sábado, 22 de outubro de 2011

Índios contrários à construção de usina no Rio Teles Pires mantêm sete reféns


Autor(es): Danielle Nogueira
O Globo - 22/10/2011
 

Impasse já dura 5 dias. Presidência cria grupo para acompanhar negociações

Sete pessoas estão sendo mantidas como reféns, desde segunda-feira passada, por índios das etnias kayabi e munduruku, na divisa do Pará com Mato Grosso. Os índios se opõem à construção da hidrelétrica de São Manuel na região e exigem agilidade na demarcação de suas terras. Afirmam ainda que a libertação dos reféns está condicionada à presença do presidente da Funai na tribo.
Devido ao impasse, o caso foi levado à Presidência da República. Um gabinete de crise, com representantes de Secretaria da Presidência, Ministério da Justiça e Funai foi formado e acompanha as negociações. Mas ainda não há previsão de a Funai enviar um representante ao local.
Ontem, o Ministério Público Federal do Pará ordenou que as audiências públicas relacionadas ao empreendimento fossem adiadas por 90 dias. Duas delas estavam previstas para ocorrer neste fim de semana. A procuradoria também exigiu que os estudos de impacto ambiental da usina sejam traduzidos para as línguas indígenas dos povos que serão afetados pela obra.
A multa diária para descumprimento da decisão é de R$50 mil e poderá ser aplicada tanto ao Ibama como à Empresa de Pesquisa Energética (EPE), responsável pelo projeto. A previsão é que a usina, que seria erguida às margens do Rio Teles Pires e licitada em dezembro, tenha capacidade instalada de 700 Megawatts (MW).
Entre os reféns estão quatro funcionários da Funai, dois funcionário da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e um antropólogo. Eles haviam sido enviados ao local no início da semana para debater o projeto da hidrelétrica com os índios, mas foram surpreendidos ao serem impedidos de sair da aldeia.
Clima na aldeia é tenso,
diz parente de um dos reféns
Segundo Letícia Santana, mulher de um dos detidos, eles estão sendo bem tratados, mas o clima começa a ficar tenso.
- Os índios colocaram todos os reféns no centro de uma roda, pintados com a marcação típica de prisioneiros, e fizeram uma dança típica - conta Letícia, que conseguiu conversar com seu marido por meio de um telefone público que existe na aldeia.
Ainda segundo ela, caso uma solução não seja alcançada nos próximos dias, os reféns serão levados para aldeia próxima, a 900 quilômetros do local onde estão hoje. A Funai diz desconhecer a informação. A instituição diz ainda que foram enviados dois ofícios aos kayabi e munduruku esta semana, propondo que eles participassem das audiências públicas. Os índios, no entanto, se negam a comparecer a qualquer audiência.
Esta não é a primeira vez que índios protestam contra a construção de usinas nos arredores de suas terras. Em 2008, um engenheiro da Eletrobras foi ferido no braço com uma faca, por uma integrante da aldeia que se opunha ao projeto de Belo Monte (PA). Vinte anos antes o então engenheiro da estatal José Antônio Muniz também fora ameaçado por uma índia contrária a instalação da mesma usina.

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