quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Presença do Brasil no mundo cf. Pochmann

http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/8/26/presenca-do-brasil-no-mundo
Autor(es): Márcio Pochmann
Valor Econômico - 26/08/2010
Política externa mostra que o Brasil não aceita mais ser liderado e quer contribuir para uma nova fase do desenvolvimento mundial

A política externa dos últimos anos indica o quanto o Brasil não mais aceita ser liderado, desejando cada vez mais contribuir para uma nova fase do desenvolvimento mundial. Atualmente, por exemplo, o país, juntamente com Índia e China, tornou-se um dos principais responsáveis pelo movimento de recuperação econômica mundial, o que não se observava desde a Depressão de 1929.

Diante dos sinais de relativa decadência dos Estados Unidos, abre-se um novo cenário para o desenvolvimento multipolar, assim como ocorreu durante a longa depressão de 1873 a 1896, quando a antiga hegemonia inglesa começou a ceder lugar frente à relativa ascensão econômica da Alemanha e dos Estados Unidos, entre outros países. Somente com o encerramento das duas grandes guerras mundiais do século XX , o mundo capitalista se hierarquizou centrado nos Estados Unidos, uma vez que o bloco das economias centralmente planejadas orbitou em torno da União Soviética.

O fim da guerra fria, na sequência do desmoronamento das experiências de socialismo real, representado pela queda do muro de Berlim ao final da década de 1980, concedeu aos Estados Unidos uma condição de potência unipolar do mundo. Isso, porém, parece ter apresentado limites, conforme indicam as consequências atuais da crise global geradas pela queda figurada do muro de Wall Street, em 2008. Ademais dos Estados Unidos e da União Europeia, aparecem em perspectiva dois novos centros regionais na Ásia e no sul do continente americano.

Para que o Brasil possa perseguir a trajetória da liderança conjunta de um novo desenvolvimento suprarregional, torna-se indispensável considerar três aspectos fundamentais. O primeiro encontra-se centrado na necessária geração de moeda supranacional, com capacidade de viabilizar as três funções clássicas da moeda (unidade de conta, troca e valor) para além do espaço nacional. Dessa forma, podem ser fincadas as novas bases de um padrão monetário e de financiamento do desenvolvimento sul-americano.

O segundo aspecto vincula-se ao destravamento do sistema de produção e difusão tecnológica. Isso já vem ocorrendo em algumas áreas importantíssimas como energia (etanol) e agropecuária, entre outras, mas precisa avançar mais rápida e amplamente para outros setores estratégicos que permitam elevar o valor agregado em distintas cadeias de produção. Por fim, o desencadeamento do complexo produtivo e tecnológico para o sistema de defesa nacional, uma vez que diante de tantas riquezas - nem todas ainda plenamente conhecidas - segue o país desprotegido internamente nas enormes dimensões fronteiriças.

Tudo isso, é claro, não ocorrerá espontânea e naturalmente. Torna-se fundamental o comando por parte de uma maioria política democrática e capaz de colocar em movimento o verdadeiro potencial brasileiro. O sistema de planejamento estratégico nacional precisa ser recuperado democraticamente em novas bases, necessárias para afiançar o desenrolar dos investimentos públicos e privados de médio e longo prazo para além da infraestrutura econômica e social.

Entre 1960 e 1980, por exemplo, o Brasil multiplicou por 1,7 a sua presença na economia mundial, passando de 1,45% para 2,42% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. De lá para cá, a participação econômica do Brasil no PIB do mundo decaiu 12,4%, pois atingiu, em 2008, 2,14% do PIB mundial. Na comparação com o ano de 2003 (1,99%), que registrou a pior situação experimentada pelo país desde 1980, a participação do Brasil cresceu 7,5% na relação com a economia mundial. Mesmo assim, ainda está abaixo da participação verificada em 1980.

Ao fortalecer o setor produtivo, sem desconsiderar a sustentabilidade ambiental e social, o Brasil passa a assumir uma posição estratégica ainda maior no cenário internacional. Mas isso não ocorre tranquilamente, tendo em vista a existência de distintos interesses organizados que se articulam em torno da volta da financeirização da riqueza e da defesa da produção e do emprego, bem como da herança colonial que muitas vezes continua ativa e aprisionadora do pensamento liberal-conservador.

A libertação das mentes para o novo é mais do que a ousadia de quem constata que o conjunto de oportunidades que bate à porta dos brasileiros representa a concretização do ideário que nasceu contido na Independência nacional em 1822 e ganhou os ares abolicionistas do final do século XIX, logo interrompidos pela regressão do agrarismo da República Velha.

Marcio Pochmann é presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), professor licenciado do Instituto de Economia e do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Escreve mensalmente às quintas-feiras.


Déficit externo cresce, mas ainda está sob controle

Valor Econômico - 26/08/2010
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O déficit externo tem se deteriorado gradativamente, mas ainda está longe de ter o poder de detonar uma crise no balanço de pagamentos, como ocorreu no passado. O aumento do déficit em transações correntes está sendo impulsionado basicamente pela derrubada dos grandes saldos comerciais. A aquecida demanda doméstica, também estimulada pelo aumento dos gastos públicos, tem feito com que a velocidade do aumento das importações, em torno de 45% no primeiro semestre, seja o dobro do avanço das exportações. Com isso, estima-se que o saldo comercial possa encolher para US$ 13 bilhões em 2010, ou US$ 12,3 bilhões a menos que o resultado do ano passado.
Fatores externos colaboram adicionalmente para a piora das transações correntes. Os investimentos externos diretos diminuíram expressivamente pela difícil situação econômica em que se encontram grandes investidores como EUA, Espanha, Reino Unido, França e outros. Nos sete primeiros meses do ano, o IED líquido atingiu US$ 14,7 bilhões, um ritmo que tornará difícil a consecução da projeção de US$ 38 bilhões feita pelo Banco Central. Esses números podem mudar repentinamente, porém, desde que saia ainda este ano a gigantesca capitalização da Petrobras.
Por outro lado, o robusto crescimento da economia brasileira ocorre em ambiente de grande liquidez externa, alta aversão a risco e forte instabilidade. Nessas condições, empresas brasileiras têm conseguido empréstimos, o que aumentou US$ 7,5 bilhões a dívida de curto prazo (inferior a um ano) em , elevando-a para US$ 49,6 bilhões. O endividamento de longo prazo subiu US$ 2,7 bilhões, para US$ 185,7 bilhões.
O aumento da dívida de curto prazo, porém, se dá com juros baixos, o que tem propiciado a troca de dívidas antigas de médio e longo prazos por novas a custo muito menor. A taxa de rolagem do setor privado para desembolsos e amortizações subiu para 253%, enquanto a de bônus, notas e commercial papers foi de 416% e a dos empréstimos diretos, de 75% em julho. É certo que o mercado para a dívida corporativa e soberana sofreu e continuará sofrendo solavancos típicos de um cenário instável. À medida que se firma a perspectiva de crescimento bastante modesto das economias desenvolvidas por um período razoável de tempo, as condições dos investimentos externos diretos e de empréstimos e financiamentos para o Brasil poderão melhorar ainda mais.
A crise financeira global atuou, por outro lado, como uma verdadeira bomba de sucção de lucros e dividendos obtidos por companhias estrangeiras no país. Até julho foram remetidos US$ 16,7 bilhões e a previsão é de que a conta feche o ano com remessas de US$ 32 bilhões, US$ 7 bilhões acima dos US$ 25,2 bilhões do ano passado. Cerca de um quinto das remessas concentram-se no setor automotivo, em que os bons resultados de uma aquecida demanda por carros no mercado doméstico tem ajudado a financiar especialmente as grandes montadoras americanas em dificuldades.
Os principais indicadores de endividamento externo ainda mostram uma situação confortável. A relação entre o serviço da dívida e as exportações, que chegou a 41,2% em 2006, chegou em junho a 27,2%, inferior aos 29,4% do ano passado. A relação entre pagamentos de juros e vendas externas foi em junho passado de 7,7%, a menor em cinco anos. O quociente entre dívida total e exportações está estabilizada em torno de 1,3 desde 2006. E o Brasil continua sendo um credor líquido em dólares em US$ 39,5 bilhões em julho, embora esse número já tenha chegado a mais de US$ 60 bilhões em passado recente.
Os fatores negativos de um déficit externo crescente são claros. Há maior dependência de capitais de curto prazo e de investimentos que podem sair do país rapidamente, como as aplicações em ações e títulos de renda fixa, ultimamente uma das prediletas do capital externo. Em períodos de incertezas, o movimento desses capitais provoca grandes e nocivas oscilações na taxa de câmbio, que hoje não assustam muito graças aos US$ 260 bilhões acumulados em reservas internacionais. O problema no curto prazo é que a deterioração das contas externas não se traduziu até agora em desvalorização do real, o seu corretivo automático. A melhoria das exportações é vital e poderia colocar o déficit externo no seu devido lugar.



Curtas - Brasil

Valor Econômico - 26/08/2010
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Falta de engenheiros
A falta de engenheiros qualificados preocupa o setor industrial. O déficit anual já está perto de 30 mil profissionais, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Segundo estimativa da CNI, até 2012, haverá ao menos 150 mil vagas não preenchidas por profissionais devidamente capacitados. Ou seja, parte destes postos poderão ser destinados a pessoas com outras formações acadêmicas.
Desemprego recua
A taxa de desemprego no país ficou em 12,4% em julho, ante 12,7% no mês anterior, segundo pesquisa da Fundação Seade e do Dieese. O índice em São Paulo caiu de 12,9% para 12,6%. Em Belo Horizonte, o desemprego passou de 8,5% para 8,3%. Em Porto Alegre a taxa caiu de 9,5% para 8,9%. Das sete regiões metropolitanas pesquisas, houve aumento somente em Salvador, de 16,7% para 16,9%
Ocupação maior
O nível de ocupação, na média nacional, teve alta de 0,3% em julho, na comparação com o mês anterior, segundo dados do Seade e Dieese. O total de ocupados em sete regiões metropolitanas foi estimado em 19,3 milhões de pessoas, para uma população economicamente ativa de 22 milhões. O nível de ocupação subiu em setores como construção civil, indústria e serviços.
Renda cresce
Em junho, o rendimento médio real dos ocupados no país cresceu 0,5% em relação a maio, chegando a R$ 1.265. Já o dos assalariados ficou em R$ 1.319, apresentando leve redução de 0,2%. No mesmo período, o rendimento médio dos ocupados aumentou em Belo Horizonte, em 1,7%. No Nordeste, Fortaleza e Recife tiveram alta de 3% e 4,1%. Em Porto Alegre o crescimento foi menor, de 0,9%.
Avanço dos serviços
O setor de serviços ganhou mais espaço em 2008, na comparação com 2007. No período, o avanço foi de 10,3%, enquanto a massa salarial subiu 14,6%. O Brasil tinha, em 2008, 879,7 mil empresas do setor de serviços não financeiros. Essas companhias pagaram naquele ano R$ 128,1 bilhões em salários para os seus 9,2 milhões de empregados. Os dados são da pesquisa anual do IBGE.
Mais receita líquida
A receita operacional líquida do setor de serviços, em 2008, já deduzidos os impostos, descontos e vendas canceladas, atingiu R$ 680,1 bilhões. Em relação a 2007, essa receita teve crescimento real de 13,1%. A maior geração de receita ficou por conta dos serviços de informação e comunicação, com R$ 203,5 bilhões faturados em 2008, representando 29,9% do total obtido pelo setor de serviços.

Um nanoinvestimento

Autor(es): Carolina Vicentin
Correio Braziliense - 27/08/2010
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Do valor repassado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia a centros de pesquisa e universidades, apenas 5% foram investidos em projetos de materiais em minúsculas dimensões, que são, teoricamente, prioridade do governo


 
Monique Renne/CB/D.A Press
O professor Sebastião, da UnB: “A nossa dificuldade é que tudo é muito caro. E os aparelhos demoram a chegar e as pesquisas atrasam”
 
O Brasil está deixando de lado as pesquisas em nanotecnologia, consideradas estratégicas para o desenvolvimento científico nacional. Levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgado ontem mostra que, de 2000 a 2007, o governo federal investiu R$ 195,3 milhões em projetos relacionados a nanopartículas. O valor corresponde a apenas 5,02% do total repassado a universidades e centros de pesquisa por meio dos fundos setoriais do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).

“Isso é muito pouco em oito anos. A nanotecnologia é prioridade para o próprio governo, mas, até agora, não se criou nenhum fundo setorial específico para ela”, critica Samuel César Júnior, autor da pesquisa do Ipea. Os fundos setoriais são a principal fonte de financiamento das pesquisas da área, que dependem da aquisição de equipamentos caros. Nos Estados Unidos, o investimento em nanotecnologia para o ano que vem será 16 vezes maior do que o gasto pelos brasileiros desde 2000.

Samuel lembra que nenhum país tem o domínio completo da área e, por isso, esta é a hora de apostar no desenvolvimento de novas técnicas de controle de materiais em pequenas dimensões (leia Para saber mais). Nos últimos dois anos analisados pelo Ipea, contudo, houve queda no repasse de verbas para projetos relacionados à nanotecnologia — de R$ 61,5 milhões em 2006 para R$ 46,8 milhões em 2007.

Câncer
O MCT reconhece que não há dinheiro suficiente para lançar muitos editais com foco no estudo de nanopartículas. “Esse é um assunto transversal, podemos encontrá-lo na medicina, na engenharia, na química. Por isso, tentamos favorecer uma área de cada vez”, explica o coordenador de nanotecnologia da pasta, Mário Baibich. Outro problema enfrentado pelos cientistas brasileiros é a burocracia na entrega das máquinas compradas com ajuda dos fundos setoriais.

O professor Sebastião William da Silva, do Instituto de Física da Universidade de Brasília (UnB), aguarda a chegada de dois equipamentos adquiridos em projetos enviados ao MCT. “A nossa dificuldade é que tudo é muito caro. Nós conseguimos aprovar grandes repasses, mas os aparelhos demoram a chegar e as pesquisas atrasam”, conta. Sebastião estuda nanopartículas magnéticas para aplicação na medicina. No futuro, estudos como o do professor da UnB poderão gerar substâncias mais eficazes para o tratamento do câncer, uma vez que as nanopartículas serão levadas para o exato lugar onde devem agir no organismo.

Em outra frente, pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas analisam alternativas ao uso do silício na fabricação de computadores. Ainda na parte teórica, o estudo coordenado pelo professor Hidemberg Frota sugere que o grafeno — considerado o metal mais fino do mundo — pode ser a nova matéria-prima da indústria de eletrônicos. O estado de Hidemberg é um dos que menos recebeu repasses para pesquisas nano: 0,3% do total investido em oito anos pelo MCT. “O nosso principal problema é a falta de professores da área experimental que elaborem projetos. Fizemos três concursos, mas nenhum candidato apareceu. Os pesquisadores do Sul e do Sudeste não querem se deslocar para Manaus”, diz.
Isso (o valor) é muito pouco em oito anos. Até agora, não se criou nenhum fundo setorial específico para ela”
Samuel César Júnior, autor da pesquisa do Ipea
Conquistas milimétricas

Filtro solar
A Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em parceria com a farmacêutica Biolab, criou um bloqueador solar mais resistente. Graças à nanoencapsulação de filtros químicos orgânicos, o produto é mais eficiente contra os raios ultravioleta

Secador de cabelos
Além de arrumar o visual, o eletrodoméstico desenvolvido pela empresa Nanox e por cientistas das universidades Estadual Paulista (Unesp) e Federal de São Carlos (UFSCar) limpa o ar. Nanopartículas de dióxido de titânio são expelidas e eliminam fungos e bactérias do ambiente.

Computadores
Professores da Universidade Federal do Amazonas estudam modelos teóricos a nível nano do grafeno, metal que pode substituir o silício na fabricação de máquinas eletrônicas.

Remédios
Na UnB, pesquisadores analisam o comportamento de nanopartículas magnéticas para aplicação na medicina. A ideia é que essas substâncias possam melhorar a ação de medicamentos, direcionando o local onde eles devem agir e minimizando os efeitos colaterais.


Para saber mais
Uma ciência grandiosa

A nanotecnologia é a ciência que busca controlar materiais em escala nanométrica, ou seja, de tamanho mil vezes menor que 1 milímetro. Para se ter uma ideia, é como dividir a cabeça de um alfinete em um milhão de partes para tentar descobrir como essa amostra se comporta.

Isso é importante porque os materiais têm propriedades alteradas quando estão em tamanho reduzido. A primeira vez que pesquisadores perceberam esse potencial foi em 1988. Naquele ano, os físicos Albert Fert, da França, e Peter Grünberg, da Alemanha, descobriram que estruturas metálicas em dimensões mínimas ficavam 50% mais resistentes.

Se isso parece muito abstrato, imagine que, graças a essa pesquisa, diversos dispositivos computacionais ficaram menores e com capacidade de armazenamento cada vez maior. Hoje, o estudo já está incorporado a diversas áreas do conhecimento. Além de deixar materiais mais resistentes, é possível fazer com que eles cumpram funções específicas, determinadas pelos cientistas em laboratório.


Importação de máquinas
A exemplo do que já foi feito recentemente pelo setor de eletroeletrônicos, a indústria de bens de capital mecânicos vai pedir ao governo um aumento para 35% da alíquota de importação de máquinas e equipamentos com similares nacionais. A proposta - a ser entregue na próxima semana ao Ministério da Fazenda - corresponde a uma "medida emergencial" diante da perda de competitividade dos fabricantes nacionais com a valorização do câmbio, informou a Abimaq. "Se o Brasil não fizer algo emergencial, colocaremos em risco o futuro desse país", afirmou o presidente da entidade, Luiz Aubert Neto, após citar que as importações de máquinas e equipamentos em julho - de US$ 2,253 bilhões - foram as mais altas da série histórica de 70 anos.


Um grande paradoxo brasileiro

Autor(es): Agencia o Globo/ Roberto Lent
O Globo - 27/08/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/8/27/um-grande-paradoxo-brasileiro


É patente para todos os obser vadores independentes que o Brasil conseguiu infletir fortemente para cima, nos últimos anos, a modesta curva de crescimento da Ciência e Tecnologia que caracterizou o século passado.

No entanto, não foi isso que ocorreu na Educação, área em que os indicadores estão estagnados ou sofreram modesta ascensão.

Esse grande paradoxo é simbolizado por dois indicadores internacionais: nosso país ocupa hoje o 13 lugar na produção de artigos científicos em todo o mundo, mas é o último no desempenho em Ciências de jovens de 15 anos.

O paradoxo é tão grave que pode pôr em risco a sustentabilidade do nosso crescimento científico.

Como mantê-lo sem multiplicar o número de cientistas? E como multiplicá-los em uma população de jovens que não compreende minimamente os temas científicos? Como manter e o aporte financeiro à Ciência e Tecnologia no futuro, se a sociedade não compreender o valor que a Ciência tem para o seu bem-estar e o seu progresso? Em qualquer atividade gestora, é preciso priorizar e adotar medidas estruturantes e potencializadoras.

Duas delas me parecem essenciais neste caso: a dedicação exclusiva do professor de ensino básico à sua escola, e o turno único para os alunos.

Como conseguir essa façanha? Primeiro, precisamos estar convencidos de que são esses os dois eixos fundamentais porque repousam no fator humano, e não em laptops, salas de aula, livros e outros elementos materiais, importantíssimos, mas comparativamente fáceis de conseguir.

A façanha é exequível em uma década por que então não eleger esta que começa como a Década da Educação e da Ciência? A dedicação exclusiva do professor à sua escola não depende apenas de legislação: depende de salário. E, por razões financeiras, não há como garantir um salário competitivo por meio dos municípios brasileiros, convençamo-nos disso! A proposta então é que o governo federal assuma essa tarefa: federalização da categoria dos professores do ensino básico, com o objetivo de elevar o seu salário aos níveis de um professor assistente das universidades públicas.

O turno único para os alunos, por outro lado, depende da duplicação da capacidade física da rede escolar em todo o país, combinando o aumento do número de escolas com a ampliação das existentes.

É razoável supor que a federalização dos salários desoneraria as finanças municipais em grande medida, e permitiria que os 20% previstos em lei fossem destinados à ampliação física da rede escolar.

Se esses dois eixos estruturantes forem adotados pelos nossos candidatos à Presidência da República, e aceitos pela sociedade, será fácil eleger o período 2011-2020 como a Década da Educação e da Ciência, e inaugurar um ciclo ideológico forte para a mobilização social, com um Esforço Nacional pela Educação e a Ciência.

A esses dois eixos se somariam todos os pequenos e valiosos programas e iniciativas que muitas instituições e pessoas realizam pelo Brasil afora com financiamento público e privado, tais como atividades de aprimoramento curricular, acesso à internet nas escolas, divulgação científica, bolsas para projetos docentes, e a infinidade de propostas que, cada dia mais, afloram à superfície.

Estamos em um momento histórico virtuoso, e precisamos mantê-lo.

Essa década é nossa: a década da Educação e da Ciência. E a obrigação é de todos nós: um esforço nacional pela Educação e a Ciência.
ROBERTO LENT é diretor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro.



Consórcio de universidades

O Estado de S. Paulo - 26/08/2010
Os processos de fusão e incorporação, que são comuns no universo empresarial, estão chegando à administração pública indireta. Numa iniciativa inédita, sete universidades federais de médio porte situadas na região sudeste de Minas Gerais anunciaram a decisão de se integrar administrativa e academicamente, formando um consórcio com o objetivo de otimizar recursos humanos e financeiros, obter sinergias e potencializar o que há de bom em cada uma. Com isso, essas instituições esperam melhorar sua posição nos rankings oficiais de avaliação e ampliar a capacidade de captação de recursos junto às agências nacionais e internacionais de fomento para financiar pesquisas científicas.


As universidades federais envolvidas nesse projeto são as de Viçosa, São João del Rey, Ouro Preto, Alfenas, Itajubá, Juiz de Fora e Lavras. Juntas elas terão cerca de 41 mil alunos matriculados em 17 campi, o que pode converter o consórcio na maior instituição de ensino superior do País, em número de estudantes. Situadas nas áreas mais ricas de Minas, essas universidades atualmente oferecem 15,6 mil vagas anuais em seus vestibulares e mantêm 260 cursos de graduação, 111 cursos de mestrado e 59 de doutorado.

Cada uma dessas instituições tem um número pequeno de cursos de pós-graduação muito bem conceituados nas avaliações do MEC e um número expressivo de cursos considerados regulares, o que as leva a ocupar posições intermediárias no ranking da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Mas, se forem avaliadas como uma só universidade, o número de cursos com padrão de excelência e o número de docentes com doutorado são tão significativos que ela pula para os primeiros lugares do ranking.

A visibilidade daí decorrente permite aprofundar a estratégia de internacionalização do ensino superior que vem sendo desenvolvida há mais de uma década pelas maiores universidades públicas, privadas e confessionais brasileiras, com o apoio da Capes e do CNPq. Uma universidade brasileira bem classificada nos sistemas de avaliação encontra mais facilidade para firmar convênios com instituições estrangeiras de ponta, com o objetivo de promover intercâmbio de professores, propiciar a abertura de linhas compartilhadas de pesquisa e assegurar a publicação de artigos científicos de autoria de pesquisadores nacionais em revistas internacionais submetidas a redes mundiais de certificação de qualidade.

Inspirada em experiências adotadas em algumas regiões industrializadas do interior da França e dos Estados Unidos, o modelo adotado pelas sete universidades federais do sudeste mineiro também produzirá melhorias nos cursos de graduação, com a diversificação de disciplinas e a adoção de currículos complementares. Além de eliminar a sobreposição de cursos, essas instituições poderão privilegiar os cursos e as áreas de conhecimento nas quais têm maior tradição e expertise, como veterinária, engenharia ou ciências agrárias.


"Por que vou duplicar as coisas, se eu já tenho um curso ou um laboratório com padrão de excelência a menos de 200 km?", diz o reitor da Universidade Federal de Itajubá, Renato de Aquino Faria Nunes. Como a distância entre os campi é pequena e a rede de transportes públicos é boa, os alunos terão maior flexibilidade para escolher em qual instituição querem cursar matérias específicas e eletivas, podendo assim moldar o currículo conforme suas necessidades e aspirações.


A ideia das sete universidades federais mineiras é que o consórcio comece a funcionar já a partir do próximo ano, com a unificação dos vestibulares. Mas, para tanto, será preciso desburocratizar as estruturas administrativas e adotar regras mais flexíveis, principalmente em matéria de currículo. A Coordenadoria-Geral de Legislação e Normas de Educação Superior do MEC prometeu colaborar e a criação do consórcio acaba de ser aprovada pelas autoridades educacionais. Os reitores agora têm até 15 de outubro para entregar o projeto detalhado de uma iniciativa que pode mudar o perfil das universidades sob controle da União.





Indústria quer barreira contra máquina importada

Autor(es): Márcia De Chiara
O Estado de S. Paulo - 26/08/2010
Importação de máquina foi recorde em julho e Abimaq pede alta de 14% para 35% do imposto para equipamentos que tenham similares nacionais

A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) vai pleitear com o governo aumento da alíquota do Imposto de Importação de 14% para 35% dos equipamentos comprados no exterior e que tenham similares nacionais. No mês passado, as importações de máquinas atingiram a maior marca mensal em 70 anos: US$ 2,253 bilhões, com crescimento de 52,6% em relação a julho de 2009.


"Vamos fazer esse pleito ao Ministério da Fazenda nas próximas semanas", afirma o presidente da Abimaq, Luiz Aubert Neto. Ele frisa que a indústria brasileira de máquinas está perdendo competitividade em relação aos produtos estrangeiros. "A falta de isonomia em relação às máquinas importadas é brutal", diz ele, referindo-se à taxa de câmbio, aos tributos e às vantagens de financiamento oferecidas pelos países que vendem máquinas para o Brasil.

Aubert Neto diz que a tributação de 35% está de acordo com o teto das alíquotas de importação, segundo as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC). A entidade defende o aumento do imposto em caráter emergencial para estancar o processo de desindustrialização pelo qual passa a indústria de máquinas. Para os equipamentos sem similares nacionais, o imposto de importação é hoje de 2% e essa alíquota seria mantida.

De janeiro a julho, o saldo da balança comercial do setor de máquinas registrou um déficit de US$ 8,072 bilhões e a previsão é encerrar o ano com um saldo negativo de US$ 13 bilhões, o maior déficit já registrado.

Aubert Neto destaca o avanço dos países asiáticos no mercado brasileiro de máquinas. "A China vai passar a Alemanha, que hoje é a segunda maior fornecedora de máquinas, no próximo mês", afirmou o executivo. No primeiro semestre, a China foi a terceira maior exportadora de máquinas para o Brasil, com vendas de US$ 1,594 bilhão, e respondeu por 11,9% das importações. "Em 2005, a China não aparecia entre os dez maiores fornecedores." Movimento semelhante ocorre com a Coreia do Sul que vendeu no primeiro semestre US$ 494,4 milhões e responde por 3,8% das importações; em 2004 detinha 1,1%.

O presidente da Abimaq diz que a Coreia se destaca, pois vende com preço, qualidade e prazo. Isso faz parte da política industrial dos países que estão avançado no mercado brasileiro.

Aubert Neto argumenta que, mesmo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ofertando crédito para compra de máquinas com juros de 5,5% ao ano por um prazo de dez anos dentro do Programa de Sustentação de Crescimento (PSI), as taxas cobradas aqui são muito superiores às de outros países. No Japão, o juro varia entre 1,75% e 2,5% ao ano, na Alemanha está entre 1,5% e 3% ao ano, nos Estados Unidos varia entre 2,5% e 4% e na China a taxa é zero. "Desse subsídio ninguém fala", frisa o executivo, fazendo referência às recentes críticas feitas ao BNDES pelos financiamentos dados às indústrias com recursos do Tesouro Nacional e juros menores que os cobrados pelos bancos.

Encomendas. O setor já deu sinais para o governo de que é preciso prorrogar o PSI, previsto para terminar em 31 de dezembro. Auber Neto diz que as consultas para compra de máquinas estão diminuindo e isso terá impacto no faturamento da indústria em fevereiro do ano que vem. Ele não descarta a possibilidade de demissões em 2011, se o PSI acabar e o imposto de importação não subir. "Se o PSI não for prorrogado, vamos ter um ajuste forte com demissões."

De janeiro a julho, o faturamento bruto do setor atingiu R$ 40,6 bilhões, com crescimento de 15% em relação a igual período de 2009, mas 11,63% abaixo do registrado nos mesmos meses de 2008. "Falta muito para recuperarmos o nível de vendas do período pré-crise."


Importação de aço bate recorde e deve chegar a 20% do consumo nacional

Autor(es): Irany Tereza
O Estado de S. Paulo - 26/08/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/8/26/importacao-de-aco-bate-recorde-e-deve-chegar-a-20-do-consumo-nacional


Disparada. Historicamente mantida entre 6% e 7%, participação deve ser a maior da história este ano, segundo estimativa das siderúrgicas nacionais. Variação do câmbio, incentivos fiscais estaduais e federais e temor de alta dos preços são as explicações


A participação do aço importado no consumo interno brasileiro, historicamente mantida entre 6% e 7%, este ano deve bater recorde e ficar na casa de 20%, pelas estimativas do Instituto Aço Brasil (antigo IBS), que representa as siderúrgicas nacionais.


"Está ocorrendo um processo especulativo. Diante da perspectiva de preços mais elevados, as distribuidoras estão com quase quatro meses de estoque. Fizeram aposta de cassino", disse ao Estado o presidente do instituto, Marco Polo de Mello Lopes.

De janeiro a junho ingressaram no mercado nacional 2,528 milhões de toneladas de produtos siderúrgicos, volume superior a toda a compra externa de aço de 2009, de 2,231 milhões de toneladas. A expectativa é de que, ao fim de 2010, este montante chegue a 4,150 milhões de toneladas, para um consumo também recorde de 24,980 milhões de toneladas.

Fortemente impactados pela crise de 2008, a produção e o consumo de aço no Brasil atravessaram todo o ano de 2009 tentando recuperar perdas.

A produção cresceu paulatinamente, de acordo com o cronograma de reativação de seis alto-fornos que foram abafados de forma simultânea, o que nunca havia ocorrido no País.

As próprias usinas nacionais tiveram de importar aço para honrar encomendas quando em época de reaquecimento de demanda. Vieram do exterior este ano 213.960 toneladas de aço importado por Usiminas, CSN, ArcelorMittal e Gerdau.

O IABr não confirma as empresas importadoras, mas garante que o total correspondeu a apenas 8% das compras externas no primeiro semestre e "foi pontual".

Mello Lopes adverte para o risco de desindustrialização que o Brasil corre com o aumento descontrolado das importações diretas (placas e bobinas) e indiretas (máquinas, equipamentos e bens de consumo, como automóveis) de aço. Para ele está ocorrendo uma convergência de fatores como câmbio, incentivos fiscais estaduais e federais e um processo especulativo no qual o mercado distribuidor aguarda o aumento no preço interno do aço para elevar ganhos de importação.

De acordo com levantamento do instituto, 58% dos produtos siderúrgicos importados no primeiro semestre ingressaram por cinco Estados (Ceará, Espírito Santo, Pernambuco, Santa Catarina e Paraná) e sete portos, alguns deles sem tradição neste tipo de movimentação.

Distorção. Paulo Cesar Cortes Corsi, presidente do porto de São Francisco do Sul, reconhece que está havendo alguma distorção no mercado, mas acredita que o preço do aço nacional também não está competitivo. "Certamente o aço aqui está mais caro, senão não estaria entrando tanto produto externo", avalia.

Ele diz que, de janeiro a julho deste ano, o porto recebeu 198 mil toneladas de aço vindas de diversos países, especialmente da China. O aumento em relação a todo o ano passado, com importação de 30.600 toneladas, foi de mais de 500%. As exportações também cresceram, mas não no mesmo nível: passaram de 6 mil para 54 mil toneladas.

"O volume de bobinas de aço importadas realmente cresceu muito. Talvez por causa do câmbio, mas talvez esteja ocorrendo uma grande distorção no mercado. O quadro da indústria é de capacidade ociosa. Isso não se explica", diz Corsi, intrigado. Ele lembra que o porto de Santa Catarina não é exatamente novato na movimentação de aço por causa da siderúrgica local Vega do Sul. Mas admite que o aço que entra pelo porto de São Francisco do Sul não se destina ao mercado de Santa Catarina.

Mello Lopes, do IABr, sustenta que o mercado siderúrgico chinês, fortemente subsidiado pelo governo de seu país, concorre de forma desigual no Brasil. "A alternativa seria que o País tivesse como prioridade olhar o seu mercado interno", diz, criticando os incentivos fiscais e as facilidades de importação. Único fabricante brasileiro de chapas grossas de aço para a indústria naval, o grupo Usiminas/Cosipa solicitou ao governo uma investigação antidumping contra a importação de chapas grossas da China.

A Transpetro, empresa de transportes da Petrobrás, transformou-se na principal fonte de demandas do produto. Desde 2007, quando iniciou as encomendas para seu programa de renovação de frota (Promef), comprou cerca de 150 mil toneladas de aço. Apenas um terço desse total foi encomendado no Brasil. A maior parte veio da China, Ucrânia e Coreia do Sul. A empresa informou, por meio da assessoria de imprensa, que realizou tomadas internacionais de preço que envolveram 15 siderúrgicas de oito países. O critério para declarar o vencedor foi preço.


Vale está na lista de devedores

Autor(es): Agencia o Globo
O Globo - 26/08/2010

O Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) incluiu a Vale, segunda maior mineradora do mundo, na lista de inadimplentes do Cadastro Informativo de Créditos Não Quitados do Setor Público Federal (Cadin). De acordo com o DNPM, a mineradora tem uma dívida de R$360 milhões devido ao não pagamento de parte da Compensação Financeira pela Exploração dos Recursos Minerais (CFEM), uma espécie de royalty, referente à extração de minério em Carajás.



A Vale não concorda com o cálculo da cobrança. Por isso, vem contestando essas dívidas nas esferas administrativa e judicial. A Vale ressalta também que cumpre rigorosamente suas obrigações fiscais, pagando todos os impostos. Em relação ao DNPM, a mineradora afirma, em nota, que o órgão, responsável por cobrar essa compensação, tem efetuado cobranças indevidas.



A companhia reitera que, por ter uma ação judicial em curso, não pode ser considerada inadimplente, mesmo com a inclusão de seu nome no Cadin. Segundo advogados, empresas com o nome no Cadin não podem participar de financiamentos públicos e licitações.

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