Autor(es): Cláudia Schuffner | Do Rio |
Valor Econômico - 31/10/2011 |
Após exaustivas negociações, a anglo-russa TNK-BP fechou no fim de semana a compra de 45% dos 21 blocos da brasileira HRT na bacia do Solimões por US$ 1 bilhão. É o maior investimento de uma empresa russa no Brasil e o primeiro da TNK-BP, terceira maior produtora de petróleo da Rússia, no país. O negócio está previsto para ser assinado na manhã de hoje pelo principal executivo da área de exploração e produção da TNK-BP, Alexander Dodds, que acabou de assumir o cargo na empresa, vindo da Exxon Qatar. O dinheiro será pago em cinco parcelas de US$ 200 milhões ao longo de 30 meses, informaram fontes próximas aos negociadores. Um dos pontos cruciais do acordo é uma opção que garante à TNK-BP direito de comprar mais 10% de ações ao final do prazo de dois anos e meio, o que permitirá que ela se torne operadora do negócio na Amazônia. O Valor apurou que no vencimento dessa opção, os 10% serão adquiridos com um prêmio de 15% em relação ao preço de mercado estimado. O valor da aquisição considerou a existência de 1,09 bilhão de barris em recursos riscados - no jargão do setor, provadas mais prováveis - nos 21 blocos. Desse total, a fatia adquirida pela TNK-BP corresponde hoje a 490 milhões de barris pelo valor acima. Não foram atribuídos valores para o gás natural existente na área já que não há infraestrutura de escoamento. Outra cláusula de conforto negociada entre HRT e TNK-BP prevê o pagamento adicional por novos volumes de petróleo descobertos além de 500 milhões de barris incluídos no acordo. Mas só serão pagos quando esse "novo óleo" for descoberto e sua produção iniciada. Dessa forma, a TNK-BP poderá pagar com o fluxo de caixa. O negócio traz à pequena HRT ganha mais musculatura. A brasileira que nasceu em 2009 passa a ter como sócios uma empresa controlada por um grupo de megaempresários russos que se reuniram em uma holding chamada AAR (iniciais dos grupos Alfa Group, Access e Renova) da qual a inglesa BP (British Petroleum) tem 50%. Os controladores da AAR são os bilionários Mikhail Fridman (dono do Grupo Alfa), Leonard Blavatnik (Access Industries) e Viktor Vekselberg (Grupo Renova). Fridman é atualmente CEO da TNK-BP e um dos principais defensores da entrada da companhia no Brasil. A BP é mais conhecida no Brasil. Chegou em 1999, mas nesse período não fez nenhuma grande descoberta. Com o aquecimento da atividade no país, decidiu comprar por US$ 7 bilhões os ativos da Devon. Mas a aprovação do negócio pelas autoridades brasileiras foi prejudicada pelas repercussões do acidente seguido pelo gigantesco vazamento de petróleo no Golfo do México no ano passado. Somente em maio ANP aprovou a aquisição. No último trimestre, a TNK-BP produziu 1,78 milhão de barris de óleo equivalente (medida que inclui óleo e gás) por dia. A empresa, com sede em Moscou, tem na sua entrada no Brasil é um aprofundamento da internacionalização que começou com a aquisição de ativos da própria BP no Vietnã e na Venezuela. O fechamento desse acordo encerra a associação da HRT, fundada por um grupo de brasileiros liderados pelo geólogo Márcio Rocha Mello, e a Petra Energia, do empresário Roberto Vianna. Mas as duas empresas ainda têm pendências: acertar a divisão meio a meio dos US$ 204 milhões resultantes da diferença entre o preço pago pela HRT pelos 45% da Petra - R$ 1,288 bilhão - e o valor de venda à TNK-BP, bem como compartilhar ganhos futuros no caso de descobertas acima dos 500 milhões de barris previstos no acordo fechado. As áreas do Solimões vendidas agora por US$ 1 bilhão foram arrematadas em 2005 em leilão da ANP pela argentina Oil M&S, do empresário Cristóbal Lopez. Custaram, cada um, R$ 10 mil (total de R$ 210 mil - hoje, 45% da área foi vendido por US$ 1 bilhão). A Oil M&S vendeu a área para a Petra. Em 2008, três anos depois do leilão da ANP, a Petra vendeu 51% das áreas no Solimões para a HRT por US$ 30 milhões. Posteriormente, adquiriu mais 4%, elevando sua participação a 55%. Em entrevista para o Valor no ano passado, Marcio Mello contou que inicialmente foi procurado para ajuda na venda dos ativos, já que lidava com grandes empresas que eram clientes de sua consultoria, a High Resolution Technology & Petroleum (HRT). Ele já conhecia a área que costuma chamar de "pré-sal amazônico". Em 2009 nasceram a HRT Oil & Gas e a Perícia Integrada Petroleum (Ipex), especializada em análise ambiental. Em novembro daquele ano a HRT fez uma colocação privada que captou US$ 275 milhões que atraiu 66 investidores institucionais brasileiros e estrangeiros, como o fundo MSD Capital do bilionário americano Michael Dell, da Dell Computers. Depois do estrondoso sucesso inicial da OGX, do empresário Eike Batista, o Brasil ganhava uma segunda petroleira com DNA nacional. Mas justo a presença de tantos fundos de "private equity" no capital da HRT faz até hoje com que alguns concorrentes nacionais discordem do fato dela ser mencionada como empresa de capital nacional. Atualmente, Mello divide com outros diretores estatutários da empresa a fatia de 8,65% do capital da HRT. É com esse percentual que ele se mantém como presidente do conselho e principal executivo. É de 2009 o acordo entre a HRT e a Petra que dava direito à primeira comprar a participação de 45% vendida agora para a TNK-BP. As negociações entre os dois sócios brasileiros teve alguns percalços que culminaram com a decisão da HRT de exercer sua opção de comprar a participação da sócia, o que foi anunciado em maio. A HRT comemorou um ano da abertura de seu capital na semana passada preocupada com declarações do principal executivo da Petrobras no Amazonas de que não tinha intenção de abrir espaço para a concorrente em sua rede de gasoduto. Questionado pelo Valor sobre qual afinal será a estratégia da Petrobras com relação ao compartilhamento de sua infraestrutura na região, o presidente da estatal, José Sergio Gabrielli, disse apenas que não iria "falar sobre hipóteses". A HRT pretende chegar a 2014 produzindo 100 mil barris de petróleo leve na área do Solimões. Até 2014, estão previstos investimentos de US$ 3,55 bilhões pelos dois sócios. O valor não inclui a Namíbia, onde a HRT tem ativos que não fazem parte da negociação com a TNK-BP. |
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
Anglo-russa fecha aquisição de 45% da HRT por US$ 1 bilhão
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