terça-feira, 23 de novembro de 2010

Impulsionando o crescimento verde

http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/11/23/impulsionando-o-crescimento-verde

Autor(es): Caio Koch-Weser e George Soros
Valor Econômico - 23/11/2010

O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, divulgou o relatório final do seu Grupo Consultor de Alto Nível sobre Financiamento da Mudança Climática (AGF, na sigla em inglês). Por sermos os dois membros do setor privado no AGF, estamos orgulhosos do nosso trabalho. O relatório apresenta as opções disponíveis para mobilizar US$ 100 bilhões anualmente para a mitigação e adaptação da mudança climática nos países em desenvolvimento e estabelece as condições que se atingir esse objetivo até 2020.
Uma condição essencial é estipular um preço robusto para o carbono, de US$ 25 a tonelada de CO2, com o fim de desencadear os vastos investimentos do setor privado necessários para financiar a transição para uma economia de baixo nível de carbono. Estamos preocupados, porém, com a falta de vontade política para a fixação do preço do carbono.
O mundo não pode esperar até 2020 para encontrar a determinação necessária: se por um lado as negociações internacionais se arrastam e a dinâmica que foi gerada no setor privado corre o risco de se dissipar, por outro, o aquecimento global está avançando. Há uma necessidade urgente de começar a produzir resultados concretos agora, com base em várias iniciativas promissoras que merecem ser ampliadas gradualmente.
Uma dessas iniciativas é o REDD+framework (Reducing Emissions from Deforestation and Forest Degradation - em tradução livre do inglês: mecanismo REDD: reduzindo emissões provenientes de desflorestamento e degradação florestal), uma iniciativa destinada a gerar valor financeiro para o carbono armazenado nas florestas tropicais. A abordagem do desflorestamento e da degradação florestal não pode esperar até 2020. Os próprios recursos de que necessitamos para nos proteger terão sido substancialmente esgotados até então. Feita de forma apropriada, a proteção das florestas tropicais é um método com boa relação custo-benefício, tanto para atenuar a mudança climática como para proporcionar subsistência sustentável a milhões de pessoas que vivem na pobreza rural.
A esse respeito, o acordo recente firmado entre Noruega e Indonésia é inovador em três aspectos. Ele protege e restaura a cobertura das áreas alagadas de florestas que se tornaram uma importante fonte de emissões de carbono. Ele oferece um mecanismo eficaz para combater a corrupção. E melhora a eficácia da ajuda ao desenvolvimento oficial. Esses programas podem ser ampliados pela participação de países com ideias afins, junto com organizações da sociedade civil.
Nós atribuímos grande importância à recomendação da AGF para a criação de Fundos Verdes (Green Funds) destinados ao manejo florestal e a África. Apelamos para que sejam tomadas medidas preliminares, já que é muito mais barato preservar as florestas tropicais a ter de reabilitá-las. Além disso, o Fundo Verde ajudaria a preencher a lacuna entre o Fast Track Funding (Financiamento por Trâmites Ágeis) para 2010-2012, que foi prometido em Copenhague, e a data-alvo de 2010.
Uma segunda iniciativa é o financiamento relacionado com o clima, oferecido pelos bancos de fomento multilaterais (MDBs). Os MDBs têm sido capazes de alavancar vastos fluxos de investimento privado reduzindo riscos e desenvolvendo a capacidade das instituições financeiras domésticas. Por exemplo, o Programa de Eficiência das Concessionárias Elétricas da China, da International Finance Corporation, tem obtido êxito no uso de pequenas quantidades de capital de risco e de recursos de doadores para gerar grandes quantidades de empréstimos, com um estonteante fator de alavancagem de mais de 100:1.
Igualmente, o Banco Europeu para Reconstrução e Desenvolvimento colocou a eficiência energética em primeiro plano em grande parte do seu trabalho nos programas de transformação setorial liderados pelo mercado por toda a Europa Oriental e a ex-União Soviética. Os MDBs devem atuar rapidamente com o setor privado para expandir consideravelmente a escala desses novos mecanismos, e seu capital deve ser aumentado se eles demonstrarem sucesso.
Uma terceira iniciativa diz respeito ao desenvolvimento de energia renovável. Programas bem elaborados com tarifas embutidas oferecem aos investidores a transparência, a longevidade e a certeza que procuram - e essas iniciativas apoiaram aproximadamente 75% da capacidade fotovoltaica solar e 45% da capacidade eólica instalada ao redor do mundo até 2008.
O programa GET FiT é uma proposta para promover acesso a energia renovável no mundo em desenvolvimento por meio de parcerias público-privadas. O dinheiro dos doadores bilaterais e multilaterais, aliado a ajuda técnica coordenada a programas de reforço de capacidade, daria incentivos para os produtores de energia gerarem energia renovável.
Usando uma estrutura do tipo GET FiT para respaldar o financiamento preliminar de iniciativas como o Desertec, um programa em larga escala para geração de energia eólica e solar no deserto do Saara para uso na África do Norte e para exportação à Europa, contém uma promessa singular. Adaptados adequadamente, esses mecanismos também poderiam expandir dramaticamente soluções autônomas de energia renovável pelas economias rurais, proporcionando energia confiável a bilhões de pessoas e desencadeando uma nova revolução verde na zona rural.
A adoção de medidas concretas agora revigorará a dinâmica do combate à mudança climática e ajudará a restabelecer a confiança na cooperação internacional. Além disso, numa época de demanda global insuficiente e de restrições fiscais nos países desenvolvidos, há uma necessidade urgente de novos impulsionadores de crescimento. As iniciativas descritas aqui, bem como outras discutidas no relatório da AGF, oferecem uma importante oportunidade para redirecionar a economia global rumo à economia de recursos e de desenvolvimento de baixas emissões de carbono com o uso de recursos públicos limitados para estimular o investimento privado em larga escala.
Caio Koch-Weser é vice-presidente do conselho de administração do Deutsche Bank Group.


Economia de baixo carbono trará riscos, diz Besserman

Autor(es): Daniela Chiaretti | De São Paulo
Valor Econômico - 23/11/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/11/23/economia-de-baixo-carbono-trara-riscos-diz-besserman
 
O aquecimento global, na visão do economista Sergio Besserman, desenha um amplo horizonte de oportunidades de negócios - o problema está no outro lado da moeda. "Estamos falando de altíssimo risco", disse ontem a uma plateia de executivos de grandes empresas, em São Paulo. "Sofrerão os mais pobres, infelizmente, e os empresários", prosseguiu. "Empresas vão nascer e morrer aos borbotões. Terão que se reinventar."
Segundo ele, a transição para uma economia de baixo carbono "virá, é inevitável, só não se sabe quando." É nesse caminho de incerteza que terão que ser feitas as apostas de negócios, continuou, durante palestra no seminário Mudanças Climáticas - O Papel das Empresas. "Estamos falando de mudar os paradigmas de consumo, da mais acelerada transformação tecnológica de toda a história da Humanidade, de mudar todas as estruturas da civilização calcada em combustíveis fósseis. Não será uma transição suave." O desafio, disse, é o de reordenar o mundo.
Branca Americano, secretária nacional de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente falou sobre a próxima rodada de negociações do acordo climático, em Cancún, no México, a partir da segunda-feira. "Ficou claro que todo mundo tem medo deste monstro chamado acordo legalmente vinculante", disse. "Os Estados Unidos não entram nele, a China também não. O jeito, então, será fazer avanços graduais."
Branca lembrou que a conferência de Copenhague terminou com um "acordo fraco que criou um vácuo nas negociações." A estratégia para Cancún, a CoP-16, é tentar acordar um pacote de decisões. Fala-se em adaptação, tecnologia, financiamento e Redd+, o mecanismo para redução de emissões de desmatamento e degradação.
Trata-se do primeiro passo para dar valor às florestas. É possível que seja aprovado o primeiro estágio para projetos do gênero. Para isto, países com florestas começariam a realizar inventários florestais, a conhecer suas florestas e seus estoques de carbono, a fazer monitoramento por satélite - um contexto já dominado pelo Brasil. "O carbono das florestas é um bem tangível. Tem que haver um reconhecimento sobre este valor", diz.
Branca lançou a ideia de um "selo Brasil" para produtos de baixo carbono feitos em uma economia à base de energia renovável e limpa. Os empresários pareceram gostar da sugestão. "A marca Brasil pode ser interessante para todos", disse Sergio Leão, diretor de sustentabilidade da Odebrecht.

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