domingo, 9 de outubro de 2011

Europeus adquirem 21 foguetes brasileiros


Autor(es): Virgínia Silveira
Valor Econômico - 06/10/2011


O Brasil se transformou em um dos principais provedores internacionais de foguetes de sondagem, veículos suborbitais que podem transportar experimentos científicos para altitudes superiores à atmosfera terrestre, por períodos de até 20 minutos. O Centro Aeroespacial Alemão (DLR) e a estatal sueca Swedish Space Corporation (SSC) compraram 21 motores-foguete do veículo de sondagem VSB-30, utilizado com sucesso em mais de 11 lançamentos no Brasil e na Suécia.
O negócio, segundo o diretor do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), responsável pelo desenvolvimento desses foguetes, brigadeiro Francisco Carlos Melo Pantoja, está avaliado em € 3 milhões. Dos 21 motores comprados, segundo ele, oito são conjuntos completos - o foguete e mais dois motores - e outros cinco são do motor S-30, que será integrado em outro foguete usado pelos europeus, o americano Orion.
Segundo o presidente da SSC, os foguetes de sondagem brasileiros e especialmente o VSB-30, que já recebeu uma certificação internacional, são considerados os melhores do mundo em sua categoria. O VSB-30 substituiu o foguete inglês Black-Arrow, que deixou de ser produzido em 1979, depois de 266 lançamentos, sendo o último em 2005.
O lançador brasileiro vem sendo usado pelo Programa Europeu de Microgravidade desde 2005 e, no próximo dia 24 de novembro, fará seu 12º voo a partir do Centro de Lançamento de Esrange, em Kiruna, na Suécia. O interesse dos europeus pelos foguetes de sondagem brasileiros, desenvolvidos com a participação do DLR, no entanto, envolve outros modelos além do VSB-30.
Segundo o presidente e CEO da SSC, Lars Persson, a missão espacial Shefex II que levará, entre outros experimentos, um veículo hipersônico europeu, avaliado em 8 milhões de euros, será feita pelo foguete brasileiro VS40 M, um veículo de sondagem mais potente e veloz que o VSB-30. O VS40 M também foi adquirido pelo DLR alemão a um custo de 900 mil euros, segundo o IAE.
O lançamento do experimento Shefex II (Sharp Edge Flight Experiment) à bordo do VS40 M está previsto para fevereiro de 2012, mas uma equipe do IAE já está Base de Andoya, na Noruega, desde o mês passado, trabalhando na pré-montagem do foguete. O VS-40 M também lançará um experimento brasileiro, que consiste em uma placa de carbeto de silício. O material será utilizado na estrutura do Satélite de Reentrada Atmosférica (SARA), outro projeto do IAE.
O presidente da SSC disse que a empresa também está interessada em comprar o foguete brasileiro VLM, que está em fase de desenvolvimento e poderá lançar microssatélites de 100 a 150 quilos. Persson disse que a empresa estima um mercado anual de 10 lançamentos com o VLM.
"No futuro nós pretendemos utilizar o VLM, porque ele é uma ótima opção para lançar satélites pequenos e com um custo de lançamento bem mais barato que o dos grandes foguetes", explicou. O motor do VLM está sendo desenvolvido pela empresa brasileira Cenic, que utiliza a tecnologia de fibra de carbono, responsável por uma redução de 60% no peso do motor do foguete.
Já o mercado global de foguetes de sondagem sub-orbitais, considerando apenas as aplicações civis, é de mais de 100 lançamentos anuais, para cargas úteis (experimentos científicos e tecnológicos) na faixa de 50 a 200 kg de massa e em altitudes de 100 km. Em média, segundo estimativa feita pelo diretor do IAE, cada lançamento custa da ordem de US$ 1 milhão, mas existe uma expectativa de um crescimento para 1500 voos anuais se o preço do kg de carga útil for reduzido para US$ 250.
A parceria com a SSC no programa de foguetes de sondagem, segundo Pantoja, é vista com bons olhos, pois a empresa já está envolvida com a comercialização de foguetes no mercado europeu e desta forma oferece mais possibilidades de venda do produto brasileiro fora do país.
O VSB-30, por exemplo, tem a aprovação da Agência Espacial Europeia (ESA) para realizar voos na Europa transportando cargas científicas do Programa Europeu de Microgravidade. O foguete foi o primeiro produto espacial brasileiro a ser comercializado no mercado externo e também o primeiro a receber uma certificação de nível internacional.
O desenvolvimento do VSB-30 foi feito com investimentos da ordem de 700 mil euros e o Centro Aeroespacial DLR arcou com 100% desse valor. O foguete custa cerca de 320 mil euros. "Os ganhos dessa parceria não podem ser vistos somente sob o ponto de vista financeiro. Essa sinergia tem gerado conhecimento e transferência de tecnologia para os dois lados", comentou Pantoja.
Com faturamento de 180 milhões de euros por ano e 660 colaboradores em 11 países, a SSC é especializada no desenvolvimento de câmeras imageadoras para satélites de observação da Terra, prestação de serviços de recepção de dados de satélites, pesquisas em ambiente de microgravidade e vigilância marítima através de radares, câmeras e sensores.
Governo exclui Oi de negociação por satélite

Telebrás assume lugar da empresa no projeto para construir equipamento de R$ 720 milhões, que também atenderá militaresForças pedem controle sobre aparelho que faz comunicações sigilosas desde a privatização da Embratel, em 1998ELVIRA LOBATO
DO RIO
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po0910201106.htm
A Oi está, no momento, fora do projeto de lançamento do satélite de comunicações do governo brasileiro. Em seu lugar entra a estatal Telebrás, que vai usar o satélite para oferecer infraestrutura de acesso à internet em banda larga nos municípios não atingidos por fibras ópticas.
No ano passado, o ex-presidente Lula havia autorizado o Ministério da Defesa a estudar uma parceria com a Oi para um satélite nacional comercial e militar.
A Oi é acionista minoritária da Hispamar, que tem dois satélites no Brasil, mas encampou o discurso nacionalista dos militares de que, por questão de segurança, o país precisa de um satélite sob controle de capital nacional.
Folha apurou que as reuniões com a Oi foram interrompidas no início de agosto, depois que Nelson Jobim foi substituído na Defesa. Segundo fontes da empresa, as reuniões eram feitas diretamente com o ex-ministro.
O satélite brasileiro custará cerca de R$ 720 milhões, e deve ser colocado em órbita por ocasião da Copa de 2014.
Ele atenderá também às Forças Armadas, que contratam os serviços da Star One, empresa do megaempresário mexicano Carlos Slim, controlador da Embratel, da Claro e maior acionista da Net, de TV a cabo.
À Folha o general Celso José Tiago, subchefe de Comando e Controle do Ministério da Defesa, disse que os militares pagam R$ 60 milhões por ano à Star One por uma faixa exclusiva do satélite, chamada "Banda X".
De acordo com o general, a economia no aluguel pagaria o custo do satélite em pouco mais de dez anos
.
Desde a privatização da Embratel, em 1998, os militares reivindicam algum controle sobre os satélites que fazem as comunicações sigilosas das Forças Armadas.
PROJETO
Sem ruídos, a Telebrás vinha desenvolvendo seu projeto desde 2010. Segundo um executivo da estatal, nem o Ministério das Comunicações tinha conhecimento detalhado dos estudos, porque o Plano Nacional de Banda Larga era subordinado ao Palácio do Planalto no governo Lula, e só migrou para a pasta sob Dilma Rousseff.
Também sem alarde, a Telebrás criou a subsidiária que será dona do satélite. Seu nome ainda não foi divulgado
.
Segundo um técnico do governo, a Telebrás, assim como a Petrobras, tem autonomia para criar subsidiárias sem necessidade de aprovação do Congresso Nacional.
Essa subsidiária vai se associar a uma empresa privada nacional -com controle de capital brasileiro- ainda não escolhida. A ideia é que a subsidiária absorva a tecnologia da montagem de componentes de satélites, e que contrate empresas nacionais para fornecê-los.
A União injetará capital na Telebrás à medida que o projeto se desenvolver. Em 2012, a capitalização prevista é de R$ 54 milhões.
A Agência Espacial Brasileira integra o grupo de trabalho de implantação, mas o satélite não tem a ver com projeto do Satélite Geoestacionário Brasileiro, de produzir e lançar satélites no país.
A Telebrás já teria contatado os fabricantes dos componentes e feito cotações. Os R$ 720 milhões incluem a produção do satélite, o foguete lançador e o seguro.
A proposta da Oi foi apresentada a Lula, em junho do ano passado, pelos empresários Carlos Jereissati (grupo La Fonte) e Sérgio Andrade, da Andrade Gutierrez, acionistas controladores da tele. O custo do satélite era próximo do calculado pela Telebrás (R$ 710 milhões).
Os empresários alegaram que um satélite exclusivamente militar ficaria ocioso, e que a parceria seria natural por ser a Oi a única tele de capital majoritário nacional.



EUA boicotaram o programa espacial do Brasil nos anos 90

Telegramas sigilosos divulgados pela Folha revelam pressão americana sobre projeto brasileiro de foguetes

Ações dos EUA, como proibição de venda de tecnologia espacial ao Brasil, atrasaram projetos do país na área

Lucas Lacaz Ruiz/Folhapress
Réplica do VLS exposto no MAB (Memorial Aeroespacial Brasileiro) 

RUBENS VALENTE
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
FERNANDA ODILLA

DE BRASÍLIA

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe0910201102.htm
Telegramas confidenciais do Itamaraty revelam que os EUA promoveram embargo e "abortaram" a venda, por outros países, de tecnologia considerada essencial para o programa espacial brasileiro na década de 1990.
Em um dos telegramas, o Itamaraty associou a ação norte-americana a um atraso de quatro anos na produção e lançamento de satélites.
O projeto Folha Transparência divulga em seu site a partir de hoje 101 telegramas confidenciais inéditos da diplomacia brasileira, que tratam dos programas brasileiros espacial e nuclear.
A pressão norte-americana sobre o projeto espacial já foi ressaltada por especialistas brasileiros ao longo dos anos, e um telegrama do Wikileaks divulgado em 2010 indica que ela ainda ocorria em 2009. Os documentos agora liberados permitem compreender a origem e o alcance do embargo, assim como a enérgica reação do Brasil.
Em despacho telegráfico de agosto de 1990, o Itamaraty afirmou que a ação norte-americana começara três anos antes, por meio de "embargos de venda de materiais", impostas pelos países signatários do RCTM (Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis) -um esforço voluntário entre países, de 1987, para coibir o uso de artefatos nucleares em mísseis.
O Itamaraty incluiu o bloqueio dos EUA como um dos motivos para o atraso na entrega do VLS (Veículo Lançador de Satélites), que deveria estar pronto em 1989. O primeiro teste de voo foi em 1997.
Além do VLS, o programa espacial previa a construção de quatro satélites, dois para coleta de dados e dois para sensoriamento remoto.
O Brasil só aderiu ao acordo em 1995. Os telegramas revelam que, um ano depois, o diretor do CTA (Centro Técnico Aeroespacial) da Aeronáutica, Reginaldo dos Santos, atual reitor do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), informou ao Itamaraty que os EUA negaram o pedido para importar transmissores para uso em foguetes brasileiros.
O Itamaraty orientou seu embaixador em Washington, Paulo Tarso Flecha de Lima, a manifestar "estranheza e preocupação" ao governo dos EUA. A medida dos EUA só foi revista meses depois.
José Israel Vargas, ministro da Ciência e Tecnologia entre 1992 e 1998, confirmou à Folha as gestões dos EUA para prejudicar o programa espacial brasileiro.
"Houve sim pressão americana para qualquer desenvolvimento de foguetes, contra nós e todo mundo [que o fizesse]." Segundo ele, países avançados na área, que ajudavam outros a criar seus programas espaciais, como a França fez com o Brasil, também eram pressionados.
A Embaixada dos EUA em Brasília, quando procurada em agosto pela Folha, não comentou os telegramas do Itamaraty, mas elogiou a divulgação dos documentos.



Pressão dos EUA minou parceria com Índia e Rússia

DE BRASÍLIA

O governo dos EUA expressou ao Brasil "continuada preocupação" sobre tratativas do país com a Índia na área nuclear e reclamou de negociações da empresa estatal brasileira de armamentos com a Rússia.
No caso da Índia, as pressões americanas ocorreram em 1997, dando origem a reuniões em Brasília.
A preocupação dos EUA foi oficializada por meio de documento entregue ao Itamaraty pelo embaixador norte-americano Melvin Levitsky. A cooperação técnica Brasil-Índia na área nuclear não avançou.
Quatro anos antes, os EUA haviam sido incisivos sobre uma tratativa da estatal Imbel (Indústria de Material Bélico do Brasil) com a Rússia, na área de mísseis.
Mark Lore, ministro-conselheiro da Embaixada dos EUA em Brasília, disse ao Itamaraty que a parceria poderia provocar "desequilíbrio regional". (RV, JCM e FO)

Nenhum comentário:

Postar um comentário