segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A igualdade não é uma bala de prata

http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/8/30/a-igualdade-nao-e-uma-bala-de-prata
Autor(es): José Graziano da Silva
Valor Econômico - 30/08/2010
Um governo comprometido com a justiça social garante, ao menos, um ponto de partida igual para todos
Diferente da esfera política - onde a democracia requer, de saída, a equivalência consagrada no binômio a cada cidadão um voto - na esfera econômica o pleito da igualdade dissolve-se em utopia se não for materializado em metas de avanços progressivos. Não existe bala de prata nesse caminho.
O rumo de um governo comprometido com a justiça social consiste em perseguir, permanentemente, o ideal republicano de garantir, ao menos, um ponto de partida igual para todos. No entanto, a igualdade não pode ser tomada como um fetiche de boa sociedade. Comunidades mais pobres e primitivas se mostravam menos desiguais que as modernas economias do nosso tempo. É discutível, porém, que aquele padrão de vida fosse preferível ao atual. O legado da história nos deixa uma opção: avançar e corrigir.
No Brasil, o desafio hoje é assegurar às pessoas mais pobres direitos e acessos que permitam ascender a um padrão de vida mais digno. Ainda que isso esteja distante da "igualdade absoluta", diferentes pesquisas são unânimes em mostrar a importância dos ganhos obtidos nesse percurso até agora.
Em países em desenvolvimento como o Brasil é imperativo crescer para poder gerar empregos; e os empregos formais representam hoje a primeira aproximação indispensável de um Estado de Bem-Estar Social. Mais de 13 milhões brasileiros ingressaram no mercado de trabalho formal entre 2003 e 2010, um aumento de quase 50% segundo levantamentos da Caged/Ministério do Trabalho.
Reverter a engrenagem da exclusão acentuada nos anos 80 e 90 é outro requisito incontornável. Dados da PNAD constatam forte redução da pobreza. A proporção de brasileiros com renda mensal per capita inferior a meio salário mínimo caiu de 43% da população em 2003 para 29% em 2008. Em números absolutos, mais de 24 milhões de pessoas superaram a pobreza no período.
A classe media também aumentou. De 43% da população em 2003 passou a 54% em 2009, de acordo com a FGV. A desnutrição infantil em crianças menores de cinco anos foi reduzida de 13% para 5%, entre 2003 e 2008, segundo o Ministério da Saúde.
O primeiro Objetivo de Desenvolvimento do Milênio, de reduzir à metade a fome e a pobreza extrema até 2015, já foi alcançado e consagrou algumas ferramentas de política social enfeixadas no guarda-chuva do Fome Zero. Voltadas para a promoção da segurança alimentar, incluem ações que vão do Bolsa Família à agricultura familiar e que se tornaram uma referência para iniciativas semelhantes em diversos países em desenvolvimento.
Essas são evidencias de uma estratégia bem sucedida de reconciliação do crescimento com justiça social, o que, como sabemos, não decorre de automatismos de mercado, exigindo políticas de Estado para vingar.
O Brasil cresceu em média 3,6% desde 2003 (apesar do resultado negativo de 0,2% em 2009, decorrente da crise internacional). Ao contrário dos ciclos anteriores de expansão, desta vez a "divisão do bolo" ocorreu simultaneamente aos avanços do PIB. Podemos dizer que finalmente experimentamos o gosto de um ciclo de forte crescimento econômico com desenvolvimento social. E parece que os brasileiros gostaram dessa mistura, a julgar pelo grande respaldo da opinião pública ao Governo e a figura do presidente da República ainda que em final de mandato.
No entanto, nem tudo são flores. Em seu relatório regional, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) destaca a contribuição de programas de transferência condicionada de renda ao combate à pobreza e à fome, mas também nota que a desigualdade continua muito alta no Brasil, assim como em toda a América Latina e Caribe, considerada a região mais desigual do planeta.
A elevada desigualdade brasileira decorre da má distribuição dos ativos que permitem gerar rendas, especialmente capital e terra. Se quisermos diminuir o fosso que hoje separa os ricos dos pobres e promover uma distribuição mais justa da renda temos que mudar as condições de acesso e usufruto a esses ativos.
O Brasil tem progredido no equacionamento da questão agrária, de modo especial no apoio à agricultura familiar. Também tem obtido sucesso em melhorar o acesso dos filhos dos mais pobres à educação e saúde, o que se espera possa ter um impacto futuro na distribuição da renda (infelizmente só na próxima geração).
Mas há que se reconhecer que ainda é preciso avançar muito no principal instrumento que permitirá uma melhoria imediata sobre a distribuição dos fluxos de renda: uma reforma tributária que aumente a progressividade dos tributos e reforce laços de solidariedade tratando de forma desigual aos desiguais.
Hoje fazemos o inverso: abstraindo os sonegadores, todos brasileiros pagam os mesmos impostos sobre bens de consumo e isso penaliza os mais pobres. Cálculos do professor Amir Khair, um dos maiores especialistas na matéria, mostram que quem ganha até dois salários mínimos no Brasil paga 49% em tributos e os que ganham acima de 30 apenas 26%.
A isenção de impostos sobre produtos da cesta básica e a redução do IPI para materiais de construção e outros bens de consumo popular - decisões tomadas pelo governo Lula no auge da crise mundial e que podem ser emuladas no ICMS dos estados - sinalizam um caminho a ser institucionalizado. Como observa Khair em artigo recente, "a desoneração gera aumento do poder aquisitivo, com elevação do consumo reprimido de outros produtos, compensando a perda aparente de arrecadação".
Khair também chama a atenção para a necessidade de elevar alíquota do imposto sobre heranças, tributada com alíquota de 4%, inferior ao cobrado internacionalmente, que pode superar em alguns países a 50%. O imposto sobre herança é outro debate a ser retomado se quisermos agir sobre as estruturas que reproduzem a desigualdade e permitir que as novas gerações nasçam num berço menos desigual.
E não vamos nos esquecer que o Brasil não tem imposto equivalente ao IPTU para a propriedade rural, permitindo que os grandes detentores de patrimônios rurais, em alguns casos formados por milhares de hectares, continuem sem pagar impostos.
Deter a concentração de terra e promover o acesso mais equilibrado a ativos, não apenas terra, mas também infraestrutura, financiamento e capacitação técnica, é outro degrau básico de aproximação do Estado de Bem Estar Social.
Também falta um conjunto de leis que regule a relação entre a agroindústria e os fornecedores, como já existe nos países desenvolvidos, para garantir a participação de autônomos e agricultores familiares nas cadeias produtivas.
Ações como essas ajudam a consolidar, como aconteceu com a inclusão do direito à alimentação na Constituição, os avanços conquistados nos últimos anos para evitar retrocessos. Esses são os desafios do novo ciclo, para que o Brasil continue avançando no rumo de uma sociedade mais igualitária.

Tesouro espera receita extra com dividendos de estatais este ano

Tesouro já espera receita extra com dividendos de estatais este ano
Valor Econômico - 30/08/2010
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A receita com dividendos em 2010 está acima do projetado pelo Tesouro. Uma nova estimativa será apresentada em setembro e será maior que os R$ 16,1 bilhões calculados inicialmente, mas inferior ao recorde de R$ 26,7 bilhões apurado no ano passado. Entre janeiro e julho, a arrecadação com dividendos pagos pelas empresas estatais atingiu R$ 9,968 bilhões, valor praticamente estável se comparado aos R$ 10,421 registrados em igual período de 2009 em consequência dos balanços lucrativos de 2008.
O desempenho acima do estimado para este ano é consequência da recuperação das finanças das estatais, após os efeitos mais agudos da crise global, e de uma contribuição maior do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) depois do aporte de R$ 208 bilhões feitos pelo Tesouro ao banco.
Diante dos R$ 9,968 bilhões apurados até julho, o secretário do Tesouro, Arno Augustin, informou que apresentará uma estimativa maior e mais compatível com a boa performance das empresas públicas. "As estatais estão bem. Estamos enxergando como muito positivo os resultados dos balanços", comentou o secretário. O recebimento dos recursos é concentrado nas transferências feitas por Petrobras, Banco do Brasil, BNDES, Caixa Econômica Federal e sistema Eletrobras.
A receita com dividendos decorrentes de participação acionária da União no capital de empresas públicas mais que dobrou em proporção ao Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos oito anos. A arrecadação passou de R$ 3,8 bilhões em 2003, 0,23% do PIB, para R$ 26,7 bilhões em 2009, 0,85% do PIB. Essa firme expansão chama a atenção dos parlamentares que veem os dividendos como uma oportunidade de reestimar para cima as receitas do Orçamento de 2011 que o governo está prestes a enviar ao Congresso.
A avaliação dos deputados e senadores é que o Tesouro tem sido excessivamente conservador nas projeções anuais e que o nível das informações enviadas ao Poder Legislativo sobre as estatais federais são insuficientes. Querem, portanto, que o Tesouro envie ao Congresso a receita discriminada por empresa na qual a União possui participação acionária.
Dispositivo estabelecendo essa obrigatoriedade foi inserido no projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2011. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou, neste mês, esse mecanismo, juntamente com vetos feitos a outras mudanças propostas pelo Legislativo. "A divulgação prévia das estimativas de lucro de cada empresa pode acarretar impactos indesejáveis no mercado acionário", justificou o presidente Lula.
O Congresso não concorda com essa posição e negocia a derrubada do veto. "A receita com dividendos é uma das que têm apresentado maior nível de crescimento nos últimos cinco anos. Sua participação em relação ao PIB praticamente dobrou. Porém, a capacidade das áreas técnicas do Poder Legislativo para avaliar e referendar as projeções dessa receita é inexistente, dada a precariedade das informações fornecidas pelo Poder Executivo sobre o cálculo utilizado", contra-argumentaram os congressistas por meio de nota técnica conjunta da Consultoria de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara e da Consultoria de Orçamento, Fiscalização e Controle do Senado. A dificuldade será reunir o quorum necessário para a derrubada do veto, que requer 298 votos.


Como digerir a inflação de alimentos?

Valor Econômico - 30/08/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/8/30/como-digerir-inflacao-de-alimentos 
Um choque de inflação de alimentos é sempre indigesto - mas digeri-lo rapidamente é mais saudável do que deixá-lo fermentar por muito tempo

O preço do trigo disparou no mercado internacional recentemente, na esteira de uma grave seca que prejudicou a safra na Rússia. O peso dos derivados diretos do trigo nos índices de inflação ao consumidor não é particularmente grande. Mas o receio é que pressões iniciais acabem se disseminando e contaminando outros preços. Enquanto isso, o crescimento da economia global patina. Parece inevitável que os bancos centrais dos países avançados continuem inundando os mercados com taxas de juros excepcionalmente baixas ainda por um bom tempo. E essa liquidez global abundante tende a empurrar para cima os preços internacionais de commodities, incluindo grãos. O que acontece se tivermos um choque global de aumento de preço de alimentos?

Um choque de alimentos é particularmente indigesto para a inflação em países emergentes, incluindo o Brasil e seus pares na América Latina. Em primeiro lugar, o peso relativo de alimentos na cesta de consumo tende a diminuir na medida em que a renda cresce. A participação de alimentos nos índices de preços de economias desenvolvidas normalmente fica na faixa de 10% a 20%. Mas, para países emergentes, tipicamente mais pobres, essa participação chega a atingir a faixa de 30% a 50%. A média da América Latina é de 24%, indo desde 19% no Chile até impressionantes 48% no Peru. No Brasil, o peso de alimentos na cesta de consumo do IPCA é 21%.

Em segundo lugar, preços de alimentos tendem a oscilar bastante, às vezes de forma dramática. Em toda a América Latina, a volatilidade da inflação de alimentos é bem maior que a inflação geral. Essa volatilidade é relativamente menor no México, mas grande no Chile - o Brasil fica no meio do caminho. Levando em conta o efeito combinado de volatilidade e peso no índice de inflação, um exercício estatístico simples sugere que a inflação de alimentos explica cerca de 70% da inflação na América Latina. No Brasil essa conta atinge quase 50%, mas ultrapassa 90% na Colômbia e no Peru.

O que acontece com a inflação se houver um choque de preço de alimentos? Assumindo um choque equivalente a um desvio padrão (ou seja: significativo, mas nada dramático), a inflação cheia na América Latina subiria cerca de um ponto percentual. O impacto é maior no Peru (1.6%) e menor no México (0.6%). Em todos os casos na região, a inflação cheia subiria acima da meta de inflação.

Claro que essa conta simples apenas considera o impacto aritmético direto de um salto discreto no preço dos alimentos. Efeitos secundários podem gerar uma dinâmica em que o choque inicial pode contaminar outros preços na economia, com efeitos indesejados sobre as expectativas de inflação em geral. Afinal, a inflação de alimentos é particularmente visível, dada a alta frequência com que esses bens são adquiridos e consumidos.

Como o Banco Central responderia a um choque de inflação de alimentos? A resposta, em parte, depende de como o choque é visto, se é como temporário ou permanente. A reação do BC também depende da situação da economia no ciclo econômico. Em uma economia aquecida, a probabilidade é maior que um choque inicial acabe contaminando outros preços e as expectativas. Considerando medidas de aquecimento da economia, e também levando em conta indicações recentes dos bancos centrais na América Latina, a impressão é que países como Chile e Peru provavelmente responderiam de forma mais agressiva a um choque de alimentos hoje. Por outro lado, países como México e Colômbia hoje parecem menos inclinados a puxar o gatilho do aumento de juros cedo demais.

E o Brasil? Aqui a história parece um pouco mais complexa. No Brasil - tudo o mais constante - o choque de alimentos estimado faria a inflação do IPCA subir de 4.6% para 5.6%, acima da meta central de 4.5%, aproximando-se do teto de tolerância de 6.5%. Várias medidas recentes sugerem pouca folga na utilização de recursos - seja na taxa de desemprego perto do piso da série histórica, seja nos patamares elevados de utilização de capacidade instalada na indústria. Normalmente, em tais circunstâncias, seria razoável esperar pronta resposta do Banco Central, no caso de um choque que seja suficientemente ameaçador para a dinâmica de expectativas de inflação. Entretanto, sinalizações recentes têm favorecido a interpretação - correta ou não - de que o Banco Central hoje parece mais inclinado a aceitar riscos no campo da inflação do que antes. Obviamente, o risco de uma reação inicial percebida como menos decisiva é o de que ela pode vir a exigir uma resposta mais contundente mais tarde, se as expectativas de inflação começarem a divergir significativamente das metas. Um eventual choque de inflação de alimentos é sempre indigesto - mas digeri-lo rapidamente parece mais saudável do que deixá-lo fermentar por muito tempo.


Brazilian agriculture

The miracle of the cerrado

Brazil has revolutionised its own farms. Can it do the same for others?

IN A remote corner of Bahia state, in north-eastern Brazil, a vast new farm is springing out of the dry bush. Thirty years ago eucalyptus and pine were planted in this part of the cerrado (Brazil’s savannah). Native shrubs later reclaimed some of it. Now every field tells the story of a transformation. Some have been cut to a litter of tree stumps and scrub; on others, charcoal-makers have moved in to reduce the rootballs to fuel; next, other fields have been levelled and prepared with lime and fertiliser; and some have already been turned into white oceans of cotton. Next season this farm at Jatobá will plant and harvest cotton, soyabeans and maize on 24,000 hectares, 200 times the size of an average farm in Iowa. It will transform a poverty-stricken part of Brazil’s backlands.
Three hundred miles north, in the state of Piauí, the transformation is already complete. Three years ago the Cremaq farm was a failed experiment in growing cashews. Its barns were falling down and the scrub was reasserting its grip. Now the farm—which, like Jatobá, is owned by BrasilAgro, a company that buys and modernises neglected fields—uses radio transmitters to keep track of the weather; runs SAP software; employs 300 people under a gaúcho from southern Brazil; has 200km (124 miles) of new roads criss-crossing the fields; and, at harvest time, resounds to the thunder of lorries which, day and night, carry maize and soya to distant ports. That all this is happening in Piauí—the Timbuktu of Brazil, a remote, somewhat lawless area where the nearest health clinic is half a day’s journey away and most people live off state welfare payments—is nothing short of miraculous.
These two farms on the frontier of Brazilian farming are microcosms of a national change with global implications. In less than 30 years Brazil has turned itself from a food importer into one of the world’s great breadbaskets (see chart 1). It is the first country to have caught up with the traditional “big five” grain exporters (America, Canada, Australia, Argentina and the European Union). It is also the first tropical food-giant; the big five are all temperate producers.
The increase in Brazil’s farm production has been stunning. Between 1996 and 2006 the total value of the country’s crops rose from 23 billion reais ($23 billion) to 108 billion reais, or 365%. Brazil increased its beef exports tenfold in a decade, overtaking Australia as the world’s largest exporter. It has the world’s largest cattle herd after India’s. It is also the world’s largest exporter of poultry, sugar cane and ethanol (see chart 2). Since 1990 its soyabean output has risen from barely 15m tonnes to over 60m. Brazil accounts for about a third of world soyabean exports, second only to America. In 1994 Brazil’s soyabean exports were one-seventh of America’s; now they are six-sevenths. Moreover, Brazil supplies a quarter of the world’s soyabean trade on just 6% of the country’s arable land.
No less astonishingly, Brazil has done all this without much government subsidy. According to the Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD), state support accounted for 5.7% of total farm income in Brazil during 2005-07. That compares with 12% in America, 26% for the OECD average and 29% in the European Union. And Brazil has done it without deforesting the Amazon (though that has happened for other reasons). The great expansion of farmland has taken place 1,000km from the jungle.
How did the country manage this astonishing transformation? The answer to that matters not only to Brazil but also to the rest of the world.

An attractive Brazilian model
Between now and 2050 the world’s population will rise from 7 billion to 9 billion. Its income is likely to rise by more than that and the total urban population will roughly double, changing diets as well as overall demand because city dwellers tend to eat more meat. The UN’s Food and Agriculture Organisation (FAO) reckons grain output will have to rise by around half but meat output will have to double by 2050. This will be hard to achieve because, in the past decade, the growth in agricultural yields has stalled and water has become a greater constraint. By one estimate, only 40% of the increase in world grain output now comes from rises in yields and 60% comes from taking more land under cultivation. In the 1960s just a quarter came from more land and three-quarters came from higher yields.
So if you were asked to describe the sort of food producer that will matter most in the next 40 years, you would probably say something like this: one that has boosted output a lot and looks capable of continuing to do so; one with land and water in reserve; one able to sustain a large cattle herd (it does not necessarily have to be efficient, but capable of improvement); one that is productive without massive state subsidies; and maybe one with lots of savannah, since the biggest single agricultural failure in the world during past decades has been tropical Africa, and anything that might help Africans grow more food would be especially valuable. In other words, you would describe Brazil.
Brazil has more spare farmland than any other country (see chart 3). The FAO puts its total potential arable land at over 400m hectares; only 50m is being used. Brazilian official figures put the available land somewhat lower, at 300m hectares. Either way, it is a vast amount. On the FAO’s figures, Brazil has as much spare farmland as the next two countries together (Russia and America). It is often accused of levelling the rainforest to create its farms, but hardly any of this new land lies in Amazonia; most is cerrado.
Brazil also has more water. According to the UN’s World Water Assessment Report of 2009, Brazil has more than 8,000 billion cubic kilometres of renewable water each year, easily more than any other country. Brazil alone (population: 190m) has as much renewable water as the whole of Asia (population: 4 billion). And again, this is not mainly because of the Amazon. Piauí is one of the country’s driest areas but still gets a third more water than America’s corn belt.
Of course, having spare water and spare land is not much good if they are in different places (a problem in much of Africa). But according to BrasilAgro, Brazil has almost as much farmland with more than 975 millimetres of rain each year as the whole of Africa and more than a quarter of all such land in the world.
Since 1996 Brazilian farmers have increased the amount of land under cultivation by a third, mostly in the cerrado. That is quite different from other big farm producers, whose amount of land under the plough has either been flat or (in Europe) falling. And it has increased production by ten times that amount. But the availability of farmland is in fact only a secondary reason for the extraordinary growth in Brazilian agriculture. If you want the primary reason in three words, they are Embrapa, Embrapa, Embrapa.

More food without deforestation
Embrapa is short for Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, or the Brazilian Agricultural Research Corporation. It is a public company set up in 1973, in an unusual fit of farsightedness by the country’s then ruling generals. At the time the quadrupling of oil prices was making Brazil’s high levels of agricultural subsidy unaffordable. Mauro Lopes, who supervised the subsidy regime, says he urged the government to give $20 to Embrapa for every $50 it saved by cutting subsidies. It didn’t, but Embrapa did receive enough money to turn itself into the world’s leading tropical-research institution. It does everything from breeding new seeds and cattle, to creating ultra-thin edible wrapping paper for foodstuffs that changes colour when the food goes off, to running a nanotechnology laboratory creating biodegradable ultra-strong fabrics and wound dressings. Its main achievement, however, has been to turn the cerrado green.
When Embrapa started, the cerrado was regarded as unfit for farming. Norman Borlaug, an American plant scientist often called the father of the Green Revolution, told the New York Times that “nobody thought these soils were ever going to be productive.” They seemed too acidic and too poor in nutrients. Embrapa did four things to change that.
First, it poured industrial quantities of lime (pulverised limestone or chalk) onto the soil to reduce levels of acidity. In the late 1990s, 14m-16m tonnes of lime were being spread on Brazilian fields each year, rising to 25m tonnes in 2003 and 2004. This amounts to roughly five tonnes of lime a hectare, sometimes more. At the 20,000-hectare Cremaq farm, 5,000 hulking 30-tonne lorries have disgorged their contents on the fields in the past three years. Embrapa scientists also bred varieties of rhizobium, a bacterium that helps fix nitrogen in legumes and which works especially well in the soil of the cerrado, reducing the need for fertilisers.
So although it is true Brazil has a lot of spare farmland, it did not just have it hanging around, waiting to be ploughed. Embrapa had to create the land, in a sense, or make it fit for farming. Today the cerrado accounts for 70% of Brazil’s farm output and has become the new Midwest. “We changed the paradigm,” says Silvio Crestana, a former head of Embrapa, proudly.
Second, Embrapa went to Africa and brought back a grass called brachiaria. Patient crossbreeding created a variety, called braquiarinha in Brazil, which produced 20-25 tonnes of grass feed per hectare, many times what the native cerrado grass produces and three times the yield in Africa. That meant parts of the cerrado could be turned into pasture, making possible the enormous expansion of Brazil’s beef herd. Thirty years ago it took Brazil four years to raise a bull for slaughter. Now the average time is 18-20 months.
That is not the end of the story. Embrapa has recently begun experiments with genetically modifying brachiaria to produce a larger-leafed variety called braquiarãowhich promises even bigger increases in forage. This alone will not transform the livestock sector, which remains rather inefficient. Around one-third of improvement to livestock production comes from better breeding of the animals; one-third comes from improved resistance to disease; and only one-third from better feed. But it will clearly help.
Third, and most important, Embrapa turned soyabeans into a tropical crop. Soyabeans are native to north-east Asia (Japan, the Korean peninsular and north-east China). They are a temperate-climate crop, sensitive to temperature changes and requiring four distinct seasons. All other big soyabean producers (notably America and Argentina) have temperate climates. Brazil itself still grows soya in its temperate southern states. But by old-fashioned crossbreeding, Embrapa worked out how to make it also grow in a tropical climate, on the rolling plains of Mato Grosso state and in Goiás on the baking cerrado. More recently, Brazil has also been importing genetically modified soya seeds and is now the world’s second-largest user of GM after the United States. This year Embrapa won approval for its first GM seed.
Embrapa also created varieties of soya that are more tolerant than usual of acid soils (even after the vast application of lime, the cerrado is still somewhat acidic). And it speeded up the plants’ growing period, cutting between eight and 12 weeks off the usual life cycle. These “short cycle” plants have made it possible to grow two crops a year, revolutionising the operation of farms. Farmers used to plant their main crop in September and reap in May or June. Now they can harvest in February instead, leaving enough time for a full second crop before the September planting. This means the “second” crop (once small) has become as large as the first, accounting for a lot of the increases in yields.
Such improvements are continuing. The Cremaq farm could hardly have existed until recently because soya would not grow on this hottest, most acidic of Brazilian backlands. The variety of soya now being planted there did not exist five years ago. Dr Crestana calls this “the genetic transformation of soya”.
Lastly, Embrapa has pioneered and encouraged new operational farm techniques. Brazilian farmers pioneered “no-till” agriculture, in which the soil is not ploughed nor the crop harvested at ground level. Rather, it is cut high on the stalk and the remains of the plant are left to rot into a mat of organic material. Next year’s crop is then planted directly into the mat, retaining more nutrients in the soil. In 1990 Brazilian farmers used no-till farming for 2.6% of their grains; today it is over 50%.
Embrapa’s latest trick is something called forest, agriculture and livestock integration: the fields are used alternately for crops and livestock but threads of trees are also planted in between the fields, where cattle can forage. This, it turns out, is the best means yet devised for rescuing degraded pasture lands. Having spent years increasing production and acreage, Embrapa is now turning to ways of increasing the intensity of land use and of rotating crops and livestock so as to feed more people without cutting down the forest.
Farmers everywhere gripe all the time and Brazilians, needless to say, are no exception. Their biggest complaint concerns transport. The fields of Mato Grosso are 2,000km from the main soyabean port at Paranaguá, which cannot take the largest, most modern ships. So Brazil transports a relatively low-value commodity using the most expensive means, lorries, which are then forced to wait for ages because the docks are clogged.
Partly for that reason, Brazil is not the cheapest place in the world to grow soyabeans (Argentina is, followed by the American Midwest). But it is the cheapest place to plant the next acre. Expanding production in Argentina or America takes you into drier marginal lands which are much more expensive to farm. Expanding in Brazil, in contrast, takes you onto lands pretty much like the ones you just left.

Big is beautiful
Like almost every large farming country, Brazil is divided between productive giant operations and inefficient hobby farms. According to Mauro and Ignez Lopes of the Fundacão Getulio Vargas, a university in Rio de Janeiro, half the country’s 5m farms earn less than 10,000 reais a year and produce just 7% of total farm output; 1.6m are large commercial operations which produce 76% of output. Not all family farms are a drain on the economy: much of the poultry production is concentrated among them and they mop up a lot of rural underemployment. But the large farms are vastly more productive.
From the point of view of the rest of the world, however, these faults in Brazilian agriculture do not matter much. The bigger question for them is: can the miracle of thecerrado be exported, especially to Africa, where the good intentions of outsiders have so often shrivelled and died?
There are several reasons to think it can. Brazilian land is like Africa’s: tropical and nutrient-poor. The big difference is that the cerrado gets a decent amount of rain and most of Africa’s savannah does not (the exception is the swathe of southern Africa between Angola and Mozambique).
Brazil imported some of its raw material from other tropical countries in the first place.Brachiaria grass came from Africa. The zebu that formed the basis of Brazil’s nelorecattle herd came from India. In both cases Embrapa’s know-how improved them dramatically. Could they be taken back and improved again? Embrapa has started to do that, though it is early days and so far it is unclear whether the technology retransfer will work.
A third reason for hope is that Embrapa has expertise which others in Africa simply do not have. It has research stations for cassava and sorghum, which are African staples. It also has experience not just in the cerrado but in more arid regions (called thesertão), in jungles and in the vast wetlands on the border with Paraguay and Bolivia. Africa also needs to make better use of similar lands. “Scientifically, it is not difficult to transfer the technology,” reckons Dr Crestana. And the technology transfer is happening at a time when African economies are starting to grow and massive Chinese aid is starting to improve the continent’s famously dire transport system.
Still, a word of caution is in order. Brazil’s agricultural miracle did not happen through a simple technological fix. No magic bullet accounts for it—not even the tropical soyabean, which comes closest. Rather, Embrapa’s was a “system approach”, as its scientists call it: all the interventions worked together. Improving the soil and the new tropical soyabeans were both needed for farming the cerrado; the two together also made possible the changes in farm techniques which have boosted yields further.
Systems are much harder to export than a simple fix. “We went to the US and brought back the whole package [of cutting-edge agriculture in the 1970s],” says Dr Crestana. “That didn’t work and it took us 30 years to create our own. Perhaps Africans will come to Brazil and take back the package from us. Africa is changing. Perhaps it won’t take them so long. We’ll see.” If we see anything like what happened in Brazil itself, feeding the world in 2050 will not look like the uphill struggle it appears to be now.


O Brasil deles é melhor

Autor(es): Carlos Alberto Sardenberg
O Estado de S. Paulo - 30/08/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/8/30/o-brasil-deles-e-melhor

A agricultura brasileira, incluindo a criação de gado, sofre dois tipos de crítica por aqui: 1) destrói o meio ambiente, especialmente a Amazônia; e 2) por seu caráter capitalista-global, concentra renda, não emprega nem garante comida para os brasileiros.

A exportação de alimentos, em especial, é vista não como uma virtude, mas como um tipo de atraso econômico. Neste ponto de vista, o País não poderia ou não deveria ocupar no mundo o papel de "mero" exportador de comida e de matérias-primas (commodities) como o minério de ferro.

Tratados no exterior, esses temas viram de ponta-cabeça. Na edição desta semana, a revista The Economist não mede palavras. Em editorial e reportagem, observa que a agricultura brasileira é um milagre e sugere que outros países adotem o mesmo modelo para "alimentar" o mundo.

Ou seja, o caráter exportador de alimentos aparece como uma virtude global, especialmente neste momento em que, diz a revista, prolifera mundo afora um "agropessimismo" - a sensação de que não há como, a humanidade não consegue se alimentar a não ser destruindo o planeta. O Brasil, diz a respeitada publicação, seria a alternativa: como produzir sem destruir.

Ter comida para exportar é, pois, um fator extremamente positivo neste ambiente global. O Brasil poderia alimentar o mundo pelas próximas décadas.

O mesmo tema, com abordagem parecida, surgiu durante um debate promovido na semana passada pelo HSBC brasileiro. O banco trouxe seus principais executivos da Ásia e um representante do governo chinês para debater as perspectivas de negócios Brasil-China, nas duas direções. Todos os participantes trataram de uma "complementaridade": a China desesperadamente em busca de recursos naturais e o Brasil com abundância desses recursos.

Obviamente, a questão seguinte do debate estava posta: mas é essa a posição brasileira esperada, de fornecedor de alimentos e minério de ferro e importador de manufaturados e máquinas?

O representante do governo chinês Chen Lin, diretor do Ministério do Comércio, não entendeu. Mas qual problema existe aí? - foi sua primeira reação.

Explicados os contornos do tema, respondeu com franqueza. O ponto principal: recursos naturais estão escassos, especialmente para um país de 1,35 bilhão de habitantes que desejam produzir e enriquecer. Ter esses recursos é uma vantagem estratégica espetacular no mundo de hoje. E a prova disso, acrescentou, é que os preços dos produtos exportados pelo Brasil subiram extraordinariamente nos últimos anos. (Lembram-se dos reajustes de até 100% que a Vale conseguiu para seu minério de maior qualidade, o de Carajás?) E os produtos industrializados chineses, ao contrário, tiveram quedas de preços.

Executivos do HSBC da Ásia, Anita Fung e Che-Ning Liu observaram ainda que o Brasil simplesmente deveria aproveitar a bonança, os preços elevados de alimentos e commodities, em boa parte puxados pela voracidade da China. É um bônus do momento, notou Che-Ning Liu. E se o País acha melhor para o futuro produzir máquinas e tecnologias, o.k., exporte commodities hoje e junte os recursos para desenvolver novos setores.

Pagamos mais caro. Sobre o artigo da semana passada, Pagamos mais caro. E agora?, recebi esta colaboração do professor Carlos Pio, da Universidade de Brasília:

"1) A excessiva proteção comercial do Mercosul foi uma imposição brasileira aos parceiros menores e tradicionalmente mais liberais. Ela é a maior responsável pelas diferenças de preços de produtos globais. No Peru, por exemplo, um Honda Civic custa US$ 20 mil, enquanto custa o dobro aqui.

2) Os formuladores de políticas de desenvolvimento e os políticos professam uma crença enganosa de que a proteção comercial gera empregos no Brasil... Ora, a proteção encarece o produto produzido localmente (pela falta de concorrência, falta de liberdade para importar tecnologia e insumos), que acaba sendo vendido quase que exclusivamente aqui mesmo (salvo quando o empresário leva um subsídio à exportação). Pois bem, os consumidores locais (família e empresas) têm de comprar mais caro o que existe disponível na economia internacional por preço muito mais em conta e, com isso, perdem bem-estar (as famílias) e competitividade internacional (as empresas). A acumulação de capital sai prejudicada. No conjunto, empobrecemos.

As empresas de aluguel de veículos têm de optar entre adquirir carros baratos e de má qualidade e os carros "nacionais" de luxo mais caros do que no resto do mundo. Com a impossibilidade de importar, elas oferecem a seus clientes carros ruins e caros a preços internacionais e empregam menos pessoas do que poderiam se os carros tivessem preços competitivos e elas pudessem ter uma frota mais ampla em todo o território nacional. O resultado é que o emprego gerado nas cidades onde se instalam as montadoras é compensado pelo desemprego de potenciais trabalhadores de empresas que deixam de adquirir automóveis em quantidade maior e que se espalham por todo o território nacional.

O burocrata acaba decidindo onde haverá demanda por emprego e por qual tipo de emprego, mas não é capaz de determinar um aumento geral do nível de emprego do País por meio da proteção comercial à indústria.

3) Câmbio flutuante e metas de inflação em nível internacional eliminam a possibilidade de crise cambial em decorrência da decisão de unilateralmente abrir a economia nacional às importações. Quanto mais se importar, mais o real se desvalorizará automaticamente, encarecendo as importações. Da mesma forma, se nenhum outro país comprar produtos e serviços de empresas brasileiras, não entram dólares aqui e o real fica muito barato, barateando os preços do que se exporta daqui e encarecendo os produtos estrangeiros. Que não há crise cambial em economias abertas ao comércio e com regime de câmbio flutuante e inflação baixa é um fato que poucos brasileiros reconhecem."

Após San Antonio e Imbra, desafio agora é Leitbom

O Estado de S. Paulo - 30/08/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/8/30/apos-san-antonio-e-imbra-desafio-agora-e-leitbom

A San Antonio não é o único investimento enroscado da GP. Há mais de um ano, os sócios da administradora de recursos vêm gastando boa parte do tempo renegociando dívidas com credores e tentando encontrar soluções para outras três empresas: Magnesita, Imbra e Leitbom. Embora tenha concluído um fundo de US$ 1,1 bilhão no começo do ano, o último investimento realizado pela GP foi a Imbra, em outubro de 2008.

Em junho deste ano, apenas 20 meses após ter comprado o controle da Imbra por US$ 140 milhões, a GP tomou a decisão radical de se desfazer da rede de consultórios odontológicos pelo valor simbólico de US$ 1. Além disso, ainda concedeu um empréstimo de longo prazo de R$ 20 milhões para a Imbra e se comprometeu a emprestar mais R$ 20 milhões.

No ano passado, a gestora enfrentou problemas com outro investimento, a Magnesita, maior fabricante de refratários do País. Mas, em agosto de 2009, a GP encontrou uma solução para o problema. O BNDESPar fez um aumento de capital de R$ 350 milhões na companhia. Quase todo dinheiro foi usado para liquidar parte da dívida com o banco americano JPMorgan. Segundo a GP, o negócio agora está sob controle. No relatório de resultados do segundo trimestre deste ano, o investimento estava avaliado em US$ 105 milhões, valor muito semelhante à participação da GP no momento da aquisição.

Falta, agora, resolver a vida da Leitbom. Em abril de 2008, no auge da consolidação do setor de lácteos no País, a GP pagou US$ 308 milhões pelo laticínio goiano, um valor já considerado alto pelo mercado. Na ocasião, o objetivo do fundo era criar uma grande empresa no setor. No mês passado, a GP concluiu a transação com a Laep anunciada em março deste ano. O acordo permitia a Leitbom usar as marcas Gloria e Ibituruna, além da Parmalat.

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