terça-feira, 23 de novembro de 2010

Pessimismo global

http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/11/23/pessimismo-global
Autor(es): Catarina Alencastro
O Globo - 23/11/2010
 

Após a frustração de 2009, Conferência do Clima começa sem grandes expectativas. Brasil tem papel-chave na convenção

• BRASÍLIA
Um ano após agrande frustração que foi aConvenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas em Copenhague (COP-15), a nova edição da convenção, em Cancún (COP-16), começa no próximo dia 29 sem expectativas de grandes resultados. Prova disso é que são esperados apenas entre 20 e 30 chefes de estado no México, contra 118 que estiveram presentes em Copenhague. O presidente Lula, uma das grandes estrelas do último encontro, já confirmou sua ida, mas a delegação brasileira encolheu de 900 pessoas, no ano passado, para 250 este ano. Não se espera ofechamento de um grande acordo vinculante com metas significativas de redução de emissão de CO2 para o segundo período de compromisso do Protocolo de Kyoto, que vence em 2012, eéuma obrigação dos países desenvolvidos que assinaram o documento. Tampouco deverá
haver resultados importantes na área de financiamento, outro ponto-chave da negociação. Este é mais um compromisso firmado pelos países desenvolvidos: prover recursos financeiros para que países em desenvolvimento possam prevenir os efeitos das mudanças climáticas (mitigação) e se adaptar àqueles que já podem ser sentidos nos países mais vulneráveis, como pequenas ilhas do pacífico e nações africanas.
—Você chega a Cancún sem aquela comoção com que se chegou em Copenhague e comasmesmas dificuldades. As expectativas agora sãomaismodestas — avalia o embaixador Luiz Figueiredo, negociador-chefe do Brasil na Convenção do Clima da ONU.

Metas de redução de emissões são trunfo do Brasil

O Globo - 23/11/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/11/23/metas-de-reducao-de-emissoes-sao-trunfo-do-brasil

O Brasil tem ganhado um papel protagonista na convenção e vai levar para Cancún dois trunfos na bagagem: a
apresentação do último balanço sobre o desmatamento da Amazônia e a explicação dos planos setoriais que vêm sendo elaborados paraque o país cumpraas metas voluntárias de redução de emissões. 
Sobre a Amazônia, deve ser anunciado um novo recorde histórico, no qual "somente" cerca de 5 mil km2 teriam sido destruídos entre 2009 e 2010. Já sobre as emissões, o governo brasileiro vai mostrar como pretende reduzir de 36% a 39% de suas emissões, com relação ao que o país calculou que vai emitir em 2020. Na prática, significaria emitir 1,7 giga toneladas de CO2 daqui adez anos, quando oesperado era a emissão de 2,7 giga toneladas de CO2.
— Lula terá um papel muito destacado em Cancún. Com aproposta ambiciosa que apresentou em Copenhague, ele foi o chefe de estado que mais chamou a atenção — diz o secretário-executivo do Fórum Brasilieiro de Mudanças Climáticas, Luiz Pinguelli Rosa.
O principal plano brasileiro é reduzir a derrubada da Amazônia em 80% até 2020 e do Cerrado em 40%. As duas medidas, se alcançadas, evitarão a emissão de 668 milhões de toneladas de CO2. O desmatamento responde por 61% das emissões brasileiras.
A agricultura, dona de 22% das emissões, também sofrerá alterações. Uma das ações previstas é a recuperação de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas, de um total de 60 milhões que opaís possui, e a implementação de um programa de agricultura de baixo carbono. Com isso, seriam cortadas pelo menos 183 milhões de toneladas de CO2. 
No setor energético, que gera 15% de nossas emissões, o governo prepara um pacote paraaumentar o uso de biocombustíveis, reduzindo entre 48 e 60 milhões de toneladas de CO2. 
Na siderurgia, setor ainda bastante dependente de carvão produzido commadeira de desmatamento, aideia é justamente substituí-lo por carvão vegetal de florestas plantadas. A ação pode gerar o corte de entre 8 e 10 toneladas de CO2.
As carvoarias emitem 31% do total registrado no setor energético. Além desses cinco setores, o governo vai incluir outras sete áreas para as quais também serão criados planos setoriais. A principal delas é o transporte. Listado dentro da seção "energia", o transporte rodoviário responde por 38% dessas emissões.
— O transporte será uma área decisiva para o Brasil no futuro, pois passará a contribuir cada vez mais para onível de emissões, principalmente por conta da ineficiência do transporte de carga. O Brasil tem, há 15 anos, opior desempenho do mundo em transporte de cargas — aponta Eduardo Viola, professor de Relações Internacionais da UnB.
Ele critica também otransporte público brasileiro que receberia incentivos para o aumento no número de carros nas ruas, quando deveria ocorrer justamente o contrário. Ele sugere que o país monte um programa para penalizar o uso de carros (como taxas paraquem roda nos centros das grandes cidades), o que geraria pressão para estimular investimentos em transporte público de alta capacidade para passageiros, como trens metrôs. 
No caso do transporte de suprimentos, a saída, segundo o professor, é ampliar a rede ferroviária e hidroviária. O pacote que o Brasil apresentará vai esbarrar com a durarealidade que vigora nas negociações climáticas. 
Com relação às metas de redução dos países desenvolvidos, até agora apenas 15 nações manifestaram suas intenções, a maioria condicionando números mais ambiciosos aum acordo global, o que ainda não aconteceu. Por enquanto, o que se tem é uma redução que varia de 16% a 18% com relação às emissões de 1990. Isso seria insuficiente para evitar um aumento da temperaturada Terra de mais de 2 graus Celsius, conforme concordaram os 140 países que assinaram o Acordo de Copenhague—documento fechado na COP-15, mas que não tem validade jurídica. Ou seja: é um texto de intenções.
A questão do financiamento também está em aberto. Na última reunião, os países concordaram com a criação de um Fundo de Início Rápido (Fast Track Fund), que proveria US$ 30 bilhões em três anos para que os países mais necessitados pudessem começar aagir contrao aquecimento global. A fonte de recursos já foi identificada,mas esbarra em um problema: alguns dizem que o dinheiro de que se fala não é novo e configuraria um desvio de finalidade de recursos já comprometidos em outras áreas da cooperação internacional, como saúde e educação. O resultado é que, até agora, nenhum projeto foi contemplado com tal verba.
Um outro mecanismo acordado, mas que também não saiu do papel é o Fundo Verde Climático, para o qual seriam doados US$ 100 bilhões anuais até 2020. Esse dinheiropoderia ajudar países a criar mecanismos de eficiência energética, instalar aterrossanitários e manter florestas preservadas. As regras são as mesmas: países ricos pagariam e países em desenvolvimento,como Brasil eÁfrica do Sul, implantariam localmente tais iniciativas. Como o aporte de dinheiro é alto,há divergências sobre de onde sairia. Dificilmente essa questão será solucionada emCancún. Mas a ONG ambientalista WWF acredita que será possível avançar na estruturação do fundo, como o conselho que definirá prioridades a serem seguidas e os fiadores do sistema.
— Seria uma grande formade reconstruir aconfiança e demonstrar que os países industrializados estão tratando a mudança do clima com seriedade — pondera Mark Lutes, coordenador de políticas financeiras da Iniciativa Climática Global da WWF . Para tentar solucionar o impasse sobre a fonte de recursos que abastecerá
o Fundo Verde, o Grupo de Alto Nível em Financiamento de Mudanças Climáticas da ONU (AGF) elaborou um
estudo apontando algumas alternativas, como a taxação de viagens internacionais no setor aéreo edenavegação, o que geraria potencialmente US$ 10 bilhões anuais. O setor ,embora represente apenas 2% das emissões globais, é o que vem aumentando mais rapidamente sua fatia. (C.A.)

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