terça-feira, 24 de agosto de 2010

Venda de casas desaba e já ameaça levar EUA à recessão

http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/8/24/venda-de-casas-desaba-e-ja-ameaca-levar-eua-a-recessao
Autor(es): Willis John e Bob Gittelsohn, Bloomberg
Valor Econômico - 24/08/2010
O setor habitacional arrancou os EUA de 7 das últimas 8 recessões. Desta vez, os imóveis podem sufocar a recuperação.
As vendas de casas despencaram depois que um crédito tributário federal beneficiando os compradores expirou em abril. A partir de então, a retomada puxada pela produção, que começou no segundo semestre de 2009, está se dissipando, com uma alta nos pedidos de seguro-desemprego e queda nas encomendas às fábricas.
"Se o número de retomadas de imóveis por falta de pagamento continuar crescendo e pressionar os preços domésticos, isso poderá reconduzir a economia à recessão", disse Celia Chen, economista da Moody ' s Analytics. "O mercado imobiliário e a economia estão intimamente interligados."
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Os gastos com construção de casas e itens como mobiliário e fogões corresponderam a cerca de 15% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, segundo a Moody ' s Analytics. O mercado imobiliário também pode, indiretamente, influenciar os gastos dos consumidores. Quando os preços do imóveis subiram, em meados da década de 2000, as pessoas usaram o aumento de sua riqueza para arcar com o custo de carros e férias. Depois que os preços caíram, os proprietários "queimaram sua gordura" e limitaram seus gastos.
Um relatório a ser divulgado hoje pela Associação Nacional de Corretores Imobiliários deve mostrar que as vendas de casas usadas em julho caíram 12,9%, em relação a junho, na maior queda mensal em 2010, segundo a mediana das estimativas de economistas consultados pela Bloomberg.
Economistas preveem que a venda de casas novas, que representa menos de um décimo das transações imobiliárias, permaneceu, no mês passado, no seu segundo mais baixo nível.
"O setor habitacional continua num marasmo", disse Jeffrey Frankel, professor de Harvard e membro da comissão de datação do ciclo econômico do National Bureau of Economic Research, árbitro oficial de quando recessões começam e terminam nos EUA.
Com 14,6 milhões de americanos desempregados, os mutuários da casa própria estão em dificuldades para manter suas propriedades. Um em cada sete financiamentos habitacionais não estava com pagamentos em dia no primeiro trimestre, um recorde de alta segundo registros que datam de 1979. O número de casas retomadas provavelmente passará de 1 milhão neste ano, diz a RealtyTrac, especializada nesse tipo de dados.
Os esforços federais para ajudar têm tido pouco sucesso. Em 1,31 milhão de modificações em condições contratuais de financiamentos iniciadas sob o programa do governo Obama chamado Home Affordable Modification (para tornar os financiamentos mais viáveis), 48% dos contratos foram cancelados até o final de julho, informou o Departamento do Tesouro. Mais da metade de todos os mutuários que conseguiram modificações em seus contratos de financiamento faltaram novamente com os pagamentos num prazo de 12 meses, segundo o Birô Controlador da Moeda dos EUA.
O "estoque-sombra de casas" (número de moradias retomadas ou inadimplentes que terminarão sendo colocadas à venda) era de 7,3 milhões no primeiro trimestre, segundo Laurie Goodman, analista da Amherst Securities, de Nova York, uma corretora de títulos do setor hipotecário. E as casas que vão entrando no mercado colocam os preços sob mais pressão, e os compradores esperarão até encontrar negócios mais favoráveis.
Entre esses caçadores de casas que não conseguem acesso ao mercado estão Marion e Jim Lasswell, que disseram passar a maioria dos fins de semana olhando casas à venda nas proximidades de Raleigh, Carolina do Norte. Seu emprego como engenheiro da iRobot Corp é seguro, o crédito do casal é bom e eles têm guardado dinheiro suficiente para cobrir cerca de 20% do valor de uma casa, disse Marion Lasswell. Mas eles não creem que o mercado tenha chegado a seu ponto mais baixo. "Ainda estamos vendo os preços caírem", diz Lasswell, 38, enfermeira registrada. Ela disse que não vai fechar um negócio "até que surja uma oportunidade excelente".
Os preços das casas caíram 33% desde o pico em julho de 2006 até o mínimo em abril de 2009, pelo índice S&P/Case-Shiller. Eles poderão cair mais 20% até 2012, se o país entrar de novo em recessão, segundo a Moody ' s Analytics.
O PIB cresceu menos de 1,5% no segundo trimestre, o menor ritmo desde o começo da recuperação, segundo a mediana das previsões dos economistas numa pesquisa da Bloomberg. É uma queda em relação à taxa de 2,4% inicialmente divulgada pelo Departamento do Comércio no mês passado.
Os gastos dos consumidores cresceram 1,6% no segundo trimestre, abaixo do crescimento de 1,9% nos três meses anteriores. As compras de mobiliário doméstico e eletrodomésticos caíram 1,7% em junho, em comparação com um pico em abril de 2010.
"Há uma epidemia de poupança", disse Nariman Behravesh, economista-chefe da IHS, de Lexington, Massachusetts. "Famílias e empresas estão supercautelosas agora. Em algum momento em próximos 6 a 12 meses começaremos a ver mais movimento nas compras de casa e de automóveis, e maior disponibilidade para contratação por parte das empresas."
Uma recuperação sustentável da economia depende do crescimento do emprego necessário para impulsionar os gastos dos consumidores, disse Behravesh da IHS. A taxa média de desemprego poderá ser de 9,6% neste ano. Essa seria a maior taxa anual desde 1983.
Embora os Lasswell, na Carolina do Norte, tenham dito que vão continuar passando seus fins de semana olhando casas, eles não estão com pressa de comprar. "Eu não espero que as coisas melhorem", disse Marion Lasswell. "Minha expectativa é de que os preços permaneçam inalterados por longo tempo."

Dívida e declínio americanos

Autor(es): Mario Margiocco
Valor Econômico - 19/08/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/8/19/divida-e-declinio-americanos
Os EUA foram credores do mundo até 1986-1987, quando se tornaram novamente, nação devedora. Nas duas décadas seguintes a dívida americana ficou em US$ 3 trilhões
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Italianos e outros europeus têm graves problemas para normalizar suas dívidas nacionais, públicas e privadas, de modo que pode parecer atrevimento um europeu debater o crescente e grave problema da dívida dos EUA. Mas a realidade fiscal nos dois lados do Atlântico é, hoje, muito semelhante, e somente a persistência da confiança na promessa dos EUA mantém viva a esperança, entre alguns europeus, de que algum grande golpe teatral americano resolverá a sombria situação da dívida do país.
Naturalmente, muitos americanos reconhecem a escala da carga da dívida do país. O almirante Mike Mullen, chefe de Estado Maior e, portanto, maior posto militar nos EUA, disse recentemente que o "maior perigo para a segurança americana vem da dívida nacional". Quatro em cada dez americanos concordam com ele, ao passo que menos de três em dez consideram mais perigoso o terrorismo ou o Irã.
O status de grande potência dos EUA sempre foi vinculado a seu nível de endividamento. Na verdade, foi a ausência de endividamento que marcou a ascensão dos Estados Unidos à condição de potência mundial entre 1914 e 1917. Os EUA deviam US$ 3 bilhões (principalmente à Grã-Bretanha) e passaram a credores líquidos de um montante aproximadamente igual, graças a US$ 6 bilhões em créditos de guerra concedidos aos aliados ocidentais. Outros US$ 3 bilhões em créditos para a reconstrução no pós-guerra europeu cimentaram o status americano de maior nação credora do mundo, com um superávit equivalente a cerca de 8% do PIB, à época.
Essa mudança mostrou que os EUA tinham essencialmente substituído o Reino Unido como coração do sistema financeiro e monetário mundial. Antes, graças ao padrão-ouro e à estabilidade política britânica, a City londrina tinha sido fonte essencial de capital e de garantias financeiras no mundo por mais de um século.
A nova era começou subitamente em janeiro de 1915, quando, após alguns meses de profunda incerteza, ouro começou a ser enviado a Nova York, em quantidades crescentes. Poucos meses antes, Henry Lee Higginson, veterano financista de Boston tinha esboçado, numa carta ao presidente Woodrow Wilson, qual deveria ser a nova estratégia dos EUA. "Essa é nossa chance de assumir o primeiro lugar", escreveu ele. A casa financeira americana tinha de ser posta em ordem, todas as dívidas tinham de ser pagas e, como Londres havia feito durante muito tempo, a confiança tinha de ser mantida, o que significava garantir a conversibilidade do dólar em ouro.
Sozinho, entre as grandes nações do mundo, os EUA conseguiram garantir a conversibilidade do dólar durante toda a Grande Guerra. Com a paz, o dólar e Wall Street tornaram-se a força dominante no cenário financeiro mundial. As regras do mercado financeiro estabelecidas após 1933 pelo New Deal do presidente Franklin Roosevelt permitiram ao dólar substituir a libra esterlina no centro do sistema internacional.
O papel dos EUA como banqueiro do mundo permaneceu inconteste nos 40 anos seguintes, até Richard Nixon desacoplar o dólar do ouro. No entanto, mesmo sem o padrão-ouro, o poderio econômico dos EUA, juntamente com a reciclagem dos petrodólares, manteve o dólar por cima.
Os EUA continuaram sendo uma nação credora do mundo até 1986-1987, quando tornaram-se, novamente, nação devedora. Nas duas décadas seguintes a dívida americana ficou em US$ 3 trilhões, aumentando ou diminuindo com a taxa de câmbio do dólar.
A partir de 1990, os EUA começaram a importar cada vez mais capital, particularmente da Ásia. Na década de 2000, a China se tornou a principal fonte de financiamento de dívida, e os americanos estavam felizes, pois isso permitiu que o Federal Reserve (Fed banco central dos EUA) mantivesse as taxas de juro baixas.
Houve alguns que anteviram o perigo. O economista sueco Axel Leijonhufvud anteviu uma inflação nos preços dos ativos - das casas, em particular - e uma piora da qualidade do crédito. Inovações financeiras logo fizeram essa previsão tornar-se realidade. Basta lembrar que em 2008 havia apenas 12 empresas públicas em todo o mundo com pontuação de crédito "AS" porém mais de 60 mil produtos financeiros estruturados - em sua maioria americanos - eram consideradas "triplo-A". Os EUA, banqueiros do mundo, tinham se transformado no fundo de hedge do mundo.
Com essa mudança, o imperativo tradicional dos banqueiros - manter fidelidade e confiança - para "manter a fé", como disse Higginson - foi esquecido. E é na dívida pública dos EUA que se acumulam os destroços de promessas descumpridas por seu sistema financeiro, assim como a enorme dívida pública italiana reflete o esbanjamento nacional passado.
Os números, para os EUA, são estarrecedores. A dívida pública inclui não apenas os US$ 13,2 trilhões devidos pelo governo federal, como outros US$ 3 trilhões devidos pelos Estados, condados e cidades americanas. Além disso, há os US$ 3,9 trilhões em dívidas de agências de financiamento habitacional bancadas pelo governo americano (Fannie Mae, Freddie Mac e outras), que atualmente garantem mais de 90% de todas as hipotecas habitacionais nos EUA. Como resultado, a dívida pública dos EUA chegou a aproximadamente 140% do PIB.
O Congresso americano tem clara consciência do que prenunciam esses números, mas seus membros preferem não encará-los de frente. Com efeito, o presidente não é mais obrigado a apresentar a previsão usual de cinco anos para a posição fiscal do país. A perspectiva de um ano é agora considerada suficiente.
Então, onde é que isso deixa a economia mundial? Não há nenhuma grande potência emergente capaz de assumir a responsabilidade de financiar o mundo, como houve em 1914. Naquela época, Wall Street estava pronta para assumir o encargo. Algum dia, Xangai e Hong Kong poderão estar prontas, mas essa possibilidade é de pouca ajuda agora.


Estudo vê falha da teoria econômica na bolha do preço de imóveis nos EUA

Autor(es): Humberto Saccomandi, de São Paulo
Valor Econômico - 26/08/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/8/26/estudo-ve-falha-da-teoria-economica-na-bolha-do-preco-de-imoveis-nos-eua
Um estudo de economistas do Federal Reserve (o BC americano) sugere que a teoria econômica ainda não tem as ferramentas necessárias para prever com precisão preços de ativos imobiliários, mas que a crença em previsões otimistas levou tanto mutuários como as financeiras a incorrer em riscos cada vez maiores, que culminaram na atual crise do setor nos EUA.
O estudo, intitulado "Pessoas Razoáveis Discordam: Otimismo e Pessimismo sobre o Mercado Residencial nos EUA antes do Crash", foi realizado por Kristopher Gerardi, Christopher Foote e Paul Willen, economistas das sucursais do Fed de Atlanta e de Boston.
Eles analisaram as previsões sobre a evolução dos preços de casas nos EUA, feitas por economistas ao longo do boom dos anos 2000, como foco maior no período 2004-2006, os anos de pico no preço dos ativos. Pelo índice Case-Shiller, o valor das residências no país aumentou 72% entre 1997 e 2005.
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O estudo buscou averiguar a percepção posterior à crise de que as previsões róseas sobre a contínua valorização dos imóveis no país ignoraram evidências empíricas e teóricas básicas, que apontavam uma sobrevalorização maciça no preços dos imóveis e o risco de declínio severo.
O resultado é duro com os economistas. "Concluímos pela argumentação de que a teoria econômica serviu de pouca ajuda em relação a qual deveria ser o preço 'correto' dos ativos, incluindo os preços imobiliários."
Os otimistas (que rejeitavam a existência da bolha) erraram, pois não só ela existia como estourou a partir do início de 2007, levando para a recessão o restante da economia americana. Mas o estudo diz que a argumentação dos economistas otimistas parecia razoável à época. Mas ou menos na linha do então presidente do Fed, Alan Greenspan, muitos diziam que indicadores (como a relação entre preço dos imóveis e valor do aluguel) estavam defasados por não levarem em consideração novos fatores no setor imobiliário, como as taxas de juros baixas por um período prolongado. Como a correção de preços ainda não acabou, é difícil saber o quanto eles erraram.
Quanto aos pessimistas (aqueles que acreditavam na bolha), o problema foi a credibilidade e as justificativas erradas, vistas a posteriori. Já em 2002, economistas importantes, como Dean Baker, do Center for Economic and Policy Research, de Washington, alertaram que havia uma bolha no preço dos imóveis. Mas eles perderam a credibilidade à medida que a bolha não estourava e os preços continuavam a subir, o que parecia reforçar o argumento dos otimistas de que novas condições tinham mudado os fundamentos do setor.
Outros pessimistas, como o Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman, alertaram para a existência da bolha e a inevitabilidade do crash quanto o ciclo de alta dos preços estava chegando ao fim. Mas, segundo os autores do estudo, Krugman via as zonas costeiras como as de maior risco de bolha no preço dos imóveis, pela menor disponibilidade de terrenos para construção. Mas isso se mostrou equivocado. As maiores quedas nos preços das casas nos EUA ocorreram em cidades no interior do país, como Dallas e Phoenix.
O estudo diz que havia um grupo importante de economistas, os céticos ou agnósticos, que destacavam a dificuldade de prever o valor dos ativos com precisão, o que indiretamente inflou o clima de otimismo. Outro problema era que os estudos acadêmicos em geral levavam em consideração dados consolidados, mais antigos, e não se adequaram à rápida mudança de alguns indicadores. Estudos não acadêmicos foram mais ágeis em detectar a bolha imobiliária.
"Economistas bem treinados e bem respeitados (...) olharam para os mesmos dados e chegaram a conclusões amplamente diferentes sobre a trajetória dos preços das casas", diz o estudo, concluindo que a teoria econômica não tem uma posição firme sobre "quando e como os preços podem se desviar dos fundamentos do mercado por um longo período".
Os autores propõe a criação de um seguro contra a queda no preço dos imóveis, como forma de balizar o mercado e conter excessos.

Presença da China na região não preocupa EUA

Autor(es): Cláudia Trevisan
O Estado de S. Paulo - 19/08/2010
A crescente presença da China na América Latina não é fonte de preocupação para Washington nem ameaça os interesses dos Estados Unidos, afirmou ontem em Pequim o subsecretário de Estado americano responsável pela região, Arturo Valenzuela.
Segundo ele, o comércio e os investimentos da China na América Latina têm potencial para aumentar muito mais e desempenhar papel importante no crescimento dos países da região.
"A América Latina precisa crescer para superar problemas como desigualdade e grandes bolsões de pobreza e isso pode ser obtido com mais investimentos e mais comércio, além de reformas em cada país", declarou Valenzuela em entrevista coletiva na Embaixada dos Estados Unidos em Pequim.

O subsecretário participa na China da quarta sessão anual de conversas entre os dois países sobre a América Latina, no âmbito do Diálogo Estratégico mantido por Pequim e Washington.

Desde o início dos anos 2000, a China ampliou de maneira significativa seu comércio com a América Latina e desbancou os Estados Unidos do posto de maior parceiro de alguns países, entre os quais o Brasil. Pequim também fez acordos de livre comércio com Chile, Peru e Costa Rica e estreitou os laços com o venezuelano Hugo Chávez, um dos mais contundentes críticos dos Estados Unidos na região.

No começo do ano, Pequim anunciou investimentos e linha de crédito de US$ 20 bilhões à Venezuela, o que deu fôlego ao regime de Chávez e garantiu mais uma fonte de suprimento de petróleo ao país asiático. Anteontem, o governo do Equador disse ter obtido financiamento de US$ 1 bilhão da China, para projetos de infraestrutura.

Nos últimos meses, a China acelerou investimentos diretos na América Latina, para garantir matérias-primas essenciais ao crescimento, como minério de ferro e cobre. Se os pouco mais de US$ 11 bilhões anunciados desde o início do ano se confirmarem, o país asiático poderá liderar o ranking dos maiores investidores estrangeiros no Brasil em 2010.

Mas esse movimento está apenas no começo, ressaltou Valenzuela, lembrando que o comércio da China com a América Latina corresponde a apenas 5% de suas exportações e importações totais, comparados a 40% dos Estados Unidos.


EUA ENDURECEM PROCESSOS CONTRA DUMPING E SUBSÍDIO

EUA REFORÇAM MEDIDAS PROTECIONISTAS
Autor(es): Alex Ribeiro, de Washington
Valor Econômico - 27/08/2010
 
O governo americano anunciou medidas para aumentar as punições contra importações que considera desleais, numa ofensiva protecionista dirigida sobretudo contra a China, mas que pode atingir também as vendas do Brasil e de outros países. Segundo o secretário de comércio dos Estados Unidos, Gary Locke, são 14 medidas que, na prática, vão facilitar a aplicação de tarifas antidumping (sobre produtos abaixo do preço de mercado) e de medidas compensatórias (sobre produtos subsidiados).
Pelo discurso oficial, o pacote mira "práticas ilegais de países que não têm economia de mercado", entre os quais se destaca a China.
"Nossa leitura preliminar é que algumas das medidas podem afetar empresas brasileiras", disse Diego Bonomo, diretor-executivo da Coalisão Industrial Brasileira.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, decidiu ontem reforçar as suas ferramentas protecionistas contra importações oriundas sobretudo da China, num momento em que o seu Partido Democrata enfrenta uma difícil disputa eleitoral para o Congresso.
As 14 medidas anunciadas ontem pelo secretário de Comércio, Gary Locke, têm como alvo principal as importações vindas da China, vistas por muitos americanos como uma das causas das altas taxas de desemprego no país, que está em cerca de 10%, percentual bastante alto para um país com benefícios assistenciais restritos, como os EUA.
O objetivo principal é facilitar as punições contra importações tidas como desleais de países que, pelos critérios americanos, não têm economia de mercado, caso da China e Vietnã. Na prática, por exemplo, será adotada uma fórmula mais simples e direta para calcular subsídios e dumping (venda de produtos abaixo do preço de mercado) dessas economias. Mas isso afeta também para países considerados economias de mercado, como o Brasil, que ficam mais vulneráveis a retaliações americanas.
O governo americano já vem intensificando a abertura de processos antidumping e medidas compensatórias (combatem subsídios). Em 2009, o Departamento de Comércio iniciou 34 novas investigações antidumping, alta de 79% em relação ao período imediatamente anterior. A China é alvo de boa parte dessas investigações, e vem respondendo com medidas semelhantes contra produtos americanos.
Estados Unidos e China também travam uma disputa em torno da subvalorização da moeda chinesa. Há dois meses, a China soltou um comunicado anunciando que valorizaria sua moeda, mas seus movimentos são muito lentos. Há pressões do Congresso americano para aplicar medidas punitivas, como sobretaxas, ao que eles chamam de manipulação da moeda pelos chineses.
A economia dos Estados Unidos cresce num ritmo mais lento do que o inicialmente calculado para este ano, e alguns economistas dizem que, em parte, isso ocorre porque as exportações estão mais fracas que o esperado, e as importações, mais fortes.
Ontem, ao anunciar as medidas, Locke disse que elas são desdobramento de uma iniciativa maior lançada há alguns meses pelo governo do presidente Barack Obama para dobrar as exportações nos próximos cinco anos. Outras frentes de trabalho incluem o reforço na promoção comercial, novos acordos de livre comércio e ampliação dos financiamentos para as empresas exportadoras.
Algumas práticas antidumping dos Estados Unidos são acusadas de protecionistas e vem sendo questionadas na Organização Mundial do Comércio (OMC). Um dos pontos de disputa é um mecanismo chamado "zeragem", considerado um artifício contábil para achar dumping e subsídios onde não há, que já foi condenado pela OMC.
Há grandes chances de, em setembro, a União Europeia receber autorização para aplicar retaliações contra os Estados Unidos por causa do uso do mecanismo de "zeragem". O Brasil tem uma disputa na OMC com os Estados Unidos por causa da aplicação da "zeragem" sobre o suco de laranja.


Aversão ao risco dá mais força ao iene

Por dentro do mercado
Autor(es): Eduardo Campos
Valor Econômico - 26/08/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/8/26/aversao-ao-risco-da-mais-forca-ao-iene
A moeda está sobrevalorizada prejudicando as exportações. Fala-se, agora, em intervenção no câmbio. Não, não se trata do real, mas sim do iene
A moeda está sobrevalorizada prejudicando as exportações e o crescimento da economia. Tal situação se já se arrasta por algum tempo e começa a aumentar a pressão para que o governo faça intervenções no câmbio ou tome medidas para suavizar ou conter o movimento de alta.
O roteiro bem é conhecido dos investidores locais, mas a moeda em questão é o iene.
O câmbio japonês oscila ao redor dos 84 ienes por dólar, se aproximando de preços não registrados em cerca de 15 anos. Ontem, a divisa japonesa parou um pouco de se valorizar (veja gráfico abaixo), justamente porque se intensificaram as discussões em torno da possibilidade de o Banco do Japão (BoJ) intervir no mercado, algo que não acontece desde março de 2004.

Mas o dólar cai 1,25% ante o iene na semana, perde 2,22% no mês, recua 9,11% no ano e deve outros 10,23% no acumulado em 12 meses. Voltando um pouco mais, em abril de 2009 foi a última vez que a taxa estava acima na linha dos 100 ienes por dólar.
Esse aumento na demanda pelo iene faz parte do pacote global de aversão ao risco, que também conta com corrida ao mercado de renda fixa e venda de ações e commodities.
"Atribuímos essa força do iene ao fraco desempenho da economia americana e ao menor diferencial de taxa de juros entre o Japão e os Estados Unidos", diz o estrategista de câmbio do Wells Fargo Bank, Vassili Serebriakov.
Outro ponto relevante citado pelo estrategista é que, aparentemente, existe uma diversificação na demanda pelos títulos do governo japonês. Há mais bancos centrais demandando esses papéis, especialmente o BC da China.
Coincidência ou não, recentemente, autoridades chinesas mostraram descontentamento com a "segurança" e "liquidez" oferecidas pelos títulos americanos quando se trata de gerenciar as reservas internacionais do país que passam dos US$ 2,45 trilhões.
De volta ao iene, Serebriakov, nota que embora as autoridades japonesas tenham se mostrado mais sensíveis às oscilações do câmbio, a chance de intervenção continua relativamente baixa. Entre 25% e 30% pelas contas do Well Fargo.
"O governo também está colocando mais pressão sobre o Banco do Japão para afrouxar ainda mais sua política. E suspeitamos que essa resposta monetária ainda é mais provável do que as intervenções no câmbio", pondera o especialista.
Ainda de acordo com o estrategista, o histórico das intervenções de 2003 e 2004 sugere que essa não é uma ferramenta das mais efetivas.
"Uma mudança sustentada de preço do iene passa por uma recuperação da atividade nos Estados Unidos, algo que está a alguns meses de distância", conclui.
No Brasil, o câmbio vive mais do mesmo e segue praticamente indiferente ao que acontecer nas bolsas, nas commodities e outros ativos de risco. Ontem, o dólar comercial fechou praticamente estável, com leve valorização de 0,05%, a R$ 1,766. (veja gráfico abaixo)
Segundo o gerente de mesa da Advanced Corretora de Câmbio, Reginaldo Siaca, a divisa americana não deve mesmo se afastar da atual linha de preço. Motivo: capitalização da Petrobras.
Outras barreiras à alta, segundo Siaca, são as posições vendidas (pró-real) dos bancos no mercado à vista, que voltaram a se aproximar dos US$ 12 bilhões, e os outros US$ 7,93 bilhões que os estrangeiros têm vendidos no mercado de dólar futuro e cupom cambial (DDI).

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