Autor(es): Fernando Travaglini |
Valor Econômico - 03/10/2011 |
Se já estava difícil captar no exterior, a forte fuga de investidores de títulos de renda fixa de países emergentes, algo que não vinha ocorrendo com tanta intensidade, derrubou o preço dos papéis corporativos e soberanos desses países nos mercados internacionais, tornando o investidor ainda mais avesso à novas emissões de empresas brasileiras neste momento. No dia 23 de setembro, o preço dos papéis da República denominados em reais com vencimento em 2022 recuou 10,6%. O rendimento subiu mais de 100 pontos básicos, para 9,8%, o maior desde o início do ano. O título do Tesouro em dólares com prazo semelhante sofreu menos, mas o rendimento subiu 60 pontos básicos desde o início de setembro. O movimento coincidiu com a reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, em Washington, de onde muitos executivos de mercado voltaram com a certeza de que o calote grego é inevitável. Segundo Pedro Bianchi, diretor de Debt Capital Markets do Bank of America Merrill Lynch, a saída dos fundos de renda fixa para mercados emergentes foi expressivo. "Nada que não dê para se reverter", pondera. "Mas a volta para as condições anteriores deve demorar." Alguns setores, como o de carne, sofreram mais, com os rendimento dos papéis subindo mais de 10%. Outros sofreram apenas correções momentâneas, como as empresas com grau de investimento. No Brasil, entre os dias 21 e 23 de setembro, último dado disponível, o Banco Central registrou uma saída líquida de recursos do país de pouco mais de US$ 2 bilhões, com o maior volume de vendas de dólares do mês no dia 22. "Os investidores estrangeiros preferem manter o dinheiro no Brasil, nos bancos locais, para evitar o pagamento do IOF caso voltem no curto prazo", diz um especialista. Eduardo Freitas, co-head de Debt Capital Market para o Brasil do Citi, avalia que a queda dos preços reflete o cenário de maior cautela dos investidores, mas a volta para os patamares anteriores está condicionada a uma melhora das condições internacionais. Com o aumento da aversão ao risco, as companhias brasileiras que estavam preparadas para captar recursos estão em compasso de espera, aguardando o melhor momento para voltar ao mercado. Como explica Alexei Remizov, diretor-gerente de Mercado de Capitais do HSBC, os investidores estão pedindo um prêmio maior para as novas operações, como mostram as captações de empresas com boa avaliação de risco que têm saído nos Estados Unidos. Em compensação, como o rendimento dos títulos do governo americano está historicamente baixo, o juro nominal pode se manter atrativo para as companhias. Michael Schoen, chefe da área de dívida na América Latina do Credit Suisse, acredita que os problemas não são relacionados ao Brasil, mas sim ao cenário internacional. Os chamados "new issue premium" - prêmio cobrado para novas emissões acima do preço negociado no secundário - subiram para todas as companhias. "Tenho certeza de que empresas brasileiras com elevadas notas de risco poderiam emitir, mas o prêmio para uma nova emissão provavelmente está acima do que elas querem pagar", diz. Dada a volatilidade, a expectativa é por janelas de oportunidade mais curtas. Por conta disso, os bancos fazem um acompanhamento diário e esperam por uma sequência de pelo menos três a cinco dias sem grandes oscilações para dar início ao processo de visita aos investidores, diz Leandro Miranda, diretor de renda fixa do BBI, banco de investimento do Bradesco. "Estamos monitorando o mercado diariamente. Muitas emissões estão prontas e as empresas estão com a documentação preparada. Tudo depende de um período de calmaria. Se for continuo, poderá emitir", diz Miranda. "Não há problema de demanda. O Brasil continua atrativo. O que não há é clareza de preço", completa. Nadine Cavusoglu, diretora de Internacional Debt Capital Markets do Itaú BBA, acredita que algumas empresas com grau de investimento poderão acessar o mercado em outubro, mas não imediatamente. Será preciso que algumas operações bem sucedidas venham à mercado para que se conheça de fato o apetite dos investidores. Há também uma certa ordem à seguir, diz Gisele Luna de Mello, diretora de Debt Capital Markets do Standard Bank. "Provavelmente vai haver uma janela, mas num primeiro momento veremos empresas e bancos com grau de investimento e muito atentos ao preço." Via de regra, quem abre o caminho é uma emissão da República. Na sexta-feira, o secretário do Tesouro, Arno Augustin, reafirmou que planeja uma operação ainda este ano, mesmo que tenha que pagar um preço mais alto. A moeda ainda não está definida. Novas emissões em reais devem demorar um pouco mais, diz Eduardo Nascimento, diretor do BB Securities, braço do Banco do Brasil em Londres. "Não esperamos ver novas emissões em reais até que a taxa de câmbio encontre um patamar mais estável", diz. (Com agências internacionais) |
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
Investidor foge de renda fixa e limita emissões externas
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