quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Novas redes de energia devem atrair R$ 22 bilhões

http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/11/25/novas-redes-de-energia-devem-atrair-r-22-bilhoes
Redes inteligentes abrem mercado bilionário para TI
Autor(es): Cibelle Bouças | De São Paulo
Valor Econômico - 25/11/2010

O Brasil está prestes a combater a defasagem tecnológica no setor de energia e a investir na implantação de redes inteligentes ("smart grids"). A Agência Internacional de Energia estima que a modernização nos 90 países que a adotam exigirá investimentos de US$ 13 trilhões em todo o mundo nos próximos 20 anos.

Se Alexander Graham Bell viajasse no tempo para os dias atuais, não saberia imediatamente como fazer uma ligação telefônica, tamanha a evolução do aparelho criado por ele. Mas se Thomas Edison fizesse o mesmo tipo de viagem, ainda conseguiria administrar uma empresa de energia. A comparação é bastante conhecida das empresas de energia, mas esse consenso sobre a defasagem tecnológica do setor está prestes a mudar. Aproximadamente 90 países - inclusive o Brasil - investem na implantação de redes inteligentes, também conhecidas como "smart grid". A Agência Internacional de Energia estima que sua adoção exigirá investimentos de US$ 13 trilhões em todo o mundo nos próximos 20 anos.
No Brasil, a implantação de "smart grid", ainda em fase de regulamentação pelo governo, abre para as empresas de tecnologia um potencial de geração de negócios de pelo menos R$ 22,4 bilhões, segundo cálculo da consultoria Accenture, que estima um gasto de aproximadamente US$ 200 (R$ 344) por medidor eletrônico. Esse seria o valor necessário para substituir 65 milhões de medidores em uso hoje e para implantar sensores ao longo das redes de distribuição, conectados a um sistema integrado tráfego de dados e de energia. Essa substituição está prevista para ser feita no prazo de dez anos.
O gerente de utilities da Accenture no Brasil, Roberto Falco, observa que em países europeus, a medição eletrônica já foi adotada. Mas, nos Estados Unidos, a tecnologia está na fase de implantação dos medidores. "O Brasil está no início do processo, na fase de regulamentação. Tudo indica que o setor de TI será beneficiado no mundo todo pelas mudanças do setor elétrico", opina Falco.

No dia 9 de dezembro, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) realiza a consulta pública presencial nº 043/2010 para discutir com o setor privado as normas para implantação dos medidores inteligentes de energia. Segundo a área técnica da Aneel, após a consulta a norma técnica será finalizada e deve ser publicada até março. A partir daí, as empresas terão 18 meses para iniciar a substituição dos medidores - o prazo foi estipulado devido à produção ainda em pequena escala desses equipamentos no Brasil.
A troca dos medidores é uma parte da "smart grid", prevista na Portaria nº 440/2010 do Ministério de Minas e Energia. O plano inclui a adoção de sistemas mais robustos para o monitoramento dos dados fornecidos pelos medidores - como consumo por horário e por tipo (eólica, hidrelétrica etc.). Esses sistemas serão capazes de informar, por exemplo, o custo do KW/h de cada casa em diferentes horários do dia. Isso será fundamental para que as empresas de energia possam trabalhar com tarifas diferenciadas ao longo do dia, estimulando o consumo fora dos momentos de pico de demanda, como ocorre no setor de telefonia. O projeto prevê ainda a instalação de sensores ao longo das redes de distribuição e nos transformadores, para identificar falhas e avisar à central para que ela determine a correção à distância.
O gerente de soluções de utility da IBM Brasil, Gadner Vieira, que participou de reuniões do grupo de trabalho criado pelo Ministério de Minas e Energia para discutir o tema, diz que com a "smart grid" o sistema de energia terá uma estrutura semelhante à existente hoje nos setores de telecomunicações e bancário. "As distribuidoras têm sistemas automatizados até as subestações e elas não são integradas", afirma. O resultado é que a distribuidora não consegue identificar falhas que ocorrem entre a subestação, os transformadores e as residências ou empresas. "Hoje, ela [distribuidora] só sabe que ocorreu um problema porque as pessoas ligam no SAC [atendimento ao cliente] da empresa", compara. Vieira estima que a "smart grid" no Brasil demandará investimento próximo a US$ 30 bilhões. Ele compara com o projeto dos Estados Unidos, que tem aporte previsto de US$ 90 bilhões para implantar 190 milhões de medidores.
Elucid, que presta serviço para 45% das concessionárias do país, estima investimentos no setor de até R$ 60 bilhões, afirma o presidente da companhia, Michael Wimert. Além de gerar negócios nas áreas de equipamentos eletroeletrônicos e software, a rede inteligente cria também um mercado potencial para as empresas de telecomunicações de tráfego de dados dos sensores com as centrais de energia. "As redes inteligentes vão abrir oportunidade para a oferta de serviços como banda larga, TV por assinatura e VoIP [voz sobre IP] em regiões onde as teles não têm interesse em investir e que são áreas de concessão das distribuidoras de energia", afirma.
A americana Convergys, especializada em sistemas de faturamento (billing) e prestadora de serviços a operadoras de telefonia no Brasil, também vê potencial de negócios para as empresas que desenvolvem sistemas de relacionamento com o cliente (CRM). "Os sistemas de relacionamento com o cliente serão essenciais no processo de consolidação das redes inteligentes, para conscientizar os consumidores e incentivá-los a usar a energia em determinados horários a preços mais acessíveis", afirma Thereza Giovannini, gerente de marketing da Convergys.
O chefe do departamento de gestão tecnológica do sistema Eletrobrás, Luís Frade, diz que boa parte das tecnologias que o setor demandará ainda terá de ser desenvolvida: "Existem medidores, software e telefonia, mas ainda falta muita coisa." Hoje, existem 5 mil projetos de pesquisa e inovação sobre energia no país, dos quais cerca de 5% voltados para "smart grid", segundo a Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei). Até 2012, haverá 7 mil pesquisas em andamento, sendo ao menos 10% sobre as redes inteligentes.



Hidrelétricas da Amazônia, novo paradigma

Autor(es): Carlos Hugo A. De Araújo
O Estado de S. Paulo - 25/11/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/11/25/hidreletricas-da-amazonia-novo-paradigma

As usinas hidrelétricas do Rio Madeira serão as primeiras a ser construídas na região amazônica após 1986. Naquele ano, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) publicou a Resolução n.º 1, que exige estudos de impacto ambiental para a obtenção das licenças de instalação e operação. Os investimentos realizados pelo empreendedor em projetos para mitigação desse impacto são decorrência direta da nova norma. A resolução do Conama representa, portanto, um marco na história da infraestrutura brasileira. Ao contrário do que ocorria anteriormente, quando dependiam quase exclusivamente da decisão do empreendedor, os projetos passaram a resultar do debate entre as várias partes interessadas, incluindo representantes dos diversos segmentos da sociedade civil.
No caso da região amazônica, o debate é, compreensivelmente, acalorado. Considerada o "pulmão do mundo", a região é rica em biodiversidade, detém a maior reserva de água doce do planeta, possui recursos naturais valiosíssimos para aplicação científica e abriga grupos populacionais cujas integridade e cultura devem ser respeitadas. Todos esses fatores devem ser considerados em iniciativas que visam ao desenvolvimento em bases sustentáveis, dentre elas a produção da energia elétrica limpa. Afinal, a Amazônia também abriga o maior potencial hidrelétrico do mundo: 260 mil MW, dos quais 126 mil aproveitáveis. Abrir mão desses recursos significaria comprometer o crescimento da economia regional e nacional, bem como a qualidade de vida da população, especialmente das comunidades locais.
Assim, além de contribuir para a expansão da oferta em todo o Sistema Interligado Nacional (SIN), as usinas do Madeira têm o desafio de realizar a exploração sustentável dos recursos amazônicos, de forma a preservar o patrimônio natural da região. Um desafio que tem sido enfrentado com a adoção de ações que combinam o respeito ao meio ambiente e o desenvolvimento socioeconômico.
Sob a ótica ambiental, a construção dos reservatórios é um exemplo. Um deles será formado em área de 15 mil hectares de mata já relativamente degradada. Em contrapartida, os empreendedores assumiram uma Área de Preservação Permanente (APP) de 38 mil hectares (500 metros de largura a partir das margens da represa). Além disso, elaboram o levantamento sistemático para resgate do material genético local e monitoram a fauna e a flora (o que gera conhecimento científico associado), enquanto estudam formas de preservar os peixes do impacto em seu hábitat natural.
Com relação às comunidades afetadas, o reassentamento, se bem estruturado, implica melhoria da qualidade de vida. Para isso, é fundamental estabelecer e conduzir um processo de negociação que tenha critérios claros, procedimentos transparentes e participação direta das comunidades.
Além disso, os benefícios econômicos podem se estender a toda a população local, por meio do aumento da oferta de empregos e da arrecadação do Estado e de municípios, uma vez que os tributos serão pagos até o fim da vida útil dos empreendimentos. E, dependendo das diretrizes das políticas públicas locais, esses recursos podem ser alocados para serviços como saúde, educação e segurança, além de permitir investimentos que contribuam para a manutenção e a consolidação do ciclo desenvolvimentista.
Da forma como estão sendo conduzidas, as usinas do Rio Madeira têm, portanto, uma zona de influência que extrapola as fronteiras setoriais. Por isso, essas obras têm potencial para criar um novo paradigma no País: provar que é possível conciliar os benefícios da expansão da infraestrutura com desenvolvimento socioeconômico local, e não só com a preservação, mas também com a valorização dos recursos naturais por meio de estudos e pesquisas.

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