sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Produto popular deve responder por 20% da receita global da Nestlé


Autor(es): Por Daniela Fernandes | Para o Valor, de Paris
Valor Econômico - 21/10/2011
 

Para driblar o cenário de desaceleração da economia mundial, a gigante suíça Nestlé, líder mundial do setor de alimentos, vai ampliar uma estratégia iniciada no Brasil e que vem ganhando espaço nos países ricos desde a crise financeira de 2008: a linha de produtos populares, com preços mais baixos, que a empresa batizou de "PPP".
Afinal, como disse ao Valor o presidente da Nestlé, o belga Paul Bulcke, em países desenvolvidos como os Estados Unidos e a França, os maiores mercados do grupo, "também há consumidores emergentes". E nesses tempos de crise e desemprego alto na Europa, eles estão cada vez mais numerosos.
A gama desses produtos destinados a pessoas de baixa renda, com embalagens menores e mais simples, já representa entre 12% e 13% do faturamento global do grupo suíço. "Nosso objetivo é que os PPPs representem 20% das vendas no médio prazo", diz Bulcke, que fala português fluentemente.
Segundo ele, 15% da população francesa pode ser considerada "emergente". O mesmo ocorre com os milhões de hispânicos que residem nos Estados Unidos, afirma. A experiência brasileira, realizada no Nordeste, de criar produtos a preços populares e com um marketing específico para esse consumidor "serviu como exemplo para o resto do mundo", diz Bulcke.
A recessão mundial em 2009 levou a Nestlé a acelerar a ampliação da linha desses produtos, sobretudo nos países ricos. Neste ano, as vendas dos chamados PPPs já cresceram 12,7% e a Europa contribuiu para o desempenho.
A Nestlé apresentou ontem em Paris, no luxuosíssimo hotel Shangri-La, de uma rede de Hong-Kong, seus resultados financeiros nos primeiros nove meses do ano. Os países emergentes, que já representam quase 40% do faturamento global (em 2009 essa participação era de 35%), continuam representando o motor de crescimento do grupo suíço.
O faturamento nos mercados emergentes aumentou 13,1% no acumulado até setembro. Na Europa, o crescimento orgânico foi de 3,8%. Na região "Américas", que inclui a América Latina, a ampliação das vendas foi de 5,6%.
Bulcke preferiu não comentar se o desempenho do Brasil, que continua registrando crescimento, teria ficado acima ou abaixo da performance dos emergentes. No primeiro semestre do ano, o aumento das vendas no Brasil havia ficado na faixa de um dígito.
"O Brasil teve um crescimento muito acelerado nos últimos anos. Neste ano, o país está dando uma respirada, em parte por causa da inflação, que teve efeitos sobre nossas vendas. Mas também faz bem para a companhia tomar um pouco de ar", afirma Bulcke.
Ele afirma que um "crescimento exponencial" longo exige adaptações da empresa em termos de estrutura das operações.
O Brasil estava entre os dez primeiros mercados do grupo há cerca de dez anos e agora está entre os cinco maiores, também em parte pela valorização do real, diz Bulcke. "Mas talvez possa perder um pouco a posição devido à recente desvalorização. Mas o mais importante é que é um país onde temos uma forte posição", afirma.
As vendas globais da Nestlé atingiram 60,9 bilhões de francos suíços (US$ 68,1 bilhões) até o terceiro trimestre, com crescimento orgânico de 7,3%. Os efeitos do câmbio diminuíram as vendas em 15,1%, como também as cessões de ativos, sobretudo a Alcon, que contribuía com cerca de 5 bilhões de francos suíços para o faturamento do grupo.
Apesar do "contexto econômico difícil e da pressão nos custos das matérias-primas", a multinacional elevou a previsão de crescimento neste ano, que deverá ser "levemente superior à faixa de crescimento orgânico a longo prazo de 5% a 6%".
"Temos senso de realidade. Mas nos comprometemos a aumentar a rentabilidade e ir além de 5% a 6%. Vamos ver o que vai acontecer [na economia mundial], mas temos confiança", afirmou o presidente.

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