segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Brasil "país do futuro" é revisitado

São Paulo, segunda-feira, 12 de dezembro de 2011New York Times
New York Times


Fugitivo do nazismo, autor louvou a terra que escolheu
POR SIMON ROMERO
PETRÓPOLIS, Brasil - Quando o escritor vienense Stefan Zweig se mudou em 1941 para esta cidade de palácios imperiais, aninhada na serra fluminense, já era um dos autores mais traduzidos do mundo, famoso por suas novelas concisas, que exploram a obsessão, a paixão e o desespero.
Meses depois, desanimado com o avanço do nazismo, ele tirou a própria vida, aos 60 anos, num pacto suicida com a esposa, Lotte. Desde então, Zweig ficou conhecido no seu país adotivo por ter criado uma das mais surradas expressões associadas ao Brasil: "O país do futuro".
Derivada do título de um livro dele de 1941, a frase acabou sendo ampliada e reciclada à exaustão, como um refrão: "O Brasil é o país do futuro, e sempre será", usado informalmente para menosprezar uma nação por tanto tempo assolada pela inflação alta e pela corrupção arraigada.
Como agora as perspectivas do Brasil melhoraram consideravelmente, os brasileiros estão reavaliando Zweig e seu legado. O título da obra ganha atualidade, e todos -de publicitários a diplomatas europeus, até o presidente americano Barack Obama, que visitou o Brasil em março- o usam sugerir que o "futuro" do Brasil talvez tenha finalmente chegado.
Escritores e historiadores brasileiros têm refletido sobre o significado do livro "Brasil, País do Futuro", e de algumas intrigas políticas que cercaram sua publicação, há 70 anos.
Numa recente conversa sobre Zweig na televisão, o editor do Publifolha, Alcino Leite Neto, comparou sua importância no Brasil à de Alexis de Tocqueville para os EUA. (Tocqueville, pensador político francês do século 19, escreveu sobre os conceitos americanos de liberdade e igualdade em "A Democracia na América".)
"Tivemos Stefan Zweig", disse Leite Neto, "que nos deixou esse livro pregando a tolerância, a compreensão entre os povos, um libelo pela paz, escrito logo depois da Segunda Guerra Mundial".
Estranhamente, o livro de Zweig foi ferozmente criticado no Brasil após a sua publicação. Críticos insinuaram que ele havia sido pago pelo regime autoritário de Getúlio Vargas para escrevê-lo.
O jornalista e apresentador de TV Alberto Dines, que está supervisionando a conclusão da Casa Stefan Zweig, museu que funcionará na residência onde o escritor viveu, tem sido uma força motriz por trás do resgate da sua obra.
Dines disse que as resenhas mordazes eram uma forma indireta de vingança dos críticos contra os censores do Estado Novo, já que para os críticos elogiar o Brasil era elogiar sua ditadura. Seja como for, o autor de numerosos best-sellers dificilmente precisaria do apoio financeiro do Brasil.
O que Zweig precisava na época era de outra coisa: um refúgio contra o nazismo. Dines argumenta que o escritor tinha um acordo implícito com as autoridades brasileiras para produzir o livro, em troca dos vistos de residência concedidos às pressas em Buenos Aires para ele e Lotte.
Alguns mistérios e contradições ainda persistem sobre seu suicídio logo depois da sua chegada ao Brasil. Ele admitiu que conhecer a fundo o país era tarefa de uma vida inteira. Mas, no bilhete que deixou ao se matar, Zweig, embora se descrevesse como apátrida, era só elogios ao "maravilhoso" Brasil, a terra que o acolheu.

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