quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Bolsa freia os fundos de previdência



Previdência reduz o passo
Autor(es): Por Silvia Rosa | De São Paulo
Valor Econômico - 19/10/2011

As turbulências dos mercados começaram a afetar o desempenho dos fundos de previdência, que em setembro mostraram sinais de desaceleração na captação de recursos, impactada pela saída dos investidores das aplicações em renda variável. No mês passado, o aporte líquido nas carteiras de previdência privada aberta somou R$ 1,94 bilhão, com queda de 5,37% em relação ao volume captado no mesmo período no ano passado, segundo levantamento da consultoria NetQuant em parceria com a Towers Watson. A queda foi motivada pelos resgates nas carteiras com aplicação em renda variável, que acumularam no ano, até setembro, saída líquida de R$ 5,3 bilhões, superior aos R$ 4,8 bilhões arrecadados no mesmo período de 2010

Os fundos de previdência, que vinham, até então, resistindo à turbulência nos mercados, começam a mostrar sinais de desaceleração na captação de recursos, afetada pela saída dos investidores das aplicações em renda variável.
Em setembro, o aporte líquido nas carteiras de previdência privada aberta somou R$ 1,94 bilhão, queda de 5,37% em relação ao registrado no mesmo período no ano passado, segundo levantamento da consultoria NetQuant em parceria com a Towers Watson.
A queda foi motivada pelos resgates nos portfólios que investem em ações, que acumularam no ano, até setembro, saída líquida de R$ 5,30 bilhões, superior ao total arrecadado no mesmo período de 2010, que foi de R$ 4,84 bilhões. "Em momentos de estresse nos mercados, os investidores acabam saindo das aplicações em renda variável, e não realocam, muitas vezes, seus recursos no mesmo momento", afirma Marcelo Nazareth, sócio-diretor da NetQuant. Para o executivo, no entanto, a queda da captação dos fundos de previdência é mais um movimento pontual, em função do aumento das preocupações com a crise da dívida soberana na Europa.
Com o desempenho fraco da bolsa neste ano, que acumula queda de 20.59%, os investimentos em renda fixa continuam em ritmo forte de crescimento, somando em setembro R$ 2,64 bilhões de entrada líquida de recursos, aumento de 53% em relação ao mesmo período do ano passado. No ano, esses fundos acumulam aporte de R$ 22,02 bilhões.
No mês passado, as carteiras de renda fixa que aplicam em títulos atrelados ao Índice de preços ao Consumidor Amplo (IPCA), Notas do Tesouro Nacional - série B, com prazos mais curtos foram beneficiadas pela queda da taxa de juros desses papéis. Em setembro, o índice IMA-B5, que acompanha o desempenho dos papéis com prazo de vencimento de até cinco anos, apresentou alta de 1,66%, superior à variação de 0,94% do CDI no período.
O fundo Fram Capital Olsen Renda Fixa foi um dos que aproveitaram esse movimento, apresentando em setembro um ganho de 1,66%. Cerca de 75% da carteira está alocada em NTNs-B com prazo de vencimento até 2015. O rendimento desses papéis é composto por uma taxa prefixada mais a variação do IPCA. Em setembro, as taxas desses títulos passaram de 5,40% para 5,12%, o que fez os preços desses papéis recuarem, trazendo um impacto positivo para os fundos compostos por esses ativos quando marcados a mercado.
Para o gestor da Fram Capital Luciano Sobral, os prêmios desses papéis, no entanto, já estão menores. "Boa parte do movimento esperado de queda da taxa básica de juros já está refletida nesses títulos."
Oferecendo uma taxa real de juros de 4,96%, o maior retorno das NTNs-B com vencimento em 2015, segundo Sobral, deve vir do aumento da inflação. Isso porque os investidores acreditam que com a mudança da política monetária do Banco Central, que sinalizou para um movimento de afrouxamento monetário ao cortar a Selic para 12%, a inflação deve ficar acima do centro da meta, de 4,5% ao ano, pelo menos até 2012.
Com isso, o gestor vê maior oportunidade nas NTNs-B com prazo mais longo, com vencimento em 2020 e 2040, que ainda não tiveram um forte ajuste das taxas. Em 17 de outubro, esses títulos apresentavam um juro real um pouco acima de 5,60%.
Esses papéis, no entanto, não foram bem em setembro. O índice IMA-B5+, que acompanha o desempenho das NTNs-B com prazo superior a cinco anos, apresentou queda de 0,28% no mês passado.
O fundo da gestora, Fram Capital Previdência Renda Fixa, já está ajustado a esse cenário, com cerca de 80% da carteira alocada em NTNs-B com vencimento em 2020. O portfólio acumulava ganho de 10,21% no ano, o equivalente à variação do CDI no período. "Esse portfólio tende a ter uma performance melhor daqui para frente", diz Sobral. Fundada em 2007, a Fram Capital tem R$ 390 milhões sob gestão, sendo R$ 75 milhões em fundos de previdência.
O problema é que os investidores precisam se convencer de que é possível conviver com um juro real mais baixo, mais próximo do praticado no mercado internacional. O BC já deixou claro que o ritmo de queda da taxa de juros está relacionado ao impacto que a crise europeia e o crescimento menor da economia mundial devem ter sobre o comportamento da inflação no Brasil.
Para Sobral, a conjuntura vai permitir que isso seja feito pelo BC sem levar a um descontrole da inflação. No último relatório de inflação, divulgado no final de setembro, o BC sinalizou que adotará uma estratégia de cortes moderados da taxa de juros.
Para se ajustar às incertezas do cenário e aproveitar as oportunidades de curto prazo, a Santander Asset Management tem realizado uma gestão mais dinâmica dos fundos de previdência.
A posição prefixada em taxas de juros garantiu ao fundo Santander Renda Fixa XI Crédito Privado um retorno diferenciado, com ganho de 1,75% em setembro. "Terminamos o mês passado com uma posição prefixada em taxa de juros um pouco menor com a melhora do cenário externo", afirma Eduardo Castro, superintendente executivo da Santander Asset Management.
A maior parte dessa carteira está aplicada em NTNs-B com vencimento entre 2014 e 2020. "Evitamos as posições em títulos com prazos mais curtos que costumam ter maior volatilidade e menor liquidez", diz Castro.
Com a queda da taxa de juros, os gestores também veem boas oportunidades de ganho com os papéis de crédito privado.
Para Sobral, da Fram, alguns títulos atrelados a recebíveis imobiliários de empresas de grande porte e com bons ratings de crédito têm oferecido retornos interessantes. A Petrobras, por exemplo, chegou a emitir Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) que pagavam um prêmio de 100 pontos básicos (equivalente a 1%) acima do retorno oferecido pelas NTNs-B de mesmo prazo de vencimento, destaca Sobral. Além disso, o risco desses ativos é mitigado por apresentarem imóveis como lastro.
O fundo do Santander também aplica cerca de 20% a 30% do portfólio em papéis de crédito privado, principalmente em Certificados de Depósito Bancário (CDBs) de grandes bancos.
O retorno médio dos fundos de previdência da categoria de renda fixa, no entanto, ficou abaixo do CDI, com ganho de 0,86% frente à variação de 0,94% do referencial.
Na renda variável, a busca por proteção para as posições em ações até garantiu um ganho adicional para as carteiras da Mapfre Seguros que podem aplicar até 49% em ações. Os fundos de investimento em cotas da seguradora: Corporate Multimercado Plus, Prevision Multimercado e Prevision Multimercado Plus foram destaque em termos de rentabilidade em setembro, superando o CDI.
As carteiras contavam com estruturas de trava de baixa, compostas por opções de venda do Ibovespa, que garantiam um ganho, se exercidas, caso a queda do índice fosse superior a 50 mil pontos e a 60 mil pontos. Em agosto, o Ibovespa bateu a mínima do ano de 48.668 pontos, e com isso a gestora exerceu as opções, o que proporcionou um retorno positivo para os portfólios. "Ganhamos com as duas posições e mantivemos agora apenas a barreira dos 50 mil pontos", afirma Mariano Cirello, diretor de investimentos da Mapfre Seguros.
Segundo o executivo, o que difere as carteiras é o tamanho das posições. As aplicações em ações, por exemplo, são maiores no Corporate Plus do que no Prevision. Mesmo assim, com a alta volatilidade no mercado acionário, a gestora reduziu as alocações em bolsa em todas as carteiras. Elas alcançam hoje no máximo 10% do portfólio. "Estamos mais posicionados em setores defensivos como energia, concessões de rodovias e bancos", diz Cirello.
Os fundos também contavam com uma proteção contra a alta do dólar, estruturada também por opções, que garantiria um lucro caso o dólar ultrapasse a cotação de R$ 1,90, R$ 2,00 e R$ 2,50. No dia 22 de setembro, a moeda americana chegou a bater R$ 1,95, maior cotação desde 1º de setembro de 2009, o que levou a gestora a realizar os ganhos. "Mantivemos apenas a trava de alta do dólar a R$ 2,50", destaca Cirello.

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