quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Fluxo de investimento japonês no foco do BC


Autor(es): Por Filipe Pacheco e Lucinda Pinto | De São Paulo
Valor Econômico - 19/10/2011
 

O Banco Central (BC) está atento a uma eventual saída de dinheiro de investidores japoneses de ativos denominados em real, em meio à piora do cenário econômico internacional. A dinâmica desses recursos pode ter influência direta sobre a evolução do câmbio local e, no mês de setembro, período em que a moeda americana sofreu forte valorização frente o real, sinais de retirada desses recursos chamaram a atenção da autoridade monetária.
A queda do patrimônio desses fundos, entretanto, tem a ver muito mais com a perda recente de valor dos ativos nos quais esse dinheiro está investido do que com saques líquidos de recursos, segundo explicou Tony Volpon, chefe de mercados emergentes para a América Latina da Nomura Securities, que esteve na semana passada em Brasília para falar com integrantes do BC. Segundo ele, o fluxo de dinheiro aos chamados fundo Toshin - fundos mútuos, em que os clientes podem ou não selecionar a moeda em que querem investir - "está no zero a zero, ou no mesmo patamar que de agosto deste ano, não há uma saída significativa de investimentos". O Nomura administra cerca de 60% dos fundos Toshin que existem no mercado.
Volpon explica que houve, sim, uma variação do estoque total do valor dos Toshin ligados ao real, que caiu de US$ 69,2 bilhões no final de agosto para US$ 56,7 bilhões no final de setembro. Mas, do total dessa variação, somente US$ 1,9 bilhão representa retirada de investimentos diretamente. O restante, explicou o especialista, foi provocado pela desvalorização de ativos e oscilação cambial. Durante o mês de setembro, parte dos ativos que compõem os fundos, especialmente os chamados "high yields", tiveram uma considerável perda de valor, em função da piora do ambiente externo que marcou o mês passado, provocando uma redução no total do patrimônio dos Toshin.
"Se o fundo valia 100 e teve 1 de saque, ficou com 99. Mas como os ativos tiveram perda de valor, foi para 90", simplificou ele. Dos US$ 90 bilhões do patrimônio dos investimentos vinculados ao real ou diretamente em ativos no Brasil, US$ 57 bilhões são feitos por meio de contratos derivativos que têm uma contraparte por aqui, e US$ 33 bilhões são em ativos que podem ser de renda fixa ou variável e títulos públicos ou corporativos, por exemplo.

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A variação cambial observada no período, quando o dólar se valorizou 18,14%, teve algum impacto na redução dos valores. Os fundos precisaram fazer um ajuste de caixa para poder cumprir com contratos vinculados à variação cambial no final do mês, e tiveram inclusive de vender ativos para poder cobrir essa perda. Mas, na avaliação de Volpon, esse movimento não foi crucial para o desempenho do câmbio. "Todo começo de mês, os contratos que compõem o fundo são rolados para o mês seguinte, vinculados à cotação da moeda. Quando termina o mês, a diferença é paga, no caso de perda cambial, pelo fundo. Se o fundo não tem caixa, levanta ativos e paga. Mas não é caso dos Toshins do Nomura, que são geridos conservadoramente e que tinham caixa para pagar esse desembolso em função da perda da moeda", explica Volpon.
Os Toshin são compostos em grande parte por contratos a termo sem entrega física, chamados em inglês de non-deliverable forwards (NDFs). Um desmonte de posições compradas em reais contra o dólar nesse mercado não impactaria diretamente o mercado de câmbio à vista no Brasil, mas acabaria afetando o mercado de dólar futuro na BM&FBovespa, que contribui de forma determinante para a formação do preço do dólar no mercado interno. Assim, a ação mais firme do BC, intervindo com leilões de swap cambial e contendo a desvalorização do dólar, foi importante para interromper a espiral negativa dos Toshin observada em setembro.
"Ainda estamos longe de um patamar de retirada dos fundos atingido logo após a quebra do banco Lehman Brothers", diz Volpon. Ele explica que os Toshin denominados em real continuam a ser os preferidos entre os japoneses, e representam 57,6% do total entre aqueles que são vinculados a moedas estrangeiras. Em segundo lugar estão aqueles baseados em uma cesta de moedas de países exportadores de commodities (17,1%).
Mas ele reconhece que, diante do ambiente de cautela que começa a determinar as decisões de investimento, há um crescimento da demanda por ativos atrelados a outras moedas, principalmente ao dólar australiano, atualmente responsável por 9,4% do volume investido. Parte do dinheiro que saiu do real em setembro (US$ 1,9 bilhão) foi destinado ao dólar australiano, classificado com grau de investimento mais alto, e portanto, considerado menos arriscado em épocas de incerteza e forte volatilidade. Entre agosto e setembro esses fundos tiveram uma variação de estoque positiva em US$ 200 milhões, sendo que ao se excluir os fatores de volatilidade cambial, houve um aumento estimado de US$ 1,1 bilhão.
Os japoneses são tradicionais compradores da dívida externa brasileira, mas esses investimentos são feitos principalmente por outro tipo de fundo, chamados de Uridashi e que compram papéis em outras moedas que não o iene japonês.

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