terça-feira, 24 de agosto de 2010

'É preciso restringir o investimento chinês no Brasil''

http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/8/22/e-preciso-restringir-o-investimento-chines-no-brasil/?searchterm=steinbruch
Autor(es): Marcelo Rehder e David Friedlander
O Estado de S. Paulo - 22/08/2010

Benjamin Steinbruch, dono da CSN e presidente da Fiesp, diz que chineses podem "tirar os competidores do jogo" e defende restrições à compra de terras e reservas minerais


O empresário Benjamin Steinbruch, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), defende restrições à onda de compra de terras e reservas minerais brasileiras por empresas da China. Dono da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), diz que, como os chineses já são os maiores compradores de minério de ferro do mundo, se também dominarem a produção, "poderão tirar os outros do jogo".

Para o empresário, os asiáticos fazem concorrência desleal, porque possuem apoio maciço do governo de seu país. "É o Estado, não é iniciativa privada."

Steinbruch tem interesse direto no tema, já que mineração é uma das prioridades da CSN, que tem planos ambiciosos para o setor. Mas suas críticas têm o peso da instituição que o coloca hoje como uma das principais lideranças do empresariado nacional. Nesta entrevista, ele também fala dos planos para a CSN e da experiência de presidir a Fiesp, cargo que assumiu com a licença do titular Paulo Skaf para concorrer ao governo de São Paulo.

Além de inundar o mercado com seus produtos, a China está comprando muitos ativos no Brasil. Isso incomoda os empresários?

A China investiu muito em títulos do Tesouro americano e agora busca desesperadamente trocar parte desses papéis por ativos. Começou pela África, onde comprou tudo que podia e agora está comprando na América Latina, inclusive no Brasil. O capital chinês de médio e longo prazos para investimento é muito bem-vindo. Mas é preciso cuidar de setores estratégicos.

Quais seriam esses setores?

Por exemplo, a China comprar reservas de minério no Brasil, sendo ela o principal cliente do País, precisa ser considerado de forma diferente. A China é uma força no mundo. A partir do momento que ela tenha o domínio sobre a matéria-prima, sendo a maior consumidora de minério, ela pode tirar os outros do jogo. Dependendo do preço de transferência que adote, quebra com todo mundo. Setores estratégicos têm de ter algum controle do governo. É preciso dizer aquilo que pode e aquilo que não pode ser comprado por capital estrangeiro.

O sr. está falando em restringir a compra de terras ou minas?

Eu restringiria. Se for uma coisa da iniciativa privada, é um direito indiscutível. Mas, a partir do momento que atrás de quem compra está o Estado, é uma coisa de governo contra governo. Não vejo com bons olhos nenhum país vindo aqui comprar ativos no Brasil.

O sr. não está exagerando?

Vou contar um fato que me causou surpresa. No projeto da ferrovia Transnordestina tentamos comprar terras para induzir o desenvolvimento de plantio de grãos na região. Para nossa surpresa, encontramos grandes propriedades sendo tocadas por chineses. Eles já produzem grãos no interior do Piauí e de Pernambuco, coisa que nós, idealizadores do projeto, não sabíamos.

O sr. acha que os principais candidatos à Presidência aceitariam fazer esse tipo de intervenção?

Qualquer presidente tem de ter essa preocupação, porque é uma questão de soberania nacional. Independentemente de partido, estilo ou filosofia, é algo que tem de ser analisado e resolvido de maneira muito rápida, porque depois que comprarem não adianta fazer mais nada.

O sr. tem defendido o BNDES, mas a atuação do banco não está concentrada em poucas empresas?

Existe concentração porque não temos empresas globalizadas. É preciso fortalecer as empresas brasileiras para termos uma presença lá fora.

No caso dos frigoríficos, que é foco de críticas, o banco deu muito dinheiro para os grandes, enquanto os pequenos e médios se queixam de falta de acesso...

Não sei se é o que está acontecendo. Mas se a pequena e a média não estão sendo apoiadas, acho que está errado. Agora, essa posição do BNDES de fortalecer empresas brasileiras exportadoras de carne nos países importadores faz todo sentido estratégico. O nosso desafio é virar uma potência. Para isso, temos de fazer o que os outros países fizeram e deu certo. Não precisa melhorar, basta copiar.

O sr. quis internacionalizar a CSN. Tentou comprar a siderúrgica anglo-holandesa Corus e a cimenteira portuguesa Cimpor, mas não deu. Vai continuar tentando?

Temos de continuar, um dia vai dar certo. Mas é preciso ser racional. Se fosse pagar o que não vale, a gente teria levado. Sempre tive muita vontade de comprar a Corus. Fui até onde deu. Não deu para levar, o que posso fazer? Na Cimpor foi a mesma coisa. A gente vai continuar tentando.

Está olhando outros negócios?

Estou. Basicamente aquilo que completa o que a gente faz: aço, cimento e mineração. É claro que, se aparecer alguma coisa muito boa, vamos estudar.

Onde está procurando?

Num primeiro momento, nos Estados Unidos e na Europa.

O sr. vai mesmo desmembrar os ativos da CSN e abrir o capital das empresas resultantes?

A CSN, como as grandes empresas brasileiras, precisa se tornar um conglomerado mundial. A ideia é que a CSN tenha os seus cinco negócios abertos em bolsas: mineração, siderurgia, cimento, infraestrutura e logística, e energia. É claro que é um negócio trabalhoso desmembrar uma empresa grande e transformar em cinco.

Quando isso vai acontecer?

A gente vai fazer uma de cada vez. O que está mais maduro é a mineração, mesmo porque nós temos uma outra empresa de mineração em parceria com japoneses, coreanos e chineses, que é a Namisa. Temos 60% e eles, 40%. A ideia é juntar Namisa com Casa de Pedra e abrir o capital. É um projeto de 110 milhões de toneladas de minério de ferro, uma quantidade muito significativa.

O sr. já tinha anunciado isso para o primeiro semestre. Não deu certo?

A gente está trabalhando bastante nisso. A Namisa tem vários sócios, até conseguir convergir para fazer a unificação dos negócios demora mesmo. Está demorando mais do que a gente previa. Mas todos estão de acordo que vale a pena. Acho que sai agora no segundo semestre.

O sr. gostou da cadeira de presidente da Fiesp? Pensa em se candidatar na eleição do ano que vem?

A cadeira é igual, sabia? Mas a Fiesp é uma instituição muito forte. Engloba a indústria de todo o País, não só a paulista. Aqui passam presidentes, ministros, reis, príncipes, gente humilde... É uma experiência muito rica, não tem como não gostar. Agora, poder ficar é outra coisa. A Fiesp precisa de uma participação muito ativa, exige muito tempo. Minha prioridade é o grupo de empresas que a gente tem.

Como o sr. vê as críticas de que a Fiesp ficou acéfala depois da saída de Paulo Skaf?

Eu não me considero um cara acéfalo nem os diretores que estão aqui. É uma interpretação equivocada porque a maneira de ser de cada um é diferente. Eu não apareço na mídia com frequência. É meu estilo. Isso não quer dizer que a gente não seja ativo.

E o fato de não ter feito debates com os candidatos a presidente, como era tradição na casa?

A gente prefere uma abordagem direta. Estamos falando com os candidatos em separado. Eu acho que hoje é mais eficiente a gente ter essa postura de abordagem direta.

E o que vocês têm levado aos candidatos?

Aquilo em que a gente acredita. O modelo da produção e do emprego. Com todo respeito ao ministro da Fazenda, hoje o Brasil precisa de um ministro do Desenvolvimento mais forte que o da Fazenda. A parte financeira do País está resolvida. O que temos de desenvolver agora é a produção e o emprego. Isso é o que vai nos fazer diferentes.

Por que o sr. foi contra a filiação da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA, uma sociedade entre a Vale e a alemã ThyssenKrupp) ao Instituto Aço Brasil?

Anos atrás, fomos sócios da Thyssen Krupp num projeto aqui, mas houve divergências, compramos a parte deles e ficou por aí. Quando a Thyssen veio para o Brasil com a CSA, agora, tirou 200 pessoas da CSN de uma só vez. E tirou só da CSN. Eu fui no Instituto Brasileiro de Aço e coloquei a discussão. Disse na mesa: "Eu posso tirar 200 pessoas da Gerdau, posso tirar 200 pessoas da Usiminas, desde que pague mais."

Qual o problema, então?

Numa mesa em que nós sentamos para discutir estratégia, sermos amigos, não faz sentido um ficar agredindo o outro. Então, o instituto decidiu que a CSA só seria aceita quando começasse a produzir aço no País. Só que ela tentou entrar antes e outros membros quiseram aceitar. Daí eu falei: "Não foi isso o combinado lá atrás. Então, a gente sai e a CSA entra". Como pediram para ficar, a CSN se licenciou do instituto. Não fizemos isso por nós, mas por todos os brasileiros. Não pense que se formos para os Estados Unidos a gente chega lá fazendo estripulia no mercado deles. Não pode.

Ano passado o presidente Lula implicou com Roger Agnelli para forçar a Vale a investir em siderurgia. Esta semana ele pegou no seu pé numa cerimônia da ferrovia Transnordestina por causa do atraso nas obras...

Ele saiu satisfeito com o que viu. A Transnordestina é uma obra complicada. São 1.728 quilômetros de ferrovia, envolvendo três Estados. Houve dificuldades em várias etapas, como desapropriação, parte ambiental, projeto. Demorou mais do que ele esperava, mas agora estamos a plena carga.

Mas, no discurso, Lula foi bem irônico. Disse que homens como o sr. não são queridos pela população mais humilde porque têm privilégios nos governos. Ou que o sr. não fazia ideia de quanto era xingado...

O presidente é muito espontâneo. Tinha uma massa grande de trabalhadores e ele estava emocionado. Ele brinca muito, interage com o povo. Não fez nada por mal, acho que ele saiu de lá contente.

Restrições aos chineses

Celso Ming - Celso Ming
O Estado de S. Paulo - 24/08/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/8/24/restricoes-aos-chineses/?searchterm=steinbruch
O presidente da Fiesp e dono da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Benjamin Steinbruch, em entrevista ao Estado, defendeu restrições a investimentos da China no Brasil.


As suspeitas externadas por Steinbruch coincidem com as de dirigentes da Confederação Nacional da Indústria. Mas as restrições que defende à atuação de capital chinês levam o risco de não passarem de puro casuísmo.
A desenvoltura com que a China vem adquirindo terras e concessões de mineração em todo o mundo tem despertado preocupações de que possa praticar dumping e, assim, alijar deslealmente as empresas brasileiras do mercado. "A China é uma força no mundo. A partir do momento em que ela tenha o domínio da matéria-prima, sendo a maior consumidora de minério, pode tirar os outros do jogo", avisou.
A China tem despertado admiração e medo em todos. Detém nada menos que US$ 2,45 trilhões de reservas externas, a maioria delas aplicada em títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Apenas o tamanho desse cacife tem gerado temores de que ela possa usá-lo como arma. Bastaria que despejasse seu arsenal de reservas no mercado para provocar o aviltamento das cotações tanto dos títulos do Tesouro americano como do próprio dólar.

O governo Lula foi um dos primeiros a reconhecer que a China é uma economia de mercado, querendo com isso demonstrar que não teme chantagens comerciais do tipo que está sendo denunciado pelo presidente da Fiesp.

E, se é para defender o País de eventuais manobras desleais de capitais originários da China, então é preciso ter uma política abrangente de tratamento a investimentos estrangeiros, e não só aos chineses.

Hoje, a Constituição não faz distinção entre empresa nacional ou estrangeira, nem mesmo para exploração de recursos minerais. Basta que seja constituída de acordo com as leis brasileiras e tenha sede no País para que uma empresa passe a ser considerada de capital nacional. Tampouco há restrições de que uma detentora de concessão mineral, nacional ou estrangeira, repasse seus ativos para os interessados, sejam eles chineses ou quaisquer outros. Restringir capitais chineses e, ao mesmo tempo, manter abertura irrestrita a capitais americanos, ingleses, japoneses, coreanos ou alemães seria desembocar num oportunismo desmoralizador.

A Petrobrás precisa urgentemente de recursos para o desenvolvimento do pré-sal e vem aceitando com votos de boas-vindas o concurso de investimentos chineses. E, no entanto, petróleo é um produto bem mais estratégico - para ficar com outra expressão de Steinbruch - do que minério de ferro. Não tem sentido, de um dia para outro, a Petrobrás avisar que não quer mais capitais carimbados com a bandeira vermelha da China.

De mais a mais, por que a China não poderia adquirir concessões de exploração mineral no País se o empresário brasileiro Eike Batista, que se prepara para vender sua EBX (empresa de minério de ferro) e mais uma fatia da OGX (exploração de petróleo), pode fazê-lo sem restrições?

A proposta de exigir contrapartidas do governo de Pequim para os investimentos de chineses no Brasil não parece adequada, pela quase impossibilidade de represálias em caso de transgressão.

Ou seja, não basta querer por querer, como parece manifestar o empresário BenjaminSteinbruch. É preciso também saber o que fazer, para evitar ciladas provocadas por imaturidade estratégica.

Volta ao mundo
São quatro os principais fatores que estão produzindo os déficits recordes com viagens ao exterior. O primeiro é o câmbio: é o dólar relativamente barato em reais que torna mais acessíveis ao brasileiro as despesas de viagem. O segundo é o salto da renda: o brasileiro está ganhando mais e, com isso, está podendo viajar mais. O terceiro é a expansão do crédito que aumentou o financiamento dos pacotes turísticos e reduziu as prestações. E o quarto, a queda em todo o mundo das tarifas aéreas, que, em parte, foi consequência da própria crise global


Indústria quer punição a importado da China

Autor(es): Marta Watanabe, de São Paulo
Valor Econômico - 19/08/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/8/19/industria-quer-punicao-a-importado-da-china
Indústrias do setor de calçados e do segmento elétrico e eletrônico devem apresentar seus pleitos para aplicação da nova resolução da Câmara de Comércio Exterior (Camex), que estabelece punições para os casos em que a importação de produtos burla a aplicação do direito antidumping. Os pedidos de investigação serão apresentados assim que houver uma regulamentação da resolução pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
Heitor Klein, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados), acredita que o setor passou a ser alvo de triangulação de produtos acabados e de partes de calçados quando a sobretaxa antidumping começou a ser imposta sobre a importação de calçados chineses.
Desde setembro, alguns calçados chineses passaram a sofrer uma sobretaxa provisória de US$ 12,47 o par na importação. Em março, o direito antidumping tornou-se definitivo, com cobrança de US$ 13,85 por par vindo da China.
Klein conta que no início da aplicação da medida de proteção os efeitos foram favoráveis para os fabricantes nacionais, com significativa redução dos desembarques originados da China. "Houve grande crescimento do mercado doméstico, principalmente até março. Os exportadores chineses, porém, foram muito ágeis e rapidamente o país passou a receber importações dos calçados por outros países."
Segundo levantamento da Abicalçados, de janeiro a julho deste ano houve uma redução de 60% nos volumes de pares importadores da China na comparação com os primeiros sete meses de 2009. No mesmo período, porém, houve elevação de 127% no número de pares originados do Vietnã e de 77% nos calçados comprados da Indonésia.
Da Malásia, houve importação de 12 mil pares de janeiro a julho do ano passado. Nos primeiros sete meses deste ano, essas compras saltaram para 3 milhões de pares. Para Klein, esses números indicam que houve triangulação na comercialização de calçados chineses. "A Malásia, por exemplo, não tem tradição e não é conhecida por ser grande produtora de calçados", argumenta.
Além da importação de calçados acabados por terceiros países, o setor também acredita que vem sendo alvo da importação de partes de calçados da China, que são apenas montados no Brasil. "O cabedal chega pronto e costurado, e o solado também. O que se faz no Brasil é somente colar uma parte na outra", diz Klein.
A Resolução nº 63 da Camex também prevê a aplicação da punição antidumping nesses casos. Pela medida, é necessário que a agregação no país seja superior a 25% do custo da manufatura. Caso contrário, a montagem de partes e peças importadas pode ser considerada como uma forma de burlar o direito antidumping. Para Klein, o percentual de 25% é suficiente para enquadrar, nas medidas de proteção, os casos que o setor tem detectado.
A indústria de calçados não é a única que está na expectativa de uma rápida regulamentação da nova medida da Camex. "Os fabricantes devem fazer uso da resolução o mais rápido possível", prevê Mário Roberto Branco, gerente de relações internacionais da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). Dentro do segmento estão em vigor medidas de direito antidumping para ventiladores de mesa, ferros de passar e alto-falantes. Nos três casos, a proteção é aplicada para produtos originados da China.
Segundo ele, a entidade já recebeu queixas da importação de partes e peças de ferros de passar roupa chinesas unicamente para montagem no Brasil. Outra reclamação que chegou à associação, conta Branco, foi de fabricantes que detectaram um grande crescimento da compra de alto-falantes de Hong Kong e de Taiwan. Segundo ele, foi verificado que em Taiwan não há produção de alto-falantes. "A resolução vem a calhar e deve ampliar a proteção para a indústria brasileira."
Vera Kanas, advogada do escritório TozziniFreire, lembra que a medida antidumping, porém, não deverá ser estendida em toda e qualquer situação. Ela acredita que a futura regulamentação da nova resolução deverá estabelecer os procedimentos necessários, dando também aos importadores oportunidade de defesa.
"Esperamos que a regulamentação garanta uma aplicação equilibrada dos direitos", diz. Para ela, o limite de 25% estabelecido para agregação nacional, nos casos de partes, peças e componentes importados, pode ser muito ou pouco, dependendo do produto ou do setor. "É necessário que haja bom senso na aplicação da medida."

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