quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Brasil perde terreno no radar de investimentos, diz presidente da AGCO


Autor(es): Gerson Freitas Jr.
Valor Econômico - 06/10/2011


 "O Brasil hoje é interessante quando se olha para o mercado interno. Na exportação, os investimentos vão para a China, Índia e Turquia", afirma Richenhagen
 O Brasil não é mais competitivo para exportar máquinas agrícolas e está fora do radar das fabricantes como plataforma internacional. A afirmação é do CEO global da montadora americana AGCO, Martin Richenhagen. Segundo ele, o câmbio valorizado e a elevação "exagerada" dos salários nos últimos anos comprometeram a capacidade do país de brigar por outros mercados.
"O Brasil hoje é interessante quando se olha para o mercado interno. Mas, quando se pensa em exportação, os investimentos vão para a China, Índia e Turquia, que têm uma posição de custo muito mais competitiva", afirma Richenhagen. No início da década, lembra o executivo, a Massey Ferguson, principal marca da AGCO no Brasil, exportava mais da metade dos tratores produzidos no país, com picos de quase 70%. Em 2011, esse índice está em 30%.
De olho no potencial do mercado interno, mas também das exportações - sobretudo para o continente americano -, as grandes fabricantes do setor desativaram linhas em países desenvolvidos e investiram em fábricas no Brasil. A própria AGCO, em 2003, transferiu parte de sua produção realizada em Coventry, na Inglaterra, para Canoas, no Rio Grande do Sul.
Com isso, as vendas totais do setor para fora saltaram de 5 mil unidades, no ano 2000, para mais de 30 mil em meados da década. Em 2011, porém, o Brasil deverá exportar pouco mais de 19 mil máquinas, repetindo o desempenho do ano passado, prevê a Anfavea, a associação que representa os fabricantes de veículos automotores.

Richenhagen voltou a dizer que suas apostas estão voltadas para a Ásia, país onde a AGCO tem feito investimentos importantes. Nos últimos meses, a companhia acertou a compra de 80% da chinesa Dafeng Machinery, que produz anualmente cerca de 8,5 mil colheitadeiras - mais do que toda a produção brasileira - e anunciou um aporte de US$ 300 milhões em uma nova fábrica de tratores.
"A China é o país onde mais vamos crescer daqui para frente", diz Richenhagen. "Além de ser um grande mercado para pequenos tratores, de centenas de milhares de unidades, é um mercado em desenvolvimento para uma agricultura mais profissional, com tratores e colheitadeiras maiores e mais modernas", justifica.
Para o executivo, a China representa uma grande ameaça às ambições brasileiras de fabricar equipamentos em grande escala para a África, "um mercado com grande potencial no médio prazo". "Mesmo nos países vizinhos, os produtos brasileiros estão cada vez menos competitivos", ressalta.
Richenhagen pondera que o Brasil é estratégico e que a empresa vai manter os investimentos no país, onde detém mais da metade das vendas de tratores por meio das marcas Massey e Valtra. Até meados de 2012, a companhia deve investir cerca de R$ 100 milhões na modernização de suas fábricas no país.
Além disso, a companhia está investindo em uma nova colheitadeira de cana-de-açúcar, com lançamento previsto para o fim de 2012, com o objetivo de elevar sua fatia - hoje, inferior a 20% - no mercado de colheitadeiras. A companhia não divulga seus números por país, mas a América do Sul representa 22% de suas vendas globais, que somaram US$ 4,2 bilhões no primeiro semestre.
Milton Rego, vice-presidente da Anfavea, diz que, apesar do mercado interno atraente, a indústria de máquinas não pode prescindir das exportações. "Para se ter dinamismo nessa indústria, é preciso um mercado interno relevante e uma exportação competitiva. Tanto que mantemos os embarques mesmo com margens muito apertadas e, às vezes, até negativas", afirma. Segundo ele, o Brasil hoje é menos competitivo que os Estados Unidos. "Menos de 10 anos atrás, éramos competitivos em toda a América Latina. Hoje, só no Mercosul, por causa de todos os incentivos do bloco".
Rego afirma ainda que as fábricas no Brasil estão operando com capacidade ociosa após a queda das vendas domésticas neste ano. Até agosto, as vendas do setor registraram uma retração superior a 9%, reflexo da perda de fôlego do programa Mais Alimentos. "Para o ano que vem podemos ter uma nova redução nas vendas, dependendo do cenário", alerta.
O risco maior, avalia, é o país começar a importar máquinas asiáticas nos próximos anos. "Isso não acontece hoje porque os equipamentos usados nesses países ainda são muito diferentes dos nossos, mas a China, em particular, tem capital, mão de obra e logística para nos bater".

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