CRÉDITO DE FORA COMEÇA A SECAR |
Autor(es): agência o globo:Gabriela Valente |
O Globo - 13/12/2011 |
Crise faz financiamento a filiais brasileiras encolher 60%. [Mas, diferente dos sensacionalistas econômicos, Governo diz que tem capacidade de financiar as subsidiárias integralmente. Quem terá razão?] A crise internacional chegou de vez ao Brasil e pelo mesmo caminho que em 2008: a restrição ao crédito para as empresas. Dados do Banco Central (BC) mostram que já em outubro o financiamento de matrizes estrangeiras para filiais brasileiras desacelerou fortemente, para US$1,2 bilhão, queda de 60% sobre setembro e metade da média mensal de ingresso de 2011. É o pior número desde maio de 2010. Os exportadores reclamam ainda que os bancos pequenos e médios pararam de conceder financiamento, pois preferem ficar com o dinheiro em caixa a assumir riscos em meio à turbulência. Quando emprestam, estão cobrando mais caro. A redução do financiamento externo foi uma das explicações dos analistas para a queda de 0,2% no investimento captado pelas Contas Nacionais, divulgadas semana passada. Por isso, o governo estuda repetir medida tomada há três anos: usar dinheiro das reservas para suprir o crédito estrangeiro e financiar as vendas de produtos daqui lá fora. Há expectativa também de que o BNDES abra novas linhas para suprir a demanda dos exportadores que recorreram à equipe econômica para se queixar da dificuldade. - Está mais caro e mais difícil conseguir crédito no exterior, e o BC não perdeu com isso (em 2008 e 2009), até lucrou com a medida. Por isso, o governo avalia essa possibilidade, até porque já é a hora de começar a atuar - informou uma fonte do governo. Dados do BC mostram que o crédito externo - que na sua maioria é para financiar as exportações da indústria e da agropecuária - caiu 2,1% em outubro, com estoque de R$62 bilhões. É uma reversão de uma sequência de altas seguidas desde julho. No ano, este tipo de empréstimo ainda sobe 27%. O BC alega que essa queda se deve à cotação da moeda americana. O setor produtivo tem outra explicação. Para Daniel Dias de Carvalho, diretor da Associação Brasileira dos Importadores de Máquinas e Equipamentos, as empresas brasileiras que tomam crédito no exterior, principalmente por meio de suas matrizes, já sentiram o impacto do recrudescimento da crise: - A fonte secou. As matrizes não estão repassando tanto porque não têm crédito nem para elas mesmas. A percepção do economista já é traduzida em números. O ingresso de empréstimos intercompanhias - por exemplo, da sede de uma montadora americana para sua filial no ABC paulista - atingiu em outubro o patamar mais baixo em 17 meses. O US$1,2 bilhão emprestado está no mesmo nível do US$1,156 bilhão enviado em outubro de 2009, quando o mundo ainda vivia a recessão que se seguiu à derrocada do Lehman Brothers, em setembro de 2008. Carvalho alega que isso gera uma reação em cadeia, já que esses recursos são destinados à ampliação das fábricas e, consequentemente, da produção no Brasil. Bancos pequenos e médios se fecham Este não foi o único canal a minguar. Os exportadores reclamam também do sistema financeiro doméstico. - Os bancos pequenos e médios fecharam as linhas de crédito. Não é que não tenha liquidez como em 2008. Até tem, mas os bancos preferem ficar com o dinheiro parado do que assumir o risco - afirma o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. Segundo ele, o problema só não é pior porque no fim do ano o comércio exterior é mais fraco. Quem tem de realizar operações está pagando mais caro. O spread - diferença entre o que o banco paga para captar e quanto ele cobra do cliente - dos empréstimos com repasses do exterior só aumenta desde agosto. Chegou a 10,2 pontos percentuais, o maior patamar desde setembro do ano passado. Diante deste cenário, o governo começou a estudar a retomada do uso das reservas internacionais para financiar os exportadores e driblar o chamado empoçamento de liquidez - quando o banco tem dinheiro mas não quer emprestar com medo de calote. Esta foi a estratégia de três anos atrás, quando o colchão era de US$200 bilhões. Agora, as reservas são superiores a US$350 bilhões. |
Crédito externo está mais curto e caro
Autor(es): Por Aline Lima e Carolina Mandl | De São Paulo |
Valor Econômico - 13/12/2011 http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/12/13/credito-externo-esta-mais-curto-e-caro |
As linhas de crédito para o comércio exterior, em grande parte abastecidas por bancos internacionais com moedas estrangeiras, estão ficando mais caras e a disponibilidade, diminuindo. O movimento tem evoluído ao longo da segunda metade deste ano. Os financiamentos com prazo superior a um ano começaram a dar sinais de menor disponibilidade há cerca de três semanas, segundo Fernando Freiberger, responsável pelo "corporate banking" do HSBC. Em setembro, o impacto era sentido só nas linhas acima de três anos. O custo das linhas de comércio exterior para os bancos, que têm juro atrelado à Libor, também está mais salgado - subiu, nas últimas três semanas, de um a dois pontos percentuais. Quanto maior o prazo, maior o aumento. Uma linha com prazo de seis meses, por exemplo, que antes de setembro saía a Libor mais 1,2% ao ano, agora é repassada para o banco local a Libor mais 2,1%. A ação coordenada de bancos centrais para injetar liquidez em dólares no sistema bancário mundial na virada de novembro para dezembro, no entanto, trouxe algum alívio. "Da semana retrasada para cá, a taxa voltou 0,5 ponto percentual", diz Ures Folchini, tesoureiro do WestLB. As empresas não sentiram ainda tanto a pressão da menor disponibilidade de crédito no cenário mundial porque a situação de caixa de muitas está favorável. "Elas fizeram o dever de casa e alongaram suas dívidas", explica Freiberger, do HSBC. "Quando começaram a sentir sinais de desaceleração da economia e de agravamento da crise da Europa, se voltaram para dentro, geriram melhor os custos e postergaram investimentos." Carlito Dayam, diretor do Daycoval, banco especializado na oferta de crédito a empresas de médio porte, vê até agora mais impacto no preço do que no volume de recursos. "Os bancos estrangeiros menores, que dão linha para os grandes, esses têm sofrido um pouco e têm diminuído a oferta", pondera. Mesmo assim, o repique não estaria sendo suficiente para barrar o acesso das empresas a financiamentos para o comércio exterior. "A companhia brasileira pode arcar com isso", diz Dayam. Na avaliação de Sérgio Lulia Jacob, vice-presidente do ABC Brasil, a alta de custo estaria atrelada a uma redução mais forte da oferta de crédito em relação à demanda por parte dos bancos instalados no Brasil. "Há uma cautela maior por parte de quem concede as linhas porque está havendo uma desaceleração na economia e isso atinge as empresas", afirma. De setembro para outubro, a média diária de concessão de Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACC) caiu quase pela metade, de R$ 412,9 milhões para R$ 272,4 milhões, segundo dados do Banco Central (BC). O panorama atual está longe de ser otimista, porém um quadro de ruptura como o que se seguiu à quebra do Lehman Brothers está praticamente descartado. Algumas instituições financeiras apostam, inclusive, em uma retomada de condições e fluxo dessas linhas no início de 2012. Até lá, os problemas emergenciais da Europa estariam razoavelmente equacionados, e o apetite por emergentes seria retomado. Rogério Calderón, diretor de controladoria do Itaú Unibanco, diz observar alguma deterioração das linhas externas para o Brasil nas últimas semanas, com aumento de custos e redução de disponibilidade. Entretanto, ele espera uma retomada logo no começo de 2012. "O recente "upgrade" do Brasil, juntamente com a melhor percepção sobre a América Latina, têm o potencial de atrair recursos de investidores que anteriormente não investiam no país", destaca. Na opinião de Dayam, do Daycoval, os bancos estrangeiros estão mais otimistas com os bancos brasileiros do que as próprias instituições financeiras domésticas. "Os bancos lá fora que têm liquidez não vão querer se arriscar nos mercados deles", diz. Mas, se nem o encarecimento das linhas externas, nem a leve redução de disponibilidade parecem afetar de forma drástica o crédito corporativo no Brasil, o ambiente mais avesso para emissões no mercado de capitais internacional já começa a estimular grandes empresas a buscarem, aqui, linhas bancárias tradicionais. "Aumentou a demanda das grandes empresas por capital de giro", afirma Dayam. "Achávamos que no último trimestre o ritmo [dos empréstimos] iria diminuir um pouco, mas estamos vendo que até o ano que vem não vai ser aquela coisa horrorosa." O Bradesco também já sente uma demanda maior por crédito por parte dos clientes que antes se abasteciam com linhas estrangeiras. "A oferta não está caindo, mas muitas empresas estão esbarrando em problemas de limite de crédito, que está no teto", afirma Domingos Figueiredo de Abreu, diretor vice-presidente do Bradesco. "Não vejo demanda maior significativa nem na margem, mas uma ou outra empresa fazendo esse movimento", diz Freiberger, do HSBC. Calderón, do Itaú, avalia que ainda é cedo para afirmar que a liberação de linhas pelos bancos no mercado doméstico seja necessária "à medida que a percepção do risco brasileiro pelos investidores internacionais tem melhorado muito nos últimos anos". |
Ferramentas monetárias são melhor arma contra desaceleração, diz S&P
Autor(es): Por Filipe Pacheco e Denise Neumann | De São Paulo |
Valor Econômico - 13/12/2011 http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/12/13/ferramentas-monetarias-sao-melhor-arma-contra-desaceleracao-diz-s-p |
O principal componente da estratégia anticíclica brasileira para abrandar o contágio da crise externa deve ser a política monetária. Essa posição foi defendida enfaticamente, ontem, pela presidente da agência de risco Standard & Poor"s (S&P) no Brasil, Regina Nunes, durante evento promovido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo, com apoio do Valor, e cujo tema era a reavaliação do risco Brasil. Também presente ao evento, o diretor de pesquisas e estudos econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, avalia que essa opção está em vigor e será um das razões que vai ajudar o crescimento do país em 2012. "Nós esperamos que isso [o combate à crise] seja feito mais com políticas monetárias do que fiscais. Porque por si só elas já dão impulso para a parte fiscal", disse Regina. Para a agência, o ponto mais fraco da avaliação soberana brasileira é justamente a estrutura fiscal. A continuidade do ritmo de corte da taxa básica de juros no país aproximaria o Brasil da estrutura de outras nações com características macroeconômicas semelhantes e que são usadas nas comparações da agência, explica ela. "Está na hora de o Brasil tentar usar um pouco mais dessa política monetária em termos [de instrumentos] contracíclicos." Regina reafirmou que, como a perspectiva do novo rating brasileiro ("BBB", dado em novembro) é estável, a agência tem até três anos para fazer uma reavaliação do risco do país. Na avaliação de Barros, no mundo, a "ortodoxia" vai tirar um período "sabático" e políticas não convencionais ganharão espaço. A crise atual, avalia ele, terá um impacto sobre o Brasil equivalente a 20% daquele gerado pela crise de 2008. Para ele, o Brasil pode crescer 3,7% no próximo ano, "uma projeção que tem viés de alta". O crescimento mais acelerado que os 3% de 2001 virão do afrouxamento monetário já em curso, da volta do investimento público, de um papel mais ativo do BNDES, da reversão parcial das medidas macroprudenciais, dos estímulos fiscais em projetos como o Brasil Maior e do aumento do salário mínimo. Para Carlos Hamilton Araújo, diretor de política econômica do Banco Central, que também participou da discussão, a desaceleração atual da economia brasileira tem características diferentes daquela de 2008. Há três anos, a queda foi generalizada, para oferta e demanda. Agora, avalia, ela decorreu de um movimento planejado pela autoridade monetária e afetou os componentes do Produto Interno Bruto (PIB) em momentos distintos. A oferta, reconheceu, sentiu primeiro, especialmente a indústria. "Mas temos a visão de que a demanda está também moderando no passo que foi planejado", disse. O BC, reconheceu, já trabalha com a possibilidade do PIB encerrar o ano entre 3% e 3,5%. Já para a Petrobras, uma eventual restrição de crédito em 2012, por conta do recrudescimento da crise na zona do euro, não deve ser um empecilho aos planos de investimento. O maior desafio para a empresa executar seu plano de investimentos (de US$ 225 bilhões para o período entre 2011-2015) não é o financiamento dos projetos, mas a sustentabilidade da sua cadeia de fornecedores, segundo apresentação feita durante o mesmo seminário por Jorge José Nahas Neto, gerente-executivo de planejamento financeiro e gestão de riscos da estatal. Nas contas da estatal, em um cenário conservador (com barris de petróleo a um preço médio de US$ 85), a empresa precisaria captar no mercado (com emissões ou empréstimos) US$ 12 bilhões de dólares ao ano. Em um cenário mais realista, com o barril cotado a US$ 95, o valor anual de financiamentos novos necessários cairia para US$ 7 bilhões. "São valores significativos, mas inferiores aos que levantamos em anos de crise", argumentou Nahas Neto. Na apresentação, ele mostrou captações totais de US$ 35 bilhões em 2009 (incluindo recursos do BNDES), US$ 36,2 bilhões em 2010 e US$ 18 bilhões este ano, incluindo a recente captação em euro e libra. Na avaliação da área financeira da Petrobras, o mercado de dívida pode ter restrições na Europa, mas continua forte nos Estados Unidos e "o mercado doméstico também é pouco explorado". |
Crise nos países ricos contagia as principais economias emergentes
Autor(es): Por Assis Moreira e Alex Ribeiro | De Genebra e Washington |
Valor Econômico - 13/12/2011 http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/12/13/crise-nos-paises-ricos-contagia-as-principais-economias-emergentes |
A forte queda na produção industrial da Índia, divulgada ontem, após dados similares relativos a Brasil e China, confirma que as principais economias emergentes estão em desaceleração, contagiadas pela crise nos países ricos. A produção industrial da Índia caiu 5,1% em outubro, comparado ao mesmo mês de 2010, na primeira contração observada em mais de dois anos. Ainda ontem, o México divulgou que sua produção industrial caiu 0,54% em outubro, em relação a setembro, apesar de ainda manter alta de 3,3% nos últimos 12 meses. Na semana passada, o IBGE divulgou números que mostram que a economia brasileira ficou estagnada no terceiro trimestre, comparado com o período imediatamente anterior, numa forte desaceleração em relação ao crescimento de 7,5% observado em 2010. O indice de atividade industrial da China caiu para 49 em novembro, ante 50,4 em outubro, o que já indica contração do setor, no pior resultado desde o início de 2009. No sábado, a China relatou ainda uma forte queda de seu superávit comercial em novembro, de US$ 17 bilhões para US$ 14,5 bilhões. "A situação [dos emergentes] tende a piorar, porque a crise é na Europa, EUA e Japão, e os três juntos perfazem 70% da produção mundial", afirmou o economista-chefe da Agência da ONU para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), Heiner Flassbeck. "Os emergentes estão longe de serem imunes à crise da zona do euro, especialmente nas manufaturas", disse Chris Williamson, economista-chefe da consultoria britânica Markit, especializada em monitorar a atividade industrial globalmente. As exportações de bens estão sob pressão por causa da demanda em baixa, principalmente dos países mais endividados da Europa, que agora aplicam novas medidas de austeridade. Essa desaceleração já começa a repercutir nas projeções para os países emergentes. A empresa de avaliação de risco de crédito Fitch Ratings reduziu em 0,4 ponto percentual, para 6,3%, a sua projeção para o crescimento dos Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) em 2012. Para 2011, a projeção é expansão de 6,7%, abaixo dos 8,4% observados no ano passado. Coletivamente, o crescimento econômico dos emergentes desacelerou para cerca de 6% em novembro, bem abaixo dos dois dígitos do começo do ano. Antes da recessão, esse crescimento fraco dos emergentes não ocorria desde metade de 2003. A desaceleração tem sido evidente no Brasil, na China e na Índia, mas também em economias como Coreia do Sul e Taiwan. A perda de dinamismo nas economias emergentes se deve, de um lado, ao contágio da crise da Europa, que tornou investidores mais avessos a riscos. Também é resultado, de outro lado, de políticas monetária e macroprudenciais mais restritivas postas em prática por alguns países, como Brasil, Índia e China, para conter pressões inflacionárias e combater o surgimento de bolhas nos seus mercados. "É a cada dia menor o número de economias emergentes que mostram alguma resistência", afirma o estrategista-chefe para mercados emergentes do banco Societe Generale, Benoit Anne. Uma rara exceção positiva é a Turquia, que divulgou ontem uma expansão de 8,4% no terceiro trimestre (leia texto abaixo). O temor sobre o impacto de menor crescimento no mundo desenvolvido sobre os emergentes se intensificou em agosto, e só aumentou desde então. Com a expansão nos ricos próxima de 1% no momento, e pouco espaço de melhora para o ano que vem, o crescimento dos emergentes "inevitavelmente será contido por algum tempo", disse Williamson. A expectativa nos mercados é de que mais bancos centrais nos emergentes vão baixar os juros para promover o crescimento, como já vem fazendo o Brasil. É o que se espera na India, onde a manutenção do aperto monetário, devido à inflação em alta, claramente afetou a atividade industrial na terceira maior economia da Asia. "A produção industrial na China também vem caindo, especialmente na indústria pesada, que precisa de muita energia", diz Qinwei Wang, da Capital Economics, de Londres. A produção chinesa cresceu 12,4%, abaixo do 13,2% anterior e o mais baixo nivel desde meados de 2009. Isso ocorreu por duas razões: queda nas exportações e na construção civil. "A queda de novembro na inflação, produção industrial e nos investimentos fez o governo chinês falar de politica monetária prudente, mas que na prática já vem sendo flexibilizada", diz o analista. Para Flassbeck, da Unctad, os emergentes vão ser mais afetados à medida que as três grandes economias - Europa, EUA e Japão - estão quase em recessão. Os resultados nos EUA foram menos ruins no terceiro trimestre porque os consumidores começaram a usar a poupança. No Japão, o consenso é de que os estímulos para recuperação do desastre do tsunami já estão se esgotando. E na Europa, a cúpula na semana passada acertou mais cortes de gastos, o que "piora a situação" para os emergentes. O Instituto Internacional de Finanças (IIF) continua a projetar sólido crescimento na demanda doméstica nos emergentes em 2012-13. Muito desse vigor representa "um processo de longo prazo de convergência economica". Os emergentes estão num processo de crescimento da classe média. |
Risco de contágio financeiro é baixo, diz Tombini
13/12/2011
Presidente do Banco Central contesta informação de que o sistema financeiro brasileiro estaria muito exposto a empréstimos dos bancos europeus
BEATRIZ ABREU, BRASÍLIA
A exposição do sistema financeiro brasileiro (SFN) à fragilidade das dos bancos europeus é baixa, na avaliação do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Essa solidez do sistema, segundo Tombini, está garantida pela capitalização das instituições, segundo as normas definidas no acordo de Basileia (que estrutura a atuação dos bancos em níveis de segurança) e dos R$ 450 bilhões que os bancos mantém depositados no Banco Central. Na eventualidade do agravamento da crise financeira na zona do euro, o Brasil teria condições de enfrentar esse desafio.
Os comentários de Tombini, transmitidos por meio de sua assessoria de imprensa, consideram relatório do Banco de Compensações Internacionais (BIS) sobre o risco de países emergentes e dos Brics, diante do agravamento da crise financeira na zona do euro. O relatório menciona que os bancos europeus têm US$ 416 bilhões em operação no Brasil, o que poderia ser uma evidência da dependência brasileira de recursos desses bancos. Essa dependência imporia um risco maior considerando-se a possibilidade de uma nova fase de escassez de recursos no exterior.
Esse valor é reconhecido pelo Banco Central, mas Tombini rejeita essa vulnerabilidade. Segundo dados do BC, esse valor de US$ 416 bilhões se refere a todos os tipos de operações ativas dos bancos europeus, porque incluem, além das operações de crédito, as operações de renda fixa e variável.
"Cerca de 80% das operações de crédito de bancos de origem estrangeira são realizadas com recursos captados no próprio mercado brasileiro", afirma Tombini ao se referir aos depósitos dos clientes ou captações junto ao mercado de capitais. Segundo ele, as fontes europeias representam apenas 3% das captações totais do Sistema Financeiro Nacional.
Créditos. Os dados do BC mostram também que o total das operações de crédito das instituições estrangeiras equivaliam em outubro passado a R$ 337,8 bilhões, de um total de R$ 1,946,3 trilhão. Desse total, 14% são operações realizadas por bancos europeus, ou seja, R$ 272,5 bilhões.
Tombini explicou que, de acordo com a legislação prudencial brasileira, as instituições de capital estrangeiro operam no sistema financeiro nacional na forma de "subsidiária integral".
"Portanto, o capital é plenamente integralizado no Brasil, sujeito às regras impostas pelo órgão regulador e à estrita supervisão do Banco Central", afirma o presidente do BC.
[Realmente, um círculo virtuoso, quer dizer, uma estruturação tal da economia que leva a imaginar um desenvolvimentismo. As empresas industriais européias, porque contam com bancos e burocracias particulares de fundos associados de investimentos, podem desligar-se do estado de origem e recompor seus capitais no Brasil. Nosso sistema bancário, nas palavras translúcidas de Tombini, é uma "subsidiária integral". O estado brasileiro pode comprometer-se a emprestar e lastrear os meios de pagamento do giro monetário e, endividando os agentes econômicos, como num passe de mágica, transforma o estrangeiro em doméstico, com sua varinha soberana. Surge, deste lado, o mercado interno, que, na Europa, regride? Em todo caso, não passando mesmo este erro de um jargão de jornalistas para entenderem-se, a coisa é triste para os europeus: mais uma vez, os cavalões comendo, como no rondó do Manuel Bandeira. Aquele mesmo recurso, de expatriação, pode servir de artifício para impelir a mudanças nos estados de origem, e atendem como austeridade e ganho de produtividade para exportar. Na Espanha, a caça à corrupção já ronda a família real, pois a direita empreendedora entende caixa 3, 4 como ajuste fiscal (para conhecimento: o caixa 2 é fundamental). Assim, as empresas européias, voltando-se para o Brasil para escapar à crise imposta a eles pelos sócios de ontem, os financistas anglo-americanos, vão dando comida aos cavalões. Em torno da crise européia atual há uma aura literária, alguma coisa imaterial de autoengano cheio de ternura que se despedaça no ar, na minha opinião. Mitterand e Köhl sabiam que a guerra havia sido gestada e executada pelos interesses do mercado, que, na virada para o século XX, andavam colados aos interesses dos cartéis e dos trustes. Foi a ganância dos industriais e de seus bancos que realizou a pulsão fratricida. Para protegerem seus países - ah, esses Românticos! -, conceberam a União Européia a partir do Sindicato Patronal do Carvão e do Ferro, unindo as burguesias. Hoje, no entanto, a União Européia não está completa, revela-se um empreendimento tardio, que não poderia ter-se arriscado ao método do erro-e-acerto, confundindo construção permanente com ato de execução. Talvez tenham, os líderes, sido levados a isso por força das circunstâncias. Resta que a União Européia que hoje precisa ser feita às pressas serve, ainda, para proteger os países europeus da ganância do mercado, mas, desta vez, da do financeiro, da do financista, mas simultaneamente deve atender aos interesses dos industriais em fuga, enxugamento ou bancarrota. Para o indivíduo médio europeu, o fogo e a frigideira. Quer dizer, entre a França e a Alemanha. Noutras palavras: entre a base agrícola e agroindustrial exportadora e a indústria a ela associada, e cuja ponta mais avançada, porém, mais intensamente produtiva e de menor custo de subsistência da força-de-trabalho, ou mais neoliberal (que vai aparecendo na mídia como sinônimo, disfarçando-se assim, de "caráter germânico"; entre a inteligentsia, uma Alemanha austera, que destrói o estado de bem-estar), encontra-se do outro lado do Reno. Esta vinculação diferenciadora fundamental entre fronteira dos meios de subsistência e fronteira industrial existe, igualmente, em relação ao Brasil e, talvez, torne a coisa mais clara para entender o modelo europeu, a título de introdução, falar rapidamente do Brasil primeiro. Ao lado das medidas monetárias, o Plano Real também consistiu na abolição de certas medidas alfandegárias sobre os produtos da cesta básica. Ora, esta cesta básica, em parte, existia no mercado mundial, já era importada; outra parte, porém, não o era, era produzida domesticamente, de modo que uma quantidade do trigo, do arroz, do feijão, do milho, que formava excedente e podia ser, antes, exportado, mudou de sentido; os produtores perderam renda, primeiro; sofreram a competição dos produtos argentinos, norte-americanos, russos, norte-americanos, europeus; passados alguns anos, alguns perderam a propriedade, outros transformaram lavoura em pasto ou o conteúdo da sua lavoura, procurando o mercado externo que, pelas novas leis, passava a comandar. Os ganhadores foram os processadores de cana-de-açúcar, embora gostem de afetar o papel de vítima, e os pecuaristas, que mandam no preço da carne. A isto, na época, chamou-se "âncora verde do Plano Real" e até mesmo os conservadores exclamaram-se do quanto a população do campo estava pagando o nível de vida novo, com estabilidade monetária, dos aglomerados nas metrópoles e cidades. Isto porque a importação dos meios de subsistência faz a economia girar e alavanca-a artificialmente, podendo, então, comercializar bens duráveis com os pólos industriais estrangeiros, arrecadar receita e inflar o PIB. As mercadorias importadas são elemento de comprometimento externo do estado que as recebe ou, ao contrário, imperialismo. Infelizmente, o Brasil é uma fronteira agrícola "aberta", em comparação com a França; vem dela, a propósito, as empresas multinacionais que exploram grande parte de nosso setor de subsistência. A inflação do setor de serviços, afinal, vem de onde? Vem do encarecimento da reprodução do capital variável, a um tempo, na China e no Brasil, por efeito dos centralizadores europeus e dos puros especuladores anglo-americanos. No caso da França, esta precisa exportar, mas tem, em relação a seu próprio viveiro industrial, estoques alimentares que lhe garantem segurança e, mais do que isso, Defesa, no sentido militar mesmo do termo. A vinculação básica, jurídica e fiscal, entre as duas unidades é a célula básica do Euro, mas não da União Européia; e os problemas vêm, exatamente, de que França e Alemanha só têm poder de comando sobre a União Européia (e olhe lá), uma vez que o Euro passa por 'commoditie' na Bolsa de Valores; o câmbio é, ao mesmo tempo, para os industrias do campo e da cidade da zona do Euro, o mecanismo de assaltar os irmãos do bloco e perder para os fundos de investimento anglo-americanos. Em geral, a fronteira agrícola move-se, em termos geográficos, estatísticos e cartográficos, conforme transforma-se a fronteira industrial e, por isso, a análise da fronteira agrícola passa por um nível de abstração econômica que escapa ao desenho direto que faz no solo; ela não se explica por si só, pois é subsistema de um sistema. Da mesma maneira, a fronteira minero-fibróide-metálica, as indústrias mineradoras e siderúrgicas, que não são mais residentes na União Européia (adeus, Sindicado do Carvão e do ferro..., havendo migrado e recomposto-se na periferia sino-brasileira, com franquias na África e no Canadá). No caso europeu, por fim, tratando da sua célula básica, a política agrícola comum - que rifou Doha e OMC - segue de mãos dadas com a terceirização feita pela direita alemã, que reunificou a nação sob um só estado e deu aquela repaginada nos velhos sindicatos nacionais. E os sindicatos paneuropeus, quando vão surgir? Anos-luz atrás do movimento real...}{Voltando a falar do Brasil, às declarações do Tombini, e indo direto ao ponto. Se bem que parece um desenvolvimentismo, não o é. O Lula não mexeu neste e noutros pontos da nova política econômica brasileira, nem a Dilma parece disposta a fazê-lo... mas vai que... o Florence... ou o Mendes Ribeiro Filho convençam seus pares que dá mesmo pra chamar bacia leiteira e cinturão-verde de região reformada... e associarem-se, menos ao Carrefour do que a agroindústrias "bilaterais". Pena que Rafale e Mirage não sirvam pra pulverizar agrotóxico sobre as lavouras, né?}
Dependência. O relatório do BIS, detalhado em matéria de hoje no Estado e na Agência Estado em seu noticiário de tempo real, mostra que o Brasil entre os Brics é o mais dependente do capital europeu.
Tombini contesta essa dependência, mas concorda que em relação ao fluxo de capitais houve uma moderação do ingresso, "principalmente naquelas modalidades mais voláteis e de curto prazo". O relatório do BIS sugere que 30% do dinheiro de curto prazo é de origem europeia.
[Aqui, ainda mais: se o Tombini fosse menos pudim, e não se pronunciasse como as advertências do ministério da saúde, para o comprador de cerveja "beber com moderação", não teria perdido a chance de vangloriar-se e à política econômica do governo, pois o recurso de emergência, ao ser acionado, repele do mercado nacional os especuladores, os investimentos "mais volatéis e de curto prazo". Assim, se todos jogam a favor do Real na bolsa, nossa moeda valoriza-se ante o dólar, os estrangeiros ganham ao remeter às matrizes seus lucros e o governo, por sua vez, se bem que seja depenado momentaneamente, terá em seu poder contratos e dívidas com as quais rolar o giro monetário, acumular e reproduzir os patrimônios e as receitas, recompondo suas reservas sob a forma de investimento dos outros. Em termos concretos, o Tesouro cobre as restrições dos fundos públicos (FGTS, FAT), pois tem, igualmente, o poder legal de capitalizar o BNDES, para além da carteira formalizante de trabalho. Hein, me diz, por que será que tem casos de trabalho escravo no Brasil, na cidade e no campo? Evidentemente, na BM&F, as taxas de juros tendem a cair, porque as empresas com investimentos diretos no Brasil precisam ganhar amanhã mais do que hoje. Pra vender bens não-duráveis, que como os duráveis, não duram. Se está pactuado o quanto ganharão, deixando para trás o quanto os financistas irão retirar delas na ponta européia ou, melhor dizendo, contando que a crise na Europa cesse em meados de 2012, as expectativas do BC vão consolidar balizas seguras para a jogatina. No entanto, esse modelo aparentemente desenvolvimentista visto mais de perto mostra que o Tesouro tem de ser coberto, permanentemente, pelas exportações primárias, pelo superávit fiscal. E não apenas máquinas serão montadas aqui: também escritórios e incorporadoras, tratando de lançar para dentro do mercado doméstico, via importação, mercadorias e serviços, vão aumentar seus estoques de capital, seu fundo de acumulação - para, com ele, especular, especular. Os do governo, a princípio, pensado como fração, ou facção, somados aos empreiteiros - seja PT seja PSDB? -, nem ligam, porque a arrecadação federal, do imposto sobre o consumo, sustenta os sinecuristas e conforma, em si e para si, um mercado e um capital novos, enriquecendo os sócios da Votorantim, do Itaú, do Bradesco, do grupo OLX etc. O perigo disso tudo, pensando provincianamente, é que, bem como os lulistas têm idéias para os lucros do pré-sal, os estrangeiros também. Para eles, o cenário mais positivo é aquele em que a China continua sob ditadura e o Brasil entra para a OPEP, comprando mais e mais títulos do Tesouro anglo-americano. Muitos schumpeterianos nessa hora! mas sem ilusões. Os atritos, conforme a FIESP deixa claro, vêm da tributação e da política alfandegária, do Brasil para com a economia-mundo e entre os estados da federação; mais o câmbio, tais fatores formam a "constelação perversa" que subsume e concentra os mercados dos velhos capitais industriais, enquanto, para o governo, mais uma vez, parece que tanto faz - afinal, são desenvolvimentistas! Cadê o Gurgel e o Conselhão? Tão achando que desconto na energia vai levar a muita coisa? Eu sei que não.]
Essa retração, como explica o presidente do BC, é resultado também das medidas macroprudenciais. Essas medidas foram adotadas para mitigar riscos à economia e ao próprio sistema financeiro nacional.
Tombini lembra que nas demais modalidades - "de melhor qualidade"- o fluxo para o Brasil continua elevado.
"No caso do investimento estrangeiro direto o ingresso líquido mensal tem sido, nos últimos meses, superior a UR$ 5 bilhões", garante o presidente do BC.
BEATRIZ ABREU, BRASÍLIA
A exposição do sistema financeiro brasileiro (SFN) à fragilidade das dos bancos europeus é baixa, na avaliação do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Essa solidez do sistema, segundo Tombini, está garantida pela capitalização das instituições, segundo as normas definidas no acordo de Basileia (que estrutura a atuação dos bancos em níveis de segurança) e dos R$ 450 bilhões que os bancos mantém depositados no Banco Central. Na eventualidade do agravamento da crise financeira na zona do euro, o Brasil teria condições de enfrentar esse desafio.
Os comentários de Tombini, transmitidos por meio de sua assessoria de imprensa, consideram relatório do Banco de Compensações Internacionais (BIS) sobre o risco de países emergentes e dos Brics, diante do agravamento da crise financeira na zona do euro. O relatório menciona que os bancos europeus têm US$ 416 bilhões em operação no Brasil, o que poderia ser uma evidência da dependência brasileira de recursos desses bancos. Essa dependência imporia um risco maior considerando-se a possibilidade de uma nova fase de escassez de recursos no exterior.
Esse valor é reconhecido pelo Banco Central, mas Tombini rejeita essa vulnerabilidade. Segundo dados do BC, esse valor de US$ 416 bilhões se refere a todos os tipos de operações ativas dos bancos europeus, porque incluem, além das operações de crédito, as operações de renda fixa e variável.
"Cerca de 80% das operações de crédito de bancos de origem estrangeira são realizadas com recursos captados no próprio mercado brasileiro", afirma Tombini ao se referir aos depósitos dos clientes ou captações junto ao mercado de capitais. Segundo ele, as fontes europeias representam apenas 3% das captações totais do Sistema Financeiro Nacional.
Créditos. Os dados do BC mostram também que o total das operações de crédito das instituições estrangeiras equivaliam em outubro passado a R$ 337,8 bilhões, de um total de R$ 1,946,3 trilhão. Desse total, 14% são operações realizadas por bancos europeus, ou seja, R$ 272,5 bilhões.
Tombini explicou que, de acordo com a legislação prudencial brasileira, as instituições de capital estrangeiro operam no sistema financeiro nacional na forma de "subsidiária integral".
"Portanto, o capital é plenamente integralizado no Brasil, sujeito às regras impostas pelo órgão regulador e à estrita supervisão do Banco Central", afirma o presidente do BC.
[Realmente, um círculo virtuoso, quer dizer, uma estruturação tal da economia que leva a imaginar um desenvolvimentismo. As empresas industriais européias, porque contam com bancos e burocracias particulares de fundos associados de investimentos, podem desligar-se do estado de origem e recompor seus capitais no Brasil. Nosso sistema bancário, nas palavras translúcidas de Tombini, é uma "subsidiária integral". O estado brasileiro pode comprometer-se a emprestar e lastrear os meios de pagamento do giro monetário e, endividando os agentes econômicos, como num passe de mágica, transforma o estrangeiro em doméstico, com sua varinha soberana. Surge, deste lado, o mercado interno, que, na Europa, regride? Em todo caso, não passando mesmo este erro de um jargão de jornalistas para entenderem-se, a coisa é triste para os europeus: mais uma vez, os cavalões comendo, como no rondó do Manuel Bandeira. Aquele mesmo recurso, de expatriação, pode servir de artifício para impelir a mudanças nos estados de origem, e atendem como austeridade e ganho de produtividade para exportar. Na Espanha, a caça à corrupção já ronda a família real, pois a direita empreendedora entende caixa 3, 4 como ajuste fiscal (para conhecimento: o caixa 2 é fundamental). Assim, as empresas européias, voltando-se para o Brasil para escapar à crise imposta a eles pelos sócios de ontem, os financistas anglo-americanos, vão dando comida aos cavalões. Em torno da crise européia atual há uma aura literária, alguma coisa imaterial de autoengano cheio de ternura que se despedaça no ar, na minha opinião. Mitterand e Köhl sabiam que a guerra havia sido gestada e executada pelos interesses do mercado, que, na virada para o século XX, andavam colados aos interesses dos cartéis e dos trustes. Foi a ganância dos industriais e de seus bancos que realizou a pulsão fratricida. Para protegerem seus países - ah, esses Românticos! -, conceberam a União Européia a partir do Sindicato Patronal do Carvão e do Ferro, unindo as burguesias. Hoje, no entanto, a União Européia não está completa, revela-se um empreendimento tardio, que não poderia ter-se arriscado ao método do erro-e-acerto, confundindo construção permanente com ato de execução. Talvez tenham, os líderes, sido levados a isso por força das circunstâncias. Resta que a União Européia que hoje precisa ser feita às pressas serve, ainda, para proteger os países europeus da ganância do mercado, mas, desta vez, da do financeiro, da do financista, mas simultaneamente deve atender aos interesses dos industriais em fuga, enxugamento ou bancarrota. Para o indivíduo médio europeu, o fogo e a frigideira. Quer dizer, entre a França e a Alemanha. Noutras palavras: entre a base agrícola e agroindustrial exportadora e a indústria a ela associada, e cuja ponta mais avançada, porém, mais intensamente produtiva e de menor custo de subsistência da força-de-trabalho, ou mais neoliberal (que vai aparecendo na mídia como sinônimo, disfarçando-se assim, de "caráter germânico"; entre a inteligentsia, uma Alemanha austera, que destrói o estado de bem-estar), encontra-se do outro lado do Reno. Esta vinculação diferenciadora fundamental entre fronteira dos meios de subsistência e fronteira industrial existe, igualmente, em relação ao Brasil e, talvez, torne a coisa mais clara para entender o modelo europeu, a título de introdução, falar rapidamente do Brasil primeiro. Ao lado das medidas monetárias, o Plano Real também consistiu na abolição de certas medidas alfandegárias sobre os produtos da cesta básica. Ora, esta cesta básica, em parte, existia no mercado mundial, já era importada; outra parte, porém, não o era, era produzida domesticamente, de modo que uma quantidade do trigo, do arroz, do feijão, do milho, que formava excedente e podia ser, antes, exportado, mudou de sentido; os produtores perderam renda, primeiro; sofreram a competição dos produtos argentinos, norte-americanos, russos, norte-americanos, europeus; passados alguns anos, alguns perderam a propriedade, outros transformaram lavoura em pasto ou o conteúdo da sua lavoura, procurando o mercado externo que, pelas novas leis, passava a comandar. Os ganhadores foram os processadores de cana-de-açúcar, embora gostem de afetar o papel de vítima, e os pecuaristas, que mandam no preço da carne. A isto, na época, chamou-se "âncora verde do Plano Real" e até mesmo os conservadores exclamaram-se do quanto a população do campo estava pagando o nível de vida novo, com estabilidade monetária, dos aglomerados nas metrópoles e cidades. Isto porque a importação dos meios de subsistência faz a economia girar e alavanca-a artificialmente, podendo, então, comercializar bens duráveis com os pólos industriais estrangeiros, arrecadar receita e inflar o PIB. As mercadorias importadas são elemento de comprometimento externo do estado que as recebe ou, ao contrário, imperialismo. Infelizmente, o Brasil é uma fronteira agrícola "aberta", em comparação com a França; vem dela, a propósito, as empresas multinacionais que exploram grande parte de nosso setor de subsistência. A inflação do setor de serviços, afinal, vem de onde? Vem do encarecimento da reprodução do capital variável, a um tempo, na China e no Brasil, por efeito dos centralizadores europeus e dos puros especuladores anglo-americanos. No caso da França, esta precisa exportar, mas tem, em relação a seu próprio viveiro industrial, estoques alimentares que lhe garantem segurança e, mais do que isso, Defesa, no sentido militar mesmo do termo. A vinculação básica, jurídica e fiscal, entre as duas unidades é a célula básica do Euro, mas não da União Européia; e os problemas vêm, exatamente, de que França e Alemanha só têm poder de comando sobre a União Européia (e olhe lá), uma vez que o Euro passa por 'commoditie' na Bolsa de Valores; o câmbio é, ao mesmo tempo, para os industrias do campo e da cidade da zona do Euro, o mecanismo de assaltar os irmãos do bloco e perder para os fundos de investimento anglo-americanos. Em geral, a fronteira agrícola move-se, em termos geográficos, estatísticos e cartográficos, conforme transforma-se a fronteira industrial e, por isso, a análise da fronteira agrícola passa por um nível de abstração econômica que escapa ao desenho direto que faz no solo; ela não se explica por si só, pois é subsistema de um sistema. Da mesma maneira, a fronteira minero-fibróide-metálica, as indústrias mineradoras e siderúrgicas, que não são mais residentes na União Européia (adeus, Sindicado do Carvão e do ferro..., havendo migrado e recomposto-se na periferia sino-brasileira, com franquias na África e no Canadá). No caso europeu, por fim, tratando da sua célula básica, a política agrícola comum - que rifou Doha e OMC - segue de mãos dadas com a terceirização feita pela direita alemã, que reunificou a nação sob um só estado e deu aquela repaginada nos velhos sindicatos nacionais. E os sindicatos paneuropeus, quando vão surgir? Anos-luz atrás do movimento real...}{Voltando a falar do Brasil, às declarações do Tombini, e indo direto ao ponto. Se bem que parece um desenvolvimentismo, não o é. O Lula não mexeu neste e noutros pontos da nova política econômica brasileira, nem a Dilma parece disposta a fazê-lo... mas vai que... o Florence... ou o Mendes Ribeiro Filho convençam seus pares que dá mesmo pra chamar bacia leiteira e cinturão-verde de região reformada... e associarem-se, menos ao Carrefour do que a agroindústrias "bilaterais". Pena que Rafale e Mirage não sirvam pra pulverizar agrotóxico sobre as lavouras, né?}
Dependência. O relatório do BIS, detalhado em matéria de hoje no Estado e na Agência Estado em seu noticiário de tempo real, mostra que o Brasil entre os Brics é o mais dependente do capital europeu.
Tombini contesta essa dependência, mas concorda que em relação ao fluxo de capitais houve uma moderação do ingresso, "principalmente naquelas modalidades mais voláteis e de curto prazo". O relatório do BIS sugere que 30% do dinheiro de curto prazo é de origem europeia.
[Aqui, ainda mais: se o Tombini fosse menos pudim, e não se pronunciasse como as advertências do ministério da saúde, para o comprador de cerveja "beber com moderação", não teria perdido a chance de vangloriar-se e à política econômica do governo, pois o recurso de emergência, ao ser acionado, repele do mercado nacional os especuladores, os investimentos "mais volatéis e de curto prazo". Assim, se todos jogam a favor do Real na bolsa, nossa moeda valoriza-se ante o dólar, os estrangeiros ganham ao remeter às matrizes seus lucros e o governo, por sua vez, se bem que seja depenado momentaneamente, terá em seu poder contratos e dívidas com as quais rolar o giro monetário, acumular e reproduzir os patrimônios e as receitas, recompondo suas reservas sob a forma de investimento dos outros. Em termos concretos, o Tesouro cobre as restrições dos fundos públicos (FGTS, FAT), pois tem, igualmente, o poder legal de capitalizar o BNDES, para além da carteira formalizante de trabalho. Hein, me diz, por que será que tem casos de trabalho escravo no Brasil, na cidade e no campo? Evidentemente, na BM&F, as taxas de juros tendem a cair, porque as empresas com investimentos diretos no Brasil precisam ganhar amanhã mais do que hoje. Pra vender bens não-duráveis, que como os duráveis, não duram. Se está pactuado o quanto ganharão, deixando para trás o quanto os financistas irão retirar delas na ponta européia ou, melhor dizendo, contando que a crise na Europa cesse em meados de 2012, as expectativas do BC vão consolidar balizas seguras para a jogatina. No entanto, esse modelo aparentemente desenvolvimentista visto mais de perto mostra que o Tesouro tem de ser coberto, permanentemente, pelas exportações primárias, pelo superávit fiscal. E não apenas máquinas serão montadas aqui: também escritórios e incorporadoras, tratando de lançar para dentro do mercado doméstico, via importação, mercadorias e serviços, vão aumentar seus estoques de capital, seu fundo de acumulação - para, com ele, especular, especular. Os do governo, a princípio, pensado como fração, ou facção, somados aos empreiteiros - seja PT seja PSDB? -, nem ligam, porque a arrecadação federal, do imposto sobre o consumo, sustenta os sinecuristas e conforma, em si e para si, um mercado e um capital novos, enriquecendo os sócios da Votorantim, do Itaú, do Bradesco, do grupo OLX etc. O perigo disso tudo, pensando provincianamente, é que, bem como os lulistas têm idéias para os lucros do pré-sal, os estrangeiros também. Para eles, o cenário mais positivo é aquele em que a China continua sob ditadura e o Brasil entra para a OPEP, comprando mais e mais títulos do Tesouro anglo-americano. Muitos schumpeterianos nessa hora! mas sem ilusões. Os atritos, conforme a FIESP deixa claro, vêm da tributação e da política alfandegária, do Brasil para com a economia-mundo e entre os estados da federação; mais o câmbio, tais fatores formam a "constelação perversa" que subsume e concentra os mercados dos velhos capitais industriais, enquanto, para o governo, mais uma vez, parece que tanto faz - afinal, são desenvolvimentistas! Cadê o Gurgel e o Conselhão? Tão achando que desconto na energia vai levar a muita coisa? Eu sei que não.]
Essa retração, como explica o presidente do BC, é resultado também das medidas macroprudenciais. Essas medidas foram adotadas para mitigar riscos à economia e ao próprio sistema financeiro nacional.
Tombini lembra que nas demais modalidades - "de melhor qualidade"- o fluxo para o Brasil continua elevado.
"No caso do investimento estrangeiro direto o ingresso líquido mensal tem sido, nos últimos meses, superior a UR$ 5 bilhões", garante o presidente do BC.
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