quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Concessionárias brasileiras buscam internacionalização



Autor(es): Por Fábio Pupo | De Foz de Iguaçu
Valor Econômico - 26/10/2011
 

Enquanto se preparam para disputar as próximas concessões de rodovias federais brasileiras, uma com edital já publicado, grupos brasileiros do setor estão estudando expandir sua atuação para outros países da América Latina. No foco de atenção, Colômbia e Chile estão entre os que mais atrairão investimentos privados para as estradas nos próximos anos.
O governo colombiano pretende fazer a concessão de mais de seis mil quilômetros de rodovias em 2012 e 2013, em contratos que podem durar até 50 anos e taxas de retorno real que chegam a 11%. O Chile pretende passar às mãos da iniciativa privada seis rodovias em até dois anos. Somados, os dois países têm projetos de concessões no setor que somam US$ 14,6 bilhões em investimentos.
As oportunidades de investimento nesses países foram apresentadas durante congresso de empresas concessionárias de rodovias realizado em Foz do Iguaçu, no Paraná. Segundo especialistas, há uma disposição dos próprios governos dos países vizinhos em chamar empresas brasileiras a participar de seus processos de concessão, inclusive a fim de que haja mais competição. "As empresas brasileiras têm uma expertise reconhecida. É interessante para os governos de cada país que contem com a participação delas em seus processos de licitação", analisa Diego Sánchez Fonseca, especialista da Corporação Andina de Fomento (CAF), ao Valor.
Em Bogotá serão quatro concessões em treze ruas, com custo total de quase US$ 4 bilhões, com financiamento de 60%
Além dos projetos de rodovias intermunicipais, Colômbia e Chile estão finalizando os estudos para algo ainda inexistente no Brasil: a concessão de vias urbanas, nas capitais Bogotá e Santiago, respectivamente. Entre os objetivos dos governos em implementar o pedágio nas ruas, estão os de reduzir os congestionamentos, adequar a cidade a metas ambientais e incentivar o uso de transporte público.
Em Bogotá, onde os estudos estão mais adiantados, serão quatro concessões em treze ruas, com custo total de quase US$ 4 bilhões, com possibilidade de financiamento de 60%. O prazo de concessão é de 30 anos e a taxa de retorno é de 11% sobre o capital investido, segundo a Corporação Andina de Desenvolvimento.
O pedágio seria cobrado eletronicamente, por antenas que captam o tráfego de veículos por meio de um dispositivo (o tag) - sistema chamado de "free-flow". Para efeitos de comparação, existem hoje 1,3 milhão de automóveis na capital colombiana - quase metade de usuários do sistema brasileiro de pagamento eletrônico de pedágio e estacionamento Sem Parar/ViaFácil, que registrou receita líquida de R$ 300 milhões no ano passado.
Empresas brasileiras já notaram as oportunidades de negócios em concessões de rodovias nos países vizinhos. Neste ano, a Odebrecht começou a construir um trecho de 530 km da Ruta del Sol, estrada de 1 mil km que ligará Bogotá à costa do Caribe. O investimento da empresa no empreendimento está previsto em US$ 1,06 bilhão. Após construída, a empresa será a concessionária do trecho. Seguindo o exemplo do grupo compatriota, a CCR está estudando atualmente potenciais concessões rodoviárias em países da América Latina - entre eles Peru, México e Chile.
Segundo os especialistas do setor, é interessante para os grupos brasileiros expandirem as atividades para os países vizinhos, já que projetos de concessão de rodovias no Brasil não acontecem com uma frequência garantida. "Não temos um grande número de projetos. Mesmo que contemos as concessões feitas pelos governos estaduais, não serão em número expressivo para os próximos anos", diz Moacyr Duarte, presidente da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias.
Atualmente, o único processo licitatório em andamento no Brasil é o da BR-101, no trecho do Espírito Santo. A rodovia está na 3ª etapa de concessões da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Outras duas, que também compõem a 3ª etapa, devem ter edital publicado até o fim do ano (trata-se da BR-040, no trecho entre Juiz de Fora, em Minas Gerais, e Brasília; e BR-116, da divisa de Minas Gerais com o Rio de Janeiro até os limites de fronteira de Minas com a Bahia).
Depois disso, não há previsão de novas concessões nas estradas. Mesmo assim, a ANTT diz que estuda novos trechos. "Sempre estudamos novos projetos. Hoje não temos novidades, mas é possível que tenhamos novas concessões nos próximos anos", diz Mario Mondolfo, superintendente de exploração de infraestrutura rodoviária da ANTT. Segundo ele, rodovias com mais de quatro mil km já garantem um faturamento viável para concessão.
Enquanto não há garantia de novas concessões, especialistas dizem que, além dos projetos fora do Brasil, o instrumento das parcerias público-privadas (chamadas PPP e que podem ser propostas pelas empresas ao poder público) são uma alternativa de negócios aos grupos.

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