Política |
Autor(es): Maria Cristina Fernandes |
Valor Econômico - 27/08/2010 |
Ascensão de Dilma nas capitais desenha curva inversa à do desemprego e derruba tese da divisão do país Caiu por terra uma das últimas pilastras do discurso da oposição, a de que a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia dividido o país entre pobres e ricos, nortistas e sulistas. Fernando Henrique Cardoso já havia sido eleito e reeleito pela maioria, mas foi com Lula que o óbvio, na tradução tucana, virou divisionismo. Até porque a retórica lulista sempre o fomentou. Se Dilma Rousseff efetivamente confirmar o último Datafolha e vencer José Serra em São Paulo, no Rio Grande do Sul e no Paraná, terá alcançado um feito de que Lula não foi capaz em 2006. Além de estar à frente em todas as regiões do país, a candidata também já teria arrebanhado os eleitores que passaram pela universidade e ganham mais de dez salários mínimos, o que também é um ponto fora da curva das duas eleições de Lula. A numeralha das pesquisas desnorteia as teses que perfilam como principal legado lulista a redenção do subproletariado em detrimento da classe média politizada que projetou o PT em sua origem. Os arautos daquilo que, à esquerda e à direita, já foi chamado de bonapartismo lulista, partem do pressuposto de que esse subproletariado é o principal beneficiário da estabilidade e da promoção do mercado interno. E que a classe média original do PT teria sido frustrada pela ortodoxia econômica. Estariam dadas, assim, as bases ao ressurgimento do populismo contra as elites e pela divisão do país. O Brasil real já vinha se encarregando de desmontar as bases dessa nova teoria do lulismo. A campanha eleitoral apenas escancarou o fato de que na prática a teoria é outra. As desigualdades sociais e regionais permanecem imensas, mas o acesso da maioria no mercado é fato. E esse ingresso não foi feito em detrimento do Centro-Sul. Se fosse preciso resumir em um número as razões para o avanço de Dilma no maior colégio eleitoral do país, este seria o do desemprego divulgado ontem pelo IBGE. Na campanha eleitoral de 2002, 13 em cada 100 paulistas que procuravam trabalho davam com os burros n"água. Hoje essa fatia é de apenas 7%. Rio, Porto Alegre e Belo Horizonte tiveram uma redução no desemprego ainda mais acentuada e, em todas essas regiões metropolitanas, a oferta de trabalho aumentou mais do que em Salvador e no Recife. A ascensão de Dilma nessas capitais desenha uma curva inversa à do desemprego. O discurso da divisão do país desmilingue-se junto com a polarização entre PT e PSDB. É no Centro-Sul que os tucanos apostam suas fichas de sobrevivência política. O PSDB tem chances de eleger governador em Goiás, Pará, Amapá, Roraima e Piauí, mas é nos seus três nomes do Centro-Sul, Geraldo Alckmin (SP), Beto Richa (PR) e Antonio Anastasia (MG), que se concentram as chances de se manter na proeminência como partido de oposição. Em dezembro do ano passado, Aécio Neves anunciou em carta sua desistência de disputar a Presidência pelo PSDB. Nela, preconizava um discurso para seu partido: "Devemos estar preparados para responder à autoritária armadilha do confronto plebiscitário e ao discurso que perigosamente tenta dividir o país ao meio, entre bons e maus, entre ricos e pobres. Nossa tarefa não é dividir, é aproximar. E só aproximaremos os brasileiros uns dos outros através da diminuição das diferenças que nos separam". A divisão, como queria Aécio, está com os dias contados, mas os louros não são do PSDB. E esse é maior drama do partido. A principal alternativa com que os tucanos contam para permanecer no jogo depois do furacão de outubro também está a cata de um discurso. O eleitor já assistiu muitas carreiras públicas serem construídas e consumidas pela fama da televisão. Um porta-voz de tragédia virou ministro e governador, arrumou emprego numa empresa e hoje vive de lobby. Um repórter virou senador, ministro e agora quer ser governador. Seu último feito de campanha foi pedir a prisão de um blogueiro. Uma apresentadora elegeu-se vereadora, tentou ser prefeita e acabou arrumando emprego no governo do adversário que a derrotou. Eleja-se ou não, é improvável que Tiririca se dê tão bem na política. Elegendo-se, tende a ser tão inócuo quanto Enéas ou Clodovil. Se chegam ao Congresso é porque o voto é universal e o eleitor é livre. É em disputa para reitoria que se candidatam luminares. E nem sempre são os eleitos. Aloizio Mercadante disse ontem que não quer se misturar a Tiririca. O PR, partido pelo qual o compositor de Florentina, disputa vaga na Câmara dos Deputados está na aliança de Mercadante ao governo de São Paulo. O candidato petista quer seu nome fora do horário eleitoral de candidatos a deputado que não tenham propostas "construtivas". Melhor do que está o horário dos proporcionais pode ficar. O presidente da República fez esta semana um discurso emocionado em Campo Grande. Disse que sua eleição derrotou o preconceito. Sua candidata disparou em São Paulo, mas Mercadante custa a segui-la. Talvez pela dificuldade de se misturar com a maioria. |
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
Um emprego contra a divisão
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/8/27/um-emprego-contra-a-divisao
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