quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Mobilidade social e ganhos reais levam mais recursos à poupança

http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/11/16/mobilidade-social-e-ganhos-reais-levam-mais-recursos-a-poupanca

Valor Econômico - 16/11/2010
 

A mobilidade social e os ganhos reais de renda que o Brasil vem experimentando explicam o incremento da caderneta de poupança, analisa o presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito e Poupança (Abecip), Luiz Antônio França. "As pessoas estão saindo da classe E para D, de D para C e da C para B, há mais capacidade de consumo e de poupança na economia", afirma. Esse fenômeno tem trazido para o mercado um público que é eminentemente poupador, que entende a simplicidade do investimento e não fica migrando de uma aplicação para outra quando há mudanças na política monetária. Em tese, com a recente alta da taxa Selic, esse seria um momento em que poderia haver algum influxo da poupança em favor de outros investimentos. "E o poupador, diferentemente do investidor, não tem o dinheiro direcionado de um ativo para outro, costuma dar mais estabilidade aos seus recursos", diz França.
Só neste ano, as captações líquidas da caderneta somavam, até outubro, R$ 28,3 bilhões, quase o dobro dos R$ 15,7 bilhões obtidos no mesmo intervalo do ano passado, segundo levantamento do Valor Data, com base em dados do Banco Central (BC). O CDB, que teve seu recorde de captação em agosto, com R$ 10,5 bilhões, no ano acumula R$ 31,2 bilhões, em comparação aos R$ 17,7 bilhões registrados entre janeiro e outubro de 2009.
O saldo da poupança, de R$ 295 bilhões, é pequeno em valores absolutos quando comparado ao estoque dos fundos de investimento, com R$ 1,6 trilhão, e mesmo com o estoque de CDBs, com R$ 538,1 bilhões. Como a Abecip estima que os recursos da caderneta de poupança são suficientes para suprir o setor de habitação e construção por mais dois ou três anos, governo, reguladores e mercado vão ter de encontrar uma alternativa de financiamento de longo prazo, completa França.
O ritmo sensivelmente maior da caderneta se justifica pelo fato de os bancos estarem aproveitando a chegada de um público novo ao sistema financeiro formal para baratear o seu custo de captação e, ao mesmo tempo, suprir a demanda do crédito imobiliário, diz o analista Nataniel Cezimbra, da BB Investimentos. "Os bancos que contam com rede de agência têm de se valer disso, o custo de captação é uma vantagem competitiva." Ele cita o exemplo do Banrisul, que tem uma carteira considerável de poupança e fechou o terceiro trimestre com um custo de captação equivalente a 73% da Selic, um dos mais baixos do mercado.
O vice-presidente executivo do Bradesco Domingos Abreu "suspeita" que a população esteja investindo mais. "Está sobrando renda e a caderneta aparece como a alternativa natural, a primeira do aplicador." Ele reconhece que se trata de um "funding" imobiliário importante, mas desde que sadio. "Entendo por sadio uma evolução feita à base de tíquetes baixos, que cresce de forma gradual e consistente."
No Bradesco, os depósitos em poupança alcançaram R$ 50,113 bilhões em setembro, crescimento de 22,5% em 12 meses, ante alta 4,9% dos depósitos a prazo. Um trecho do relatório do banco sobre os resultados do terceiro trimestre ressalta que "a poupança continua a ter maior atratividade especialmente para o pequeno poupador, além de ser um porto seguro para o investidor e grande gerador de recursos para o financiamento habitacional". A carteira de crédito imobiliário somava, ao fim do terceiro trimestre, R$ 6,8 bilhões. A previsão de crescimento teve de ser refeita duas vezes ao longo do ano e a expectativa, agora, é que o banco termine o ano com um saldo de R$ 7,5 bilhões.
Marcos Daré, diretor do departamento de investimentos do Bradesco, explica que o estímulo para a aplicação em caderneta se resume à conta poupança, produto que prevê a baixa automática dos recursos que não foram movimentados no intervalo de um mês. A rentabilidade acumulada pela poupança no ano, até o terceiro trimestre (TR mais 0,5% ao mês), foi de 5,08%, sendo que o saldo cresceu 12,86% - um aumento real das captações nessa modalidade, portanto, de 7,78%. A quantidade de contas poupança no Bradesco vem sendo ampliada continuamente desde março, atingindo 38,5 milhões em setembro.
Embora o Bradesco costume estabelecer políticas de captação para CDBs, escalando seu time de gerentes para oferecer o investimento a correntistas - incentivo que não ocorre com a poupança -, os depósitos a prazo, no momento, não estão sendo estimulados. "A liquidez está confortável", justifica o vice-presidente Abreu.

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