sábado, 15 de outubro de 2011

A Crise de 2008 e a Quebra de Paradigma



Publicado em 01/02/2010
As crises financeiras sempre trazem  sombra ao status quo da economia da sociedade atual ao mesmo tempo que trazem luz para uma nova visão de mundo que se desencadeia em uma quebra de paradigma.
Conforme haviamos discutido nos artigos anteriores, a Crise econômica atual é oriunda da super-especulação no mercado financeiro, lembrando que economia é a ciência que estuda a produção, a distribuição e o consumo de bens e serviços que maximizam o bem-estar da sociedade, enquanto Finanças é a gestão de dinheiro e ativos com o objetivo a maximizá-los. É interessante também lembrar que o dinheiro foi criado com o intuito de facilitar as trocas na sociedade através da fetichização do valor do trabalho através de algo menos abstrato e mais palpável e que hoje utilizamos metais de baixo valor  e papeis com uma impressão de um número de equivalência. Sendo assim, enquanto em economia se visa a maxização do  bem-estar, em finanças se visa a maximização de meios de troca.
Para entendermos o paradigma que vivemos hoje, voltamos novamente a crise de 1929, quando a oferta de produção atingia níveis recordes até se encontrar com uma demanda tímida e retraída levando os preços a cairem radicalmente, quebrando empresas, aumentando o desemprego, mergulhando os Estados uUnidos e o mundo na grande depressão que acarretaria na 2ª grande Guerra Mundial.
Em 1944, foi feito o acordo de Bretton Woods, que na época desencadeou-se em uma mudança de paradigmas, confirmando os Estados Unidos como Potência Mundial. Foi deste acordo que nasceram o Fundo Monetario Internacional (FMI) e o Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento ( BIRD) que mais tarde se dividiu no Banco Mundial e o Banco de Investimentos Internacionais. Estas Instituições garantiriam crédito e socorro a países com a economia deteriorada pelas guerras e suas consequências. Além disso era disseminado que o ideal político deveria seguir linhas liberais com o mínimo possível de intervenção estatal na Economia, e que as barreiras ao comércio deveriam ser limitadas acabando de vez com a política da década de 30 “Beggar-thy-neighbor” (Empobrece teu vizinho), em que utilizando de barreiras alfandegárias estados e nações garantiam poder econômico de curto prazo, acarretando em um aprofundamento da crise na grande depressão. Além disto, no papel de potência mundial, os Estados Unidos passam a ter sua moeda, o Dólar como lastro para todas as outras moedas mundiais, e o Dólar por sua vez, tendo lastro na commoditie Ouro.
Em 1971, os Estados Unidos, através do seu então presidente Richard Nixon, determinaram o fim do Lastro do Dólar em Ouro, devido a fortes pressões de demanda especulativa a commoditie. A partir daí, as pressões especulativas no mercado financeiro foram se tornando cada vez mais intensas, e a aplicação de recursos em ativos de meios de troca passaram a tomar cada vez mais espaço, em clara sintonia ao fator de que a mudança intertemporal do meio de troca gerava um bem maior no futuro. Em outras palavras, ao se deixar de consumir/investir fisicamente o dinheiro hoje, para aplicar no mercado financeiro e utilizar este dinheiro amanhã, teria-se assim um maior consumo no futuro, do que se poderia ter hoje se utilizado este dinheiro.
A globalização começava a se tornar parte do vocabulário da sociedade, empresas se tornavam multinacionais, mais ricas até mesmo que muitos países, que com o advento do avanço da comunicação e as informações sendo disseminadas cada vez mais rapidamente tiveram que adaptar suas estratégias racionais assim como todas as outras empresas, pessoas e Estados para não ficar atrás de seus adversários, tais estratégias eram cada vez mais estudadas e desenvolvidas e a gestão para ver quem maximizaria mais suas riquezas estava acirrada.
Uma vez que todos têm acesso a todas as informações e praticamente ao mesmo tempo, as Pessoas, Empresas e Estados passaram a cada vez mais focar suas gestões no mercado financeiro, com o intuito de poder consumir, crescer, desenvolver mais futuramente, do que se consumiria, cresceria, e desenvolveria, se utilizassem tais recursos economicamente hoje.
Ora, se grande maioria dos indivíduos participantes do mercado, passarem  a abrir mão de um valor que se têm hoje, a fim de auferir um valor maior para utilização no futuro e por assim continuar ad eternum, qual seria o valor deste dinheiro hoje se um destes indivíduos, pegasse o dinheiro, e fosse ao mercado físico fazer investimentos, não haveria muitas possibilidades de compra, uma vez que todo o capital estaria revestido de meio de troca no mercado financeiro.
Voltando ao exemplo da viúva de Ohio jogadora de bingo, ao perceber, que se ela pegasse o seu dinheiro, R$100 o valor que ela estaria ganhando por aquilo era de um toca-fitas de R$40, a viúva percebe que estes ganhos de valor em dinheiro( meio de troca) não estavam lá se efetivando na realidade, quando se desfetichizaria o valor do papel moeda na troca por mercadoria ou serviço que maximizaria seu bem estar novamente. É neste ponto em que a Crise Financeira passa a afetar a Economia criando a Crise Econômica que vivemos atualmente.
De 1971 até hoje, o mercado passou por diversas crises, entre elas a crise da dívida externa dos países da América Latina, desencadeado pelo não pagamento do México dos seus empréstimos que haviam sido criados com o novo mercado livre de barreiras e regulamentação financeira, também em 1989-91 tivemos a crise do sistema de poupança e empréstimos nos Estados Unidos, Bolhas especulativas Japonesa em 1990, ataques especulativos às moedas européias em 1992-1993, a crise bancária em vários países da Asia, a desvalorização do Rublo  e a inadimplência da Russia em 1998, até chegarmos nos ataques especulativos do subprime, commodities e a quebra do Lehman Brothers primeiro mas não último grande banco americano a falir.
E pela primeira vez, desde o acordo de Bretton Woods, o Grupo das 20 nações mais industrializadas, voltou a se reunir semana passada, e o lado positivo da reunião foi que  em sintonia chegaram a determinar direções a serem seguidas, como a não utilização de protecionismo, a busca de uma maior regulamentação financeira, o fim das ilhas fiscais com os sigilos bancários e a injeção de mais um USD1.100.000.000,00 nos Bancos Mundiais e FMI para ajudar países com problemas econômicos.
Contudo, assim como toda crise traz sombras ao status quo atual, o medo de deixar grandes apostadores de mercados falirem, faz com que na prática, ainda tentem injetar dinheiro em instituições financeiras para cobrir as perdas de 30 anos de super-especulação, e ao fazer isso, ainda faz brilhar os olhos daqueles que almejam auferir ganhos no mercado financeiro, ao mesmo tempo que desejam que todos continuem consumindo para manter a indústria das economias funcionando.
Mas, assim como toda crise traz em si uma nova visão de mundo,  a quebra do paradigma atual vem se tornando cada vez mais presente, não por decisões pautadas em reuniões de 20 meninas superpoderosas, mas sim nos atos econômicos que visionam hoje de forma mais inerente do que as decisões financeiras dos últimos anos.
Texto elaborado por: André Souto Vidigal - Empresário

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