domingo, 22 de janeiro de 2012

No G-20, Brasil é o segundo mais desigual

Brasil é a segunda nação mais desigual do G-20
O Globo - 20/01/2012
Estudo da ONG Oxfam mostra, no entanto, que país está entre os quatro que melhoraram a distribuição de renda
RIO e MADRI. Atrás apenas da África do Sul, o Brasil é o segundo país com maior desigualdade do G-20, segundo estudo da ONG Oxfam, voltada para o combate à pobreza e à injustiça social. Por outro lado, o país é um dos quatro do mesmo grupo - ao lado de México, Argentina e Coreia do Sul - que reduziram a desigualdade nas últimas duas décadas.
"Mesmo que o Brasil tenha avanços no combate da pobreza, ele é ainda um dos países mais desiguais do mundo, com uma agenda bem forte pendente nesta área", disse o chefe do escritório da Oxfam no Brasil, Simon Ticehurst, em entrevista à BBC Brasil.
Segundo o estudo, 12 milhões de brasileiros saíram da pobreza absoluta entre 1999 e 2009. Também houve queda da desigualdade medida pelo coeficiente de Gini - que vai de zero, o mínimo de desigualdade, a um, o máximo -, baixando de 0,52 para 0,47 no mesmo período, segundo a BBC Brasil.
Ticehurst também disse à BBC Brasil que é importante que o governo mantenha as políticas de transferência de renda, como o Bolsa Família, e que o Estado intervenha para melhorar o sistema de distribuição de renda.
"Os mercados podem criar empregos, mas não vão fazer uma redistribuição (de renda)", afirmou à versão brasileira da rede britânica.
A pesquisa prevê, ainda de acordo com a BBC Brasil, que, se o país crescer conforme as previsões anunciadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) - 3% em 2012 e acima de 4% nos anos seguintes - e mantiver a tendência de redução da desigualdade e de crescimento populacional, o número de pessoas pobres cairá quase dois terços até 2020, com menos cinco milhões de brasileiros na linha da pobreza.
Metade dos pobres do mundo está no G-20
No mundo há 1,3 bilhão de pessoas na pobreza (que vivem com menos de US$1,25 por dia). E mais da metade está nos países do G-20, segundo a Oxfam. O estudo da ONG mostra que há uma tendência "preocupante" de aumento da desigualdade nos países do G-20.
Os três países com maiores reservas internacionais - Rússia, China e Japão - foram os que mais registraram aumento da desigualdade. Já a França, o país mais equitativo do G-20 na distribuição de renda, é onde houve menos avanço na desigualdade. Alemanha, Canadá, Itália e Austrália, apresentam condições também mais iguais. Os Estados Unidos, por outro lado, é o país mais desigual entre as nações ricas.
"A experiência do Brasil, da Coreia do Sul e de vários países de renda baixa e média-baixa mostra que reduzir a desigualdade está ao alcance dos dirigentes do G-20", diz o estudo da Oxfam.
"Não existe escassez de potenciais alavancas para políticas (de redução da desigualdade). Em vez disso, talvez exista uma escassez de vontade política", acrescenta o documento. (Com El País)

Aumenta abismo social

Autor(es): » HELENA MADER
Correio Braziliense - 20/01/2012
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2012/1/20/aumenta-abismo-social
 

 Apesar de estar em queda no Brasil, estudo do Ipea revela crescimento da desigualdade entre ricos e pobres no Distrito FederalNotíciaGráfico

Duas realidades convivem na capital federal. A Brasília rica ostenta a maior renda per capita do país, com mansões à beira do lago, lojas luxuosas de marcas internacionais e servidores públicos com gordos contracheques. Mas essa pujança contrasta com a vida de cerca de 52 mil brasilienses que vivem na pobreza extrema. Pelo menos 2% dos moradores dos DF passam o mês com menos de R$ 67. E esse abismo entre os mais ricos e os mais pobres não para de crescer. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou ontem um estudo com detalhes sobre a situação social do Distrito Federal. O levantamento traz dados sobre saúde, educação, trabalho e renda e mostra que, ao contrário do que ocorreu no resto do Brasil, a desigualdade por aqui cresceu na última década.
Mudar essa realidade é um desafio para as autoridades locais e para a sociedade. O levantamento social do Ipea mostra que o número de pessoas na pobreza extrema caiu de 5,3% para 2% do total da população nos últimos 10 anos. Mas a renda dos mais abastados, sobretudo dos funcionários públicos, cresceu muito, principalmente a partir de 2006 — agravando as diferenças sociais entre as classes mais e menos favorecidas. Um retrato disso é que hoje existem 36 favelas na capital federal, segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para o diretor de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, Jorge Abrahão de Castro, o aumento da desigualdade no DF é uma "péssima notícia". Ele explica que a cidade registra uma das maiores taxas do país, ao lado do Acre, de Alagoas e da Paraíba — estados com renda per capita muito inferior à brasiliense. "De 2005 para cá, esse índice cresceu. Isso tem relação com a política de aumento salarial do setor público, que não se repete com o restante da população", justifica o especialista. "Enquanto a desigualdade está caindo no Brasil, no Distrito Federal, a proporção nunca esteve abaixo de 0,6. Em Brasília, há uma desigualdade da opulência", acrescenta Jorge Abrahão. O Índice de Gini, que mede a diferença, é usado desde 1912. Quanto mais próximo de 1, mais desigual é a sociedade. Na média brasileira, o índice é 0,54 e, no Centro-Oeste, 0,55 — ambos mais baixos que no DF.
A renda domiciliar per capita no Distrito Federal subiu de R$ 939 para R$ 1.362 na última década. Esse crescimento de 41% contribuiu para o aumento da diferença entre a renda local e a média brasileira. No país, a renda domiciliar per capita média saltou de R$ 511 para R$ 631, o que representa aumento de 23% em 10 anos.
O pedreiro Milton de Souza Porto, 41 anos, diverge da média salarial de Brasília. Ele vive em um barraco de madeirite, na região do Sol Nascente, em Ceilândia, considerada a segunda maior favela do Brasil. Sem emprego fixo, ele ganha de R$ 300 a R$ 400 por mês e a sua residência improvisada não conta sequer com fogão. Enquanto ele falava com a reportagem, os vizinhos cozinhavam em uma chama improvisada sobre tijolos. O cheiro forte de fumaça era desviado diretamente para os barracos. "Faço o que posso para me virar, mas a vida é difícil. Conseguir emprego com carteira assinada é complicado, então, me viro fazendo bicos de pedreiro quando encontro oportunidade", comentou Milton.
O técnico em manutenção hidráulica Antônio Carlos Araújo da Cruz também enfrenta dificuldades para viver em Brasília. Ele ganha menos do que um salário mínimo para sustentar a família, que cresceu com a chegada da pequena Júlia, 10 meses. "O pior é ter que morar em uma rua sem asfalto, sem esgoto e sem creche. Fico com medo por causa da minha filha, que é muito pequena e pode acabar pegando uma doença", comenta Antônio Carlos, que, há seis anos, vive no Sol Nascente.
Entorno
Os dados de desigualdade do Distrito Federal poderiam ser ainda piores, se levassem em consideração a população do Entorno. Apesar de a população dos municípios goianos vizinhos ao DF depender social e economicamente da capital, as informações dessas comunidades não são computadas aos levantamentos locais. "O Entorno não entra nas estatísticas por uma questão política, mas, economicamente, há uma influência muito grande", garante o diretor de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, Jorge Abrahão.
O diretor da Companhia de Planejamento do Distrito Federal, Osvaldo Russo, reconhece o problema e diz que no DF a desigualdade é "estrutural". Para ele, é complicado combater a pobreza extrema na capital porque a população nessa situação compõe "um núcleo duro muito forte". "O processo de geração de trabalho e renda para essas pessoas é complicado, já que as exigências de qualificação para o mercado de trabalho são muito grandes", explica o estatístico. "Por isso é importante desenvolver políticas públicas que ampliem o mercado de trabalho fora do serviço público, com qualificação de pessoal", acrescenta Russo.
Fontes de pesquisa
O levantamento social realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) foi baseado em dados de fontes como a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, realizada pelo IBGE. Além disso, os técnicos coletaram informações de outras fontes, como a Rede de Informações para a Saúde, do Ministério da Saúde. Ontem, foram divulgados os estudos do DF e de Vitória, os primeiros a serem concluídos.

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