terça-feira, 23 de novembro de 2010

Política industrial: passo curto, vista longa

http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/11/23/politica-industrial-passo-curto-vista-longa
Autor(es): João Carlos Ferraz, Marcelo Miterhof e Felipe Marques
Valor Econômico - 23/11/2010
A política industrial voltou ao cenário de planejamento do Brasil, após algumas décadas de baixo crescimento e crise fiscal. Mesmo no âmbito internacional, do qual ela nunca saiu completamente de cena, é visível que há hoje mais vozes que pregam a possibilidade de os Estados intervirem para alavancar o desenvolvimento industrial, em vez de deixar em ação apenas os critérios de mercado.
Esse renascimento é imperioso porque o Brasil precisa atender às necessidades de um crescimento puxado pelo consumo e pelo investimento, que é fundamental para garantir que a expansão seja sustentável e com estabilidade monetária. A formação de uma nova classe média no Brasil se reflete num movimento inclusivo que estimula a estrutura industrial como um todo. O Brasil é um país em desenvolvimento, que precisa aumentar a participação da indústria no PIB como uma forma de incluir pessoas num mercado de trabalho mais dinâmico e de prover bens que esses cidadãos passam crescentemente a demandar.
A Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) - lançada em 2008 como um aprofundamento da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE), que tinha foco no desenvolvimento de setores e tecnologias - encerra seu primeiro ciclo com 425 medidas estruturadas, das quais 99% estão operacionais. Esses indicadores estão longe de ser os melhores para avaliar a efetividade de uma política industrial, mas mostram o sucesso em romper com a inércia ideológica e burocrática para colocar em funcionamento uma estrutura de planejamento e execução ampla dentro do setor público e articulada com o setor privado.
Os resultados imediatos da PDP ficaram comprometidos pela crise internacional, cujos efeitos atingiram o Brasil a partir de setembro de 2008. A maioria de suas metas não será cumprida. Ainda assim, ressaltou-se um dos princípios da PDP: é preciso ter metas. Isso é parte do esforço de planejamento e de controle de uma política industrial, conferindo um norte para a atuação dos diversos atores. Não cumpri-las não significa necessariamente um insucesso, mas impõe novos esforços de avaliação e planejamento. Assim, a primeira lição aprendida pela PDP 2008-2010 foi que a política deve ter um norte, mas ser flexível e adaptável às circunstâncias.
Nesse sentido, a PDP foi decisiva como instrumento de identificação e negociação de medidas que fizeram parte do esforço contracíclico do governo federal, como é o caso do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), idealizado pelo Ministério da Fazenda e implantado pelo BNDES com equalização de taxa de juros realizada pelo Tesouro Nacional.
Esses resultados iniciais podem ser considerados alvissareiros, ainda que o tempo seja curto para o horizonte de uma política industrial. Essa é a segunda lição: uma política industrial deve ser um instrumento permanente, pois seus resultados mais significativos surgem a longo prazo.
A PDP busca ainda aprender com as experiências do passado, reconhecendo tanto a necessidade de intervenções pontuais e setoriais por parte do Estado quanto o papel sancionador do mercado. Não é uma política pronta, portanto, mas deve ter um caráter abrangente e evolucionista. É preciso partir da indústria existente e mirar o fortalecimento possível de cada setor, ao mesmo tempo em que se investe no desenvolvimento de tecnologias emergentes e de ampla difusão como forma de garantir a sustentabilidade do desenvolvimento industrial (terceira lição: é necessário que a política industrial tenha coerência com o sistema produtivo).
Por isso, a quarta lição é que a inovação é chave. A nova política industrial não parte de uma indústria nascente, em que a simples criação de capacidade produtiva significa uma mudança estrutural. O Brasil está num estágio industrial intermediário e tem como principal desafio dar um salto rumo à autonomia tecnológica. Isso significa que é preciso aumentar os dispêndios em pesquisa e desenvolvimento (P&D), em especial os de origem privada. Isso vale tanto para as empresas de capital nacional quanto para as transnacionais, que podem ampliar os esforços inovativos feitos no Brasil e, assim, fortalecer a capacidade competitiva nacional, enobrecer a cadeia produtiva e gerar melhores empregos.
Mas a inovação não é encarada com o voluntarismo de tentar internalizar no Brasil os setores mais inovadores de forma artificial, às custas de um protecionismo excessivo. A inovação tem caráter amplo e também está presente nos setores tradicionais. Trazer a inovação para o centro da política industrial significa não só apostar no desenvolvimento de tecnologias emergentes ou de alta transversalidade na estrutura produtiva, mas também apoiar a conquista de mercados, a internacionalização de empresas de capital nacional em busca do domínio de cadeias produtivas globais, incorporando e desenvolvendo as funções corporativas mais nobres, como o P&D, o marketing, a logística e as estratégias financeiras.
A PDP tem ainda como sua quinta lição a de que é preciso ampliar a presença externa das empresas brasileiras, tanto pelo aumento da participação nas exportações mundiais quanto via investimentos diretos externos das empresas de capital nacional. Além de garantir a sustentabilidade do balanço de pagamentos e do crescimento econômico, essa preocupação responde à necessidade de expor os objetivos da política industrial ao mercado: é preciso desenvolver competências e vantagens comparativas, mas buscando níveis globais de competitividade.
A política industrial brasileira renasce na vanguarda das melhores práticas mundiais. A PDP representa um esforço de retomar políticas de desenvolvimento industrial, reconhecendo que subsídios e instrumentos protecionistas não são por definição inaceitáveis, mas devem ser usados com parcimônia, segundo as regras da OMC, e orientados por metas de desempenho. Ela se caracteriza ainda por ser abrangente, evolucionista e por buscar se tornar uma política permanente, que propicie resultados de longo prazo. O passo é curto. A vista mira longe.
João Carlos Ferraz é economista e diretor do BNDES

Fluxo bilateral tem alta recorde

Autor(es): Carlos Eduardo Cherem | De São Paulo
Valor Econômico - 23/11/2010
 

O comércio entre o Brasil e a China aumenta de forma vertiginosa. Entretanto, apesar das vantagens de vender para uma economia em crescimento e em processo radical de urbanização, uma análise mais detalhada dos negócios entre os dois países causa preocupação. O principal motivo: o Brasil continua a exportar matéria-prima e a importar produtos manufaturados.
Os números são impressionantes. Este ano, entre janeiro e outubro, a corrente de comércio bilateral entre Brasil e China teve expansão de 48%, movimentando US$ 46,651 bilhões, segundo levantamentos do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Até outubro, o país importou US$ 20,772 bilhões em produtos chineses, aumento de 63% em relação aos primeiros dez meses do ano passado. No mesmo intervalo de tempo, o Brasil exportou para a China US$ 25,879 bilhões, expansão de 38% na comparação com 2009. Com isso, a balança foi positiva para o Brasil em US$ 5,106 bilhões. O número repete o saldo favorável do ano passado: US$ 5,092 bilhões.
Numa comparação mais dilatada, os dados são também grandiosos. Enquanto as importações totais chinesas cresceram 584% desde o início da década, as compras provenientes do Brasil aumentaram 2.240%. No período, a China aumentou suas vendas para o Brasil em 2.217%, percentual muito superior ao avanço das exportações chinesas para o mundo, que tiveram evolução de 633%. Em uma década, o comércio entre os dois países cresceu cerca de 20 vezes. As exportações brasileiras para a China pularam de US$ 1,085 bilhão em 2000 para US$ 21,003 bilhões no ano passado. As importações saltaram de US$ 1,222 bilhão para US$ 15,911 bilhões.
Entretanto, os itens manufaturados, que representaram cerca de 40% das exportações totais brasileiras este ano, no caso da China significaram somente 15,6%. Nos dez primeiros meses de 2010, as vendas para os chineses foram compostas de 84% de produtos básicos. As exportações desse tipo de item evoluíram 46,9%, enquanto as de industrializados cresceram 3,9% no comparativo com o mesmo período de 2009. Além disso, a pauta exportadora concentrou-se em três produtos: minérios de ferro (31,47%), complexo de soja (31,42%) e óleos brutos de petróleo (6,63%). As importações de produtos chineses, por sua vez, foram compostas por 2% de produtos básicos e 98% de industrializados. As compras de industrializados apresentaram crescimento de 62% e as de básicos, 63%, também de janeiro a outubro de 2010.
"É indiscutível a necessidade de diversificação da pauta exportadora brasileira, por meio, sobretudo, da incorporação de produtos intensivos em tecnologia. Entretanto, é preciso resolver a questão dos elevados custos de transporte para a China. Exportar para a China exige uma estrutura permanente que abarque o fator quantidade, além de qualidade, pois pequenos volumes não fazem sentido para um mercado de mais de 1 bilhão de consumidores. Por isso, a entrada de pequenas e médias empresas na China é muito difícil", diz o diretor do Departamento de Promoção Comercial e Investimentos do Itamaraty, embaixador Norton de Andrade Mello Rapesta.
Segundo ele, a tendência de expansão do comércio do Brasil com a China deve permanecer. Para o embaixador, o aquecimento da demanda chinesa e a alta complementaridade das pautas contribuíram para alçar a China à primeira posição, em 2009, entre os mercados de destino das exportações brasileiras. "A parceria Brasil-China se fortalece. Em diversas frentes, os dois países passaram a coordenar ações e consultarem-se mutuamente", afirma Rapesta.
Para o embaixador chinês no Brasil, Qiu Xiaoqi, o equilíbrio total nos negócios é uma utopia. "O equilíbrio comercial é sempre relativo. Na China precisamos de produtos brasileiros, e os produtos chineses são bem acolhidos no Brasil. Nossos laços comerciais serão ainda mais fortalecidos por causa da situação interna de cada país. O Brasil deve crescer acima da média mundial e da América Latina este ano.
A China tem estimativa de crescimento de 10% e, com o rápido processo de urbanização, vamos fortalecer ainda mais os laços comerciais", diz Qiu Xiaoqi. Desde o ano passado, a China é o maior parceiro do Brasil. A questão é aumentar a competitividade, e o Brasil faz grande esforço para isso", acrescenta o embaixador.
O coordenador do Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia da Universidade de Campinas (Unicamp), Célio Hiratuka, não é tão otimista. Autor de estudos sobre o comércio brasileiro com a China, ele faz ressalvas ao modo como se dão as relações entre os dois países. "A China representa uma grande oportunidade para o Brasil. Por outro lado, é uma ameaça. O Brasil amplia a compra de produtos manufaturados, cada vez mais sofisticados, e exporta para a China itens básicos, sem valor agregado", diz Hiratuka.
"Não defendo políticas protecionistas. Mas estamos comprando da China produtos intensivos de mão de obra e vendendo commodities. Precisamos inverter a rota. Essas exportações não vão gerar necessariamente um crescimento econômico se não forem acompanhadas de instrumentos que evitem a concorrência desleal", afirma o professor. Ele lembra que é necessário que as empresas brasileiras fortaleçam marcas, expandam canais de distribuição e assistência. São formas de fugir da concorrência somente via preços.

Produtos brasileiros perdem participação

Valor Econômico - 23/11/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/11/23/produtos-brasileiros-perdem-participacao

Os números evidenciam a concorrência desigual que Brasil e China travam por outros mercados. A comparação pende favoravelmente para o país asiático, que tem levado a melhor na comercialização de uma extensa linha de produtos para a América Latina e os Estados Unidos.
Dados divulgados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) revelam que a China distanciou-se ainda mais na participação nas compras dos EUA. Fechou 2009 com 16,92%, enquanto os fornecedores brasileiros ficaram com apenas 1,46%. O Brasil avançou pouco em relação a 2002, quando ocupava 1,27% do mercado americano. A China detinha 9,36% naquele ano.
Em apenas dois setores de produtos manufaturados de maior conteúdo tecnológico as exportações brasileiras superaram as da China nos 12 meses terminados em março deste ano: aeronaves e outros aparelhos aéreos e armas e munições. Mesmo assim, no caso das aeronaves, a participação brasileira vem caindo.
Na Argentina, a participação brasileira nas compras de 27 itens caiu 2,57 pontos percentuais entre 2003 e março deste ano, considerando o acumulado em 12 meses, enquanto a dos chineses evoluiu 7,28 pontos. O levantamento divulgado pela CNI mostra que nas importações do México a diferença entre as participações de Brasil e China saltou de 1,3 ponto percentual em 2002 para 12,5 em 2010.
Segundo Evaldo Alves, professor da Fundação Getúlio Vargas, pneus, calçados e brinquedos são alguns dos setores em que o Brasil perdeu espaço para a China nos EUA e na América Latina.
O panorama indica que a China é mais competitiva por um fator conjuntural - a manipulação artificial do yuan, atrelada ao dólar, barateia seus produtos - e outro estrutural: "A China penetra nesses mercados mais agressivamente porque tem preços baixos e exporta produtos intensivos em mão de obra, que é mais barata", diz Silvio Abreu Campos, da Federação do Comércio de Minas Gerais.


Companhias procuram mais contratos na Índia

Autor(es): Tagil Oliveira Ramos | Para o Valor, de São Paulo
Valor Econômico - 23/11/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/11/23/companhias-procuram-mais-contratos-na-india

 
Em abril, a fabricante de equipamentos médicos Fanem inaugurou seu escritório comercial em Nova Delhi. Na estratégia da empresa brasileira especializada em aparelhos para o tratamento de bebês prematuros, essa foi a primeira etapa de uma complexa operação comercial na Ásia e Oriente Médio.
Com investimento inicial de US$ 1 milhão, o plano estratégico de negócios prevê uma unidade de montagem na Índia até o fim deste ano. Para 2012, a meta é ter uma unidade industrial completa instalada nos arredores de Bangalore, totalizando investimento da ordem de US$ 5 milhões.
"Resolvemos investir na Índia porque é um país populoso e com um índice altíssimo de nascimentos", diz Marlene Schimidt, diretora- executiva da Fanem. "Embora seja um país pobre, caminha para se transformar em potência." Segundo ele, a fábrica em Bangalore, além de suprir o mercado local, carente de produtos de qualidade e custo competitivo, é estratégica como base para suprir os mercados do Oriente Médio e da Ásia.
A empresa tem produtos comercializados na Indonésia, na Malásia e na Índia. "Esses países precisam de produtos avançados tecnologicamente, mas com preços mais competitivos que os europeus", diz Marlene. "Nossos produtos atendem esses requisitos".
Exemplos como o da Famen provam que é possível uma empresa brasileira disputar o mercado externo. Não é à toa que a empresa escolheu Nova Delhi para o empreendimento. Segundo Maurício Mesquita Moreira, economista-chefe do setor de integração e comércio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a Índia desponta como um parceiro comercial especial para o Brasil.
"A Índia tem uma grande carência de recursos naturais e pode vir a ser um enorme mercado para nossa agricultura e nossa indústria de alimentos", diz Moreira. "Além disso, as semelhanças de padrão de consumo em função da importância da população de baixa renda nas duas economias sugerem que há também um grande potencial para exportação de manufaturados e investimento direto".
Segundo ele, o maior desafio na relação entre Índia e Brasil seria reduzir as barreiras comerciais e os custos de frete, considerados muito elevados. O PIB da Índia chegou a US$ 1,236 trilhão no ano passado, num crescimento real de 5,7% em relação ao ano anterior, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). Para 2010, o crescimento projetado é de 8,8%.
Neste ano, o Brasil vendeu mais para a Índia frente a 2009. As exportações foram de US$ 2,8 bilhões, 4,9% mais do que de janeiro a outubro no ano passado. O Brasil importou mais nesses dez meses (US$ 3,45 bilhões), ou seja, mais 100,9%. Na relação com a Índia, o país saiu de um superávit de US$ 936 milhões no período para um déficit de US$ 659,5 milhões, até outubro de 2010.
Durante a Cúpula do G-20, realizada no início deste mês, a guerra cambial, as reuniões bilaterais entre Brasil e Coreia do Sul tinham o tom. Afinal, até o fim de outubro, as exportações brasileiras tinham atingido US$ 3,09 bilhões, aumento de 36% frente a igual período de 2009.
Já as importações da Coreia do Sul, houve aumento de 87,1%, passando de US$ 3,76 bilhões para US$ 7,03 bilhões. Na ponta do lápis, o déficit do Brasil era de US$ 3,94 bilhões, 2,64 vezes maior do que a cifra de US$ 1,49 bilhão, observado o período de janeiro a outubro de 2009. A pauta de exportação brasileira para a Coreia do Sul mostra o velho modelo de comércio: 58,9% são de produtos básicos. Mas já existe uma parcela significativa (40,9%) de industrializados (28,5% de semimanufaturados e 12,4% de manufaturados).

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