sábado, 24 de dezembro de 2011

Mão de obra industrial é uma das mais baratas entre 34 países

Autor(es): Alex Ribeiro | De Washington
Valor Econômico - 23/12/2011
 

Os custos de mão de obra industrial no Brasil subiram 24% em 2010, para US$ 10,08 a hora, puxados pela valorização do câmbio e aumento real de salários, mostram estatísticas compiladas pelo Departamento do Trabalho dos Estados Unidos, que comparam 34 das mais importantes economias industriais do mundo.
Os dados corroboram as críticas feitas pela industria de que a valorização contínua do real retira competitividade das exportações brasileiras. Mas eles também indicam que a mão de obra segue mais barata no Brasil do quem em muitos dos parceiros comerciais e que a falta de competitividade se deve também a outros fatores, que afetam a produtividade, e não apenas ao câmbio.
O Brasil tem custo de mão de obra industrial maior que apenas 6 dos 34 países incluídos na amostra, entre eles a Polônia (US$ 8,01 a hora) e o México (US$ 6,23). O custo mais baixo é nas Filipinas, com US$ 1,90 a hora. Por deficiências estatísticas, o levantamento não inclui Índia e China, mas as indicações são de que nesses países os custos são bem mais baixos do que no Brasil.
O Departamento do Trabalho divulga todos os anos uma comparação internacional dos custos de mão de obra para checar como os Estados Unidos estão em relação aos seus principais competidores. A conclusão é que, entre 1997 e 2010, a competitividade americana melhorou em relação a todos os demais 33 países, com exceção de Brasil, Alemanha, Japão, Filipinas e Taiwan.
O custo mais alto de mão de obra é o da Noruega, com US$ 57,53 por hora, num conceito que inclui salários pagos aos trabalhadores e benefícios. Nos Estados Unidos, o custo médio é de US$ 34,74 a hora, o que representa mais de três vezes o custo de produzir no Brasil. A Argentina tem custo pouco mais alto que o Brasil, com US$ 12,66 a hora.
Em reais, o custo de mão de obra industrial no Brasil subiu 9% em 2010, afirma o relatório, chegando a R$ 17,75 por hora. O impacto mais forte no encarecimento da mão de obra foi pela valorização do dólar, de pouco mais de 11%. O Departamento do Trabalho usa a cotação media do dólar nos seus cálculos, que foi de R$ 1,76 em 2010. O real se enfraqueceu recentemente, mas a média das cotações no ano ainda é mais valorizada do que no ano passado, em R$ 1,67, segundo dados do Banco Central.
A Argentina foi o país em que os custos de mão de obra industrial mais subiram em 2010, com uma alta de 25%. A estratégia do país vizinho é garantir competitividade por meio de uma moeda desvalorizada. Muitos economistas advogam que o Brasil adote uma política semelhante. De fato, o câmbio não pressionou o custo de mão de obra industrial na Argentina. A perda de competitividade ocorreu sobretudo pela inflação e aumento real. Os salários em peso subiram 31% em 2010.
Uma grande lacuna do relatório é a falta de dados sobre a China e a Índia. O Departamento do Trabalho apresentou alguns números para dar uma ideia sobre a evolução do custo de mão de obra na China, que seria de US$ 1,36 por hora em 2008, e na Índia, que seria de US$ 1,17 por hora em 2007. O relatório enfatiza, porém, que devido a diferenças metodológicas, os dados não são diretamente comparáveis aos apresentados para as demais economias.
O câmbio explica muito do aumento do custo da mão de obra industrial no Brasil nos últimos anos. Entre 2002 e 2003, por exemplo, o real sofreu aguda desvalorização ante o dólar, chegando à cotação média em torno de R$ 3,00, e o custo de mão de obra atingiu o equivalente a 11% do custo nos EUA. Hoje, equivale a 29%. No caso da Argentina, o problema maior é a alta dos salários nominais, puxada sobretudo pela inflação. Em 2002, o custo de mão de obra equivalia a 11% do dos EUA. Hoje, equivale a 36%.

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