quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Contra especulação, França quer limitar volume de contratos no mercado futuro


Autor(es): Assis Moreira
Valor Econômico - 05/10/2011
 
Um investidor não poderá deter mais de 20% dos contratos de uma commodity agrícola no mercado futuro, pela proposta que a França tentará aprovar no G-20, semana que vem, em Paris, para combater especulação.
O ministro de Agricultura francês, Bruno Le Maire, espera que esse limite nos derivativos seja aceito pelos ministros de finanças e presidentes dos bancos centrais do grupo para frear concentração de posições numa commodity.
"Quando um único investidor compra metade da produção mundial de cacau e a revende 15 dias após ter aumentado artificialmente o preço, claramente há um problema", afirmou o ministro ao ser indagado pelo Valor sobre os derivativos em agricultura.
"Sem limites nas posições, os preços agrícolas vão rapidamente subir e descer. E quando um investidor não pode exceder 20% dos contratos, isso pode ajudar", afirmou o ministro.
O presidente francês Nicolas Sarkozy colocou no centro da agenda do G-20 uma tentativa de enquadrar os mercados financeiros agrícolas, a fim de prevenir e enfrentar abusos, manipulações cruzadas e desorganização dos mercados.
Para Le Maire, a principal razão da alta dos preços de alimentos globalmente é a produção insuficiente. Mas ele reafirma que a especulação nos mercados eleva a volatilidade nos preços.
O ministro rebate críticas sobre excessiva regulação e qualifica de "regra de mercado" um limite nas posições de contratos de commodities agrícolas, que já foi introduzido nos Estados Unidos. A proposta francesa, porém, é combatida pela Câmara de Comércio Internacional (CCI), representante do setor empresarial.
"A volatilidade de commodities é importante", afirma Doug McKay, vice-presidente da Royal Dutch Shell. "Mas não dá para separar especuladores dos hedgers. Especuladores são necessários para as pessoas serem capaz de fazer hedge", argumenta.
Mas certos analistas observam que a França está apenas levando em conta recomendação da Organização Internacional das Comissões de Valores Mobiliários (Iosco, na sigla em inglês), que vai na linha de melhor transparência, mas não resolve diretamente o problema da especulação nos mercados.
A Iosco sugere regras de maior vigilância sobre os mercados de derivativos de commodities, limite nas grandes posições em derivativos agrícolas, combate à manipulação e melhora na transparência de preços.
Outro projeto bem mais fácil que a França deverá aprovar no G-20 é o projeto-piloto do estoque alimentar de urgência. Le Maire disse que um acordo foi alcançado com os Estados Unidos, na semana passada.
O plano é testar o estoque de urgência com 67 mil toneladas de alimentos, principalmente arroz e milho, para os países menos avançados da África Ocidental, permitindo que suas populações tenham acesso a essas reservas durante 90 dias em caso de grave crise alimentar.
Noventa dias é o prazo porque é o tempo necessário entre a constatação de uma tragédia alimentar e a chegada de mercadorias para a população. O financiamento desses estoques será feito pela comunidade internacional, e é estimado em US$ 45 milhões. "Trata-se unicamente de estoque para situações de urgência, não tem nada a ver com regulação do mercado", insistiu Le Maire. "Se tivéssemos já esses estoques, milhares de pessoas não teriam morrido em crises na África".

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