do Banco do Brasil, segundo o BGU. No caso da CEF, os aportes do Tesouro para aumento de capital atingiram R$ 2,7 bilhões também nos últimos três anos.

É bom lembrar que os recursos para aumento de capital foram seguidos por empréstimos vultuosos, no caso do BNDES e da CEF. Só no ano passado, o BNDES recebeu R$ 180 bilhões em condições favorecidas, ou seja, a um custo para o Tesouro que ainda não foi estimado.

Embora não tenha criado nova estatal em área da economia onde deixou de atuar ou onde antes não atuava, com exceção da Ceitec, o governo Lula promoveu uma capitalização, em 2009, da antiga Telebrás, no montante de R$ 200 milhões, sob a forma de adiantamento para futuro aumento de capital. A nova versão da Telebrás será responsável pela administração e fornecimento da infraestrutura para a exploração do serviço de banda larga.

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