Autor(es): Por Chico Santos e Francine De Lorenzo | Do Rio e de São Paulo |
Valor Econômico - 08/12/2011 |
A indústria do Nordeste chegou a outubro com uma queda de 4,9% na comparação com os primeiros dez meses do ano passado, resultado bem pior do que a média do país, onde o setor ainda mantém um número positivo, ainda que pequeno (0,7%). A queda da produção é mais intensa no Ceará, com retração de 12,9%, mas também marca a indústria da Bahia (menos 4,3%) e de Pernambuco (menos 0,7%), sempre na comparação do acumulado de 2011 até outubro com igual período do ano passado. A queda generalizada da produção industrial na região Nordeste durante 2011 tem como causas preponderantes, na avaliação do economista André Macedo, gerente da Produção Industrial Mensal (PIM) do IBGE, a concorrência dos importados, a dificuldade de exportação por conta da crise internacional, o apagão (elétrico) que atingiu a indústria petroquímica baiana em fevereiro e também a queda da demanda doméstica. "Há sempre um predomínio de setores atingidos seja pela concorrência externa, seja pela dificuldade de exportar", analisa, citando a indústria têxtil, cuja produção recuou 24,1% na região Nordeste de janeiro a outubro deste ano. A tradicional indústria de calçados e artigos de couro do Ceará apresentou queda de produção de 22,6% no mesmo período. A dificuldade de exportação de castanha de caju, outro produto tradicional cearense, contribuiu para a queda de 3,9% na produção industrial de alimentos no Estado. Para o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a pouca diversificação de setores industriais no Nordeste explica a forte queda da produção local. A região concentra grande parte das indústrias têxtil, de calçados e artigos de couro, que estão entre as que mais têm sofrido a concorrência de importados. "A produção nesses setores está caindo agudamente em todo o país. Mas como grande parte das empresas está instalada no Nordeste esse movimento fica mais evidente lá", diz Rogério César de Souza, economista-chefe do Iedi, lembrando que em Santa Catarina os números também são negativos. Pelos cálculos da Tendências Consultoria, cerca de 20% da indústria têxtil e de artigos de couro do país está na região Nordeste, o que faz com que a participação do setor na indústria local chegue a 11%. Para o economista do IBGE, o câmbio sobrevalorizado e a crise internacional agiram negativamente de duas formas sobre a produção industrial nordestina: estimulando as importações, seja por baratear os produtos, seja por estimular a indústria internacional a buscar os mercados mais dinâmicos. E, na ponta das exportações, elevando os preços dos produtos brasileiros (o câmbio) e desaquecendo o consumo nos países ricos, os mais atingidos pela crise. Para o técnico, os dados do varejo apurados pela Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do IBGE ainda não permitem concluir que esteja havendo um esgotamento do ciclo de elevação do consumo na região Nordeste gerado, entre outros fatores, pelos programas de distribuição de renda do governo federal. Enquanto as vendas do varejo cresceram 6,95% no Brasil de janeiro a setembro, elas aumentaram 8,71% na Bahia, 7,34% em Pernambuco e 9,47% no Ceará, para citar as três maiores economias regionais. Mas no Ceará, a PMC mostra queda nas vendas de tecidos, vestuário e calçados (-3,75%), justamente os setores mais afetados da indústria local. O economista Raul Silveira Neto, professor da pós-graduação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ressalvando ser necessário um exame mais apurado, disse que há concorrência externa, mas que também já se percebe queda no consumo da região por conta das incertezas trazidas pela crise. Segundo ele, esses fatores explicam, por exemplo, a perda de dinamismo do polo de confecções de Santa Cruz do Capibaribe, no seu Estado. Macedo, do IBGE, entende que os dados "não necessariamente mostram queda do consumo, mas substituição do produto nacional pelo importado". Ele destaca que têxteis (-14,9%), vestuário (-3,3%), calçados (-9,3%) e outros produtos químicos (petroquímicos), com queda de 2,7%, perderam dinamismo no país como um todo, sendo os têxteis responsáveis pelo mau desempenho da indústria de Santa Catarina, na região Sul queda de 4,4% de janeiro a outubro). Segundo ele, a produção de veículos só não está negativa no ano (cresceu 3,21% até outubro) por causa dos caminhões, sendo neste caso um sinal claro de desaquecimento do mercado doméstico e com impacto, por exemplo, na produção industrial da Bahia, o Estado que responde por cerca de 50% da produção industrial do Nordeste, segundo as ponderações usadas pelo IBGE. Em setembro e outubro, a produção automobilística baiana acumulou queda de 9,3%, fazendo com que o indicador acumulado, que vinha fortemente positivo, passasse a ser 2,7% negativo em outubro. O carro-chefe da indústria baiana, contudo, é a química e petroquímica cuja produção de janeiro a outubro, sempre em relação ao mesmo período do ano passado, caiu 10,2%. O setor, segundo Macedo, responde por cerca de 55% da indústria do Estado. Bahia, Pernambuco e Ceará respondem por aproximadamente 75% da produção industrial nordestina. Por ser dependente de poucos setores, o Iedi estima que a produção industrial do Nordeste deverá continuar patinando nos próximos meses. "São Paulo, Rio e Minas Gerais, por terem uma indústria mais diversificada sofrem menos", afirma. "Mas os efeitos mais graves da crise internacional sobre a indústria brasileira ainda estão por vir", alerta Souza, acrescentando que, além de persistirem as importações, as exportações deverão registrar queda em 2012, tanto as de bens transformados como as da extrativa mineral. "E sabemos que as medidas de incentivo ao consumo demoram para surtir efeito", complementa Souza. |
Concorrência com os chineses derruba setores têxtil e calçadista do Ceará
Autor(es): Por Murillo Camarotto | Do Recife |
Valor Econômico - 08/12/2011 http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/12/8/concorrencia-com-os-chineses-derruba-setores-textil-e-calcadista-do-ceara |
A concorrência dos produtos importados, especialmente chineses, atingiu duramente as fábricas instaladas no Ceará. No período de 12 meses encerrado em outubro deste ano, a produção industrial do Estado encolheu 12,6% em relação ao mesmo período do ano anterior. Têxteis e calçados são os dois setores mais afetados. Um dos mais importantes fabricantes de fios de algodão e fibras sintéticas do país, a Têxtil Bezerra de Menezes (TBM), de Fortaleza, prevê para este ano queda de 2% a 3% na produção em relação a 2010. Para o ano que vem, o cenário também não é animador. "Quando as medidas do governo para contenção do consumo fizeram efeito, boa parte das importações já estava contratada, o que aumentou o peso relativo do importado", explicou Ivan Bezerra, presidente da TBM. Para ele, somente medidas "de equilíbrio" por parte do governo poderiam fazer de 2012 um ano melhor. "Não concorremos com os produtos chineses, mas com o governo chinês, que enche o setor com subsídios", reclama o empresário. Não são apenas os grandes produtores que estão preocupados com a situação. O mesmo receio se espalha pelas pequenas empresas do Estado. Fabricante de calçados profissionais, a Recamonde, também instalada na capital cearense, vai fechar 2011 com uma queda ainda não calculada na produção. Raimundo Recamonde, o dono da empresa, disse que o ano ruim e o cenário futuro nebuloso trazem a perspectiva de demissões na fábrica, que hoje emprega 130 pessoas. "Por enquanto, estamos mandando o pessoal para um período de férias coletivas, para cortar um pouco dos custos", disse o empresário. A Recamonde vai ficar parada entre os dias 17 de dezembro e 7 de janeiro. O uso da capacidade instalada pelas indústrias cearenses também registrou queda. A Kind, especializada na produção de calçados femininos, opera neste último quadrimestre do ano com algo entre 60% e 70% do potencial. Homero Guedes, diretor da empresa, conta que no ano passado, na mesma época, a produção estava a todo vapor. Em 2011, a empresa deve produzir de 7% a 10% menos do que em 2010, porém ainda não há perspectiva de demissões. Segundo Guedes, além da concorrência com os importados chineses, o comércio varejista também está mais cauteloso nos pedidos. Segundo o executivo, "2012 vai começar com a expectativa de um ano difícil". |
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