terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Investidores lucram com o agro

Isenção de imposto de renda atrai pessoas físicas a títulos do agronegócio
Luiz Silveira
31/jan/12
O bom momento do agro brasileiro está abrindo oportunidades de lucro também para as pessoas físicas das cidades. Cada vez mais gente tem investido suas economias em títulos do agronegócio, como indicam os números da Cetip, integradora do mercado financeiro que registra uma boa parte desses negócios.

No ano passado, o volume de títulos do agronegócio registrados na Cetip cresceu 43% sobre 2010, totalizando R$ 21 bilhões (veja o gráfico abaixo). A maior parte desse total está concentrada em Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs). “A grande vantagem das LCAs é que elas são isentas de imposto de renda para pessoas físicas, explica o gerente de desenvolvimento de produtos da Cetip, Ricardo Magalhães.
Os títulos do agronegócio servem para financiar as empresas do setor, em geral antecipando valores ou mercadorias que elas têm a receber. Com esses recursos, elas fortalecem os investimentos e o capital de giro. Os investidores que compram esses títulos estão, indiretamente, entregando o dinheiro para as empresas do agro. Em troca, recebem juros sobre o valor investido.
O lastro – ou garantia – dessas operações são os créditos que as empresas do agro têm a receber. No caso das LCAs, especificamente, elas são emitidas por bancos que emprestam os recursos captados ao agro; o lastro, então, são os financiamentos que o agro têm a pagar para o banco.
“Acreditamos que a demanda dos investidores hoje é até maior do que a oferta desses títulos, por isso trabalhamos para que cada vez mais operações de crédito possam servir de lastro para a emissão desses papéis”, conta Magalhães.
Uma prova de que a demanda está reprimida é que os bancos não costumam oferecer o investimento em LCAs para muitos clientes. Em algumas instituições financeiras, o investimento mínimo em LCAs é de R$ 100 mil. Há outros bancos que só emitem LCAs de R$ 1 milhão ou mais.
Embora não faça projeções para o mercado de títulos do agro, Magalhães afirma que o forte crescimento de 2012 não foi uma surpresa. “Esse mercado de títulos foi criado por uma lei de 2004, e o crescimento tem sido consistente desde 2007″, diz o executivo.






O Brasil é um país com vocação agrícola. O agro é um dos carros-chefes da economia nacional, responde por quase um terço do Produto Interno Bruto (PIB) e 40% das exportações.
Por isso o Sou Agro conversou com especialistas que deram orientações para quem quer ganhar com as oscilações das commodities agrícolas (açúcar, boi gordo, borracha, café, etanol, milho, soja, suco de laranja e trigo), produtos que têm o preço fixado em bolsas de mercadoria e futuro.

“Como no mercado de ações, a palavra-chave é volatilidade, existem tantas oportunidades na alta, quanto na baixa”, diz Flávio Lemos, diretor da Trader Brasil Escola de Investidores. Tanto pessoas físicas quanto jurídicas podem investir nesse mercado. Há uma infinidade de possibilidades, mas para quem está começando o melhor são os contratos futuros e de opção negociados em bolsas, como BM&FBovespa e bolsa de Chicago.

“Há também o mercado de balcão, que negocia mercadoria física, mas é recomendado para aqueles que entendem melhor o setor, porque os contratos são de maior complexidade e menor garantia”, diz Fernando Pimentel, diretor sócio da consultoria Agro Security Gestão de Agroativos.

Começando

O primeiro passo é abrir uma conta em uma corretora listada na bolsa. Na sequência, o interessado deverá decidir o tipo de derivativo, nome dado as operações do mercado financeiro de commodities. Nos contratos futuros, o investidor compra a commodity ao preço do momento e ela vai sofrendo ajustes diários de preço que são administrados pela corretora. Por isso, é preciso deixar uma margem de garantia, um valor em dinheiro para essas correções.

Já nos contratos de opção, que pode ser de compra ou de venda, a pessoa compra uma opção de commodity em um determinado valor e com o vencimento pré-determinado. “Por exemplo, ele paga para apostar que o preço da soja que ele comprou a R$ 40 vai subir. Se for para R$ 42, ele ganha a diferença. Se cair, ele não perde mais do que eu já pagou”, diz Pimentel.

O valor mínimo de investimento varia de acordo com a commodity e com o tipo de contrato, mas todas as opções estão disponíveis no site da BM&FBovespa.  Como no mercado de ações, o mercado de commodity trabalha com crédito.
O investidor não deposita o valor integral, mas apenas a margem de garantia do contrato, que é determinada pela bolsa. No caso da soja e do milho, os contratos são de 450 sacas cada. Segundos dados da Corretora Souza Barros, a margem de garantia do contrato de milho (CCM11) com vencimento em novembro está em torno de R$ 942.

Vale investir em commodities? 

Esta é uma pergunta que cada um tem que responder para si mesmo. As possibilidades de ganhos são altas, mas as de perda também. Tanto o mercado de ações quanto o de contratos agrícolas estão sujeitos a riscos. “Mas no mercado de commodities, os fatores que causam a volatilidade são diferentes. O clima é o principal: uma seca pode diminuir a oferta e levar o aumento de preços”, explica Pimentel.

Para Silvio Paixão, professor de macroeconomia da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi) “é preciso estudar o mercado. A corretora vai dar a opinião dela, mas o investidor tem que conhecer para acatar ou não”.

No ano passado, quem investiu em contratos de café, boi, milho ou soja foi bem sucedido. O café teve alta 79,3% em 2010, enquanto o índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) rendeu 1,04% e as ações preferências (PN) da Petrobrás caíram 22,96%.

“O importante é a pessoa separar um capital de risco do seu capital necessário para o dia a dia”, diz Lemos. Feito isso, ela pode abrir uma conta numa corretora ou aplicar num fundo que tenha contratos agrícolas. Para quem está procurando diversificar os investimentos, Lemos sugere que a aplicação em commodities não supere 5%.
“Eu tenho um perfil mais ousado, aplicaria 1/3 em commodities, 1/3 em renda fixa e 1/3 em opções”, diz Pimentel. “Mas se a pessoa é mais moderada, eu sugiro 50% em renda fixa, 25% em commodities e 25% em opções, já para os conservadores, o ideal é ficar só com renda fixa”, finaliza Pimentel.


Dança de cadeiras entre ações defensivas e mercado interno

Autor(es): Por Flavia Lima e Beatriz Cutait | De São Paulo
Valor Econômico - 31/01/2012
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2012/1/31/danca-de-cadeiras-entre-acoes-defensivas-e-mercado-interno

Além da arrancada do Índice Bovespa, outro movimento que ganha força neste início de 2012 é uma clara rotação das carteiras de investimentos, com as ações defensivas passando o bastão para os papéis cíclicos - ou seja, setores ligados à economia interna, como consumo e construção, e às commodities -, segmento que foi muito punido pelos investidores em 2011. A mudança sinaliza que o ano pode guardar mais e melhores oportunidades para quem continua disposto a correr riscos.
O desempenho das dez ações mais rentáveis em janeiro confirma essa percepção. Papéis como o da incorporadora MRV ou das varejistas Hypermarcas e Hering se destacam, em alta ao redor de 30% no período. As ações de PDG Realty, Brookfield, Lojas Renner, CSN, Rossi Residencial, Braskem e Petrobras completam o bloco das mais rentáveis. Na ponta oposta, aparece um punhado de ações boas pagadoras de dividendos que brilharam no ano passado, como Eletrobras, Telefónica e CPFL Energia.
Esse movimento é liderado por fundos de mercados emergentes e investidores institucionais, desapontados com o retorno ínfimo da renda fixa lá fora e preocupados em bater suas metas. Dados da consultoria EPFR Global indicam que os fundos de ações globais captaram US$ 8,6 bilhões na semana encerrada em 25 de janeiro - com metade disso sendo direcionado para as carteiras que investem em ações de países emergentes, com a América Latina em sua melhor semana desde o quatro trimestre de 2010.
"Acredito que 90% dos recursos que entraram na bolsa brasileira em janeiro vieram via ETF [Exchange-Traded Funds, na sigla em inglês, fundos que replicam índices]", diz o superintendente de renda variável da Itaú Asset Management, Gilberto Nagai. "Investidores não muito convencidos da alta compram o índice via ETFs, porque assim fica mais fácil se desfazer dos papéis", acrescenta Nagai. Essa é a explicação, segundo ele, para a alta de Petrobras e Vale em janeiro, com os investidores locais correndo atrás.
Isso não significa que não haja investidores já revendo as posições. "Estávamos mais positivos com relação à Petrobras e deu muito certo, mas achamos que talvez o fôlego de curto prazo do papel já tenha se esgotado", diz Carlos Firetti, analista-chefe da Bradesco Corretora.
Para ele, as ações da maior parte das empresas estão abaixo de seus valores históricos, o que indica que a bolsa não está cara olhando um horizonte de longo prazo. "Mas dada a minha percepção de risco atual, não me sinto confortável em falar que existem grandes barganhas", afirma Firetti.
Ainda assim, o gestor destaca entre seus papéis preferidos Cielo, Redecard e Cetip no setor de serviços financeiros, além de, entre os bancos, as ações do Santander. Em construção civil, "mais sensível aos juros mais baixos e à inflação", ele gosta de Cyrela, além de Alpargatas e de Droga Raia em consumo, "pelo vigor do crescimento e ganhos de sinergia".
Outro que aposta nos papéis chamados de cíclicos é Eduardo Castro, superintendente executivo de fundos da Santander Asset Management. Ele lembra, no entanto, que cresce a importância dos dados macroeconômicos globais para chancelar a recuperação mais firme da bolsa. "Se estes dados mostrarem uma desaceleração muito maior do que a esperada, isso vai ser muito ruim para os mercados", afirma. "Mas em se confirmando esta melhora na margem, são os cíclicos que devem puxar a bolsa", diz Castro. "O investidor deve estar atento porque 2012 ainda será um ano de gestão ativa dos portfólios", conclui.

A alta é para valer?

Autor(es): Por Flavia Lima e Beatriz Cutait | De São Paulo
Valor Econômico - 31/01/2012
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2012/1/31/a-alta-e-para-valer

Um tom de esperança ressurge no mercado acionário brasileiro em 2012 e já dá bons motivos para os investidores sorrirem. Após a tempestade de 2011, quando o Índice Bovespa perdeu mais de 18%, a bolsa parece enfrentar outro cenário neste ano. O índice deve fechar janeiro com alta ao redor de 10% com mostras de robustez. Ontem, por exemplo, quando sinais de crescente preocupação externa pareciam ter fôlego para arruinar o humor dos investidores, a bolsa oscilou, mas acabou encerrando o dia em queda de apenas 0,2%.
Mesmo diante do melhor janeiro desde 2006, não há ainda quem arrisque projetar para a bolsa brasileira uma reação à altura do que ocorreu no ano de 2009, quando, após ter sido derrubado pela crise externa, o Índice Bovespa conseguiu fechar em alta superior a 80%.
De toda forma, ao explicar o bom desempenho antecipado para o primeiro mês do ano, analistas e gestores avaliam que a aversão ao risco diminuiu puxada por um conjunto de fatores como uma esperada recuperação da economia brasileira nos dois primeiros trimestres deste ano. Além disso, sinais mais positivos da economia americana, puxados principalmente por dados do setor imobiliário e de sentimento do consumidor, deram um gás ao mercado.
Outro ponto importante está na atuação mais firme do Banco Central Europeu (BCE) em seu esforço para dar fôlego ao financiamento dos países periféricos, negligenciada pelos próprios gestores e analistas. Fora um pouso mais suave do que o esperado para a economia da China. Por tudo isso, os especialistas avaliam que a possibilidade de ruptura externa saiu de cena - ao menos no curto prazo.
"É claro que não dá para descartar a possibilidade de uma realização, porque a bolsa subiu muito rápido, mas hoje existem razões macroeconômicas para o índice efetivamente mudar de patamar", avalia Eduardo Castro, superintendente-executivo de fundos da Santander Asset Management.
Para Carlos Firetti, analista-chefe da Bradesco Corretora, "a grande surpresa para a bolsa talvez tenha sido o fato de que o risco minimizado de ruptura simplesmente não estava nos preços". Para ele, a bolsa está reagindo ao excesso de liquidez externa - alimentada não apenas pelo BCE como pelas indicações do Banco Central americano de que os juros se manterão baixos pelo menos até 2014 - até que um evento "mais restritivo", como um eventual calote da dívida grega em março, aconteça.
"Até lá, a bolsa tem espaço para continuar relativamente forte, embora eu não esteja convencido da sustentabilidade no longo prazo", diz o analista, que projeta 69 mil pontos para o índice.
"Depois das medidas do BCE, ninguém mais questiona se um banco pode quebrar por conta de liquidez, caindo bastante a possibilidade de ruptura e ficando apenas o risco de desaceleração da economia europeia", diz Gilberto Nagai, superintendente de renda variável da Itaú Asset Management. Vale lembrar que, ao fim de dezembro, o BCE inundou o setor bancário da Europa ao emprestar € 489,2 bilhões, numa operação com prazo de três anos que atingiu 523 bancos, praticamente 100% do sistema.
Outro sinal de que a alta do Ibovespa em janeiro pode não ser apenas fogo de palha é que os próprios gestores se mostram mais seguros ao falar sobre suas projeções para o índice em 2012. Se no fim do ano passado, os especialistas coalhavam de ressalvas suas projeções, agora boa parte deles consegue mostrar certa convicção com relação aos números, com alguns já dispostos a revisar para cima as suas projeções para o Ibovespa em 2012.
A Itaú Asset Management, por exemplo, se prepara para revisar agora em fevereiro suas previsões para o índice para 70 mil pontos, ante os 67 mil esperados anteriormente. "Prevíamos um crescimento de lucro de apenas 5% paras as empresas brasileiras em 2012 e agora falamos em 12% porque a economia do Brasil não vai se desacelerar tanto quanto se estimava e os lucros devem acompanhar o movimento", justifica Nagai, do Itaú.
Castro diz que o Santander não revisou os números para o Ibovespa - entre 70 mil e 72 mil pontos para 2012 -, mas ressalta que, atualmente, há mais segurança na previsão feita no ano passado, hoje muito mais para os 72 mil do que os 70 mil pontos.
Um tanto mais cauteloso, o BB Investimentos avalia que ainda ser cedo para rever sua projeção, de aposta do Ibovespa na casa dos 67 mil pontos em dezembro. "Toda mudança muito rápida gera desconfiança. E quando o milagre é muito grande, o santo desconfia", diz Hamilton Alves, analista sênior do BB Investimentos.
Olhando em retrospecto, após uma debandada geral comandada por um movimento de aversão ao risco - em 2011, os principais investidores da Bovespa, ou seja, estrangeiros, pessoa física e institucionais, retiraram juntos, liquidamente, quase R$ 14 bilhões - em janeiro a bolsa voltou a ser impulsionada pelo apetite de estrangeiros, desapontados com retornos baixíssimos da renda fixa lá fora. Prova disso é que, no mês, até o dia 26, a injeção líquida de recursos externos na Bovespa havia atingido expressivos R$ 6,254 bilhões.
Mas, apesar das oportunidades vistas pelos investidores internacionais, os locais seguiam cautelosos ao longo das primeiras semanas do ano, apenas resgatando recursos da bolsa. E a maior segurança e certo otimismo dos gestores pode ser um dos primeiros sinais de que esse posicionamento talvez esteja começando a mudar.
Para Will Landers, gestor de portfólio para América Latina da BlackRock, "o fundo do poço" para o Brasil foi o terceiro trimestre de 2011. "O quarto já foi melhor e agora também estamos com uma situação mais favorável", diz. "Vimos uma revisão das expectativas de resultados brasileiros para baixo no ano passado, o que deve ser alterado neste momento, com os juros um pouco mais baixos, o real mais forte e as commodities com um cenário melhor", afirma.
Segundo Landers, pelo menos do lado dos estrangeiros, nada deve mudar. Ele avalia que, junto à China, o mercado acionário brasileiro deve se manter como um dos principais destinos de fluxo internacional neste ano.
"A bolsa continua a ser negociada com desconto ante sua própria história e em relação a outros mercados emergentes, com exceção da Rússia. As companhias ainda mostram bons fundamentos e têm a ajuda do Banco Central, em meio ao corte de juros e a expectativa de inflação caindo", comenta Landers. Ainda que a Europa permaneça como principal risco à recuperação dos mercados, o gestor avalia que a retomada do Ibovespa poderá se consolidar mais cedo do que o previsto.

Ativos de risco "dançam" tal qual a música dos BCs

Eduardo Campos
Valor Econômico - 01/02/2012
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2012/2/1/ativos-de-risco-dancam-tal-qual-a-musica-dos-bcs
 

Janeiro ficou para trás e o mote do mês foi a tomada de ativos de risco. Sob a batuta do Banco Central Europeu (BCE), Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Banco da Inglaterra (BoE) e do Banco Central (BC) brasileiro, os investidores foram à compra de ações e commodities e saíram dos títulos do Tesouro e do dólar americano.
A máxima "don"t fight the Fed" (não lute contra o Fed) se mostrou válida em âmbito global, conforme os principais bancos centrais acenaram sua disposição em manter juros baixos a perder de vista e lançaram e acenaram programas de "Quantitative Easing".
Até o BC brasileiro entrou no esquema ao falar abertamente na possibilidade de taxa básica de um dígito - para alguns, mais clareza no discurso e, para outros, demonstração de engajamento global.
Juro baixo a perder de vista dá fôlego às bolsas e commodities
Além desse impulso dado pelas autoridades monetárias, indicadores positivos sobre a economia americana (principalmente) levaram o mercado a "comprar" a ideia de que a economia mundial pode estar em um ponto de inflexão.
Resta saber, agora, se tal ambiente prevalece ou se é só mais um episódio de melhora dentro de um quadro estrutural de debilidade econômica nos países desenvolvidos, resultado de um duro processo de desalavancagem após anos de endividamento irrestrito.
Momentos como esse já ocorreram anteriormente. Por isso, alguns investidores preferem a cautela em vez de dançar conforme a música tocada pelos bancos centrais.
Para o sócio da Teórica Investimentos, Rogério Freitas, não há como negar a melhora nos indicadores econômicos.
O problema é que essa melhora é ainda muito incipiente para ser tomada como fato.
Os dados divulgados são de alta frequência, portanto, mais voláteis e com menos capacidade de predizer tendências.
Ontem mesmo, alguns indicadores dos EUA já decepcionaram. O índice de atividade na Região de Chicago, caiu de 62,2 em dezembro, para 60,2 em janeiro, contrariando previsão de alta. E esse foi um dos primeiros dados a "surpreender para cima" no ano passado.
Outro indicador mencionado por Freitas é o Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre, que subiu 2,8%, ante previsão de 3%, sendo que boa parte do crescimento foi reflexo de variação de estoques.
Outro ponto questionado pelo especialista é a eficiência das ações de política monetária do Fed, BCE e outros BCs.
As injeções de liquidez e promessas de juros baixos empurram o mercado para os ativos de risco, seja pelo "dinheiro barato", ou pela expectativa de que essas ações vão resultar em crescimento econômico.
No entanto, diz Freitas, esse crescimento no lado real da economia não se confirma.
Esse "remédio" vem sendo utilizado desde 2008 e não se vê firme retomada do emprego e renda nos EUA. E na Europa, por mais que os países consigam rolar dívidas, o termo recessão acompanha as projeções econômicas e o desemprego (tirando a Alemanha da conta) segue em patamares recordes.
O Fed mantém um "QE3" sobre a mesa e na zona do euro, o BCE já tem contratada nova rodada de empréstimos ao setor financeiro em 29 de fevereiro. E o valor da operação de três anos com taxa de 1% pode passar do € 1 trilhão.
Por isso mesmo, pode ser difícil ver os mercados mudando completamente de cara no curto prazo.
Na visão de Freitas, apesar de os mercados reagirem de forma positiva a essa estratégia dos bancos centrais, o impacto de afrouxamentos adicionais é limitado na economia real.
"Os dados têm confirmado a ineficácia desse instrumento e em algum momento essa visão deverá ser precificada pelos agentes. Acreditamos que as políticas abusivamente frouxas, visando inflar artificialmente os preços dos ativos, têm incentivado a tomada de risco excessiva e, em algum momento, um grande ajuste deverá ser feito", diz o especialista.
Para boa parte do mercado não importa o que vai acontecer no futuro, o negócio é fazer dinheiro agora. Por isso mesmo, ao longo do mês não foi difícil ver gente "arrependida" de não ter ampliado ainda mais as posições em ativos de risco.
Freitas afirma que não tem problemas em alterar sua avaliação quanto ao cenário e mesmo sua estratégia de investimento. Mas prefere esperar por indicadores mais concretos e diz que o momento é, de fato, de mudança no ciclo econômico mundial.
Por ora, ele e sua equipe seguem acreditando que a economia mundial está perto de entrar em um novo período de enfraquecimento. Por isso, o especialista segue comprado em dólar e vendido em bolsa.
"Tentamos antecipar os movimentos do mercado e não apenas dançar conforme a música do momento", conclui.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Produtividade agrícola do Brasil cresce mais do que a mundial

 Publicado em 26/01/2012 




O Brasil lidera a produtividade agrícola na América Latina e Caribe e apresenta índices de crescimento acima da média mundial, segundo estudo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico(OCDE) de 2011. Os dados da OCDE mostram também que junto com o Brasil, China, África do Sul e países do Leste Europeu são os que apresentam as maiores taxas de crescimento da produtividade.

O movimento é contrário ao verificado no resto do mundo, especialmente entre os países desenvolvidos que apresentam decréscimo nas taxas de produtividade. Enquanto países como França, Inglaterra e Estados Unidos crescem abaixo da média histórica de 1,48% ao ano, verificada no período que compreende os anos de 1961 e 2007, o Brasil pressiona o crescimento produtivo agrícola na América Latina. O crescimento anual da produtividade do Brasil é de 3,6% ao ano, comparativamente aos 2,6% da América Latina, 0,86% dos países desenvolvidos e 1,98% para o conjunto de países em desenvolvimento.

Pelo menos três fatores contribuem para esses resultados, na avaliação do coordenador geral de Planejamento Estratégico doMinistério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), José Garcia Gasques. O avanço na área da pesquisa, liderada pela Embrapa, é considerado preponderante no aumento da produtividade da agricultura brasileira. Aliado a isso, o aumento das exportações também contribuiu, assim como a variação positiva dos preços internos e ampliação do crédito rural. O Ministério da Agricultura está atento a esse cenário positivo e vem trabalhando na implementação de políticas para a área.

Resultados ainda preliminares sobre as projeções mostram que, até 2022, a produção de grãos deverá aumentar 22%. A soja é a cultura que vai puxar esse crescimento, com média de 2,3% ao ano, seguida do trigo (1,9%) e do milho (1,8%). O segmento de carnes também terá desempenho positivo, com incremento na produção de 40% nos próximos 10 anos. A carne de frango deverá liderar o ranking com estimativa de crescimento de 4,2% ao ano, seguida da carne bovina e suína, com 2% ao ano, cada segmento. "Esses dados são importantes porque exigem um conjunto de ações e medidas que o governo deverá adotar para que as projeções se concretizem, especialmente no aprimoramento da política agrícola e no direcionamento dos instrumentos para a concessão de crédito", salienta.

O técnico destaca também o fato de o crescimento da produtividade agrícola ocorrer sem a ampliação, nas mesmas proporções, da área cultivada, reforçando a importância do incentivo à inovação e pesquisa que o Ministério da Agricultura vem dando à área. Um exemplo disso é o Plano de Emissão de Agricultura de Baixo Carbono (ABC), que incentiva a produção de várias culturas numa mesma área. Hoje, o país detém 65,3 milhões de hectares de áreas plantadas, sendo 50 milhões em grãos e o restante em hortaliças.

Europa: crise põe 30 milhões de pessoas no limite da pobreza

30 de janeiro de 2012 | 12h30
Sílvio Guedes Crespo
Enquanto no Brasil os jornais relatam o crescimento da “nova classe média“, na Europa o assunto são os “novos pobres”.
O site do diário espanhol “El País” publicou uma reportagem segundo a qual aumentou em 30 milhões o número de pessoas que estão no limite entre a classe média e a pobreza. Só que esse aumento não se deu pela ascensão de quem estava embaixo, e sim pelo desemprego enfrentado por quem está na faixa média.
Em 2007, antes da crise, havia 85 milhões de pessoas no limite da pobreza (17% da população); em 2009, 115 milhões (23%).
Os países que mais sofreram foram a Bulgária e a Romênia, segundo o jornal, onde essa proporção quase dobrou, atingindo 46% e 43% da população local, respectivamente. Os países em melhor situação são República Tcheca (14%), Holanda (15%) e Suécia (16%).
Nessa pesquisa, a linha que separa a classe média dos pobres é definida como um domicílio com renda anual de 7.980 euros (R$ 18.200), ou 665 (R$ 1.500) por mês.
Usar números pode parecer uma forma objetiva de classificar a pobreza. Mas um critério subjetivo, só que verdadeiro, tem tomado forma para descrever os “novos pobres”: são as pessoas que costumavam ajudar os desfavorecidos, e agora assumem o papel de buscar ajuda.
É como disse o secretário geral de Caritas Europa, uma entidade de assistência humanitária: “Os voluntários de antes são hoje nossos beneficiários”.

Superávit primário do Governo bate recorde em 2011 e atinge R$ 93,5 bilhões

Publicado em 28/01/2012 

A economia do Governo Central (Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central) para pagar os juros da dívida pública totalizou R$ 93,519 bilhões em 2011, o melhor resultado da história e 1,9% superior à meta de R$ 91,76 bilhões. Os números foram divulgados ontem (27/01/12) pelo Tesouro Nacional.
O resultado foi 18,71% maior que o de 2010, quando o superávit primário atingiu R$ 78,773 bilhões. Apenas em dezembro, o esforço fiscal somou R$ 2,012 bilhões. O resultado é o segundo melhor da história para o mês, só perdendo para dezembro do ano anterior, quando o superávit somou R$ 14,247 bilhões.

Dívida pública cresce

A Dívida Pública Federal (DPF) cresceu 10,17% em 2011 e encerrou o ano passado em R$ 1,866 trilhão. O número foi divulgado ontem (27/01/12) pelo Tesouro Nacional, que apresentou o resultado do Governo Central -- Tesouro, Previdência Social e Banco Central -- no ano passado.

O crescimento na DPF foi puxado pela dívida mobiliária (em títulos) interna, que passou de R$ 1,603 trilhão em dezembro de 2010 para R$ 1,783 trilhão em dezembro de 2011. Em termos percentuais, a alta foi 11,17%. Apesar da alta do dólar no segundo semestre, a dívida pública externa caiu 7,55%, de R$ 90,096 bilhões no fim de 2010 para R$ 83,292 bilhões no fim do ano passado.

Apenas em dezembro, a dívida mobiliária interna subiu R$ 30,447 bilhões. Contribuiu para essa alta a emissão de R$ 15 bilhões em títulos para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social(BNDES) no mês passado. Por meio desse mecanismo, o Tesouro empresta os papéis ao banco, que os revende no mercado e amplia o capital para financiar projetos de empresas conforme a necessidade.

Em todo o ano passado, o BNDES recebeu R$ 45 bilhões do Tesouro. No início de janeiro, mais R$ 10 bilhões foram injetados na instituição, o que completou a ajuda de R$ 55 bilhões autorizada por medida provisória em março de 2011.

Apesar de ter caído no acumulado de 2011, a dívida externa subiu no mês passado, de R$ 80,925 bilhões no fim de novembro para R$ 83,292 bilhões no fim de dezembro. Os números completos da Dívida Pública Federal no ano passado serão divulgados no dia 30 de janeiro. Nesse documento, o Tesouro Nacional apresentará mais detalhes, como a composição e o prazo médio da DPF.

Por meio da dívida pública, o governo pega emprestado recursos dos investidores para honrar compromissos. Em troca, se compromete a devolver os recursos com alguma correção, que pode ser definida com antecedência, no caso dos títulos prefixados, ou seguir a variação da taxa Selic (juros básicos), da inflação ou do câmbio.



Gasto com juro da dívida cresceu 21%

Autor(es): FERNANDO NAKAGAWA , ADRIANA FERNANDES
O Estado de S. Paulo - 01/02/2012
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2012/2/1/gasto-com-juro-da-divida-cresceu-21

No ano passado, R$ 236,7 bilhões foram usados para pagar credores que têm títulos do governo federal, Estados, municípios e estatais

O setor público nunca gastou tanto para pagar os juros da dívida. No ano passado, R$ 236,7 bilhões saíram dos cofres públicos para a conta corrente dos credores que têm títulos emitidos pelo governo federal, Estados, municípios e empresas estatais, um novo recorde. A despesa, que cresceu 21% em um ano, é explicada especialmente pela subida da taxa básica da economia, a Selic, no primeiro semestre de 2011 e também pelo avanço da inflação.
Relatório do Banco Central divulgado ontem revela que a conta de juros paga no ano passado pelo setor público já é 21 vezes maior que o orçamento do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, que prevê R$ 11 bilhões neste ano.
Em 2011, a conta de juros era 15 vezes maior que o destinado à ação que constrói casas populares pelo País.
"Em reais, as contas têm tendência de elevação. Mas é preciso um olhar mais analítico", ponderou o chefe do departamento econômico do Banco Central, Túlio Maciel, ao comentar que a despesa com os juros correspondeu no ano passado a 5,7% do tamanho da economia medido pelo Produto Interno Bruto (PIB).
"A conta já foi maior no passado. Em 2007, por exemplo, somou 6,1% do PIB."
Otimista, o representante do Banco Central acredita que a despesa deve cair em 2012. Com inflação mais bem comportada e a taxa Selic em trajetória de queda, a conta deve cair mais de R$ 30 bilhões para um nível próximo de R$ 200 bilhões este ano. "Nesse sentido, as projeções são bastante favoráveis", diz Maciel.
Validade. O economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa, reconhece que a conta de juros deve recuar nos próximos meses. A boa notícia, porém, tem prazo de validade, já que a economia mais aquecida deve aumentar a inflação em breve.
"Isso vai obrigar o Banco Central a voltar a elevar o juro no início de 2013. Aí, a conta de juros volta a subir", diz.
Com a conta recorde de juros, o esforço do governo em economizar para pagar credores da dívida não foi suficiente. Em 2011, foram reservados R$ 128,7 bilhões para essa despesa no chamado "superávit primário".
O valor, porém, foi pouco mais da metade do total da conta de juros. Por isso, o ano terminou com o caixa no vermelho em R$ 107,9 bilhões.
Quando o governo não economiza o suficiente para pagar toda a conta de juros, como no ano passado, há o chamado "déficit nominal".
Dívida líquida. O Banco Central também divulgou que a dívida líquida do setor público - que é a dívida descontada dos créditos que o governo tem a receber, como as reservas internacionais - terminou o ano passado em R$ 1,5 trilhão, o equivalente a 36,5% do tamanho da economia brasileira. Um ano antes, correspondia a 39,1%.
Pelas contas de Túlio Maciel, 2012 deve terminar com o indicador ainda mais baixo, em 35,7%.

Estados e municípios melhoram resultado fiscal em 2011

Autor(es): Por Mônica Izaguirre e Murilo Rodrigues Alves | De Brasília
Valor Econômico - 01/02/2012
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2012/2/1/estados-e-municipios-melhoram-resultado-fiscal-em-2011
 

O desempenho fiscal dos Estados e municípios melhorou quase 50% em 2011, chegou bem perto do que esperava o governo federal, mas a União teve que completar R$ 1 bilhão que ficou faltando dessas esferas de poder. Os governos estaduais, suas empresas e o Distrito Federal contribuíram com R$ 35,1 bilhões para o resultado primário consolidado do setor público, valor equivalente a 97% do que havia sido projetado pelo Ministério da Fazenda.
Mesmo assim, o setor público como um todo economizou R$ 128,7 bilhões em receitas primárias e cumpriu com pequena folga a meta fixada pelo governo, de R$ 127,9 bilhões, para 2011. Como proporção do Produto Interno Bruto (PIB), o superávit primário do setor público foi de 3,11%, o maior dos últimos três anos. Isso não foi suficiente, no entanto, para evitar crescimento do déficit nominal.
Com o aumento das despesas com juros, União, Estados, municípios e estatais registraram, juntos, déficit de 2,61% do PIB nesse conceito, ante 2,48% do PIB em 2010. O resultado mostra que o país ainda está distante do déficit nominal zero, que o governo Lula chegou a pensar em fixar como meta fiscal.
Num ano que começou com a desconfiança do mercado sobre a capacidade do governo de produzir o resultado prometido, o saldo do superávit primário superou em 26,5% o do ano anterior.
Em dezembro, especificamente, o superávit foi equivalente a menos de um quinto do que em dezembro de 2010. Mas isso não é visto como tendência pelo BC, que aposta em cumprimento da meta também em 2012. O fraco desempenho no último mês do ano significa apenas que, ao perceber que a meta de 2011 já estava garantida, o governo acelerou os gastos no último mês do ano.
A conta de juros e encargos da dívida ficou mais pesada em função do aumento da taxa Selic, nos primeiros sete meses do ano, e da inflação, que indexa parte dos títulos públicos. Essas despesas chegaram a R$ 236,67 bilhões, o equivalente a 5,72% do PIB, no ano. Foi o pior resultado desde 2007 (6,11% do PIB).
Embora não tenha evitado aumento do déficit nominal, o superávit primário foi alto o suficiente para provocar queda da dívida líquida do setor público como proporção do PIB. Essa relação caiu de 39,1% para 36,5%, entre fim de 2010 e fim de 2011. Mais relevante do que o do resultado primário foi o efeito do crescimento da economia, que, isoladamente, permitiu contração de 3,5% do PIB no saldo da dívida.
O comportamento da taxa de câmbio também ajudou (impacto de 1,6% do PIB), pois a recuperação do dólar aumentou o valor em reais das reservas cambiais do BC, um dos ativos que entram na conta reduzindo a dívida pública. Para dezembro de 2012, o BC projeta dívida líquida de 35,7% do PIB, apesar de em janeiro o saldo ter subido para 37%, devido ao câmbio.
Ao comentar os números, o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, disse que eles representam a volta da situação fiscal brasileira à normalidade. Os resultados primários menores vistos em 2009 e 2010 refletiram a reação à crise internacional de 2008/2009. O governo reagiu afrouxando metas fiscais para investir e movimentar a economia.
Na opinião de Maciel, o fato de Estados e municípios não terem atingindo 100% da contribuição esperada para o superávit consolidado não é problema. Ao contrário, diz, significa que a estimativa "estava bem calibrada". Para ele, "não faz sentido buscar razões" para o suposto descumprimento da meta, porque não existe meta para o superávit dos governos regionais. Só previsão, coisa que o governo praticamente acertou.
O aumento do superávit nessas esferas, em 2011, reflete principalmente a melhora das receitas, que, nos anos anteriores, tinham sido afetadas pelos efeitos da crise externa no nível de atividade da economia doméstica. Houve recuperação principalmente das transferências recebidas da União, que cresceram 22% em relação ao ano anterior. Outra receita que teve impacto relevante no superávit do ano passado foi a do ICMS, que subiu 11%.
Graças à expressiva melhora do desempenho fiscal primário, diferentemente da União, os governos regionais viram cair o seu déficit nominal. Incluindo as estatais por eles controladas, no ano passado, o resultado nesse conceito foi negativo em R$ 20,790 bilhões, o equivalente a 0,50% do PIB. Em 2010, o déficit tinha chegado a R$ 47,502 bilhões, ou 1,26% do PIB. O déficit nominal recuou tanto nas administrações estaduais (de 1,06% para 0,37% do PIB) quanto nos governos municipais (0,19% para 0,13% do PIB).
Falando do desempenho do conjunto do setor público, o economista-chefe da Prosper, Eduardo Velho, considera que o resultado de 2011 "já estava precificado". "O que importa agora é o tamanho do ajuste deste ano", disse.
Na previsão da corretora, o corte no Orçamento deve ser maior do que o do ano passado (R$ 50 bilhões) para compensar o menor ritmo de avanço da arrecadação. "Assim como o BC, o mercado está confiante que o governo vai cumprir a meta de superávit primário."

A Matemática ao longo da História






A Matemática ao longo da História - Século XX ao Período Atual, artigo de Valderi Pacheco dos Santos e Edimar Lia



No século XX, a Matemática tinha como desafio principal a comprovação de teoremas e conjecturas até então sem solução. Isso ficou delineado após a palestra de um jovem e proeminente matemático alemão, David Hilbert, em um importante congresso em Paris em 1900. Em sua palestra, Hilbert enumerou 23 desafios que passariam a ser a obsessão dos matemáticos durante o século XX, e que, se provados, dariam à Matemática fundações lógicas sólidas. Para Hilbert, não existiam problemas insolúveis em Matemática. Costumava dizer: "Temos de saber! Iremos saber!"
 
O 1º desafio (Hipótese do Contínuo) tinha sido proposto por Georg Cantor durante o século XIX. Cantor foi o primeiro matemático na história a compreender a fundo o significado de infinito, dando-lhe precisão matemática ao diferenciar o infinito de números inteiros do infinito de frações. Este último sendo muito maior, pois apesar de ser infinito, ainda podemos adicionar infinitas novas frações entre os inteiros. Quando estas frações forem infinitesimalmente pequenas, teremos os números irracionais.
 
Diferentemente dos racionais, que apesar de infinitos são contáveis, os irracionais, além de serem infinitos são também incontáveis. Entretanto, Cantor não conseguiu resolver um impasse: Haveria um conjunto de termos entre o infinito de inteiros e o infinito de frações, ou todos correspondiam a uma única série? Esta ficou conhecida como a hipótese do contínuo, resolvida pelo americano Paul Cohen na década de 1960. Cantor era portador de um sério distúrbio psiquiátrico e, segundo muitos, teve seu quadro agravado devido a sua Matemática extremamente abstrata.
 
Além de Cantor, outro matemático do século XIX que ousou lidar com o infinito, mais precisamente com os números irracionais, foi o alemão Julius Dedekind. Utilizando a técnica de limite, ele demonstrou como se podia efetuar cortes na reta dos números racionais para incluir nela os infinitos números irracionais. Assim, números inteiros, frações e irracionais passaram todos a fazer parte de um mesmo conjunto, o dos números reais.
 
Um matemático muito influente do século XIX, o francês Henri Poincaré é o autor de um dos principais desafios matemáticos do século XX - a Conjectura de Poincaré, que se tratava de um problema de Topologia. Apesar de já ter sido criada anteriormente, a topologia atingiu outro patamar nas mãos de Poincaré. Para ele, duas formas eram topologicamente iguais se por deformação uma convertesse-se na outra sem que houvesse cortes. Segundo a conjectura de Poincaré, um universo bidimensional plano poderia curvar-se e assumir quaisquer formas possíveis, porém não se sabia a forma que um universo tridimensional poderia assumir. A solução foi dada pelo matemático russo Grisha Perelman em 2002. Porém, excêntrico e indiferente a prêmios e fama, Perelman recusou-se a receber uma Medalha Fields, equivalente ao Nobel da Matemática, bem como não aceitou cargos de professor em importantes universidades dos Estados Unidos.
 
Poincaré também lançou, ainda que acidentalmente, as bases de outra área nova da Matemática. Enquanto tentava descrever matematicamente a estabilidade de órbitas envolvendo mais de dois astros, a fim de receber um prêmio oferecido por Oscar II da Suécia, ele percebeu que cometera um erro em suas aproximações e que mesmo uma pequena alteração nas condições iniciais já era suficiente para provocar órbitas totalmente diferentes. Eram as bases daquilo que passou a ser conhecido como Teoria do Caos durante o século XX.
 
Outro matemático do século XIX que merece destaque é o francês Evariste Galois, um revolucionário republicano com inclinação para a Matemática. Precoce, aos 17 anos submeteu um artigo ao matemático Cauchy, que perdeu seu trabalho. Aos 19 anos enviou um novo trabalho à Academia de Ciências, porém, o então secretário Joseph Fourier faleceu ao levar o trabalho para análise e o texto jamais foi recuperado. Sem perspectiva, Galois alistou-se na Guarda Nacional e chegou até a ser preso. Envolvido em uma trama amorosa, foi desafiado para um duelo por causa de uma mulher. Na noite anterior ao duelo, dedicou-se a concluir um trabalho revolucionário em que desenvolveu uma nova linguagem matemática, a Teoria de Grupos, a partir da qual Galois justificou porque não havia fórmulas simples para resolver equações com grau superior a quatro.
 
No outro dia Galois foi gravemente ferido no duelo e faleceu aos 20 anos, uma grande perda para a Matemática. São os trabalhos de Galois que motivaram o 10º Desafio de Hilbert: há um método universal de resolução com números inteiros para todas as equações? Na segunda metade do século XX, o russo Yuri Matiyasevich e a americana Julia Robinson demonstraram definitivamente que não há um único método de solução envolvendo números inteiros para todas as equações.
 
Mas ainda nas primeiras décadas do século XX, a Matemática passaria por uma crise existencial, muito graças às ideias do matemático austríaco Kurt Gödel, que instalariam a incerteza no coração da Matemática. Anteriormente, por volta de 1900, com a descoberta dos trabalhos de Gauss e Riemann sobre geometria não euclidiana e a consequente contestação dos axiomas de Euclides, a Matemática deixava de ser considerada como passível de comprovação no mundo físico para tornar-se somente uma linguagem especial fundamentada em axiomas, cuja consistência lógica de suas estruturas deveria ser provada por demonstração.
 
Neste contexto, Bertrand Russel e Alfred Whitehead, na tentativa de restabelecer a ordem, em sua obra intitulada Principia Mathematica de 1910-1913, alegaram ter reduzido toda a Matemática a um sistema básico de axiomas, a partir dos quais todos os teoremas podiam ser demonstrados. Mas a crença de Russel e Whitehead, juntamente com o sonho de Hilbert, de que não existiam problemas insolúveis em Matemática, cairiam por terra com a publicação dos trabalhos de Gödel em 1930.
 
Kurt Gödel interessava-se pelo 2º Desafio de Hilbert, sobre a consistência dos axiomas da Matemática. Na busca por uma base lógica para toda a Matemática, ele propôs o Teorema da Incompletude, em que contrariava a suposição de Hilbert, demonstrando que em qualquer sistema lógico era possível existirem afirmações verdadeiras, porém impossíveis de serem provadas. Isto levava a Matemática a contradições e paradoxos. Devido às consequências que, segundo ele próprio, seu trabalho traria à confiabilidade das demonstrações de teoremas, Gödel passou a ter crises depressivas e daí por diante jamais se recuperou totalmente.
 
Mas as coisas ainda iriam piorar bastante para a Matemática europeia ao final dos anos 1930. Com o fortalecimento do Nazismo, na Alemanha e na Áustria, muitos matemáticos perderam seus cargos públicos e alguns deles, ou suicidaram-se, ou foram executados nos campos de concentração. A Europa, que tinha sido formadora de grandes matemáticos nos últimos 500 anos, saía de cena e perdia espaço para a América como protagonista na Matemática, devido à fuga de seus melhores matemáticos do regime nazista. Nomes como, Hermann Weyl, cuja pesquisa teria enorme impacto em Física Teórica; John Von Neumann, que desenvolveu a teoria dos jogos e foi pioneiro na ciência computacional; ou mesmo Albert Einstein, já famoso por suas descobertas revolucionárias.
 
Mas o grande desafio, dos 23 enumerados por Hilbert, que é considerado o Santo Graal da Matemática, é a Hipótese de Riemann, uma conjectura ainda sem solução que trata sobre a distribuição dos números primos a partir de uma função denominada Zeta de Riemann. A Hipótese de Riemann é considerada o principal desafio entre os Sete Problemas do Milênio, para os quais se oferece um milhão de dólares como prêmio pela solução, pois tem importantes consequências em Física e na teoria da informação, cuja aplicação principal está associada à criptografia.
 
Um dos grandes matemáticos do século XX e início do século XXI é Alexander Grothendieck, a quem muitos atribuem uma possível solução da hipótese de Riemann devido à sua imensa capacidade. Grothendieck foi membro de um grupo de matemáticos franceses conhecido pelo pseudônimo Nicolas Bourbaki, o qual apresentou contribuições significativas em várias áreas da Matemática, publicando um número grande de obras sobre diversos temas. Grothendieck, por sua vez, tinha interesse nas estruturas por detrás de certos padrões matemáticos e, para isto, desenvolveu uma nova linguagem que revolucionou a Matemática no século XX, a Geometria Algébrica.
 
Por fim, mais recentemente (nos séculos XX e XXI), além da procura por respostas a conjecturas ainda sem solução, a Matemática busca também a descrição exata de fenômenos naturais a nossa volta, bem como das propriedades do espaço e da matéria, a partir de antigas e novas teorias, tais como: Topologia, aperfeiçoada por Roger Penrose, com implicações da torção do espaço na relatividade; Geometria dos Fractais de Benoit Mandelbrot, que descreve dimensões fracionárias e faz aproximações mais exatas de áreas ou volumes de formas irregulares; Teoria dos Fluidos de Claude Navier e George Stokes e suas aplicações em hidrodinâmica e na engenharia automotiva e aeronáutica; Cibernética, fundada por Norbert Wiener, que estuda o controle e a comunicação em máquinas e, mais recentemente, o desenvolvimento da inteligência artificial pela robótica; Teoria da Probabilidade de Thomas Bayes, aplicada em pesquisas científicas que envolvam fenômenos populacionais, como a eficácia de uma vacina ou o estudo da ação de um medicamento; Teoria dos Jogos de John Von Neumann, com importantes implicações em economia por John Nash e no comportamento dos animais por Maynard Smith; Teoria do Caos, introduzida por Henri Poincaré e aplicada por Robert May no estudo de ciclos epidemiológicos e por Edward Lorenz em previsões climáticas; Teoria M de Edward Witten, uma evolução da teoria das cordas que contempla todas as forças de interação da matéria e unifica a Física; entre outras.
 
Referências:
1. CARL B. BOYER, História da Matemática, 3ª Ed, São Paulo: Edgard Blucher, 2010.
2. REVISTA GALILEU, Eureka - A matemática divertida e emocionante, Ed. Especial, São Paulo: Globo, 2003.
 
Sugestões de Vídeos:
1. MARCUS DU SAUTOY, The Story of Maths, BBC Four, 2008.
2. TERRY JONES, The Story of One, BBC, 2005.