sábado, 3 de dezembro de 2011

Livro analisa migração de poder dos EUA para a China

São Paulo, sábado, 03 de dezembro de 2011Mercado
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CIFRAS & LETRAS
CRÍTICA / CHINA

Para economista, movimento já está a caminho e não poderá ser mudado
Adrian Bradshaw - 26.mar.2009/EFE
Banco Popular da China, em Pequim, que comprou US$ 50 bi em bônus do FMI em 2009

ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO
EXTRAPOLADOS APONTAM PARA UMA CHINA JÁ DOMINANTE EM 2020 E COM O PODER CONSOLIDADO EM 2030
"Se domínio é também ser capaz de não fazer o que outros querem que você faça, a enorme pilha de dólares e o amplo mercado da China já lhe garantiram domínio".
Essa é uma das muitas assertivas lançadas pelo economista indiano Arvind Subramanian nas páginas do seu recente livro "Eclipse" para tentar convencer o leitor de que o processo de migração de poder dos EUA para o gigante asiático já está a caminho e é irreversível.
Difícil é ler o livro (ainda não lançado no Brasil) e não ser convencido pelos argumentos de Subramanian ou, pelo menos, conceder ao autor o benefício da dúvida.
O texto do economista é bem escrito e traz argumentos provocativos. Vai além de qualificar com palavras, tentando quantificar as evidências presentes e probabilidades futuras que caracterizam um cenário em que a China se torna o poder dominante do mundo.
O livro começa com uma descrição ficcional de uma visita do presidente americano, em uma fria manhã de fevereiro de 2021, ao diretor-gerente chinês do FMI (Fundo Monetário Internacional). O objetivo do encontro: assinar uma linha de crédito emergencial para a falida economia americana.
A partir daí, Subramanian passeia um pouco pela história. Reconta acontecimentos que marcaram a transição de poder do Reino Unido para os EUA.
O autor ressalta que os EUA hoje são incapazes de impor mudanças à política econômica chinesa -como a manutenção de sua moeda subvalorizada, o que contrasta com o passado não muito recente.
Ele lembra que, quando a China resolveu se associar à OMC (Organização Mundial de Comércio), há uma década, foi forçada pelos líderes americanos a liberalizar seus mercados agrícola, de bens e serviços.
Mas o maior mérito de Subramanian é ir além dos argumentos retóricos. O economista constrói um modelo com variáveis quantificáveis que tenta mensurar o domínio econômico dos países. Riqueza econômica, poderio comercial e financeiro são as variáveis eleitas.
O modelo é aplicado tanto para o passado quanto para o futuro, com base em projeções do autor.
Os resultados -que impressionam por refletir muito bem o apogeu do domínio britânico no fim do século 19 e dos EUA por volta de 1950- indicam que a China estava bem próxima já dos EUA em 2010. Extrapolados apontam para uma China já dominante em 2020 e com o poder consolidado em 2030 (veja quadro acima).
Como qualquer exercício baseado em extrapolações em relação ao futuro, as conclusões de Subramanian podem se provar erradas.
Isso vale tanto para as projeções numéricas quanto para o fato de que a ascensão da China dependerá da decisão das autoridades do país de fazer reformas importantes, como o próprio autor admite.
Mas o livro tem o mérito de mostrar claramente como um mundo dominado pela China é uma realidade mais palpável do que muitos se arriscam a imaginar.
ECLIPSE: LIVING IN THE SHADOW OF CHINA'S ECONOMIC DOMINANCE
Arvind Subramanian
EDITORA PIIE

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