quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Preços altos e voláteis dos alimentos podem aumentar a pobreza na América Latina e Caribe




A América Latina e o Caribe enfrentam um novo nível dos preços dos alimentos, 40% maior que há quatro anos, e a maior volatilidade registrada nos últimos 30 anos, diz a principal publicação do Escritório Regional da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), oPanorama da Segurança Alimentar e Nutricional na América Latina e o Caribe 2011.

O Panorama foi lançado no dia 16 de outubro, quando se comemorou o Dia Mundial da Alimentação em todo o mundo. O tema deste ano é o aumento e extrema variabilidade dos preços dos alimentos, um fenômeno que vem causando forte impacto sobre a pobreza e a segurança alimentar e nutricional no mundo.

Segundo o Panorama, o aumento de preços e uma maior inflação geral podem aumentar a pobreza e reduzir o acesso aos alimentos por parte da população pobre, em um momento em que a fome afeta a 52,5 milhões de pessoas na América Latina e o Caribe, 9% da população.

"A combinação de aumento e volatilidade de preços provoca uma situação que não beneficia os produtores nem os consumidores", diz José Graziano da Silva, representante Regional da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação.

"Devemos aproveitar a oportunidade de colocar em marcha políticas produtivas e redistributivas de longo prazo, com as quais abordar estruturalmente o objetivo de fortalecer a segurança alimentar na região e reduzir as profundas desigualdades na distribuição da renda", acrescentou Graziano da Silva.

PREÇOS ALTOS TAMBÉM SÃO UMA OPORTUNIDADE

O Panorama observa que os altos preços também podem transformar-se em uma oportunidade de maior renda para a agricultura familiar e para incentivar o investimento e a produção agroalimentar, assim como as exportações de alguns países, se forem implementadas as políticas adequadas.

A agricultura familiar requer políticas específicas para aumentar sua produtividade e melhorar sua inserção nos mercados de produtos, insumos e financiamento. Os elevados preços dos produtos básicos agrícolas também constituem uma oportunidade real de dinamização do comércio intrarregional de alimentos e, particularmente, dos alimentos básicos tradicionais como feijão, milho branco e a quinoa. Isto é um ponto-chave, já que aproximadamente 40% de todas as importações de alimentos na América Latina e o Caribe provém da mesma região.

Para os principais produtores de alimentos -- Argentina, Brasil e México -- o novo nível de preços constitui uma grande oportunidade de ampliar o valor de suas exportações. Bolívia, Peru e Chile podem compensar o impacto do maior valor de suas importações com o alto preço das matérias-primas produzidas (petróleo, ouro, cobre). No entanto, outros países como os centro-americanos, perceberam o aumento do valor de suas importações de cereais.

OS PREÇOS ALTOS NÃO CHEGAM AOS AGRICULTORES FAMILIARES, E SIM AOS CONSUMIDORES

Enquanto os aumentos de preços tendem a incentivar a produção e, eventualmente, a exportação de produtos agrícolas, a incerteza com relação ao comportamento futuro dos preços tem efeito contrário.

"A incerteza provocada pela volatilidade, somada aos baixos graus de concorrência de muitos dos mercados dos alimentos, significa que os altos preços não chegam a boa parte dos produtores agropecuários, particularmente os agricultores familiares, que não podem aproveitar as oportunidades, que a alta preços dos alimentos representam", explicou Graziano.

Contraditoriamente, os altos preços, sim, são transpassados de forma mais direta aos consumidores, o que aumenta a vulnerabilidade à insegurança alimentar dos mais pobres, que gastam uma maior proporção de sua renda em alimentos.

AGENDA DE POLÍTICAS PARA A REGIÃO

Segundo o Panorama, a América Latina deveria valorizar seu protagonismo na produção e comércio mundial de alimentos, para influir na construção de mecanismos de governança da segurança alimentar a nível mundial.

Outro aspecto fundamental é a mudança nos padrões de produção e consumo, que inclui fechar as brechas entre os setores da agricultura familiar e o agronegócio, mediante um maior investimento produtivo público e privado na agricultura familiar.

A adaptação da agricultura à mudança climática é outro desafio para os governos da região, e para isso deve-se buscar a redução das emissões de gases do efeito estufa e a promoção do seqüestro de carbono. Além disso, requerem-se transformações tecnológicas e recompor os sistemas de transferência de tecnologia para que estas beneficiem a agricultura familiar.

Promover uma maior transparência e concorrência nos mercados de alimentos e de insumos agropecuários na região, além de dinamizar os mercados locais de alimentos é outro desafio fundamental para garantir a segurança alimentar dos habitantes da América Latina e o Caribe.

Estas políticas relacionadas com o sistema alimentar requerem ser complementadas com políticas de redistribuição das rendas, tais como a ampliação dos sistemas de proteção social, reformas nos sistemas tributários e o cumprimento da legislação existente nos mercados de trabalho agrícolas.

PARA MAIS INFORMAÇÕES

Baixe aqui o documento da FAO Panorama da segurança alimentar na América Latina e o Caribe 2011 (em espanhol - arquivo PDF).

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