quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Minas assimétrica

http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/8/5/minas-assimetrica
Autor(es): Paulo R. Haddad
O Estado de S. Paulo - 05/08/2010
 

A partir dos anos 70, quando se iniciou o processo de reversão da polarização econômica do País e as áreas menos desenvolvidas passaram a crescer mais rapidamente do que o eixo Rio-São Paulo, um novo modo de concentração espacial do desenvolvimento passou a se configurar. Trata-se da formação dos desequilíbrios intraestaduais de desenvolvimento que pôde ser observada em várias unidades da Federação, como Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Bahia, etc.

Com a divulgação dos valores do Produto Interno Bruto (PIB) per capita de 2007 dos municípios brasileiros, é possível ter um retrato mais preciso da realidade econômica dos Estados, como é o caso de Minas Gerais. Um fato se destaca: dos 853 municípios de Minas, 199 têm PIB per capita inferior a 30% do PIB per capita brasileiro. Quando se consideram os municípios mineiros com valores inferiores a 50% do PIB per capita brasileiro, o número cresce para 533.

No início da década de 70 era comum a opinião pública considerar como municípios economicamente deprimidos muitos daqueles que se localizavam acima do paralelo 19. Ou seja, estavam localizados no norte de Minas, no Vale do Jequitinhonha e no Vale do Mucuri.

A nova geografia econômica de Minas Gerais mostra esses municípios economicamente deprimidos se espraiando também para quatro microrregiões do Vale do Rio Doce e para algumas subáreas da zona da mata.

Temos, pois, cerca de 200 municípios, situados agora à direita da BR-040 na direção Rio-Brasília, que têm como características socioeconômicas: baixas taxas de crescimento econômico; insuficiência de absorção de mão de obra (elevadas taxas de desemprego aberto, de subemprego ou de desemprego disfarçado); elevados índices de pobreza e de carências sociais; fortes desequilíbrios socioeconômicos e intrarregionais (entre zonas urbanas e zonas rurais); infraestrutura econômica e social em precárias condições de uso; e elevado grau de dependência de transferências do governo federal, tanto para as famílias residentes quanto para as prefeituras.

Caricaturando, é como se você, viajando do Rio de Janeiro para Brasília, olhasse para a sua direita e visse uma Minas com o retrato socioeconômico do Nordeste brasileiro e, para a sua esquerda, uma Minas com o retrato da próspera economia do interior de São Paulo. Observaria uma diagonal saindo da zona da mata em direção ao noroeste de Minas, dividindo o mapa do Estado numa dualidade espacial básica, e não mais num paralelo definindo uma questão Norte-Sul.


Sem dúvida, quase todos esses municípios tiveram nos últimos oito anos uma expressiva melhoria na sua infraestrutura econômica e social. Mas infraestrutura adequada é apenas uma condição necessária, mas não suficiente para que uma região possa se desenvolver.


O processo de desenvolvimento de uma região ou de um município, que lhes permite superar os seus problemas sociais e mobilizar suas potencialidades econômicas, depende de sua capacidade endógena de organização social e política para modelar o seu próprio futuro, que se associa ao aumento da autonomia regional ou local para a tomada de decisões, ao aumento da capacidade para reter e reinvestir parcela expressiva do excedente econômico gerado pelo seu processo de crescimento, a um crescente processo de inclusão social e a um processo permanente de conservação e preservação do ecossistema regional ou local.


Guimarães Rosa afirmava que, pela sua diversidade cultural e social, Minas são muitas. Vista do ponto de vista dos indicadores socioeconômicos, infelizmente essa diversidade se exprime por uma Minas espacialmente abrangente, com muitos bolsões de subdesenvolvimento e de pobreza. Ainda Guimarães Rosa é que dizia "uma coisa é pôr ideias arranjadas; outra é lidar com país de pessoas, de carne e sangue, de mil-e-tantas misérias... de sorte que carece de se escolher".

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