sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Usinas voltam a frustrar indústria de base


Autor(es): Por Fabiana Batista | De São Paulo
Valor Econômico - 02/12/2011
 

As empresas produtoras de equipamentos para usinas de açúcar e álcool amargam em 2011 o terceiro ano seguido de vendas fracas. Desde a crise de 2008 não há investimentos significativos na produção sucroalcooleira e, por enquanto, não há sinais de que esse cenário vá mudar no curto prazo.
Ao contrário: com a elevada ociosidade do parque industrial atual, o foco das usinas nesse momento está voltado para investir nos canaviais, e não em construção de novas usinas. "Não estamos recebendo nem consultas sobre novas usinas. Acredito que esse tipo de contato inicial voltará a ser feito apenas no fim de 2012", afirma Sérgio Leme, presidente da Dedini Indústria de Base, com sede em Piracicaba (SP).
O Centro-Sul do país tem capacidade industrial para moer entre 620 milhões e 650 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por safra, mas teve disponível nesse ciclo apenas 490 milhões de toneladas da matéria-prima. Isso significa dizer que, na temporada, as usinas tiveram, somadas, ociosidade de, pelo menos, 130 milhões de toneladas - o equivalente a 26 usinas de grande porte (5 milhões de toneladas).
Diante desse cenário, em que o que falta é cana, não usina, a Dedini, maior empresa de equipamentos sucroalcooleiros do país, informa que em 2011 entregou duas usinas completas - mas, ainda assim, de projetos que foram encomendados em 2007. Foram os dois "greenfields" anunciados ainda pela antiga Brenco (Companhia Brasileira de Energia Renovável - Brenco), adquirida no ano passado pela ETH Bioenergia, braço sucroalcooleiro da Odebrecht.
Dessa forma, a Dedini deverá ter em 2011 faturamento 25% menor. Serão R$ 900 milhões, ante R$ 1,2 bilhão em 2010 - montante que já foi bem inferior ao pico de faturamento da empresa, de R$ 2,2 bilhões, atingido em 2008, ápice da euforia dos investimentos em etanol no país.
A Sermatec Zanini, a segunda maior em equipamentos para usinas, espera atingir este ano receita bruta de R$ 280 milhões, um pouco maior do que os R$ 270 milhões de 2010, mas muito distante do seu faturamento máximo de R$ 750 milhões, alcançado em 2009.
"Foi mais um ano difícil", constata o presidente da empresa, Antonio Carlos Christiano que não vislumbra grandes avanços em 2012. Alguma recuperação virá no ano que vem, segundo o executivo, mas não do mercado interno.
Segundo ele, negociações vem sendo travadas há mais de um ano para exportação de equipamentos para projetos de açúcar e etanol na América Latina e na África. "Entre 15% e 20% do total de R$ 320 milhões que devemos faturar em 2012 devem vir de exportações", acredita Christiano, que espera fechar esses negócios já no primeiro semestre do ano que vem. Os clientes, segundo ele, estão na Argentina, no México, na Colômbia e em Angola.
Depois de passar todo o ano de 2009 com praticamente "zero" de vendas, e de conseguir, em 2010, retomar projetos suspensos durante os dois anos anteriores, a Sermatec tem hoje em carteira fornecimento de equipamentos para dois "greenfields" (usinas novas) que também estavam paralisados desde a crise de 2008.
Um deles, diz o executivo, é a primeira fase do projeto de produção de polietileno a partir de etanol de cana da Dow Chemical em Santa Vitória (MG). O outro é a já anunciada usina Ivinhena, da Adecoagro, que está em processo de montagem de caldeira.
As duas empresas, Dedini e Sermatec, têm neste momento ociosidade da ordem de 50%. "O potencial que temos com a nossa capacidade é de faturar entre R$ 500 milhões e R$ 800 milhões por ano. Podemos dobrar o volume de projetos", diz Christiano, da Sermatec.
Mas, para 2012, não se aguarda mudanças nesse cenário, apesar da diversificação de atuação, diz Leme, da Dedini. "Prevemos um faturamento de R$ 900 milhões".
No entanto, a empresa comemora em 2011 o fato de, pela primeira fez em sua história, a categoria "outros negócios" ter superado o setor sucroalcooleiro em faturamento. "O ano de 2011 será encerrado com as usinas representando 45% da nossa receita. Esse percentual já chegou a 95% no passado", diz Leme.
A venda de equipamentos para o segmento de alimentos e bebidas representou 15% da receita da empresa; os negócios para o setor de petróleo e gás ficaram com uma fatia de 12%, os de hidrogeração (equipamentos para hidrelétricas) com 10% e o de energia, com 10%. "O grupo "outros setores", como mineração, ficaram com 8%", completa Leme, que espera que, com a retomada do investimento no setor sucroalcooleiro, esse segmento suba sua fatia para 60%.
As marcas do início dessa crise, que começou em 2008, ainda estão registradas nas planilhas da Dedini. A inadimplência dos clientes da empresa, que chegou a R$ 250 milhões, foi reduzida nos últimos três anos, mas ainda está na casa dos R$ 80 milhões.
A margem Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da empresa chegou a ser negativa em 2% no ano de 2009, auge do efeito da crise no setor. Em 2010, houve uma leve melhora para 4% e a previsão para 2011 é de margem positiva em 8%, ainda abaixo dos 13% de 2007.

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