domingo, 28 de novembro de 2010

Setores da indústria beiram saturação

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me2811201006.htm

Mesmo com concorrência de importados, uso da capacidade supera 90% em segmentos como construção civil

Nordeste começa a ter falta de cimento, mas economistas dizem que problemas são pontuais e estão sendo resolvidos
VERENA FORNETTI
DE SÃO PAULO 

Mesmo com a concorrência dos importados, setores da indústria com demanda aquecida atingiram cerca de 90% de uso da capacidade de produção em outubro, diz a Fundação Getulio Vargas.
Com a quase saturação da capacidade de produzir, a indústria de materiais para construção, por exemplo, começa a ter gargalos. O setor já usa 90,4% da capacidade e, segundo o SindusCon-SP, há problemas de abastecimento de cimento no Nordeste.
Eduardo Zaidan, diretor de economia da entidade, afirma que as fábricas da região trabalham a pleno fôlego, e que o transporte do produto por longas distâncias é complicado. Mas, segundo ele, os problemas só existem nessa região e são pontuais.
A indústria têxtil, que sofre forte concorrência dos produtos asiáticos, também está usando grande parte do potencial de produção. O segmento ocupa 88,8% da sua capacidade de operar.
Também estão em nível elevado e acima do patamar histórico os setores de minerais não metálicos (com 89,6% de uso) e celulose, papel e papelão (93,4%). A diferença é que esses setores, produtores de commodities, tradicionalmente operam com menor ociosidade, pois há poucos concorrentes e divisão mais clara do mercado.
Rogério Souza, economista do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), diz que em todos esses setores os investimentos já começaram a acontecer, e que eles devem se traduzir em breve em alta da capacidade de produção.

INVESTIMENTOS
Souza afirma também que os dados da FGV revelam que setores da indústria brasileira conseguem manter bom desempenho mesmo com a concorrência dos produtos estrangeiros, mas destaca que a perda de mercado pode desestimular investimentos.
"A indústria nacional vai ter que investir porque isso é condição de sobrevivência. Mas a decisão de quanto investir depende de juros, câmbio e tamanho do mercado."
O indicador que mede a utilização da capacidade instalada sinaliza a necessidade de investimentos. Quando a demanda se expande a ponto de as indústrias trabalharem com pouca ociosidade, cresce a pressão para que elas invistam e aumentem a oferta.
Aloísio Campelo, economista da FGV, pondera que, quando se considera a média de todos os setores da indústria, o país ainda opera abaixo do período pré-crise.
"Os segmentos que estão com nível de utilização da capacidade instalada elevado apresentam, em sua maioria, estabilidade ou tendência declinante no momento."
O setor industrial que operou com menor uso da capacidade em outubro foi o de produtos farmacêuticos e veterinários, com 74% de utilização, seguido por materiais elétricos e de telecomunicações (82%).

Setor produtivo tem pleno emprego e desindustrialização
ROBSON GONÇALVES
ESPECIAL PARA A FOLHA 

Parece contraditório falar de pleno emprego e desindustrialização. Mas as duas palavras resumem o quadro atual do setor produtivo.
O lado bom é que a maior parte dos desempregados ou estão em trânsito entre um emprego e outro ou avaliam alternativas de trabalho.
Por outro lado, os empresários estão reportando níveis elevados de utilização da capacidade instalada. Isso não significa que o nível de ociosidade seja zero.
Afinal, alguma ociosidade é sempre necessária, seja por precaução, seja por necessidade de manutenção de equipamentos. Pleno emprego significa níveis mínimos de desemprego e de ociosidade, situação rara no mundo. Ocorre que o quadro esconde fatos indesejáveis.
De um lado, a escassez de mão de obra qualificada.
Muitas empresas estão contratando pessoas sem experiência ou sem estudo para treiná-las por conta e risco.

DESCOMPASSO
Ao mesmo tempo, muitas empresas estão chegando ao limite da capacidade instalada devido ao descompasso entre demanda e oferta.
Isso porque o investimento produtivo tem ficado sistematicamente abaixo do necessário para sustentar o crescimento das vendas.
Esse não é um problema casual e não afeta todos os setores da mesma forma.
Com o câmbio muito baixo, a concorrência internacional está se tornando insuportável em alguns setores. A isso se soma nossa taxa de juros de dois dígitos que ao mesmo tempo atrai capitais especulativos, fazendo o câmbio cair ainda mais, e inibe o investimento produtivo.
O resultado é que os segmentos que mais sofrem a concorrência estrangeira se veem diante de um grave viés anti-investimento. É o caso, sobretudo, dos chamados bens intermediários.
Bons exemplos são autopeças e alguns materiais da construção civil. Por conta desse movimento, nossas cadeias produtivas estão se tornando "ocas", fragilizadas em seus elos intermediários.
Produzimos automóveis e edifícios em larga escala, montadoras e construtoras atingem a plena capacidade, mas o conteúdo importado de sua produção é crescente.
Importamos componentes e exportamos empregos.

Mercado Aberto

MARIA CRISTINA FRIAS - cristina.frias@uol.com.br

Manufaturado brasileiro é o 4º que mais perde mercado
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me2811201001.htm
O setor brasileiro de manufaturados foi o quarto que mais perdeu espaço no mercado externo no ano passado, de acordo com levantamento recente realizado pela OMC (Organização Mundial do Comércio).
A pesquisa mostra que esses bens, mais elaborados, como aviões e máquinas industriais, representaram 38% dos produtos vendidos pelo país no ano passado, uma queda de 5,7 pontos percentuais em relação a 2008.
Apenas República Dominicana, Trinidad e Tobago e Ucrânia tiveram perda maior de participação dos seus manufaturados -em uma lista de 49 países.
A diminuição de espaço sofrida pelos produtos industrializados ocorreu na contramão da economia global, já que, em média, a participação dos manufaturados nas exportações passou de 66,5%, em 2008, para 68,6%, no ano passado.
Esses números sinalizam o impacto do real valorizado e o aumento da dependência que o país apresenta das commodities (produtos básicos: minério e soja, por exemplo) e da China.
O país asiático é o principal importador de produtos brasileiros (na sua imensa maioria commodities) e, como a sua economia vem crescendo muito mais rápido que a média mundial, acaba ditando os preços de vários desses itens.
Por isso, uma desaceleração mais acentuada do crescimento chinês pode ter forte reflexo na balança comercial brasileira.
Analistas não descartam que esse movimento possa tornar deficitário o comércio do país com o exterior.

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