Autor(es): Ingo Plöger |
Valor Econômico - 29/12/2011 |
A intervenção do governo japonês no mercado de câmbio marca mais uma tentativa de um país proteger a sua produção de manufaturados e evitar que as empresas desloquem sua produção para o exterior. O iene japonês tem atingido um pico pós-guerra contra o dólar e o governo decidiu intervir via uma venda de aproximadamente 3 mil bilhões de ienes ou US$ 37,9 bilhões. Essa foi a segundo intervenção cambial do Japão. A primeira foi em agosto de 2011. Outro caso de intervenção cambial tem sido o da Suíça, que decidiu estabelecer um piso mínimo de 1,20 francos suíços contra o euro para proteger a sua indústria doméstica. Em um mundo onde a desvalorização de uma moeda implica a valorização de outra, quem perde é o Brasil A China, que mantêm sua moeda atrelada ao dólar americano já faz anos, tem conseguido manter uma conta corrente superavitária consistentemente. Quando o banco central da Suíça, o SNB, interveio fortemente no mercado de câmbio, a reação da imprensa, por exemplo, a reação do influente jornal "The Financial Times", foi muito positiva. O próprio banco central suíço fez uma pesquisa perguntando às empresas como o câmbio estaria afetando as suas vendas. As respostas, evidentemente, foram que elas estariam sendo prejudicadas pela forte valorização do câmbio. O que se percebe é que a intervenção cambial para proteger a indústria doméstica é algo necessário e também justificável. Agora, se fosse o Brasil... Em um mundo onde a desvalorização de uma moeda implica a valorização de outra moeda, quem está perdendo até agora é o Brasil. Desde 2007, a taxa de câmbio R$ / US$ tem se valorizado crescentemente. Os dados mais recentes, de 3 de novembro de 2011, mostram que a taxa de câmbio está valorizada em 28% desde 2007 (supondo que janeiro de 2007 = 100, a última data indica um índice de 128). A forte valorização do real traz sérias consequências para o Brasil: a produção nacional de manufaturados sofre com a perda de competitividade; há perda de emprego e o Brasil acaba enviando mais divisas para o exterior via aumento de importações, o que prejudica nossa balança comercial. Outra consequência é que o Brasil é pressionado cada vez mais a se especializar em exportações de commodities, o que resulta na exportação de produtos de baixo valor agregado e importação de produtos de alto valor agregado. A importação de produtos de alto conteúdo tecnológico como carros, produtos eletrônicos, máquinas e equipamentos, que estamos produzindo no Brasil, prejudica as cadeias produtivas. O Brasil exportará dentro de poucos anos petróleo do pré-sal pressionando ainda mais a valorização do real. Que estratégia teremos então? Não adianta tapar o sol com a peneira, temos que tomar providências antes que seja tarde demais. Temos instrumentos que ainda não foram utilizados, como por exemplo, o Fundo Soberano do Brasil que poderia comprar dólares americanos ou euros e adquirir ativos no exterior. Dessa forma, poderíamos conquistar posições mundiais mais fortes. A função do Fundo Soberano é prover recursos para o Brasil num momento de turbulência econômica. O momento é este. A manutenção do valor artificial da moeda chinesa, a intervenção da Suíça e agora a do Japão são fatores que afetam negativamente a indústria brasileira. Denunciar as intervenções do Japão ou da Suíça na Organização Mundial de Comércio (OMC), é teoricamente algo justificável, mas na prática é algo que não daria certo: a política monetária de cada país faz parte de sua soberania. Nesse cenário de competição, o Brasil deveria adotar uma "meta de câmbio". Com meta de câmbio entende-se a definição de uma taxa de câmbio que protege a competitividade da indústria doméstica. A taxa de câmbio do real com relação ao dólar americano deveria situar-se em torno de R$ 2,00. Entretanto, a meta de câmbio precisa ser coerente com uma meta de inflação. É necessário manter a estabilidade de preços e a competitividade da indústria. O fator chave aqui é o controle dos gastos públicos: a redução dos gastos públicos possibilitará a redução da taxa de juros o que levará a uma moeda mais barata. A queda nos gastos públicos terá um efeito negativo sobre a demanda agregada, diminuindo assim a pressão nos preços. Isso poderá ser compensado por juros mais baixos. Uma meta de câmbio implica num atrelamento do real ao dólar americano. É provável que sejamos acusados de manipuladores da taxa de câmbio? Sim. Mas que alternativas temos? A rodada de Doha, se não morreu, falta pouco. Os Estados Unidos e a União Europeia dificilmente vão cortar seus subsídios agrícolas. A China está tentando reestruturar a sua economia, e isso está acontecendo de maneira bastante lenta. A Argentina, um importante parceiro comercial, exige que cada importação de produtos seja coberta por uma exportação correspondente. Em uma boa parte de países podemos enxergar medidas protecionistas. Porque o Brasil deveria abrir mão de seus mercados para a competição externa sem nenhum retorno? Deixar que os fundamentos econômicos definam a taxa de câmbio R$ / US$ é igual a abrir mão da indústria brasileira e se condenar a ser país de commodities. Não devemos deixar para depois, precisamos tomar essa decisão de colocar uma meta para o câmbio ante uma situação internacional deteriorada, onde países como o Japão, Estados Unidos, China e os países da União Europeia já não deixam dúvidas sobre sua posição na guerra cambial. |
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
Nesse cenário, uma meta de câmbio é necessária
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