quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Minério de ferro fica imune à especulação com os metais



Autor(es): Javier Blas
Valor Econômico - 11/10/2011
 

O centro dos comentários no mercado de metais pode ser o desmoronamento dos preços do cobre, mas o fator decisivo para o setor de mineração é o que acontecerá com uma commodity menos conhecida: o minério de ferro.
O preço do mineral usado na produção de aço, até agora, em larga medida, contrariou a tendência de queda dos metais negociados na London Metal Exchange (LME), como o cobre, alumínio, zinco, níquel, chumbo e estanho. Caiu apenas 0,7% até agora, neste ano. Em contraste, o índice de LME, uma cesta de metais básicos, registra queda de 20,5% no período.
"O minério de ferro tem sido menos afetado, ou mesmo não afetado", pela onda de vendas de commodities, diz Tom Albanese, executivo-chefe da Rio Tinto, segunda maior mineradora mundial da commodity.
Embora menos populares entre os investidores de commodities do que os metais da LME, o minério de ferro, o carvão térmico e carvão coque são a verdadeira "vaca leiteira" das mineradoras. Essas três matérias-primas deverão ser responsáveis por mais de metade do lucro das mineradoras até 2015 (antes de juros e impostos), é o que mostram as estimativas do setor, em comparação com a participação dos metais da LME, em torno de um terço do "ebitda. O mercado físico de minério de ferro é menos influenciado por negócios especulativos de curto prazo do que os mercados de cobre e de outros metais. Assim, traders e executivos dizem que seu preço reflete melhor a oferta e demanda fundamentais.
Os preços caíram, ao mesmo tempo em que a siderúrgicas na Europa paralisaram a operação de seus fornos, em meio a fraca demanda no Continente e queda dos preços do aço. Mas o consumo permanece vigoroso na China, de longe o maior consumidor, respondendo por 59% das importações mundiais em 2010. Além disso, instabilidades de suprimento na Índia, terceira maior exportadora depois da Austrália e do Brasil, após repressão à mineração ilegal, contribuiu para manter os preços.
Christopher Lafemina, analista de mineração na Jefferies, estima que a Índia fornecerá apenas 75 milhões de toneladas ao mercado de minério de ferro transportados por via marítima no próximo ano, numa queda superior a 35% em relação a um pico de toneladas 117 milhões registrado em 2009.
Ric Deverell, analista de commodities no Credit Suisse, diz que, dado "o aperto nos mercados graneleiros, os preços permanecem altamente vulneráveis às perturbações adicionais na produção", tais como os desencadeados por condições meteorológicas extremas, neste ano, na Austrália. No entanto, em um relatório, ele adverte: "As matérias-primas nos mercados siderúrgicos não são totalmente imunes a sorte mais generalizada dos mercados de aço mundiais."
O custo de referência de minério de ferro - com teor de 62% de ferro - caiu na terça-feira da semana passada para seu valor mais baixo desde março, a US$ 167 por tonelada, de acordo com a Platts, agência que monitora os preços no mercado físico. Mas os preços continuam bem acima da faixa de US$ 10 a US$ 50 por tonelada, que prevaleceu desde 1980 até o início de 2008.
A relativa vitalidade do mercado de minério de ferro físico contrasta com quedas acentuadas nos preços das ações das mineradoras. A brasileira Vale e as mineradoras Rio Tinto e BHP Billiton, com ações negociadas na bolsa de Londres, caíram 25% a 30% desde janeiro. Grandes investidores institucionais e executivos acreditam que os preços do minério de ferro de mineração, e não das ações da mineradoras, são um balizamento melhor.
Os executivos estão convencidos de que será improvável que os preços do minério de ferro caiam de forma significativa num período sustentado, mesmo que a economia mundial dê um duplo mergulho recessivo. A razão, diz Catherine Raw, gerente de portfólio de recursos naturais na BlackRock, é que " o custo marginal para o produtor está parado em US$ 150 por tonelada".
Se os preços caírem abaixo desse nível, as mineradoras chinesas e, em menor medida, indianas, começarão a perder dinheiro, provocando cortes na produção. Quando os preços caíram abaixo de US$ 150 no fim de 2010, a queda na oferta forçou-os de volta àquele nível após oito semanas, sugerindo um piso resistente.

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