quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Setor de fundos perde R$ 5,6 bi em novembro


Autor(es): Luciana Monteiro | De São Paulo
Valor Econômico - 06/12/2011
 

Novembro terminou amargo para o setor de fundos de investimento. O segmento encerrou o mês com resgates líquidos (aplicações menos saques) no valor de R$ 5,600 bilhões. Desse total, no entanto, mais da metade se deve ao chamado come-cotas - antecipação de imposto de renda cobrado dos fundos de renda fixa e multimercados semestralmente, em maio e novembro. Em comparação ao mesmo mês do ano passado, quando o setor captou R$ 5,749 bilhões, é como se os fundos de investimento tivessem perdido quase tudo o que captaram em novembro de 2010.
Dados preliminares da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) revelam que o come-cotas em novembro somou cerca R$ 3 bilhões. No acumulado do ano, a captação líquida do setor de fundos de investimento atinge R$ 63,010 bilhões. Apesar de positivo, o total é bem inferior aos R$ 114,4 bilhões que haviam ingressado no mesmo período do ano passado.
Em novembro, a esperança de que a crise da dívida soberana na Europa daria algum alívio para os investidores, dada a aprovação do pacote de socorro à Grécia, caiu por terra. As preocupações, antes mais restritas às economias periféricas da zona do euro, se espalharam também para os países mais fortes. Nações como Itália e Portugal precisaram pagar taxas consideradas altas - e até insustentáveis - para conseguir rolar suas dívidas.
E o aumento da aversão ao risco fez com que os fundos multimercados - que podem investir em bolsa, juros, câmbio, títulos da dívida externa e até uma parcela no exterior - sofressem. Segundo os dados da Anbima, a categoria encerrou novembro com resgates de R$ 9,049 bilhões. Isso elevou os saques no acumulado do ano para R$ 51,862 bilhões. Vale lembrar, entretanto, que esses números incluem um movimento de migração de recursos realizado em fevereiro entre multimercados e renda fixa, no valor R$ 28 bilhões.
Para o mercado perder o medo e voltar a apostar mais em ativos arriscados, é preciso que a Europa tome medidas fiscais eficazes, de modo melhorar a competitividade da região, afirma Jacob Weintraub, sócio da Oren Investimentos. A ação coordenada das autoridades monetárias de Canadá, Inglaterra, Japão e Suíça, assim como o Banco Central Europeu (BCE) e o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), anunciada no último dia de novembro, para dar liquidez ao sistema financeiro global deixou os investidores pelo menos um pouco mais esperançosos. "Mas essa é uma medida de curto prazo, que não acerta o cerne do problema", afirma ele.
Entre os multimercados, a classe que mais perdeu recursos no mês foi a de juros e moedas - que podem adotar estratégias de risco em juros, índices de preços e moeda estrangeira -, com R$ 6,475 bilhões. No ano, esses portfólios registram resgates de R$ 17,715 bilhões até novembro. Em termos de rentabilidade, esses fundos apresentaram ganho médio de 0,82% - abaixo da variação de 0,86% do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI, o juro interbancário que serve de referencial para as aplicações mais conservadoras). No ano, o ganho médio é de 11,67% ante 10,59% do CDI.
Outra categoria que encerrou o mês passado com resgates foi a de fundos DI - que aplicam em papéis pós-fixados-, com saídas líquidas de R$ 2,097 bilhões. No acumulado do ano, entretanto, os resgates são menores: somam R$ 1,333 bilhão. Em novembro, os DIs encerram com retorno médio de 0,88% e, no ano, o ganho é de 10,82% - acima, portanto, do CDI nos respectivos períodos.
Já as carteiras classificadas como curto prazo (que aplicam em papéis com prazo máximo de 375 dias) também encerraram novembro com saques, no valor de R$ 902,56 milhões. Mas, no ano, a categoria acumula captação de R$ 11,797 bilhões.
A queda da taxa básica de juros (Selic) tem levado muitos investidores a procurar aplicações prefixadas, como os fundos de renda fixa. Os dados da Anbima mostram que essas carteiras foram as que mais atraíram recursos em novembro, com entradas de R$ 3,450 bilhões. Isso elevou o ingresso líquido no ano da categoria a R$ 70,282 bilhões. A captação no mês só não foi maior por conta de um resgate, no valor de R$ 3,1 bilhões, em dois fundos do segmento poder público (que aceitam aplicações somente de Estados e municípios).
Neste ano, muitos investidores migraram parte de seus recursos que estavam em aplicações mais arriscadas para a renda fixa, mas isso é algo que deve começar a mudar, avalia Weintraub, da Oren. Isso porque, com juros mais baixos, os investidores mais conservadores terão de colocar um pé no risco se quiserem obter maiores ganhos. "E, aí, começaremos a ver uma volta para carteiras mais arriscadas, como fundos multimercados", diz o executivo. "Esse retorno deve ocorrer de forma gradual, mas a rentabilidade menor com os papéis de renda fixa deve estimular a pessoa física a buscar mais risco."
A redução de 0,5 ponto percentual na Selic, para 11% ao ano, na reunião realizada no fim de novembro, deu um gás a mais aos fundos de renda fixa. Em termos de desempenho, as carteiras encerraram o mês com retorno médio de 0,98% e, no ano, de 11,46%
Os fundos de ações seguiram perdendo recursos em novembro. A categoria encerrou o mês com saques de R$ 113,01 milhões e, no ano, tem resgates de R$ 1,230 bilhão. As carteiras ativas, que buscam superar o Índice Bovespa, tiveram perdas médias de 2,56% - levemente acima da queda de 2,51% do Ibovespa no período. No ano, esses fundos perdem 15,54% ante uma queda de 17,94% do indicador.
As carteiras de previdência, por sua vez, continuaram atraindo recursos. Em novembro, esses portfólios registraram ingresso de R$ 2,345 bilhões, elevando para R$ 20,720 bilhões a captação líquida da categoria no ano.
Os fundos cambiais - normalmente indicados para quem tem alguma obrigação em dólar - renderam 6,82% em média, para uma valorização de 7,25% da Ptax (média das cotações do dólar calculada pelo Banco Central). No acumulado do ano, essas carteiras registram ganhos médios de 11,55% - acima dos 8,68% da Ptax no período. [é, com certeza foi a mandioca.]

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