http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/11/22/o-vagao-saiu-dos-trilhos
Autor(es): Ernesto Lozardo
O Estado de S. Paulo - 22/11/2010
A taxa de desemprego nos Estados Unidos vem aumentando gradualmente desde 2000. Em parte, isso se deve à crise financeira e à retração da demanda. As vagas laborais têm crescido, mas mesmo assim o desemprego continua elevado. Em 2000 essa taxa foi de 4%; neste ano, deverá ficar em torno de 9,7%. Mas a crise financeira e fiscal americana não é a única causa dessa situação.O fato é que há mais de 30 anos as grandes empresas americanas fizeram uma opção estratégica ao manterem no país a inteligência tecnológica e transferirem parte do processo de produção para países emergentes. Isso não significa desindustrialização. Trata-se de uma estratégia empresarial de preservar o conhecimento tecnológico inovador no país e, ao mesmo tempo, assegurar a escala de produção e a competitividade global, reduzindo custos e aumentando o lucro.Essas empresas estão em várias partes do mundo, gerando empregos e melhorando a qualidade de vida, o ensino, a infraestrutura e a renda social em países como Honduras, Guatemala, Turquia, Tailândia, China, Indonésia, Polônia, Hungria, Vietnã, Índia, Brasil, entre outros. O reflexo dessa transformação foi uma rápida redução da participação do setor industrial e um acelerado crescimento do setor de serviços na composição do PIB americano. O setor industrial representa 17% do PIB e o de serviços, 80%. Em grande medida, essa mudança na composição do PIB americano deve-se à globalização.Na expansão da globalização a escala de produção é crucial. Disso resultam as grandes fusões e aquisições de multinacionais, tanto as do setor industrial como as do de serviços. Com isso a demanda de mão de obra no mercado americano se tornou qualitativamente mais seletiva nos setores mais inovadores, restringindo a absorção plena de trabalhadores.Além do fator "transferência da produção para outros países", o desemprego americano decorre do descasamento entre vagas existentes e a má qualidade da mão de obra para preenchê-las. Esse descasamento no mercado de trabalho qualifico de desemprego estrutural.O despreparo dos trabalhadores é parte do problema do desemprego, mas, olhando mais adiante, notamos que falta uma reformulação das políticas de crescimento com plena absorção da oferta de mão de obra e aumento dos investimentos privados.O modelo de crescimento americano não condiz com a globalização deste século. A possibilidade de investir em qualquer parte do mundo não deveria ter causado o desemprego estrutural, tampouco a estagnação dos investimentos em torno de 19% do PIB. Isso resulta no fato de ser pouco comum, ou quase raro, encontrarmos produtos que portem a etiqueta made in USA. Nos tempos modernos, não basta o empreendedor americano ser produtivo e inovador; ele precisa contar com trabalhadores eficientes, sistemas de custos próprios, tributários e de infraestrutura local que lhe permitam alavancar seus empreendimentos globalmente viáveis. Caso contrário, ele terá de procurar territórios mais promissores. Tais impedimentos produtivos os denomino de custo norte-americano. Esse elevado custo dificulta o crescimento sustentável e causa mais uma barreira na plena absorção dos trabalhadores. Isso nos leva a afirmar que o modelo norte-americano de crescimento está ultrapassado. Ele precisa ser modificado.Se até a crise de 2007 o crédito fácil e a transferência da produção para outros cantos do mundo foram os mecanismos para acobertar o esgotamento da estrutura econômica norte-americana, na globalização deste século a lógica do crescimento é outra. É imprescindível modificar a estrutura do custo da produção com as seguintes medidas: reduzir os impostos sobre a folha de trabalho e dos salários; diminuir a carga tributária das empresas, estimulando-as a retornarem ao país; investir na qualidade da infraestrutura nacional; reduzir a dependência do capital estrangeiro; e estimular o uso eficaz da energia limpa.Isso exigirá esforços públicos e privados. Se o governo, ao reduzir a carga tributária, perde receita, isso seria compensado com o aumento dos impostos sobre o consumo da energia suja e sobre as grandes fortunas. Mesmo assim, devem-se reduzir os custos da previdência, dos planos de saúde, da seguridade e do sistema de seguros. Mas isso não é tudo.O retorno à prosperidade requer uma ampla reforma do sistema tributário com foco na redução do custo país, aumentando os investimentos, o emprego, ganhos de competitividade, estabilidade de preços e equilíbrio fiscal. Ainda que as reformas apontadas sejam feitas, sem um novo e crível sistema financeiro, nem os consumidores tampouco os investidores globais retomarão suas atividades na terra do Tio Sam.Como se pode notar, os desafios são enormes, porém, enquanto o modelo de crescimento atual prevalecer, baseado no estímulo ao crédito, sem a contrapartida do made in USA, o governo americano aumentará o hiato do desemprego estrutural com perda de competitividade. Como consequência desses desajustes, ocorrem crescentes conflitos sociais, econômicos e políticos, que tornam o poder do Estado pouco eficaz e politicamente frágil para realizar as reformas essenciais.
EUA atacam megaesquema de investidores
Autor(es): Susan Pulliam, Michael Rothfeld, Jenny Strasburg e Gregory Zuckerman
Valor Econômico - 22/11/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/11/22/eua-atacam-megaesquema-de-investidores
Encerrando três anos de investigação, autoridades federais dos Estados Unidos se preparam para indiciar por uso de informação privilegiada consultores, banqueiros de investimento, operadores de fundos de hedge e mútuos e analistas em todo o país, segundo pessoas a par da questão.As investigações civis e criminais, que as autoridades dizem que podem ter um impacto muito maior do que qualquer outro inquérito anterior sobre o assunto, examinam se vários grupos com acesso a informações confidenciais lucraram ilegalmente dezenas de milhões de dólares, dizem as fontes, segundo quem alguns indiciamentos podem ocorrer antes do fim do ano.Se derem frutos, as investigações têm o potencial de expor uma cultura de compartilhamento de informações sigilosas amplamente disseminada nos mercados financeiros americanos, com novas maneiras de transmitir informações confidenciais para operadores por meio de especialistas ligados a setores ou empresas específicas, disseram autoridades federais.Um dos focos das investigações criminais é apurar se informações sigilosas foram divulgadas por analistas e consultores independentes que trabalham para empresas que oferecem serviços de "redes de especialistas" para fundos de hedge e mútuos. Essas empresas promovem reuniões e teleconferências com antigos e atuais gerentes de centenas de empresas para os operadores que estão em busca de um diferencial na hora de determinar seus investimentos.Entre as redes de especialistas cujos consultores estão sob investigação, dizem as fontes, está a da Primary Global Research, empresa de Mountain View, Califórnia, que põe especialistas em contato com investidores das áreas de tecnologia, saúde e entre outras."Não tenho nada a declarar sobre isso", disse Phani Kumar Saripella, diretor operacional da Primary Global.O diretor-presidente e o diretor operacional da Primary já trabalharam para a Intel Corp., segundo o site da firma.Outra faceta das investigações é que promotores e autoridades de regulamentação estão apurando se executivos do Goldman Sachs Group. vazaram informações sobre transações como fusões na área de saúde de maneiras que beneficiaram certos investidores, dizem as pessoas a par da questão.Analistas independentes e pequenas firmas de análise também estão sob investigação. John Kinnucan, um dos sócios da Broadband Research, de Portland, no Oregon, enviou um e-mail em 26 de outubro a cerca de 20 clientes de fundos mútuos e de hedge avisando que fora visitado pelo FBI, a polícia federal americana."Dois sujeitos do FBI apareceram de surpresa (obviamente) na minha porta, totalmente convencidos de que meus clientes têm operado usando um volume imenso de informações privilegiadas", dizia o e-mail. "(Óbvio que faz tempo que eles andam gravando meus telefonemas no celular, não sei por que motivo.) Óbvio que discordamos, então negamos o gracioso pedido desses senhores para que usássemos um gravador para envolver os senhores na insinuante rede deles."O e-mail, que Kinnucan confirma ter escrito, foi endereçado a operadores das firmas de fundo de hedge SAC Capital Advisors e Citadel Asset Management e das firmas de fundos mútuos Janus Capital Group, Wellington Management Co. e MFS Investment Management, entre outras.A SAC, a Wellington e a MFS não quiseram comentar; a Janus e a Citadel não retornaram pedidos para comentar. Não se sabe se os clientes de Kinnucan também estão sob investigação.A investigação está a cargo de promotores federais em Nova York, do FBI e da SEC, a comissão de valores mobiliários dos EUA. Representantes da procuradoria-geral de Manhattan, do FBI e da SEC não quiseram comentar.Outro questionamento da investigação é se operadores de vários fundos de hedge e corretoras, como a First New York Securities, obtiveram ilegalmente informações confidenciais sobre futuros acordos de fusão em saúde, tecnologia e outras áreas, segundo pessoas a par da questão.Alguns operadores da First New York, corretora com 250 funcionários, conseguiram lucrar antecipando variações no mercado causadas por fusões na indústria de saúde e em outras áreas em 2009, disseram pessoas a par da firma.Um porta-voz do First New York disse: "Somos uma entre mais de três dezenas de empresas intimadas pelas autoridades de regulamentação a fornecer dados gerais para uma investigação ampla; colaboramos totalmente com ela". Ele acrescentou: "Defendemos nossos operadores e nossos sistemas, e as práticas que temos para garantir o total cumprimento da regulamentação".Partes cruciais da investigação já estão em estágio avançado. Já foram apresentadas evidências a um grande júri federal, disseram pessoas a par da situação. Esse júri pode autorizar ou não indiciamentos. Mas como todos os inquéritos que ainda não foram concluídos, não se sabe quais acusações serão apresentadas, se é que serão.O inquérito deriva do foco do procurador federal de Manhattan Preet Bharara. Num discurso em outubro, Bharara disse que a área é "uma das prioridades criminais" de seu gabinete, e que "a negociação ilegal com informações privilegiadas está disseminada e pode até estar aumentando". Bharara não quis comentar.As firmas de redes de especialistas contratam atuais e antigos empregados de certas empresas, bem como médicos e outros especialistas, para prestar consultoria a fundos decidindo em que investir. Mais de um terço das firmas de administração de investimentos usam essas redes, segundo uma pesquisa feita no fim de 2009 pela Integrity Research Associates, de Nova York.Os consultores geralmente ganham várias centenas de dólares por hora de serviço, que pode incluir reuniões ou telefonemas com operadores para discutir mudanças nas empresas deles ou no setor inteiro. As redes de especialistas alegam que políticas internas impedem que seus consultores divulguem informações confidenciais.Quem negocia com base nessas informações geralmente lucra comprando ações de alvos de aquisição antes de os acordos serem anunciados, para vendê-las depois que a ação sobe.A SEC tem investigado possíveis vazamentos sobre acordos de fusão desde pelo menos 2007, em meio a uma explosão de fusões e aquisições que durou até a crise financeira. A SEC intimou um ano atrás mais de 30 fundos de hedge e outros investidores.Algumas intimações eram relacionadas a negociação com ações da Schering-Plough Corp. antes de ela ser comprada pela Merck & Co., conhecida no Brasil como MSD, em 2009, dizem pessoas a par da questão. A ação da Schering-Plough subiu 8% antes de o acordo ser anunciado e 14% no dia do comunicado.A Merck informou que "há muito tempo tem uma política de cooperar totalmente com investigações de regulamentação e tem políticas explícitas proibindo compartilhar informações confidenciais sobre a empresa e seus possíveis sócios".Entre as transações que são foco das investigações está a aquisição da MedImmune. pela AstraZeneca em 2007, segundo as fontes. A ação da MedImmune subiu 18% em 23 de abril de 2007, dia em que o acordo foi anunciado. Um porta-voz da AstraZeneca e da filial MedImmune não quis comentar.Os investigadores questionam também qual teria sido o papel dos banqueiros do Goldman nas operações com ações da Advanced Medical Optics, que foi comprada pela Abbot Laboratories em 2009, segundo pessoas a par da questão. A ação da Advanced Medical Optics subiu 143% em 12 de janeiro de 2009, dia do anúncio do acordo. O Goldman assessorou a MedImmune e a Advanced Medical Optics em ambos os acordos.Nas intimações, a SEC exigiu informações sobre comunicações das firmas - relacionadas à Schering-Plough e outras fusões - com a Ziff Brothers, a Jana Partners, a TPG-Axon Capital Management, a divisão de administração de recursos da Prudential Financial, a Jennison Associates, a UBS Financial Services e o Deutsche Bank, segundo documentos da justiça e pessoas a par da situação.Representantes das empresas citadas não quiseram comentar.Entre os administradores de fundos de hedge cujas operações ligadas a aquisições estão sendo investigadas está Todd Deutsch, um dos maiores operadores de Wall Street, que deixou o Galleon Group em 2008 para abrir o próprio negócio, dizem pessoas próximas à situação. Um porta-voz do Deutsch, que se especializou em ações de saúde e tecnologia, não quis comentar.Os promotores também investigam se alguns operadores de fundos de hedge receberam informações privilegiadas sobre a Advance Micro Devices, peça importante do processo aberto pelo governo em 2009 contra o fundador do fundo de hedge Galleon Group, Raj Rajaratnam, e mais 22 réus por uso de informações privilegiadas.Quatro acusados já confessaram culpa no caso do Galleon; Rajaratnam se diz inocente e deve ir a julgamento no início do ano que vem.Entre os operadores cujas transações com a AMD estão sob investigação está o administrador de fundo de hedge Richard Grodin. Grodin, que foi intimado um ano atrás, não retornou telefonemas. Um porta-voz da AMD não quis comentar.[Também retroativo para o Plano Collor?]
A taxa de desemprego nos Estados Unidos vem aumentando gradualmente desde 2000. Em parte, isso se deve à crise financeira e à retração da demanda. As vagas laborais têm crescido, mas mesmo assim o desemprego continua elevado. Em 2000 essa taxa foi de 4%; neste ano, deverá ficar em torno de 9,7%. Mas a crise financeira e fiscal americana não é a única causa dessa situação.
O fato é que há mais de 30 anos as grandes empresas americanas fizeram uma opção estratégica ao manterem no país a inteligência tecnológica e transferirem parte do processo de produção para países emergentes. Isso não significa desindustrialização. Trata-se de uma estratégia empresarial de preservar o conhecimento tecnológico inovador no país e, ao mesmo tempo, assegurar a escala de produção e a competitividade global, reduzindo custos e aumentando o lucro.
Essas empresas estão em várias partes do mundo, gerando empregos e melhorando a qualidade de vida, o ensino, a infraestrutura e a renda social em países como Honduras, Guatemala, Turquia, Tailândia, China, Indonésia, Polônia, Hungria, Vietnã, Índia, Brasil, entre outros. O reflexo dessa transformação foi uma rápida redução da participação do setor industrial e um acelerado crescimento do setor de serviços na composição do PIB americano. O setor industrial representa 17% do PIB e o de serviços, 80%. Em grande medida, essa mudança na composição do PIB americano deve-se à globalização.
Na expansão da globalização a escala de produção é crucial. Disso resultam as grandes fusões e aquisições de multinacionais, tanto as do setor industrial como as do de serviços. Com isso a demanda de mão de obra no mercado americano se tornou qualitativamente mais seletiva nos setores mais inovadores, restringindo a absorção plena de trabalhadores.
Além do fator "transferência da produção para outros países", o desemprego americano decorre do descasamento entre vagas existentes e a má qualidade da mão de obra para preenchê-las. Esse descasamento no mercado de trabalho qualifico de desemprego estrutural.
O despreparo dos trabalhadores é parte do problema do desemprego, mas, olhando mais adiante, notamos que falta uma reformulação das políticas de crescimento com plena absorção da oferta de mão de obra e aumento dos investimentos privados.
O modelo de crescimento americano não condiz com a globalização deste século. A possibilidade de investir em qualquer parte do mundo não deveria ter causado o desemprego estrutural, tampouco a estagnação dos investimentos em torno de 19% do PIB. Isso resulta no fato de ser pouco comum, ou quase raro, encontrarmos produtos que portem a etiqueta made in USA. Nos tempos modernos, não basta o empreendedor americano ser produtivo e inovador; ele precisa contar com trabalhadores eficientes, sistemas de custos próprios, tributários e de infraestrutura local que lhe permitam alavancar seus empreendimentos globalmente viáveis. Caso contrário, ele terá de procurar territórios mais promissores. Tais impedimentos produtivos os denomino de custo norte-americano. Esse elevado custo dificulta o crescimento sustentável e causa mais uma barreira na plena absorção dos trabalhadores. Isso nos leva a afirmar que o modelo norte-americano de crescimento está ultrapassado. Ele precisa ser modificado.
Se até a crise de 2007 o crédito fácil e a transferência da produção para outros cantos do mundo foram os mecanismos para acobertar o esgotamento da estrutura econômica norte-americana, na globalização deste século a lógica do crescimento é outra. É imprescindível modificar a estrutura do custo da produção com as seguintes medidas: reduzir os impostos sobre a folha de trabalho e dos salários; diminuir a carga tributária das empresas, estimulando-as a retornarem ao país; investir na qualidade da infraestrutura nacional; reduzir a dependência do capital estrangeiro; e estimular o uso eficaz da energia limpa.
Isso exigirá esforços públicos e privados. Se o governo, ao reduzir a carga tributária, perde receita, isso seria compensado com o aumento dos impostos sobre o consumo da energia suja e sobre as grandes fortunas. Mesmo assim, devem-se reduzir os custos da previdência, dos planos de saúde, da seguridade e do sistema de seguros. Mas isso não é tudo.
O retorno à prosperidade requer uma ampla reforma do sistema tributário com foco na redução do custo país, aumentando os investimentos, o emprego, ganhos de competitividade, estabilidade de preços e equilíbrio fiscal. Ainda que as reformas apontadas sejam feitas, sem um novo e crível sistema financeiro, nem os consumidores tampouco os investidores globais retomarão suas atividades na terra do Tio Sam.
Como se pode notar, os desafios são enormes, porém, enquanto o modelo de crescimento atual prevalecer, baseado no estímulo ao crédito, sem a contrapartida do made in USA, o governo americano aumentará o hiato do desemprego estrutural com perda de competitividade. Como consequência desses desajustes, ocorrem crescentes conflitos sociais, econômicos e políticos, que tornam o poder do Estado pouco eficaz e politicamente frágil para realizar as reformas essenciais.
EUA atacam megaesquema de investidores
Autor(es): Susan Pulliam, Michael Rothfeld, Jenny Strasburg e Gregory Zuckerman |
Valor Econômico - 22/11/2010 |
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/11/22/eua-atacam-megaesquema-de-investidores |
Encerrando três anos de investigação, autoridades federais dos Estados Unidos se preparam para indiciar por uso de informação privilegiada consultores, banqueiros de investimento, operadores de fundos de hedge e mútuos e analistas em todo o país, segundo pessoas a par da questão. As investigações civis e criminais, que as autoridades dizem que podem ter um impacto muito maior do que qualquer outro inquérito anterior sobre o assunto, examinam se vários grupos com acesso a informações confidenciais lucraram ilegalmente dezenas de milhões de dólares, dizem as fontes, segundo quem alguns indiciamentos podem ocorrer antes do fim do ano. Se derem frutos, as investigações têm o potencial de expor uma cultura de compartilhamento de informações sigilosas amplamente disseminada nos mercados financeiros americanos, com novas maneiras de transmitir informações confidenciais para operadores por meio de especialistas ligados a setores ou empresas específicas, disseram autoridades federais. Um dos focos das investigações criminais é apurar se informações sigilosas foram divulgadas por analistas e consultores independentes que trabalham para empresas que oferecem serviços de "redes de especialistas" para fundos de hedge e mútuos. Essas empresas promovem reuniões e teleconferências com antigos e atuais gerentes de centenas de empresas para os operadores que estão em busca de um diferencial na hora de determinar seus investimentos. Entre as redes de especialistas cujos consultores estão sob investigação, dizem as fontes, está a da Primary Global Research, empresa de Mountain View, Califórnia, que põe especialistas em contato com investidores das áreas de tecnologia, saúde e entre outras. "Não tenho nada a declarar sobre isso", disse Phani Kumar Saripella, diretor operacional da Primary Global. O diretor-presidente e o diretor operacional da Primary já trabalharam para a Intel Corp., segundo o site da firma. Outra faceta das investigações é que promotores e autoridades de regulamentação estão apurando se executivos do Goldman Sachs Group. vazaram informações sobre transações como fusões na área de saúde de maneiras que beneficiaram certos investidores, dizem as pessoas a par da questão. Analistas independentes e pequenas firmas de análise também estão sob investigação. John Kinnucan, um dos sócios da Broadband Research, de Portland, no Oregon, enviou um e-mail em 26 de outubro a cerca de 20 clientes de fundos mútuos e de hedge avisando que fora visitado pelo FBI, a polícia federal americana. "Dois sujeitos do FBI apareceram de surpresa (obviamente) na minha porta, totalmente convencidos de que meus clientes têm operado usando um volume imenso de informações privilegiadas", dizia o e-mail. "(Óbvio que faz tempo que eles andam gravando meus telefonemas no celular, não sei por que motivo.) Óbvio que discordamos, então negamos o gracioso pedido desses senhores para que usássemos um gravador para envolver os senhores na insinuante rede deles." O e-mail, que Kinnucan confirma ter escrito, foi endereçado a operadores das firmas de fundo de hedge SAC Capital Advisors e Citadel Asset Management e das firmas de fundos mútuos Janus Capital Group, Wellington Management Co. e MFS Investment Management, entre outras. A SAC, a Wellington e a MFS não quiseram comentar; a Janus e a Citadel não retornaram pedidos para comentar. Não se sabe se os clientes de Kinnucan também estão sob investigação. A investigação está a cargo de promotores federais em Nova York, do FBI e da SEC, a comissão de valores mobiliários dos EUA. Representantes da procuradoria-geral de Manhattan, do FBI e da SEC não quiseram comentar. Outro questionamento da investigação é se operadores de vários fundos de hedge e corretoras, como a First New York Securities, obtiveram ilegalmente informações confidenciais sobre futuros acordos de fusão em saúde, tecnologia e outras áreas, segundo pessoas a par da questão. Alguns operadores da First New York, corretora com 250 funcionários, conseguiram lucrar antecipando variações no mercado causadas por fusões na indústria de saúde e em outras áreas em 2009, disseram pessoas a par da firma. Um porta-voz do First New York disse: "Somos uma entre mais de três dezenas de empresas intimadas pelas autoridades de regulamentação a fornecer dados gerais para uma investigação ampla; colaboramos totalmente com ela". Ele acrescentou: "Defendemos nossos operadores e nossos sistemas, e as práticas que temos para garantir o total cumprimento da regulamentação". Partes cruciais da investigação já estão em estágio avançado. Já foram apresentadas evidências a um grande júri federal, disseram pessoas a par da situação. Esse júri pode autorizar ou não indiciamentos. Mas como todos os inquéritos que ainda não foram concluídos, não se sabe quais acusações serão apresentadas, se é que serão. O inquérito deriva do foco do procurador federal de Manhattan Preet Bharara. Num discurso em outubro, Bharara disse que a área é "uma das prioridades criminais" de seu gabinete, e que "a negociação ilegal com informações privilegiadas está disseminada e pode até estar aumentando". Bharara não quis comentar. As firmas de redes de especialistas contratam atuais e antigos empregados de certas empresas, bem como médicos e outros especialistas, para prestar consultoria a fundos decidindo em que investir. Mais de um terço das firmas de administração de investimentos usam essas redes, segundo uma pesquisa feita no fim de 2009 pela Integrity Research Associates, de Nova York. Os consultores geralmente ganham várias centenas de dólares por hora de serviço, que pode incluir reuniões ou telefonemas com operadores para discutir mudanças nas empresas deles ou no setor inteiro. As redes de especialistas alegam que políticas internas impedem que seus consultores divulguem informações confidenciais. Quem negocia com base nessas informações geralmente lucra comprando ações de alvos de aquisição antes de os acordos serem anunciados, para vendê-las depois que a ação sobe. A SEC tem investigado possíveis vazamentos sobre acordos de fusão desde pelo menos 2007, em meio a uma explosão de fusões e aquisições que durou até a crise financeira. A SEC intimou um ano atrás mais de 30 fundos de hedge e outros investidores. Algumas intimações eram relacionadas a negociação com ações da Schering-Plough Corp. antes de ela ser comprada pela Merck & Co., conhecida no Brasil como MSD, em 2009, dizem pessoas a par da questão. A ação da Schering-Plough subiu 8% antes de o acordo ser anunciado e 14% no dia do comunicado. A Merck informou que "há muito tempo tem uma política de cooperar totalmente com investigações de regulamentação e tem políticas explícitas proibindo compartilhar informações confidenciais sobre a empresa e seus possíveis sócios". Entre as transações que são foco das investigações está a aquisição da MedImmune. pela AstraZeneca em 2007, segundo as fontes. A ação da MedImmune subiu 18% em 23 de abril de 2007, dia em que o acordo foi anunciado. Um porta-voz da AstraZeneca e da filial MedImmune não quis comentar. Os investigadores questionam também qual teria sido o papel dos banqueiros do Goldman nas operações com ações da Advanced Medical Optics, que foi comprada pela Abbot Laboratories em 2009, segundo pessoas a par da questão. A ação da Advanced Medical Optics subiu 143% em 12 de janeiro de 2009, dia do anúncio do acordo. O Goldman assessorou a MedImmune e a Advanced Medical Optics em ambos os acordos. Nas intimações, a SEC exigiu informações sobre comunicações das firmas - relacionadas à Schering-Plough e outras fusões - com a Ziff Brothers, a Jana Partners, a TPG-Axon Capital Management, a divisão de administração de recursos da Prudential Financial, a Jennison Associates, a UBS Financial Services e o Deutsche Bank, segundo documentos da justiça e pessoas a par da situação. Representantes das empresas citadas não quiseram comentar. Entre os administradores de fundos de hedge cujas operações ligadas a aquisições estão sendo investigadas está Todd Deutsch, um dos maiores operadores de Wall Street, que deixou o Galleon Group em 2008 para abrir o próprio negócio, dizem pessoas próximas à situação. Um porta-voz do Deutsch, que se especializou em ações de saúde e tecnologia, não quis comentar. Os promotores também investigam se alguns operadores de fundos de hedge receberam informações privilegiadas sobre a Advance Micro Devices, peça importante do processo aberto pelo governo em 2009 contra o fundador do fundo de hedge Galleon Group, Raj Rajaratnam, e mais 22 réus por uso de informações privilegiadas. Quatro acusados já confessaram culpa no caso do Galleon; Rajaratnam se diz inocente e deve ir a julgamento no início do ano que vem. Entre os operadores cujas transações com a AMD estão sob investigação está o administrador de fundo de hedge Richard Grodin. Grodin, que foi intimado um ano atrás, não retornou telefonemas. Um porta-voz da AMD não quis comentar. [Também retroativo para o Plano Collor?] |
Ações do Brasil perdem US$ 135 milhões na semana
Autor(es): Antonio Perez | De São Paulo |
Valor Econômico - 22/11/2010 |
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/11/22/acoes-do-brasil-perdem-us-135-milhoes-na-semana |
Captação no exterior sobe 136% e preocupa governo
Autor(es): Agencia o Globo/ Martha Beck | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
O Globo - 22/11/2010 | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/11/22/captacao-no-exterior-sobe-136-e-preocupa-governo | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Valorização do real tornou empréstimos mais baratos lá fora, mas muitas empresas não têm receita em dólar O mar pode não estar para peixe para empresas brasileiras que precisam vender seus produtos no exterior. Mas para quem quer tomar recursos fora do país, a situação nunca foi tão favorável. Dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostram que, entre janeiro e setembro de 2010, o total captado no mercado internacional - inclusive pelo Tesouro Nacional - chegou a US$34,7 bilhões, o que representa um crescimento de nada menos que 136% sobre o mesmo período em 2009. Esse movimento se explica principalmente pela forte valorização do real em relação ao dólar, que tornou os empréstimos muito mais baratos fora do país. A captação, no entanto, acendeu a luz amarela para parte da equipe econômica. Embora não haja sinal concreto de que companhias estejam dando passos maiores que suas pernas, boa parte das captações está sendo feita por quem não tem receitas em dólar. Possuir dívida numa moeda [dólar] e receita em outra [doméstica] sempre pode gerar um desequilíbrio caso o quadro cambial sofra uma mudança brusca, algo pouco provável no cenário de hoje, mas possível: - É sempre importante ficar atento a esse tipo de movimento, sobretudo quando é feito por quem não tem receita em dólar - diz um técnico do governo. Entre os segmentos que buscaram o mercado externo este ano estão financeiro, aéreo, de mineração, imobiliário e de carnes. Do setor exportador, estão empresas como BRF Foods, JBS Friboi e Vale. Mas também há instituições financeiras como Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e até mesmo o PanAmericano, que, em meio às manobras da diretoria que resultaram em R$2,5 bilhões de rombo, conseguiu captar US$800 milhões. Segundo o vice-presidente da Anbima, Alberto Kiraly, sempre há risco de descasamento entre moedas quando empresas fazem empréstimos no exterior. Por isso, ele ressalta que é importante que sempre se faça operações de hedge - que protegem os negócios contra reversões cambiais. Segundo o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do Banco Central Carlos Thadeu de Freitas, no entanto, o quadro deve ser visto com cuidado: - Eu acho que sempre existe um risco. Ninguém tem bola de cristal para prever o futuro e saber o que vai acontecer com as moedas. Fazer hedge para empréstimos de longo prazo está caro para todo mundo. Mas mesmo assim tem banco captando recursos em longo prazo. Outro risco para o qual é preciso ficar alerta é apontado pelo ex-diretor do BC Carlos Eduardo de Freitas: - Mesmo as empresas exportadoras, que podem captar dinheiro no exterior com mais tranquilidade por terem receitas em outras moedas, devem ter cautela e tomar empréstimos proporcionais a essas receitas. Carlos Eduardo de Freitas lembra que o mercado internacional tem estado "praticamente irresistível" para companhias brasileiras. O diretor de Relações com Investidores da Gol, Rodrigo Alves, confirma. Ele lembra que o mercado externo oferece recursos com prazos mais longos e taxas de juros reduzidas. Esse movimento é importante para a empresa, que precisa, por exemplo, comprar aeronaves, cujos financiamentos também são de longo prazo. - Os juros lá fora estão próximos de zero (no Brasil, ficam perto de 11%), e os investidores estão com dinheiro queimando nas mãos. O clima é muito favorável - afirma. Alves explica que a Gol se protege de eventuais mudanças no cenário cambial criando um colchão que garanta o pagamento das dívidas da empresa por um período mínimo de 5,5 anos. Além disso, há um controle do fluxo de caixa de modo que os vencimentos sejam alongados: - Caso haja alguma instabilidade no quadro cambial, não haverá dívida com vencimento no curto prazo - afirma o diretor, lembrando que a Gol fez uma captação de US$300 milhões este ano. Economista da Febraban: "Os juros estão baixos lá fora" O economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Rubens Sardenberg, diz que instituições financeiras sempre buscaram o mercado internacional e, diante do atual momento, vale a pena buscar as taxas cobradas fora do Brasil. Ele lembra que o mercado nacional reforçou as regras prudenciais para evitar que empresas fiquem desprotegidas em caso de reversão do quadro cambial. No auge da crise de 2008, quando empresas como Aracruz e Sadia anunciaram perdas substanciais com o mercado de derivativos, nem mesmo os bancos que fizeram os contratos sabiam o quanto as companhias estavam expostas, o que contribuiu para aumentar as incertezas no mercado. A Febraban, em parceria com a BM&F Bovespa e a Cetip, então, lançou a Central de Exposição a Derivativos (CED), instrumento pelo qual os bancos podem consultar a posição de seus clientes em derivativos registrados tanto na Bolsa como no mercado de balcão. Sardenberg diz que operações de hedge não são feitas todas as vezes que as instituições acessam o mercado externo: - Os juros estão muito baixos lá fora e você consegue fazer captação com uma taxa de juros muito atraente. Mas não é sempre preciso fazer hedge. Ele é necessário em momentos estratégicos, quando o banco está em posição muito alavancada. Entrevista :: Maílson da Nóbrega
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário