Passada a primeira fase de euforia com o programa Minha Casa, Minha Vida, construtoras de todos os portes já começam a reavaliar seus planos. Margens mais apertadas por conta de aumento dos custos, elevação de preços de terrenos, falta de experiência em lidar com a Caixa Econômica Federal e a excelente resposta do consumidor aos imóveis na faixa superior de preço fazem com que as empresas - ainda que de forma não declarada - já mostrem os primeiros sinais de que o entusiasmo inicial arrefeceu. Um ano e meio depois da implantação do programa, diferentes problemas começam a aparecer. "Já não se percebe mais o mesmo entusiasmo que as empresas tinham com o Minha Casa, Minha Vida", afirma Guilherme Vilazante, analista do banco Barclays. "O programa tende a ser uma linha de diversificação, mas deixou de ser a âncora do crescimento das companhias", diz. Segundo o analista, existem alternativas mais rentáveis para usar capacidade de execução, que é limitada. "Na época que foi lançado o programa, faltava capital e hoje isso mudou", diz. As empresas se estruturaram e já compraram terrenos, portanto vão continuar a atuar entre 2010 e 2011. A situação deve mudar a partir de 2012. Levantamento realizado com as 17 companhias abertas de construção mostra que, nos primeiros nove meses do ano, os imóveis de até R$ 130 mil representaram 37% do total lançado pelas empresas, o equivalente a R$ 9 bilhões. Com exceção de MRV, Rodobens e Direcional - que concentraram mais de 75% das vendas a esse público, e Rossi, que destinou 56% - a maioria das companhias lançou entre 13% e 48% de imóveis com preços dentro do programa. Mas quatro delas - Even, Eztec, Helbor e CR2 - não lançaram um único empreendimento para esse público. O que está ganhando fôlego hoje no mercado, em detrimento dos populares, é o chamado segmento intermediário - que começa na faixa imediatamente acima, de R$ 140 mil a R$ 500 mil (limite do SFH, para uso do fundo de garantia). Por dois motivos: resposta da demanda e disponibilidade de crédito. Nessa faixa, todos os bancos privados atuam, ao contrário do Minha Casa, Minha Vida, que está exclusivamente nas mãos da CEF. Os imóveis nessa faixa ultrapassam os lançamentos dentro do Minha Casa, Minha Vida: representaram 41% do volume financeiro lançado até setembro, pouco mais de R$ 10 bilhões. "Minha experiência no Minha Casa, Minha Vida não foi das melhores. Prefiro me concentrar em imóveis de R$ 150 mil a R$ 250 mil, onde tenho condição de retorno maior", diz Marcelo Franco, da Patrimônio Empreendimentos, com atuação no Norte e Nordeste. Construtoras que não tinham know-how nesse mercado e entraram quando esse era uma das portas para o cliente já estão desistindo de atuar no programa - ou vendem os terrenos ou se associam a companhias com mais tradição nesse mercado. "Construtoras que não têm expertise em empreendimentos para classe econômica estão nos procurando para vender terrenos ou fazer parceria", diz o sócio de uma tradicional empresa de baixa renda de São Paulo. Chegado o momento de operar com a CEF, as empresas encontraram dificuldades. Por conta disso, embora o programa caminhe normalmente no registro dos projetos, há um atraso no momento de repasse dos clientes - o chamado desligamento (quando o cliente passa da construtora para a CEF). Com o objetivo de tornar o sistema mais ágil e acelerar o programa, a Caixa criou, no início do ano, um programa piloto com as principais construtoras para que elas assumissem uma parte do processo de avaliação de crédito do cliente. Mas a evolução dos testes está mais lenta que o previsto. O preço final dos imóveis do Minha Casa, Minha Vida - definidos há cerca de dois anos - é considerado outro problema. Isso porque os custos de construção subiram e o preço, na ponta, não. Desde que o programa entrou em vigor, em abril de 2009, o INCC acumulado subiu 9,51%. Todos os executivos que atuam na área esperam uma reavaliação dos valores para a segunda fase do programa. Os valores, definidos no fim de 2008, estão defasados entre 10% e 15%, afirmou em entrevista recente ao Valor o presidente do Secovi, João Crestana. Fala-se no mercado que o teto deve passar de R$ 130 mil para R$ 150 mil, mas não há nada definido. Empresários ouvidos pelo Valor admitem que já temem por novas assinaturas de contrato no patamar de preços de hoje. "Está perto do perigoso, prefiro não fazer até que seja definido o novo preço", diz um construtor. Uma das questões preponderantes está no aumento dos preços dos terrenos. Segundo fontes do setor, no caso dos terrenos comprados entre 2007 e 2008, antes do anúncio do programa, a conta ainda fecha. Mas depois que o programa emplacou e - por conta do forte aquecimento de mercado nos últimos meses - os donos de terras subiram os valores pedidos. Na periferia de São Paulo, há casos de terrenos que subiram mais de 30%. Isso acaba empurrando os projetos para regiões mais distantes - onde muita vezes não há infraestrutura de transporte disponível - e cria-se um contrassenso. Onde tem demanda para compra de imóveis, não tem terreno e onde tem terreno, a demanda é muito menor. "As empresas acabam tendo que sair dos grandes centros e é aqui que está o déficit", afirma Augusto Martinez, da Construtora Mudar. Na opinião de Martinez, a população de baixa renda tem uma dinâmica diferente. "Eles não podem sair de Itaquera e ir para a Anhanguera, porque dependem do círculo social", explica o empresário que faz as vezes de apresentador de TV em um programa que reforma de casas no SBT. "Deixam os filhos com o vizinho, com a irmã, não podem sair para tão longe." Segundo Eduardo Gorayeb, presidente da Rodobens Negócios Imobiliários, uma das questões que está sendo mais discutida entre empresários e governo na elaboração da segunda fase do Minha Casa, Minha Vida é justamente a questão da infraestrutura e onde se formarão os novos espaços para os empreendimentos. A questão política também existe. Prefeituras comandadas por partidos da oposição são menos dispostas a ajudar, dizem os executivos. Um outro ponto - mais nebuloso e menos comentado abertamente - é a questão da insegurança jurídica. Segundo o advogado Marcelo de Andrade Tapai, há construtoras que subvalorizam o imóvel no lançamento para se encaixar no programa e atrair demanda. Depois, quando a Caixa avalia o imóvel para enquadrá-lo no programa, ou não, há casos em que o valor fica acima do teto de R$ 130 mil. "Já existem casos de compradores indo para a Justiça porque perderam o subsídio", diz.
Camargo vende Itaúsa por R$ 2,6 bi
Autor(es): Josette Goulart | De São Paulo |
Valor Econômico - 26/11/2010 |
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/11/26/camargo-vende-itausa-por-r-2-6-bi |
O grupo Camargo Corrêa vendeu sua participação na Itaúsa. Por cerca de US$ 1,5 bilhão, ou R$ 2,6 bilhões na cotação de ontem, o fundo de pensão dos funcionários da Petrobras adquiriu os 11,4% do capital com direito a voto que pertencia ao grupo. O caixa que chega à Camargo deve ser usado para concretizar os planos de expansão da empresa, principalmente no setor de construção e infraestrutura, e pode ser de grande valia na operação de compra da Elektro pela CPFL - a empresa de energia da Camargo e Previ. A Elektro custa cerca de R$ 6 bilhões. Os donos da Elektro, distribuidora de energia na área contígua à CPFL, colocaram suas empresas na América Latina à venda e hoje CPFL, Iberdrola e BTG Pactual (dono de parte da Equatorial) disputam o ativo no Brasil. A Iberdrola era a única que tinha feito oferta por todo o bloco e a Neoenergia (em que Iberdrola e Previ são sócias) pela Elektro. A Neoenergia, entretanto, saiu da disputa por veto da Previ, segundo fontes próximas ao fundo. Apenas a Iberdrola ficou na disputa. A desvantagem da CPFL, que só tinha interesse na Elektro, não existe mais. Os bancos que assessoram a venda abriram a possibilidade de formação de consórcios com grupos de outros países interessados nos ativos da Ashmore na América Latina. Apesar da brecha, entretanto, a venda só será efetivada se todos esses ativos forem vendidos em bloco. Para a Camargo Corrêa, a compra da distribuidora é importante pela sinergia que trará à CPFL, uma de suas principais apostas. Vitor Hallack, presidente do conselho da Camargo, disse recentemente em entrevista à Reuters que a CPFL é "o" candidato à consolidação do setor elétrico, por sua governança. A venda das ações na Itaúsa estava sendo costurada há mais de um ano, já que se tratava de uma participação puramente financeira do grupo Camargo Corrêa. A própria Itaúsa estava tentando viabilizar a saída da Camargo e autorizou a troca das ações ON detidas pelo grupo por PN. Isso permitiria uma venda direta no mercado acionário, já que as ações preferenciais têm maior liquidez. Mas a troca não foi concretizada pois os preços não atraíram. A venda por US$ 1,5 bilhão equivale a quase exatamente o preço de mercado a que fecharam cotadas as ações ordinárias da Itaúsa. Em torno de R$ 13,00. A Itaúsa passa a ter o Petros como sócio, com 4,49% de seu capital total. O fundo de pensão se une dessa forma à Previ, que tem 3,25% do grupo Itaú. Outros 3,16% pertencem ao fundo estrangeiro BlackRock, 3,26% à Fundação Itaú Social. A família Egydio de Souza Aranha detém 33,36% e distribuído no mercado estão pouco mais de 51%. Membros da família Villela e Setúbal possuem 1,11%. As ações com direito a voto da Itaúsa que atualmente não têm liquidez no mercado acionário poderão, entretanto, ter um valor agregado futuro na sucessão dos negócios da família Egydio de Souza Aranha, que é dividida nos Vilella e Setúbal. Mas mesmo com mais de 11% das ações ordinárias a Petros não terá assento no conselho de administração. A holding Itaúsa é controladora do Itaú-Unibanco, da empresa de computadores Itautec, da empresa de produtos de madeira e louças sanitárias Duratex e da química Elekeiroz. Até o fechamento desta edição, a Itaúsa não havia feito comunicado ao mercado. Procuradas, Itaúsa, Petros e Camargo Corrêa não retornaram as ligações. (Colaborou Aline Lima)
Petros compra fatia da Camargo Corrêa na Itaúsa por US$ 1,6 bilhão
Autor(es): David Friedlander |
O Estado de S. Paulo - 26/11/2010 |
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/11/26/petros-compra-fatia-da-camargo-correa-na-itausa-por-us-1-6-bilhao
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Fundo de pensão dos funcionários da Petrobrás terá 11% do capital votante ou 4,4% do capital total, participação menor apenas que a das famílias controladoras do grupo SÃO PAULO - O fundo de pensão Petros, dos funcionários da Petrobrás, fechou quinta-feira a compra, por mais de US$ 1,6 bilhão, da participação que a Camargo Corrêa tem na Itaúsa, a holding que controla o Itaú-Unibanco, a Itautec, a Duratex e a empresa química Elekeiroz. A operação envolve cerca de 11% do capital votante ou 4,4% do capital total. Como se trata de uma participação relevante, a operação precisará ser sacramentada num leilão na BM&FBovespa. A participação da Camargo Corrêa na Itaúsa só é menor que as das famílias controladoras da empresa. Isso significa que a Petros será sócia importante das famílias Setúbal, Villela e Moreira Salles. O lote estava há anos em poder da Camargo, foi colocado à venda há pouco mais de um ano. O grupo contratou para intermediar a operação o Banco Rothschild , que chegou a negociar com interessados do Brasil e do exterior, antes de fechar com a Petros. "Com a própria Petros houve idas e vindas", afirmou uma fonte que participou do negócio. Procurados na quinta, a Petros, a Camargo e a Itaúsa não quiseram se manifestar oficialmente. Fontes ligadas à fundação, porém, disseram ao Estado que a participação na Itaúsa se enquadra na estratégia da Petros de reduzir a concentração em papéis de renda fixa e aumentar os investimentos em renda variável. A Itaúsa controla quase R$ 670 bilhões em ativos. De janeiro a setembro deste ano, o patrimônio líquido alcançou R$ 64,3 bilhões e o lucro líquido foi de R$ 10,3 bilhões, com rentabilidade de 22,5% sobre o patrimônio líquido médio. Embora o principal negócio do grupo seja de longe o mercado financeiro, nos últimos tempos a Itaúsa vinha dedicando mais atenção às atividades industriais. A Duratex, que já tinha posição de liderança no ramo de construção civil, associou-se à Satipel, transformando-se na maior empresa de painéis de madeira do Hemisfério Sul e oitava maior do mundo. A Itautec, uma empresa da área de tecnologia ainda muito dependente dos contratos de automação bancária com o Itaú, foi profissionalizada recentemente, teve toda a diretoria trocada e aposta no boom de consumo da classe C para se fortalecer no mercado de computadores. Diversificação A Camargo Corrêa comprou a participação na Itaúsa em 1982. Mais ou menos na mesma época, passou a investir em negócios nas áreas têxtil e de calçados, o que foi considerado uma inovação lançada por Sebastião Camargo, o fundador do grupo. O empresário já era dono de uma das maiores empreiteiras de obras públicas do País e sua decisão de diversificar os negócios com a compra de empresas de outros ramos foi uma estratégia para investir o dinheiro que entrava no caixa e diminuir a dependência do setor público. Quase 30 anos mais tarde, seus sucessores mudaram a estratégia. No ano passado, decidiram se desfazer de operações que não são prioritárias na estratégia do grupo, para se concentrar em setores que julga mais promissores, como cimento, energia e exploração de concessões públicas. Antes da participação na Itaúsa, a Camargo já tinha se desfeito de quase toda sua posição na na gigante do alumínio na gigante do alumínio Alcoa. No começo do ano, por exemplo, a Camargo deixou para trás o grupo Votorantim e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), na disputa pelo controle da Cimentos de Portugal (Cimpor), uma das maiores do ramo no mundo. O grupo, que já é um dos maiores do País na área de energia, tem planos ambiciosos para ser um dos consolidadores do setor. Colaborou Mônica Ciarelli |
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