sábado, 17 de dezembro de 2011

Custo de produção pode tornar a agricultura inviável nos próximos anos, dizem economistas

Assunto foi abordado no balanço de fim de ano da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul

  • Cristiano Dalcin | Porto Alegre (RS)
Atualizada às 21h37
O alto custo de produção das lavouras brasileiras pode tornar a agricultura inviável nos próximos anos. A conclusão foi apresentada por economistas nesta quinta, dia 15, durante o balanço de fim de ano da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul).
Apesar da safra recorde, uma ameaça constante: o custo operacional para a agricultura brasileira é o maior do mundo. Os produtores de trigo gastam 90% a mais do que os da América do Norte. Os de soja, investem o dobro do que os agricultores argentinos. Culpa dos produtos e máquinas usados na lavoura, que no Brasil são bem mais caros que nos outros países.
– Acontece que está aumentando o nosso custo de produção mais do está aumentando o preço internacional dos produtos. No Brasil, não estamos percebendo um processo de perda da eficiência total porque produzir aqui ainda vale a pena. Isso porque o preço internacional está alto puxado pelos emergentes. Porém no momento em que os emergentes estabilizarem o seu crescimento em um patamar mais baixo de crescimento econômico e os preços internacionais dos principais produtos se estabilizarem, só vai sobrar pra produção aqueles países que são eficientes na produção. E o Brasil, não é eficiente – aponta o economista da Farsul, Antônio Luz.
Entre os principais produtos atingidos, estão aqueles que fazem parte do principal prato dos brasileiros: o arroz e o feijão. No Rio Grande do Sul, o feijão deve ter uma queda de 14% na produção em 2012. A área atual, de 90 mil hectares, é menos da metade da que existia 20 anos atrás.
– O feijão tem dois problemas, além de ser muito caro o custo, o ICMS sobre ele é muito alto. No Rio Grande do Sul, por exemplo, imagine uma indústria que está no centro do país, para que ela compre este feijão do Rio Grande do Sul, ela vai pagar uma saída interestadual de 7% e ainda vai pagar uma logística maior porque o Rio Grande do Sul está mais ao Sul do país. O feijão de Santa Catarina paga 1%, o feijão do Paraná paga 1%. Quem é que no sudeste vai comprar o feijão gaúcho pagando a maior logística e o maior ICMS? – questiona o economista.
Apesar das previsões, a Farsul comemorou a projeção de safra de 2012, que deve ser a segunda maior da história. As lavouras de arroz, milho, trigo e soja devem ter uma produção menor por causa dos efeitos do fenômeno La Niña na região.
– Nós temos um calendário agrícola, temos o conhecimento da tecnologia. Então, nós estaremos sem conhecer a profundidade da piscina, mas vamos nos atirar na água, vamos tocar, vamos fazer o que tem que fazer e vamos aguardar o que vem. Não podemos sofrer por antecipação – aponta o presidente da Farsul, Carlos Sperotto.
CANAL RURAL


Presidente da Unica diz que safra de cana foi "um desastre total" e pede redução de impostos do etanol

Para Marcos Jank, é preciso dar competitividade ao produto brasileiro

  • Sebastião Garcia
Atualizada às 21h38
Diante de uma safra considerada desastrosa por técnicos do setor, o presidente da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), Marcos Jank, afirma que é preciso dar competitividade ao etanol brasileiro. A medida mais importante, para o representante dos usineiros, é a desoneração tributária do etanol, em especial do Programa de Integração Social (PIS) e Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins). Hoje, as usinas pagam 9,25% de PIS/Confins.
– Estimamos que, em 2020, vamos produzir 1,2 bilhão de toneladas de cana e 40% vão para a produção de etanol. E a grande questão é a competitividade. O mais importante é a redução dos tributos que são cobrados sobre o etanol – diz.
Segundo ele, o etanol deveria ter o mesmo tratamento da gasolina, beneficiada pela redução da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide).
– Entendemos que o etanol tem que passar pelo mesmo processo. Hoje, a tributação que incide sobre a gasolina está na faixa de 35% do preço de bomba e a do etanol, em 31%. Achamos que deveria também haver redução sobre o etanol [para torná-lo mais competitivo] – aponta.
De acordo com o presidente da Unica, os Estados também poderiam reduzir o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), assim como ocorreu em São Paulo, que baixou de 25% para 12,5% a alíquota do imposto.
Crescimento apesar da crise do etanol
O consumo de combustíveis no país deve crescer 5% este ano em relação a 2010, mais que a variação do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, estimado em 3,5%. De acordo com o presidente da Petrobras Distribuidora, José Lima de Andrade Neto, um desempenho que vem se registrando nos últimos anos. No ano passado, por exemplo, a alta foi aproximadamente 10%, ante crescimento de 7,5% da economia brasileira, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Este ano, porém, além do crescimento menor do PIB, também influenciou no resultado o menor volume de combustíveis oferecido nas bombas, por causa da queda da safra da cana-de-açúcar e, consequentemente, da oferta de etanol. Com isso, caiu a oferta de álcool hidratado, que sai da bomba para o tanque do carro, enquanto a produção do etanol anidro, usado na mistura com a gasolina, aumentou.
Resultados negativos para a cana
A média histórica no campo é de 84 toneladas de cana por hectare. No mês passado, chegou a 69, ou seja, 20% de queda, conforme os dados da Unica. Foi a menor produtividade das últimas duas décadas.  Segundo levantamento da indústria, o clima seco de maio a setembro, além da geada e o surgimento de doenças e pragas são agravantes. O fato de mais da metade dos canaviais não ter sido renovada e até a mecanização, que já chega a 80% das lavouras que pertencem às usinas, afetaram a produtividade.
– A gente precisa crescer. Não podemos ficar parados. Nós vínhamos crescendo 10% ao ano até 2008. Reduzimos isso para 2,5% a 3%, nesse momento, e precisamos voltar a crescer pelo menos 9% – afirma Jank.
Cerca de 51,64% da cana que saiu do campo foram moídos para produzir etanol. O restante para açúcar. Apesar de ter sido uma safra mais alcooleira, foi o açúcar que manteve a rentabilidade, em função da exportação. Atualmente, 50% do açúcar consumido no mundo saem das usinas brasileiras. O empenho da indústria agora é para ampliar a produção de etanol hidratado, aquele que abastece o carros flex. É dele, diz o presidente da Unica, que depende o crescimento da indústria.
– A questão que se coloca hoje é o etanol hidratado, aquele que compete diretamente com a gasolina, que tem os preços congelados nestes últimos seis anos em termos de consumidor. É lá que nós perdemos competitividade, com os aumentos de custos que aconteceram – aponta.
Na avaliação do desempenho, os representantes da indústria traçaram também as metas para os próximos anos. Com a previsão de aumento de demanda tanto para açúcar quanto para etanol e também de energia, o Brasil vai precisar dobrar a produção no campo nos próximos 10 anos. Ultrapassar a casa de um bilhão de toneladas. Será necessário construir pelo menos mais 120 usinas pelo país. Pra tanto, o setor terá que investir mais de R$ 156 bilhões. Um terço no campo e o restante na indústria.
O representante do Sindicato da Indústria de Fabricação de Etanol e Açúcar de Goiás (Sifaeg), Andre Rocha, diz que o clima não afetou de forma significativa a produção deste ano no Estado. Goiás foi num dos Estados em que a perda foi menor no país, com queda de 5,4%.
– É o estado que mais recebe investimentos. Queremos continuar crescendo e queremos contar também com o governo federal, políticas públicas, com a diminuição do PIS/COFINS pra que possamos também aumentar a produção e o consumo no nosso Estado e no país de etanol – explica.
O desempenho da nova safra no Brasil vai depender muito do clima ainda. É possível até que o Brasil volte a importar etanol, como fez este ano com mais de 850 milhões de litros.
CANAL RURAL E AGÊNCIA BRASIL

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