Autor(es): Luiz Fernando Figueiredo e Rodrigo de Melo |
Valor Econômico - 08/12/2011 |
O Produto Interno Bruto (PIB) per capita do Brasil voltou a crescer a taxas razoáveis, proporcionando uma melhora contínua e significativa do bem-estar. Entre 2001 e 2010, a renda per capita brasileira subiu 2,3%, em média, enquanto nos dez anos anteriores foi de apenas 0,9%. Na comparação com os Estados Unidos, porém, o PIB per capita brasileiro (no conceito de paridade de poder de compra) ainda está abaixo dos níveis observados no fim da década de 70 e início da década seguinte, quando era aproximadamente 30% do americano, beneficiado pelo forte crescimento econômico nas duas décadas anteriores à crise da dívida externa nos anos 1980. Em 2010, o PIB per capita brasileiro correspondia a 24,1% do americano, crescendo gradualmente em relação ao baixo patamar registrado em 2003 (de 20,1%). A despeito da desaceleração em andamento da economia brasileira, é esperado mais um avanço do PIB per capita neste ano, para US$ 11,8 mil, de acordo com as projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) no conceito de paridade do poder de compra) - ou 24,6% da renda per capita americana. Para entendermos melhor essa dinâmica, decompomos o crescimento do produto brasileiro nos fatores de produção, capital e trabalho e, na produtividade total dos fatores, assim como faz a literatura de crescimento econômico. É como se o Brasil fosse uma fábrica que utilizasse apenas dois insumos, trabalho e capital, e que o nível de produção fosse diretamente proporcional à produtividade total desses fatores. Entre 1981 e 1990, a população brasileira com dez anos ou mais crescia a uma taxa média de 2,4% ao ano, caindo para 1,6% ao ano entre 2001 e 2010. A Pesquisa Mensal do Emprego (PME) mostra que tanto a população economicamente ativa (PEA) quanto a população em idade ativa (PIA) evoluíram a uma taxa de 1,3% nos últimos 12 meses. Entretanto, para avaliar a contribuição do fator trabalho para o crescimento do PIB, temos que levar em consideração a taxa de ocupação da população, que tem aumentado significativamente nos últimos anos, com a taxa de desemprego cedendo para um patamar historicamente baixo de 6% (após ajuste sazonal). Diversos fatores influenciam o número de empregados, como a inserção das mulheres no mercado de trabalho e a elevação da expectativa de vida. Nesse sentido, a contribuição do fator trabalho para o crescimento do PIB tem sido superior ao sugerido pelo aumento da PIA. Entre 2004 e 2010, o fator trabalho cresceu, em média, 2,9% ao ano. Todavia, é difícil imaginar que o fator trabalho continue avançando a essa taxa. Para que isso ocorra, seria necessário que a taxa de desemprego continuasse a cair rapidamente ou que houvesse uma reversão na tendência de crescimento da população economicamente ativa. No que se refere ao fator capital, a taxa de investimento e, consequentemente, o crescimento do estoque de capital apresentou um desempenho pior ou similar ao observado nas décadas de estagnação econômica. A razão formação bruta de capital fixo/PIB de 16,9%, entre 2000 e 2010, é menor do que os 17,9% e os 21,9%, respectivamente, das duas décadas anteriores. No que diz respeito ao estoque de capital, estudos do Ipea e de Bonelli (2010) mostram um crescimento de 2,3% ao ano e 2,5% ao ano entre 2000 e 2008, respectivamente, contra 2,1% ao ano e 2,8% ao ano na década anterior. Segundo Bonelli (2010), a menor taxa de investimento no período mais recente foi compensada, entre outros fatores, pelo aumento da utilização do capital. Estimamos que a taxa de crescimento do estoque de capital tenha aumentado para 2,8% ao ano no período de 2004-2010. Em relação ao último item da decomposição do crescimento, a produtividade total dos fatores (PTF), estimativas de Ferreira, Pessôa e Veloso (2011) e Bonelli (2010) mostraram que no período de fraco crescimento da economia, nos anos 1980 e 1990, foram observadas quedas ou estagnação da PTF, dependendo das metodologias utilizadas, enquanto nos últimos dez anos houve algum crescimento, embora ainda menor do que no período anterior à crise da dívida externa (entre 1,7% ao ano e 2,9% ao ano). Para o período mais recente (de 2004 a 2009), a taxa média de crescimento da produtividade total dos fatores é 1,5% ao ano. Assumindo que a participação do capital no produto seja de 45% no Brasil, hipótese próxima à utilizada pela literatura de crescimento econômico, encontramos que o crescimento médio do PIB de 4,4%, entre 2004 e 2010, foi majoritariamente explicado pelo fator trabalho (36%) e pela produtividade total dos fatores (34%), enquanto o fator capital contribuiu com 29% do crescimento. Uma questão que surge é qual seria o crescimento da economia brasileira condizente com a estabilidade da taxa de desemprego. Para isso, utilizaremos o arcabouço de função de produção e decomposição do PIB utilizados acima. Vamos supor que a produtividade total dos fatores cresça entre 1% e 1,5%, enquanto o estoque de capital tenha expansão entre 2,5% e 3%, hipóteses baseadas nas variações observadas no período mais recente. Assumiremos que a utilização do capital não apresente maiores mudanças à frente. Por fim, suporemos que a taxa de desemprego fique estável no patamar recente, ao redor de 6% ajustada sazonalmente, implicando que o aumento do emprego (e o crescimento do fator trabalho) seja equivalente ao crescimento da PEA - recentemente houve um incremento de 1,3% ao ano (similar à variação da PIA). Dessa maneira, as nossas simulações sugerem um crescimento entre 2,9% e 3,6% ao ano, nos próximos anos, ou seja, abaixo do que foi na média entre 2004 e 2010, de 4,4%, mas suficiente para manter a taxa de desemprego em um patamar bastante baixo para o padrão histórico brasileiro. Em outras palavras, o Brasil poderia manter a sensação de bem-estar dos últimos anos com uma taxa de crescimento relativamente baixa, mas superior ao crescimento populacional (e a variação do número de trabalhadores), levando a uma gradual elevação da renda per capita e, consequentemente, a uma melhora do padrão de vida brasileiro. *Os artigos citados no texto são: Ferreira, Pessôa e Veloso (2011). On the Evolution of TFP in Latin America. Ensaios Econômicos. EPGE-FGV e Bonelli (2010). Strengthning Long- term Growth in Brazil. Texto para Discussão no 8. IBRE-FGV. Luiz Fernando Figueiredo é sócio-diretor da Mauá Sekular Investimentos. Rodrigo Alves de Melo é sócio da Mauá Sekular Investimentos. |
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
Crescimento menor com manutenção do emprego
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