terça-feira, 24 de agosto de 2010

Governo do Rio obriga CSN a aplicar R$ 250 milhões em ações ambientais

http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/8/23/governo-do-rio-obriga-csn-a-aplicar-r-250-milhoes-em-acoes-ambientais/?searchterm=steinbruch
Autor(es): Bruno Villas Bôas
O Globo - 23/08/2010

Siderúrgica pode assinar hoje ajuste de conduta para renovar 11 licenças

A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) vai ser obrigada a investir R$ 250 milhões nos próximos três anos para corrigir uma série de problemas ambientais da Usina Presidente Vargas, em Volta Redonda (RJ). O valor está no Termo de Ajuste de Conduta (TAC) que renova as licenças ambientais da usina e que pode ser assinado hoje entre o governo do Rio e a siderúrgica, disse ontem Marilene Ramos, secretária estadual do Ambiente.

O termo inclui ainda uma compensação de R$ 10 milhões a R$ 25 milhões pelo vazamento de óleo que contaminou o Rio Paraíba do Sul, há um ano.

Se assinado, o acordo coloca um fim à queda de braço entre o governo e a CSN sobre a renovação de 11 licenças ambientais de operação da Usina Presidente Vargas, vencidas há dois anos. Caso contrário, a CSN pode perder licenças e sofrer sanções, como multa.

O Instituto Estadual do Ambiente (Inea) vai discutir hoje detalhes do TAC com a siderúrgica, que precisará executar 90 ações em três anos para obter licenças definitivas. No termo a ser assinado, está previsto que as licenças poderão ser suspensas caso a CSN deixe de cumprir qualquer prazo e condição.

O TAC terá ainda um dispositivo que executa em 24 horas um seguro de R$ 210 milhões caso a empresa descumpra esses prazos disse Marilene ao GLOBO.

Segundo ela, a CSN informou que já está investindo R$ 50 milhões dos R$ 250 milhões previstos no termo.

A tradição do Benjamin Steinbruch (dono da CSN) é judicializar. Briga na Justiça e não há acordo. Ele está mostrando uma mudança de postura garante Marilene.

Segundo Luiz Firmino, presidente do Inea, embora as licenças estejam vencidas, a CSN não opera irregularmente porque existe um processo de renovação em andamento.

Os desentendimentos sobre as licenças levou o Ministério Público Federal (MPF) a abrir inquérito civil para avaliar as ações planejadas. O GLOBO não localizou porta-vozes da CSN.

CSN diz que ThyssenKrupp adotou ação hostil no país

Autor(es): Ivo Ribeiro, de São Paulo
Valor Econômico - 23/08/2010
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A contratação de mão de obra para uma nova siderúrgica, instalada em Santa Cruz, no Rio, é o pivô do atrito sem precedentes que envolve o empresário Benjamin Steinbruch, principal acionista da Cia. Siderúrgica Nacional (CSN), a ThyssenKrupp CSA Cia. Siderúrgica do Atlântico - dona da nova usina - e o Instituto Aço Brasil (IABr). A entidade reúne os fabricantes de aço no país, entre os quais Gerdau, Usiminas, ArcelorMittal e a própria CSN.
O caso veio à tona recentemente, logo depois de o IABr aprovar, em junho, a entrada da CSA no seu quadro de sócios com direito a voto nas decisões estratégicas. Isso foi feito sem a aprovação da CSN, cujo representante deixou a reunião sequer sem votar, em protesto, porque Steinbruchera contrário à filiação da CSA naquele momento. Até então, a postulante era apenas afiliada, sem poder participar e votar nas reuniões do conselho diretor.
"Estava acertado [no IABr] que a CSA só se tornaria sócia quando ela começasse a produzir aço e, naquele momento, a empresa ainda não estava nem operando seu alto-forno", afirmouSteinbruch ao Valor. Poucas semanas antes, a empresa tinha sido inaugurada com a presença do presidente da República. "Mas essa não é a principal nem a única questão do meu protesto", acrescentou o empresário. "Eles retiraram 200 engenheiros e técnicos da CSN de forma antiética, sem nenhum respeito, oferecendo salários absurdos", afirmou.
Tais fatos ocorreram a partir de 2008, quando a CSA começava a preparar seu quadro de funcionários para operar a usina, uma gigantesca fábrica desenhada para produzir 5 milhões de toneladas por ano e precisaria de muita gente. Previa entrar em operação em abril de 2009, mas sua construção atrasou mais de um ano. E a contratação de mão de obra no setor, na época, conforme reportagem do Valor em abril de 2008, gerou uma disputa entre as siderúrgicas do país, com "roubo" de empregados de várias empresas. A CSN alega que no total perdeu 400 funcionários para a CSA.
"Não era uma forma apropriada a que a CSA estava fazendo para quem estava vindo de fora", afirmou Steinbruch. "Não podemos aceitar que um estrangeiro venha competir em nosso mercado comportando-se de maneira tão agressiva e hostil", acrescentou.
Conforme informações obtidas pelo Valor, a CSN levou à direção do IABr (na época ainda com a sigla IBS) várias reclamações sobre o comportamento da CSA para recrutar pessoal, o que qualificava de agressivo e acintoso. A entidade, presidida até abril de 2008 por Rinaldo Campos Soares (da Usiminas) e até abril deste ano por Flávio Azevedo (da Vallourec) acatou os pleitos deSteinbruch, que chegou a participar de uma reunião na sede da entidade, no Rio.
O IBS enviou cartas à direção da subsidiária da ThyssenKrupp no Brasil, que era comandada por Aristides Corberllini, e até ao comando do grupo na Alemanha. Os documentos repudiavam os procedimentos adotados pela CSA e recomendava que eles fossem modificados, conforme um relato feito ao Valor.
Com a aprovação da CSA ao conselho diretor do IABr em junho, a CSN adotou uma "retirada temporária" da entidade e não tem previsão de voltar a participar das suas reuniões. No momento, segundo apurou o Valor, empresários do setor foram escalados para ter um encontro com Steinbruch e convencê-lo a voltar atrás em sua decisão de abandonar o IABr. "O que buscamos é pôr panos quentes nesse episódio", informou uma fonte. E acrescentou: "Não é nada bom ter a CSN fora da entidade, assim como não é salutar impedir que um novo "player", que investiu no país US$ 8 bilhões, seja impedido de participar do IABr".
Steinbruch mostra-se, por enquanto, irredutível e afirma não ter sido procurado por ninguém do IABr. Procurada para falar sobre o assunto, a entidade informou que não iria se pronunciar porque tratava-se de uma questão interna e que dizia respeito aos dois sócios. A preocupação das lideranças do setor é pôr um ponto final nessa questão e manter um clima de unidade entre seus pares para atuarem em conjunto nos seus pleitos.
O empresário relembra que a CSA alugava ônibus e os postava na frente da usina da CSN em Volta Redonda. Com megafones em punho convidava os funcionários e oferecia transporte para que conhecessem a fábrica da ThyssenKrupp no Rio. "Eles ficavam dentro de hotéis enviando e-mails e incitando nossos empregados", diz Steinbruch. Segundo ele, a CSN poderia ter treinado pessoal para a CSA, assim como fez Gerdau. "Não precisava dessa atitude agressiva".
Em nota, a ThyssenKrupp CSA informou que "nega veementemente todas as acusações e informa que 70% de sua mão de obra foi treinada pela própria empresa - parte nas siderúrgicas da ThyssenKrupp na Alemanha e parte no Brasil - tendo atualmente mais de 102 mil candidatos inscritos em seu website de recrutamento, disponível desde 2006. Esclarece também que seu programa de recrutamento foi conduzido de forma ética e com respeito às regras convencionais de mercado."


Alvo de ironia, executivo da CSN fica em 'saia justa'

Autor(es): Leonêncio Nossa
O Estado de S. Paulo - 18/08/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/8/18/alvo-de-ironia-executivo-da-csn-fica-em-saia-justa/?searchterm=steinbruch


Criticado pelo governo por não ter se "empenhado" nas obras da ferrovia Transnordestina, o executivo Benjamin Steinbruch, que comanda o consórcio do projeto, enfrentou "saia justa" na viagem com o presidente Lula a um canteiro em Salgueiro.
Lula perguntou: "Você sabe quem me disse que pode fazer trilhos?" E emendou: "O Roger Agnelli, da Vale. Ele falou que vai fazer trilhos na siderúrgica que está construindo em Marabá." Steinbruchrespondeu: "Aí, é covardia."


Lula não esconde o desapontamento com Steinbruch, a quem acusa de ser um dos responsáveis pelo atraso da ferrovia.

Famosa no mercado do aço, a rivalidade de Steinbruch, da Companhia Siderúrgica Nacional, e Agnelli, da Vale, começou em 2000. A briga chegou aos tribunais.

Em discurso, Lula disse que Steinbruch era um homem rico, diferente dele e das pessoas que estavam ali. "Só os ricos costumam ser atendidos", disse Lula. "Benjamin, você não sabe o quanto você e xingado." O executivo sorriu amarelo, enquanto a plateia delirava.

Importação já faz grandes empresas cortarem produção

Autor(es): Ivo Ribeiro e João Villaverde, de São Paulo
Valor Econômico - 17/08/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/8/17/importacao-ja-faz-grandes-empresas-cortarem-producao/?searchterm=steinbruch
O avanço das importações é descontrolado, forçando fábricas a exportar mesmo com câmbio desfavorável para evitar a formação de estoques. Apenas em Santa Catarina, cerca de 350 mil toneladas de aço estão paradas, e, para evitar uma extensão do que ocorreu entre os fabricantes de óculos, escovas e pentes, cuja venda no Brasil é suprida quase integralmente por importados, o empresário Benjamin Steinbruch, presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e presidente em exercício da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) vai convocar os três principais candidatos à Presidência da República para apresentar ideias e propostas.
Em entrevista concedida ao Valor na sexta-feira, da sede da CSN em São Paulo, Steinbruchapresenta essas ideias. Para combater o avanço das importações é preciso "fechar o país por um tempo, a fim de fomentar a indústria nacional". Além disso, a taxa básica de juros precisaria ser cortada para valer, no máximo, dois pontos percentuais além da inflação - o que hoje representaria uma taxa de 7,25% ao ano, e não os atuais 10,75% ao ano. "Estamos pagando o preço do sucesso, nunca estivemos tão bem", diz Steinbruch, para quem as críticas recentes ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estão fora de lugar. "Não precisamos de um, mas de três BNDES", diz.
A seguir, os principais trechos da entrevista ao Valor:
Valor: Você já viu uma eleição tão tranquila quanto essa?
Benjamin Steinbruch: É normal que assim seja, mas o debate está só começando. O Brasil antes vivia muito em função das oscilações internas e externas. Tínhamos uma dependência maior da boa vontade do capital externo, algo que hoje, pela primeira vez, mudou. Temos uma situação de equilíbrio econômico e financeiro. O Brasil é que tem que ter boa vontade com outros países, porque, depois da China, temos o melhor mercado interno do mundo. Trata-se de uma situação completamente atípica se comparada com eleições anteriores, sustentada por um mercado interno forte, um fluxo de comércio internacional muito seguro, que é a exportação de matérias-primas e grãos para a China. A combinação disso permite que nos apresentemos ao mundo de forma diferente.
Valor: O mercado interno forte amplia a chegada das importações. Isso incomoda a indústria?
Steinbruch: A importação é uma coisa nova no Brasil. Nós ainda não tivemos tempo de considerar nossa posição. Temos uma ótima situação interna, gente comprando seu primeiro bem - casa, geladeira, fogão, carro - ao mesmo tempo que lá fora os países estão em dificuldade, com enorme capacidade ociosa. Então, nosso mercado interno, que é uma referência mundial, vira alvo. O Brasil nunca viveu isso, não temos a experiência de ficar tão bem, então pagamos um preço pelo sucesso. O mercado interno vai continuar bom, mas não necessariamente a produção local vai estar trabalhando a plena capacidade. Num curto espaço de tempo as empresas vão fazer um esforço muito grande para exportar, por falta de possibilidade de vender o produto internamente.
Valor: Como assim?
Steinbruch: Há um descontrole de importações em todos os setores. No ano passado, no primeiro semestre, importamos o equivalente a US$ 5,9 bilhões em manufaturas da China. Agora, em 2010, importamos US$ 9,9 bilhões entre janeiro e junho, praticamente dobrou em um ano. E estou falando da China, apenas.
Valor: Isso é discutido na Fiesp?
Steinbruch: Muito. Ninguém pensava que as empresas brasileiras iriam ter de parar a produção por excesso de estoques enquanto o mercado está com demanda forte, mas isso ocorre porque as importações estão ocupando espaço.
Valor: O sr. tem algum caso concreto de empresa que vai fazer isso?
Steinbruch: Até duas semanas atrás ninguém falava nisso. Se pegar os dados de 31 de julho, vocês não verão. É algo que está acontecendo agora. Há 350 mil toneladas de aço estocadas em Santa Catarina. As empresas vão ser obrigadas à exportar, o que é um esforço muito grande com uma moeda tão valorizada. Vai ter de baixar o preço no mercado interno para competir com o importado, o que é uma competição desleal, mas só vai ter o efeito disso no ano que vem. Qualquer medida que o governo tomasse agora só serviria para 2011, então o governo está atrasado. A economia vai bem, a demanda está forte, mas as empresas brasileiras estão com dificuldade de aproveitar essa bonança.
Valor: Mas como convencer as pessoas de que é preciso fazer algo num período de crescimento forte, redução do desemprego e aumento de salários?
Steinbruch: Só perceberemos depois que as empresas começarem a parar mesmo. Aí veremos que alguma coisa furou no modelo, e furou por um descuido nosso, porque ninguém pensou nisso e muita gente não percebeu ainda. Vamos bater num muro a 200 km por hora. Cerca de 95% dos óculos vendidos no país são importados, sabia? Escovas e pentes têm a mesma situação. Não se fabrica mais aqui. Ou incentivamos mais ainda o mercado interno, com financiamento, isenção de imposto, para ter efeito rápido, ou restringimos ao máximo as importações.
Valor: O novo governo, seja qual for, vai fazer algo próximo disso?
Steinbruch: Isso certamente vai ter de ser feito a partir de 2011. Porque enquanto o Brasil estiver bem e os outros países estiverem mal, isso vai se perpetuar. A empresa estrangeira não tem para quem vender, então manda para cá. O que desorganiza a cadeia é que quem está importando não são os clientes finais da indústria brasileira, mas o intermediário. Se você conversa com os industriais, eles vão te dizer que estão com produção toda vendida até o fim do ano. Só que os clientes não estão retirando a mercadoria. Porque entrou uma opção alternativa, o importado, que não estava previsto. Nem por quem produz, nem por quem compra.
Valor: E isso ocorre porque o importado chega mais barato?
Steinbruch: Sim, mas não só por isso. Temos também o absurdo em alguns Estados de fazer o deferimento do imposto, ou seja, dar vantagem maior ao produto importado que ao produto nacional, o que é um absurdo. Para criar alguns empregos na área administrativa de regiões portuárias, nós importamos milhares de empregos de fora.
Valor: Mas a maior parte do que importamos é maquinário e bem intermediário, que complementa a produção. Essa importação não é benéfica ao país?
Steinbruch: A importação benéfica para o país é difícil de se diferenciar. É aquela que complementa além do limite de produzir. Se há demanda para 105 e produzimos 100, assim os cinco vêm de fora, para equilibrar a inflação. Hoje, com a oferta que temos no mundo, o risco grande que temos não é de inflação, mas de deflação. O Banco Central está errado quando diz que há risco de inflação. O que veremos agora é deflação. Porque a ociosidade do mundo, em termos produtivos, dificulta e muito qualquer processo inflacionário de demanda, que seria nosso caso, então não existe risco de inflação no Brasil. O nível de esforço que os países maduros estão fazendo para conseguir gerar demanda, com bilhões e bilhões de gastos para incentivar a economia é justificável para reanimar a atividade. Aqui fazemos o contrário, estamos castigando o sucesso do ciclo positivo que nós desenvolvemos - mercado interno, emprego, renda familiar -, que é quebrado pela importação, favorecida pela moeda valorizada. Estamos surpresos.
Valor: Com o quê?
Steinbruch: Uma situação previsível de tranquilidade no segundo semestre mudou para uma surpresa de empresas grandes estarem parando por férias ou reduzindo pessoas por um desequilíbrio entre oferta e demanda por conta do importado. Para um país como o Brasil, que tem matéria-prima, capacidade produtiva, capacidade de ter duas safras agrícolas e petróleo, não vejo onde está o benefício da importação, a não ser que seja para equilibrar preços, para evitar inflação. O Brasil teria que, de alguma forma, se fechar.
Valor: Como assim?
Steinbruch: Fazer um pouco o que a China fez. Vocês falaram de máquinas, por exemplo. O certo é que o Brasil pudesse desenvolver, por conta do crescimento contínuo da economia, tecnologia própria, inclusive para máquinas e equipamentos, para avançarmos tecnologicamente. Hoje, importamos equipamento chinês. Por quê? Porque cresceram por 15, 20 anos e tiveram condição de testar equipamento e tecnologia, corrigir, melhorar. Começaram copiando, depois melhorando e hoje eles têm tecnologia própria. O Brasil tem de fazer a mesma coisa.
Valor: Fechar a economia, então?
Steinbruch: A economia tem que se fechar um pouco para poder propiciar esse salto.
Valor: Mas durante esse processo, não experimentaremos um período de inflação mais alta?
Steinbruch: Você tem que incentivar o bem mais barato fabricado aqui. Nós não temos porque fazer mais caro que lá fora.
Valor: E o caso da Petrobras na exploração do pré-sal que dá prioridade ao fornecedor nacional, mas há máquinas e peças que só existem no exterior?
Steinbruch: E por que não têm máquina aqui? Não é por falta de capacidade nossa, seja tecnológica, gerencial ou financeira, então não é por isso. Temos que nos educar no sentido de colocar desafios maiores para o Brasil. Nós podemos tudo. Temos que dar um trato diferente ao capital que vai para investimento e ao que vai para custeio. O investimento no Brasil é muito caro, temos um custo que não é comparável com o exterior. Essa discussão do BNDES é totalmente secundária e inoportuna.
Valor: Por quê?
Steinbruch: Porque temos que fazer todo o esforço possível e imaginável para favorecer o investimento. Então, o banco de desenvolvimento tem de dar condições para as empresas. Para micro, pequena, média empresa e também para as grandes e gigantes. Temos que ir para fora. Um país que quer liderar tem que ter empresas fortes e isso só ocorre se o governo apostar junto. Foi o que aconteceu em todos os países do mundo. Se for copiar o que aconteceu com Inglaterra, Estados Unidos, é o mesmo modelo. Temos que copiar e depois melhorar. Nós temos que privilegiar o BNDES e outros, como Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. O presidente Lula estava certo quando estimulou o BB e a CEF à fazerem mais, à estarem presentes num momento de crise, à não cortarem o crédito. Foi um momento muito importante.
Valor: Como o sr. vê as críticas ao BNDES?
Steinbruch: Não precisamos de um BNDES, mas de três bancos como o BNDES para atender a demanda por investimentos e a formação de empresas globais.
Valor: Além de fortalecer o BNDES, que medidas podem fomentar os investimentos?
Steinbruch: A mais imediata seria diminuir a taxa de juros, para desvalorizar a moeda.
Valor: Mas já passamos por processo de redução de juros e mesmo assim a moeda continuou se valorizando...
Steinbruch: Se derreteu a moeda cortando juros, imagina elevando, como fazemos agora. Nossa taxa precisa ser um ou dois pontos percentuais acima da inflação.
Valor: Então não passa só pelos juros, certo?
Steinbruch: Não, podemos também controlar importação. Tanto do ponto de vista quantitativo quanto qualitativo. Há muitos bens, como lâmpadas, que chegam custando um centavo de dólar. Precisamos ter gente treinada, investimento em pessoal para que possam controlar e desenvolver sistemas. Os países maduros têm isso, porque eles também foram alvos. Os Estados Unidos têm uma bíblia para você poder entrar lá e um pessoal profissional para controlar o que entra. Agora, o alvo somos nós e nós não temos essa experiência, então vem tudo para cá.
Valor: A Usiminas entrou com um pedido de antidumping contra a importação de chapa grossa de aço. Acha que a abertura de processos antidumping pode ser uma saída?
Steinbruch: Tem que fazer. A gente vai deixar de ser um país produtor industrial para ser um importador? É um castigo que não podemos pagar.
Valor: Então devem partir das empresas as medidas de controle?
Steinbruch: Tem que ser algo coordenado com o governo.
Valor: Mas o governo atual ou o futuro vai fazer isso?
Steinbruch: Tem que fazer. O Brasil vai ter que adotar uma política dura porque hoje em dia é muito mais importante para nós a produção e o emprego [indústria] que a fazenda [campo]. O problema para nós é muito mais dar garantia à produção e ao emprego que a questão econômica e financeira, que já está equacionada. A prioridade agora é o Ministério do Desenvolvimento, tanto com incentivo para exportar quanto para evitar importação desordenada. Cada porto tem que ter um controle e isso precisa ser integrado.
Valor: Quando o governo instituiu o IOF sobre capital estrangeiro sofreu uma série de pressões porque os críticos diziam que o capital deixaria de vir. O sr. não acha que instituir um controle sobre importações seria igual?
Steinbruch: Capital é uma coisa e produto é outra. Seja nacional, seja estrangeiro, capital para investimento é sempre bom. O que for para especulação ou aplicação financeira tem de ser tratado de forma diferente. A produção nacional, como o capital para investimento, precisa ser cultivada, precisa de atenção e dedicação. Precisamos limitar e penalizar os importados. O Brasil está hoje numa situação que precisa olhar para o umbigo.
Valor: Os dois principais candidatos, Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), são percebidos entre os economistas como mais intervencionistas. O novo governo será mais intervencionista em câmbio, juros e comércio exterior?
Steinbruch: O governo não precisa ser tão intervencionista num país como o Brasil. Temos uma classe empresarial bastante ativa, seja no agronegócio, nos serviços, na indústria ou na parte financeira. O país está estruturado e não foi fácil chegar onde chegamos. Se forem dadas condições apropriadas, a parte provada faz o seu papel. O governo, então, pode priorizar aquilo que é fundamental, ou seja, a regulamentação e o controle. Para países que não tem a estrutura que nós construímos, aí sim, vale um governo intervencionista. Não precisamos ter juros subsidiados, mas compatíveis com o mundo. Se lá fora o juro é zero, aqui não pode ser 10% ao ano.
Valor: Então passa por intervenção para mudar isso, não?
Steinbruch: O Brasil pode escolher o país que quer ser, mas é um debate que obrigatoriamente passa pela classe empresarial, pelo governo e pela academia. Estamos numa direção em que nunca estivemos, podemos andar com nossas próprias pernas.
Valor: Caso a Dilma vença, o que ela faria diferente do Lula?
Steinbruch: Não sei se ela precisa fazer coisa diferente do Lula. Se ela seguir a linha do presidente Lula seria bastante bom. Estar atenta para essas questões, ou seja, dar mais chance para o setor privado evoluir. A gente pode jogar melhor, mas quem pode reclamar? Se o Serra ganhar a eleição é a mesma coisa. Precisamos de uma visão desenvolvimentista para o Brasil.
Valor: O que mais preocupa o empresariado?
Steinbruch: Preocupa tudo. Está faltando mão de obra, estamos colocando escola dentro do canteiro de obra, fazendo o que podemos para formar gente, algo que é um limitador do crescimento brasileiro.
Valor: O que acaba por aumentar os salários. Isso é um empecilho?
Steinbruch: Aumentar salário para o consumo de produção nacional é razoável. Duro é aumentar salário para o cara consumir bem importado, isso é uma distorção. Estamos em condições de avançar e agregar outros 50 milhões de consumidores na economia. É um país fantástico, mas ainda temos muito o que fazer. Enquanto lá fora estão fazendo de tudo, o possível e o impossível para ressuscitar a economia, aqui não precisamos disso.
Valor: O jovem percebe esse momento que passamos?
Steinbruch: O jovem brasileiro quer isso, existe esse anseio de se firmar como país. Sempre ouvi que o Brasil era o país do futuro. Hoje somos o país do presente e o desafio é ser uma potência do futuro. O Brasil hoje é um caso a ser estudado e replicado em outros países.


Presidente da Fiesp e da CSN

Autor(es): Leonardo Attuch e Hugo Cilo
Isto é Dinheiro - 16/08/2010
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Benjamin Steinbruch

Presidente da Fiesp e da CSN

"Os empresários ainda não enxergam o novo Brasil"

Ainda garoto, antes mesmo de completar 18 anos, Benjamin Steinbruch deu os primeiros passos na vida empresarial, atuando ao lado do pai, o lendário Mendel Steinbruch, do grupo Vicunha.


Eu mais atrapalhava do que trabalhava, diz ele. Quarenta anos depois, já dono da Companhia Siderúrgica Nacional e no exercício da presidência da Federação das Indústrias de São Paulo, Benjamin afirma que o momento da economia brasileira é inédito.

Tão inédito que nunca foi vivido por nenhum empresário nacional. Ele aposta que o Brasil já decolou para um longo ciclo de desenvolvimento, que pode durar várias décadas.

Nesta entrevista, ele também falou do plano de dividir a CSN em cinco novas empresas, que podem ter ações na BM&FBovespa. E alertou para o risco de desnacionalização de setores estratégicos da economia, como a mineração. Leia a seguir:


DINHEIRO Como o sr. enxerga a economia brasileira? 
BENJAMIN STEINBRUCH O momento é excepcional, com uma convergência de fatores positivos internos e externos. Do ponto de vista externo, o Brasil lucra por ser um grande produtor de matérias-primas, com a China comprando tudo o que se produz no mundo. Em relação ao mercado interno, com a inclusão de 30 milhões de consumidores que vieram da pobreza, junto com 20 milhões de pessoas assistidas por programas sociais, formamos uma massa de consumidores que equivale a uma Espanha ou seis vezes Portugal. Essa gente entrou no mercado comprando seu primeiro bem. A primeira geladeira, o primeiro carro, a primeira televisão. E o crédito fez uma espiral positiva na economia. Mais consumo, mais emprego, mais renda e, de novo, mais consumo. 
DINHEIRO Uma situação inédita?

STEINBRUCH O Brasil se equilibrou pela primeira vez em torno de si mesmo. Eu nunca tinha visto o Brasil se viabilizar para si e não para terceiros. Não para a exportação ou em função de financiamentos do Fundo Monetário Internacional ou do Banco Mundial. Foi um movimento contrário. Hoje, o País é o primeiro a comparecer como doador do FMI.
DINHEIRO O sr. enxerga algum risco? 

STEINBRUCH Não. O Brasil é um dos poucos países hoje que podem pretender se viabilizar economicamente no médio e longo prazo. É claro que vai depender da gente. Mas acho que está tudo sendo feito para que atinjamos o objetivo.
DINHEIRO A taxa de juros ainda não é uma distorção? Especialmente agora que se constata que a inflação continua baixa?

STEINBRUCH Eu critico a política de juros há muito tempo. Claro que todos nós queremos ter a inflação controlada. Por outro lado, temos que ter um pouco mais de ousadia e coragem. O Brasil nada mais é que um povo ávido por consumo, numa situação de equilíbrio macroeconômico. Devíamos dar a chance de o Brasil crescer um pouco mais.

DINHEIRO Por que isso não acontece?

STEINBRUCH Olha, essa é a primeira vez que a minha geração tem a possibilidade de saber o que é crescimento. Hoje, tenho 57 anos. E comecei a trabalhar com meu pai antes mesmo dos 18 anos. Nunca vi um cenário como o atual.
DINHEIRO O crescimento no Brasil pode durar dez ou 20 anos?

STEINBRUCH Sim. A gente tem todas as condições para isso. Se nós vamos aproveitar ou não, não sabemos. Sempre ouvi que o Brasil era o país do futuro. Isso é passado. Hoje, o Brasil é o país do presente. Não tem como dizer o contrário. Está todo mundo vindo para cá. Todo mundo querendo investir. Só que muitos empresários brasileiros ainda não acordaram para a dimensão do novo Brasil.
DINHEIRO O nível de câmbio atual é um problema?

STEINBRUCH A gente tem que tomar cuidado. Todos sabem da dificuldade de se exportar com um câmbio valorizado. O País está se alijando das exportações e facilitando muito a importação. E, como o Brasil tem um mercado interno forte, as empresas de fora jogam aqui todos os seus excessos de produto, o que pode desestruturar todo o nosso setor produtivo.
DINHEIRO Mas mexer na política de câmbio não seria ruim para a imagem do Brasil?

STEINBRUCH Não é preciso mexer no câmbio. Se baixássemos os juros, muito provavelmente a moeda se desvalorizaria. Existem dois tipos de capital: o especulativo, que busca rendimento de curto prazo, e o de investimento, que gera emprego. Esse último, não tem problema. Pode deixar entrar à vontade. O outro é problemático.
DINHEIRO O real forte não ajuda a combater a inflação?

STEINBRUCH Não há esse risco. Com o excesso de oferta e a ociosidade que existe no mundo, a qualquer momento se importa qualquer coisa.

DINHEIRO Como o sr. vê os gargalos da indústria? 

STEINBRUCH A indústria ainda não está no limite. Não temos nenhum setor que atingiu a plena capacidade.
DINHEIRO O nível de investimento atual é adequado para a economia brasileira?

STEINBRUCH O País vai ter que investir mais. Nós, empresários, ainda não temos a exata noção do que é o novo Brasil. Ainda não aprendemos a conviver com essa situação de forte crescimento. Somos novatos nesse tipo de economia. E precisamos de investimentos massivos em todas as áreas.
DINHEIRO E o papel do BNDES, que tem sofrido tantas críticas?

STEINBRUCH O Brasil, para ser forte, para ser líder e para ser como a gente gostaria que fosse, precisa ter empresas fortes. Para ter empresas fortes, nós precisamos ter o suporte do governo. Conversei isso com o presidente Lula e temos o mesmo pensamento. Nesse sentido, o BNDES tem sido fundamental para a internacionalização das empresas e o Luciano Coutinho só merece aplausos pelo trabalho que tem feito.
DINHEIRO Tem havido repasses muito grandes do Tesouro ao BNDES, um dinheiro que, de certa forma, é subsidiado. Há favorecimento excessivo?

STEINBRUCH O setor empresarial tem que ser favorecido, para  que as empresas possam concorrer em situação igual. Hoje, em nível internacional, o investimento no Brasil é caro. Os juros aqui são desproporcionais. Eu não teria vergonha em falar de subsídio para investimento. Mesmo porque é uma necessidade. O investimento traz emprego e renda. Então, a gente tem que cultivar o investimento. E o BNDES é a instituição que tem esse papel. Tudo o que for feito para atrair investimento, a gente tem que cultivar, não criticar. Na verdade, hoje só o BNDES está fazendo isso. Em outros países, há vários bancos que exercem esse papel. 
DINHEIRO Talvez se a taxa de juros fosse menor, o papel do BNDES não fosse tão relevante, concorda?

STEINBRUCH Existe uma distorção do custo financeiro aqui, tanto de capital de giro quanto de investimento. O governo, então, deve favorecer o investimento com os instrumentos que possui.

DINHEIRO Mas não existe um custo fiscal com essa taxa de juros subsidiada? 

STEINBRUCH Não existe custo fiscal. É investimento. Custo fiscal é o que tem sido feito na Europa e nos EUA para levantar a economia. Isso é custo fiscal. Aqui, é estímulo ao crescimento. 
DINHEIRO E a infraestrutura? Vai dar tempo de fazer todos os investimentos necessários antes da Copa e da Rio-2016?

STEINBRUCH O Brasil é um país fantástico e há tudo por fazer. Onde você olha, tem necessidade de investimento. Isso é ótimo. Na Europa e nos Estados Unidos, já não há onde colocar o dinheiro. Acho que conseguiremos fazer tudo a tempo. Ainda sofremos com a questão da burocracia, que é uma coisa que vem de muito tempo. Poderíamos até voltar com o Ministério da Desburocratização. O Brasil é um país complexo em termos de investimentos, de leis para o investimento. Tudo é complicado. Mas estamos vencendo essa parte e vamos conseguir. 
DINHEIRO Mas as coisas estão acontecendo de forma lenta, não?

STEINBRUCH É que é demorado. Até a gente se convencer daquilo que a gente é, vai demorar um pouquinho. O Brasil está melhor do que a gente pensa. Nós estamos lentos no sentido de iniciar esse processo de investimentos. Mas não é por mal. É que não estávamos acostumados com esse tipo de situação. 
DINHEIRO Como o sr. vê o Brasil atravessar um processo eleitoral sem turbulências?

STEINBRUCH A gente não está acostumado à normalidade. Teoricamente tem que ser assim sempre. A eleição vem, é um processo normal e democrático, que não pode e não deve afetar a economia.  
DINHEIRO Existe algum risco político no Brasil, como uma onda estatizante?

STEINBRUCH Não, não. É muito difícil o retrocesso. É claro que cada candidato, cada partido, tem o seu perfil, sua filosofia de trabalho. Mas eu não vejo risco algum.   
DINHEIRO E se, no novo governo, mudar a política do BNDES?

STEINBRUCH O BNDES tem de ser desenvolvimentista. Seja tucano, seja petista ou verde. A função do BNDES é essa, em qualquer tipo de governo. Ou seja, o banco precisará continuar na busca contínua do investimento.  
DINHEIRO Qual a sua leitura dessa pressão do Estado sobre as empresas, como no caso da cobrança do governo para que a Vale entre com mais força na siderurgia? 

STEINBRUCH Eu já fui presidente da Vale. A gente tem que entender direito essa pressão. Tem que ver se ocorreu de algum comprometimento que veio de alguma conversa. Tem que ver o que foi conversado entre eles. O governo não estaria cobrando em cima de nada. Eu não conheço as conversas entre eles e não quero julgar. Acho difícil o governo exigir algo aleatório de uma companhia, sem que exista algo por trás.
DINHEIRO Como empresário do setor siderúrgico, o sr. defende que o Brasil continue como grande exportador de commodities ou mais de produtos acabados?

STEINBRUCH Quanto maior valor agregado, melhor. Agora, valor agregado é investimento. E isso não precisa o governo fazer. Se tiverem as condições apropriadas, as empresas investem. O que gostaríamos de ver é um setor produtivo privado bastante investidor e um governo mais legislador, que cobra. 
DINHEIRO O sr. sempre foi muito voltado para as próprias empresas, seja na Vicunha, seja na CSN, e agora tem um papel mais institucional, na Fiesp. O sr. se sente à vontade nesse novo papel?

STEINBRUCH À vontade eu não estou. Estou aprendendo uma coisa que eu nunca tinha feito. Mas eu tenho muita humildade para dizer que eu não sei e quero aprender. É uma coisa diferente. Eu sempre trabalhei para dentro e agora trabalho para fora. Isso requer uma postura diferente. Mas nada que seja impossível.
DINHEIRO Qual é o atual papel da Fiesp no desenvolvimento?

STEINBRUCH Todas as grandes empresas estão representadas na Fiesp. Então nós temos aqui não só as empresas paulistas, nós temos o empresariado nacional.  
DINHEIRO O sr. pretende entrar em causas nacionais, assim como fez Paulo Skaf na briga contra a CPMF?

STEINBRUCH É claro que sim. O que é bom para o Brasil é bom para a Fiesp. Nós temos uma visão nacional, não uma visão paulista. Nós temos um olho olhando o Estado de São Paulo e outro olhando o País.   
DINHEIRO E o Benjamin, tem um olho olhando a CSN e outro a Fiesp?

STEINBRUCH  O Benjamin tem meio período na CSN e, depois, o que precisar na Fiesp. Eu começo todas as manhãs na CSN, falo com todos os diretores da empresa até as 13h30, e sigo para a Fiesp. A CSN é uma empresa muito grande, está com muitos investimentos e precisa de acompanhamento. 
DINHEIRO Qual é o investimento?

STEINBRUCH São R$ 35 bilhões. Nós trabalhamos, basicamente, em cinco áreas: siderurgia, mineração, cimento, infraestrutura e logística e energia. Na área de minério de ferro, estamos saindo de 20 milhões de toneladas ao ano para 110 milhões de toneladas por ano. A ideia é que a empresa seja composta de cinco empresas separadas, cada uma em um setor específico.        
DINHEIRO E todas podem ser levadas ao mercado de capitais?

STEINBRUCH Todas podem ser levadas. Na siderurgia, estamos aumentando a produção em aços longos de 6 milhões para 7,8 milhões de toneladas. Estamos também construindo a ferrovia Transnordestina. Vamos estar em Salgueiro, em Pernambuco, no dia 17, para inaugurar a maior fábrica de dormentes de concreto do mundo. Estamos colocando na obra mil pessoas por mês. 
DINHEIRO Na mineração, o sr. vê algum risco de desnacionalização?  

STEINBRUCH Não é um risco. Está acontecendo. A China comprou a África. E a China está querendo comprar o Brasil. Se deixar, eles compram.
DINHEIRO Então, é preciso avisar o Eike Batista sobre isso. 

STEINBRUCH Na verdade, existem diversos perfis de empresários. O Brasil precisa ser formado por pensadores de médio e longo prazo. E, sob essa ótica, é muito ruim que o Brasil perca ativos importantes para o capital estrangeiro. 
DINHEIRO O governo deveria agir?

STEINBRUCH 
Se não tivermos cuidado, podemos acordar da noite para o dia sem algumas joias da coroa.
DINHEIRO A CSN já é uma multinacional, mas teve a oportunidade de ser maior, fazendo aquisições. No entanto, bateu na trave. O sr. se arrepende de algum negócio não feito? 

STEINBRUCH Eu não me arrependo porque fizemos aquilo que era racional. No caso da inglesa Corus, nós tínhamos mais dinheiro para dar o lance. Mas nós paramos onde achamos que devíamos. E um empresário tem a obrigação de ser racional. Eu tinha muita vontade de comprar a Corus. Muita mesmo e foi uma coisa muito frustrante o fato de eu ter parado, mesmo podendo dar mais. 
DINHEIRO Haverá outra chance? 
STEINBRUCH Tentamos várias outras vezes. Mas fomos até o limite da razão.Hoje, continuamos de olho. Uma hora vai dar certo.



CSN lucra R$ 894 milhões com aumento de preços e de vendas de aço e minério

Autor(es): Eduardo Laguna, de São Paulo
Valor Econômico - 11/08/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/8/11/csn-lucra-r-894-milhoes-com-aumento-de-precos-e-de-vendas-de-aco-e-minerio/?searchterm=steinbruch
Uma conjunção de fatores favoráveis do mercado de aço no país e exportações de minério de ferro contribuíram para o bom resultado obtido pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) no período, conforme balanço divulgado ontem. A empresa informou aumento significativo nas vendas de aço e minério, aliado a preços mais robustos praticados entre abril e junho. Com isso, a siderúrgica comandada por Benjamin Steinbruch mais do que dobrou o lucro no segundo trimestre, comparado ao resultado de um ano atrás.
No trimestre encerrado em junho, os ganhos da companhia somaram R$ 894 milhões, bem acima dos R$ 334,7 milhões apurados no mesmo período de 2009. No semestre, a companhia deSteinbruch - que além de aços planos produz minério de ferro, cimento, gera energia e tem operações de logística - acumulou lucro de R$ 1,37 bilhão, 95,6% acima do saldo de um ano antes (R$ 703,6 milhões).
Na divulgação de resultado, a empresa destacou que o bom desempenho do trimestre se deveu à melhora nos preços de minério de ferro - negócio que respondeu por 22% da receita da empresa no trimestre, ante 14% de janeiro a março - e produtos siderúrgicos, junto com o maior volume de vendas dos dois produtos. Esses fatores ajudaram a empresa a compensar as perdas financeiras líquidas de R$ 420,6 milhões.
Na comparação do segundo trimestre com o mesmo período de 2009, a receita líquida subiu 55,4%, para R$ 3,87 bilhões, enquanto o resultado operacional medido pelo lajida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) saltou 146,9%, para R$ 1,79 bilhão, em valores ajustados. A margem lajida (também ajustada) subiu de 29,2%, um ano atrás, para 46,4%, refletindo preços mais altos e melhor gestão dos custos de produção. Sobre o primeiro trimestre, subiu mais de 5 pontos percentuais.
Nos três meses, as vendas de produtos siderúrgicos cresceram 37%, na comparação anual, alcançando 1,3 milhão de toneladas. O avanço de 45% nas vendas ao mercado doméstico, que somaram 1,15 milhão de toneladas, compensaram a baixa de 3% nas exportações, que ficaram em 149 mil toneladas.
O volume de produtos siderúrgicos no mercado interno, onde historicamente as margens são mais elevadas, atingiu 88,5% das vendas totais, informa a companhia, cuja produção de aço bruto no segundo trimestre somou 1,199 milhão de toneladas, superando em 38% o volume de um ano antes (869 mil toneladas).
Já as vendas de minério de ferro, excluindo consumo próprio, somaram 6,2 milhões de toneladas no período, alta de 11% em relação ao primeiro trimestre. A companhia não divulgou qual foi a diferença em relação ao volume de igual período do ano passado.
A empresa informou que durante o segundo trimestre pagou R$ 1,6 bilhão em dividendos.



Piora do déficit comercial da indústria deve reduzir abertura de vagas no setor

Autor(es): Marta Watanabe, de São Paulo
Valor Econômico - 17/08/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/8/17/piora-do-deficit-comercial-da-industria-deve-reduzir-abertura-de-vagas-no-setor/?searchterm=steinbruch
A balança comercial de manufaturados deve fechar 2010 com déficit de US$ 59 bilhões, uma significativa ampliação do saldo negativo de US$ 36,5 bilhões no ano passado. Com isso, deve se aprofundar também o déficit que o saldo negativo da balança de manufaturados provoca no saldo de empregos gerados na indústria. No ano passado, o déficit de postos de trabalho no setor de manufaturados gerados em função da balança comercial era de 1,02 milhão. Este ano essa perda deve se ampliar para 1,56 milhão de empregos. Os cálculos são do departamento de relações internacionais da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), e compõem o estudo que embasa as preocupações do presidente da entidade, Benjamin Steinbruch, com a perda crescente da competitividade da indústria nacional que leva, simultaneamente, ao aumento das importações e à queda das exportações de bens industriais.
O levantamento indica que, no total, levando em conta todos os segmentos (básicos e manufaturados) haverá superávit na balança comercial do Brasil em 2010, embora menor que o do ano passado. O impacto do resultado comercial no nível de emprego deve resultar em saldo positivo de 706 mil postos de trabalho ao fim de 2010. Esse desempenho, porém, significa uma redução de 294 mil empregos em relação ao saldo de postos gerados no ano passado - 1 milhão na conta da entidade.
O principal responsável por essa perda, conclui o estudo, será a indústria, que deverá terminar este ano com a perda potencial de geração de aproximadamente 538 mil postos de trabalho. Ou seja, se as importações de manufaturados não fossem tão expressivas como estão sendo, mais empregos poderiam ser abertos no país. No setor de básicos, a balança comercial deve gerar 1,57 milhão de empregos, 142 mil a mais do que em 2009
O quadro, aponta o levantamento, é resultado da mudança de composição da pauta de exportações, com os produtos básicos ocupando espaço que era dos manufaturados. A pesquisa destaca que em 2000 cerca de 58,4% das exportações eram de manufaturados, parcela que se reduziu para 45% no ano passado. Esse espaço foi perdido para os básicos, que aumentaram sua participação de 23,5% para 40,6% no mesmo período.
Proporcionalmente, segundo o estudo, o número de empregos por bilhão de dólares exportado de bens manufaturados é maior que o mesmo número para os produtos básicos. Em 2009, a exportação de US$ 67,5 bilhões em manufaturas demandou cerca de 2,53 milhões de postos de trabalho, o que resulta em 37,5 mil empregos por bilhão de dólares vendido ao exterior. A exportação de US$ 62,2 bilhões em básicos demandou quase 2 milhões de trabalhadores, ou 32,03 mil empregos por bilhão de dólares exportado.
A pesquisa da Fiesp fez projeções da balança comercial para 29 setores da economia. Desses, 18 devem apresentar saldo comercial negativo no segundo semestre deste ano e somente dez devem ficar com superávit. Segundo o estudo, os setores industriais são os que carregam os maiores déficits.
A indústria deve acumular durante o segundo semestre de 2010 um déficit de US$ 28,6 bilhões, ampliando o saldo negativo de US$ 21 bilhões no mesmo período do ano passado. Os segmentos que mais devem contribuir com saldo negativos no segundo semestre deste ano, segundo projeções da Fiesp, são o químico, o de material eletrônico, máquinas e equipamentos e o de veículos. Juntos, esses segmentos terão balança negativa de US$ 28,3 bilhões de julho a a dezembro. Entre os setores com superávit, os mais importantes são alimentos, agricultura e minerais metálicos.
O trabalho da Fiesp aponta um déficit comercial da indústria diferente do calculado pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) e divulgado ontem pelo Valor. Nas contas da Secex, o déficit nos primeiros sete meses do ano alcançou US$ 19 bilhões, abaixo do calculado pela entidade empresarial para o primeiro semestre.

NA TRILHA DO CRESCIMENTO

NA TRILHA DO CRESCIMENTO
Isto é - 16/08/2010

A premiação de "As Melhores da Dinheiro" é marcada pela certeza de que o Brasil está a caminho de se tornar um país desenvolvido


Enquanto a economia mundial ainda se recupera do impacto da crise financeira que abalou o planeta após a quebra do banco Lehman Brothers, o Brasil vai encerrar 2010 com uma das maiores taxas de crescimento do mundo. Esta foi a tônica da cerimônia de entrega da 7ª edição do prêmio As Melhores da Dinheiro, que reuniu mais de mil lideranças empresariais e políticas no Terraço Daslu, em São Paulo, na noite da quinta-feira 12. Em discurso na abertura do evento, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve fechar o ano com expansão de cerca de 7%, e será um dos maiores crescimentos do mundo, atrás apenas da China e, talvez, da Índia. Ao citar a criação este ano de 1,5 milhão de empregos no País, Mantega reforçou seu otimismo em relação à economia brasileira: O Brasil é um dos poucos países que saíram da crise melhor do que entraram.

O presidente executivo da Editora Três, Carlos Alzugaray, sintetizou o clima dominante no evento. A hora do Brasil chegou, afirmou Alzugaray. Estamos realmente encaixados no trilho para que, no futuro próximo, deixemos de ser um país emergente para nos tornarmos uma nação desenvolvida. No total, as 500 empresas listadas pela As Melhores da Dinheiro somaram em 2009 uma receita líquida de R$ 2,2 trilhões, o que corresponde a quase 80% do PIB brasileiro. No período, a maioria dessas companhias faturou entre R$ 1 bilhão e R$ 3 bilhões. O ranking das empresas premiadas foi montado a partir de dados das empresas tabulados e analisados pela BDO Trevisan e dividido em cinco categorias: sustentabilidade financeira, recursos humanos, inovação e qualidade, responsabilidade social e governança corporativa.
A grande vencedora deste ano foi a Brasil Foods. Com atuação em 110 países, a companhia nascida da fusão entre a Perdigão e a Sadia recebeu do presidente executivo da Editora Três o prêmio de Empresa do Ano. Em seus primeiros 12 meses, a Brasil Foods, que contabiliza 105 mil funcionários e 64 unidades industriais, teve um desempenho surpreendente: sua receita líquida subiu de R$ 11,3 bilhões em 2008 para R$ 20,9 bilhões em 2009, enquanto o lucro líquido saltou de R$ 54 milhões para R$ 228 milhões.
Questionado se o Brasil como um todo tem estrutura para crescer em ritmo similar ao da Brasil Foods, Luiz Fernando Furlan, co-presidente do conselho de administração da empresa, lembrou que há pouco tempo havia em certos setores a crença de que o País não poderia ultrapassar o índice de 3,5% de crescimento por causa do risco da inflação. Hoje, sabemos que o País pode crescer 5% tranqüilamente, ressaltou Furlan, ex-ministro do Desenvolvimento. Resta mudar o patamar para cima. Temos de crescer mais, pular para o patamar de crescimento de 7%, 8%.
Ao lembrar a responsabilidade do atual governo na condução da política econômica do País, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, comemorou o excelente desempenho das empresas brasileiras em período de plena turbulência internacional. O País se faz com empresas inovadoras e produtivas que possam contribuir para a produção da riqueza econômica, disse o presidente do BC. Hoje, o Brasil pode se orgulhar de ter empresas brasileiras atuando no mundo.
Outras 30 empresas foram premiadas pela As Melhores da Dinheiro: cinco como campeões de gestão e 25 vencedores em seus setores de atuação. 2009 foi um ano desafiador para todos nós, resumiu o diretor-presidente da Natura, Alessandro Carlucci, que venceu na categoria farmacêuticos, higiene e limpeza. Além de Mantega e Meirelles, a cerimônia teve a presença dos ministros Miguel Jorge (Desenvolvimento) e Erenice Guerra (Casa Civil). Também participou da entrega da premiação boa parte da elite empresarial brasileira. Estiveram no Terraço Daslu os presidentes da Vivo, Roberto Lima; do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco; da Redecard, Roberto Medeiros; da Suzano, Antonio Maciel Neto; da Embraer, Frederico Curado; da Companhia Siderúrgica Nacional, Benjamin Steinbruch; e Nildemar Secches, co-presidente do conselho de administração da Brasil Foods, além de outros empresários.

IFC revisa critérios socioambientais para empréstimos a emergentes

Valor Econômico - 24/08/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/8/24/ifc-revisa-criterios-socioambientais-para-emprestimos-a-emergentes
O IFC está revisando seus critérios socioambientais para empréstimos ao setor privado em países emergentes. As novas exigências serão apresentadas no primeiro semestre de 2011, e deverão incluir aspectos desconsiderados hoje na análise para concessão de crédito, como emissões de gases-estufa e o impacto das atividades da empresa na cadeia produtiva.
Essa é a primeira revisão feita pelo IFC desde 2006, quando o braço para investimentos do Banco Mundial criou seus padrões de performance social e ambiental. Recentemente, um balanço sobre os três primeiros anos da instituição já havia detectado brechas.
"O mundo mudou desde 2006 e precisamos nos adaptar às mudanças", afirmou Aaron Rosenberg, diretor de assuntos corporativos do IFC, em entrevista ao Valor. Também foram apontadas ambiguidade de linguagem e pouca clareza nas informações prestadas aos clientes sobre os padrões de performance socioambiental.
No último ano, o IFC foi alvo de fortes críticas de organizações ambientais por problemas na Ásia com o setor de óleo de palma (dendê), acusado de promover o desmatamento. E teve o primeiro caso, no Brasil, de uma empresa a devolver o empréstimo - o então frigorífico Bertin, adquirido pelo Grupo JBS, que obteve US$ 90 milhões para implantar um projeto de produção sustentável de carne em sua unidade de Marabá, Pará.
O contrato foi rompido após o Greenpeace e o Ministério Público Federal denunciarem o Bertin por contribuição para o desmatamento da Amazônia. Segundo fontes, financiar o projeto deixou o IFC em posição desconfortável. A instituição afirmou que os US$ 60 milhões que haviam sido liberados ao frigorífico já foram quitados.
Embora não tenham provocado a revisão dos padrões de performance socioambiental do IFC, que já era prevista, os escândalos influenciaram o debate e levaram à determinação de interromper os empréstimos ao setor de palma na Ásia. No Brasil, novos investimentos no setor agropecuário foram nulos no ano fiscal americano de 2010, encerrado em 30 de junho.
"Isso não está associado ao caso Bertin nem quer dizer que o setor agropecuário perdeu importância no Brasil. Estamos analisando novos projetos para este ano em soja, suínos e trading", afirmou Andrew Gunther, gerente-geral do IFC para o Brasil. Na opinião do executivo, o episódio foi positivo porque criou grupos de trabalho para discutir a sustentabilidade na Amazônia e levou a instituição de fomento a aprender mais sobre o setor. "Se quisermos fazer a diferença, teremos às vezes que trabalhar em projetos controversos", disse.
A revisão global dos padrões de performance socioambiental envolve uma miríade de grupos, de bancos multilaterais, instituições financeiras e agências da ONU a povos indígenas, ONGs ambientalistas, sindicatos e empresas. Também participam consultores do Brasil, Índia, Reino Unido, África do Sul, Malásia e Washington.
O período de consultas entrou na segunda fase e são esperadas mudanças importantes como a inclusão das mudanças climáticas. Entre as sugestões feitas, está a remoção da possibilidade de os clientes do IFC compensarem suas emissões de gases de feito estufa. Em vez disso, defendem a determinação de que sejam apresentadas opções para adoção de tecnologias de baixo carbono.
Além disso, tomadores de empréstimos deveriam quantificar emissões diretas e indiretas de projetos que provoquem mudança no uso da terra - responsabilidade que seria estendida também aos financiadores intermediários. A revisão contempla ainda aspectos como contaminação de solo e água e os desdobramentos legais desses tópicos. Consultores pediram também uma definição mais clara sobre a cadeia produtiva e suas responsabilidades.
Para Rosenberg, a introdução de novos padrões não deve tornar a análise dos empréstimos mais morosa. "Os novos padrões terão de ser incorporados ao longo do tempo e teremos de aumentar a assistência técnica a empresas e governos para que [as exigências] sejam atendidas", disse. O IFC aprovou US$ 18 bilhões no ano fiscal de 2010, sendo US$ 1,5 bilhão ao Brasil. A maior parte desse dinheiro - US$ 787 milhões - foi direcionada para o financiamento à exportação.

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