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Por Karla Spotorno | Para o Valor, de Salvador
Sexta maior economia do país, quarto Estado em população e o quinto em território, a Bahia possui o maior complexo industrial integrado da América do Sul e desenvolveu com sucesso a indústria química, petroquímica e mineradora. No agronegócio, causa inveja a produtores do Sul, Sudeste e Centro-Oeste com alguns dos melhores indicadores de produtividade e qualidade do mundo. Para completar, conta com três biomas diferentes, mais de mil quilômetros de costa e responde por 31% da economia do Nordeste e 47% da corrente comercial da região. Tranquilamente, o Estado poderia ser considerado rico, não fossem uma das mais altas taxas de analfabetismo, de desemprego e o maior número de habitantes na extrema pobreza entre os 27 Estados do Brasil.
Capaz de mitigar parte de tamanho contraste, um novo ciclo de investimentos tomou a região. Segundo um relatório do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, a Bahia foi o quarto Estado em atração de projetos privados em 2011. Ficou atrás de Minas Gerais, São Paulo e do campeão Rio de Janeiro - inflado com o efeito multiplicador dos investimentos do pré-sal. Pelos cálculos do governo baiano, a economia verá em cinco anos a consolidação de mais de R$ 70 bilhões em iniciativas públicas e privadas com um diferencial. Mais de 60% desse montante está fora da região metropolitana de Salvador. Historicamente, o entorno da capital lidera a captação de recursos e geração de empregos em razão do polo de Camaçari e do centro industrial de Aratu.
A concentração ao redor da capital baiana pode ser explicada por alguns fatores. Um deles é a refinaria Landulpho Alves. A segunda maior planta de refino da Petrobras começou a ser construída em 1949, antes mesmo da fundação da companhia. Ao redor, foram surgindo empresas da cadeia petroquímica - central de matérias-primas, indústrias da segunda e terceira gerações. Um bom exemplo dessa evolução é o fato de 44% dos pneus produzidos no país virem de fábricas instaladas na Bahia. Outro fator importante é a proximidade ao mar, a portos e a rodovias. Com um território maior que o da França, o Estado baiano desenvolveu-se na faixa perto do litoral e onde havia condições logísticas.
Outro fator sempre pesou para a concentração espacial das riquezas, segundo José Geraldo dos Reis Santos, diretor-geral da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais (SEI) da Bahia. "Quase 30% da população está na zona rural. Dessa parcela, 32,9% encontram-se em extrema pobreza, vivendo em municípios pequenos [cerca de 60% dos municípios baianos têm até 20 mil habitantes]", afirma Santos.
A Bahia tornou-se um dos Estados mais beneficiados por programas sociais federais. Possui 1 milhão de aposentados rurais, 359 mil pessoas que recebem o Benefício por Prestação Continuada e 1,7 milhão de beneficiários do Bolsa Família. É o Estado brasileiro com o maior número de famílias cadastradas nesse programa. Somados somente os últimos dois benefícios, a Bahia recebeu entre janeiro e outubro do ano passado mais de R$ 3,7 bilhões - o equivalente ao investimento de 4,1 novas fábricas de automóveis iguais à Jac Motors.
Para o economista Genilson Santana, do Santander, outra característica da economia baiana deve ser motivo de alerta. Há uma concentração em fabricantes de produtos com preços fixados pelo comércio internacional. Santana afirma que mais de 50% do PIB da indústria baiana depende das exportações, enquanto a média brasileira é de 10%. O resultado é um ambiente mais suscetível a crises externas. Além disso, a economia concentra-se em companhias de capital intensivo. "Essa indústria exige planejamento de longo prazo. Um novo ciclo de investimento demora a ser feito."
Aos poucos, contudo, essas características começam a mudar. Um exemplo é a nova política industrial do Estado, anunciada no final de novembro. A verticalização de algumas cadeias produtivas e o incentivo ao surgimento de pequenos empreendedores fazem parte do projeto. "A diversificação a partir de micro e pequenas empresas é um dos vetores que estabelecemos para a economia", afirma o governador Jaques Wagner (PT).
"O Estado já conta com 650 mil famílias que vivem da AGRICULTURA FAMILIAR, temos um programa para artesanato, uma "lei de compras" [que dá prioridade aos pequenos empreendedores]. E há vários exemplos bem-sucedidos, como uma fábrica de chocolate baseada na AGRICULTURA FAMILIAR em Ibicaraí e uma cooperativa produtora de fécula de mandioca, com mais de 2.600 participantes, em Vitória da Conquista."
Outro vetor de crescimento é a interiorização, segundo o governador. O oeste baiano possui algumas das cidades que mais crescem graças ao agronegócio. A mineração acelera a chegada do desenvolvimento regional. A Bahia é o Estado com o maior número de pedidos de pesquisa. "Em mineração, fizemos mais leilões do que nos últimos 15 anos", afirma.
Os investimentos já começam a ter resultados macroeconômicos. Nos últimos sete anos, o Estado cresceu a uma taxa anual superior à média do país. Enquanto o Brasil cresceu em média 3,5%, a Bahia teve uma expansão de 4,2%. O Estado também conseguiu resultados sociais maiores. Enquanto o percentual de pobres caiu de 12% para 5% no Brasil entre 2003 e 2009, a queda na Bahia foi de 24,4% para 9,8%, segundo os critérios do Banco Mundial.
Para José de Freitas Mascarenhas, presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), um obstáculo importante está na infraestrutura para movimentação de cargas e logística. "É preciso melhorar a competitividade de nossa economia, sobretudo na questão portuária. Queremos um porto moderno." Ele defende a concessão portuária para que a iniciativa privada possa construir uma solução logística ampla, pronta para atender diferentes empresas. "Precisamos de uma solução que sirva para todo mundo, e não medidas que atendam uma ou outra empresa."
Sexta maior economia do país, quarto Estado em população e o quinto em território, a Bahia possui o maior complexo industrial integrado da América do Sul e desenvolveu com sucesso a indústria química, petroquímica e mineradora. No agronegócio, causa inveja a produtores do Sul, Sudeste e Centro-Oeste com alguns dos melhores indicadores de produtividade e qualidade do mundo. Para completar, conta com três biomas diferentes, mais de mil quilômetros de costa e responde por 31% da economia do Nordeste e 47% da corrente comercial da região. Tranquilamente, o Estado poderia ser considerado rico, não fossem uma das mais altas taxas de analfabetismo, de desemprego e o maior número de habitantes na extrema pobreza entre os 27 Estados do Brasil.
Capaz de mitigar parte de tamanho contraste, um novo ciclo de investimentos tomou a região. Segundo um relatório do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, a Bahia foi o quarto Estado em atração de projetos privados em 2011. Ficou atrás de Minas Gerais, São Paulo e do campeão Rio de Janeiro - inflado com o efeito multiplicador dos investimentos do pré-sal. Pelos cálculos do governo baiano, a economia verá em cinco anos a consolidação de mais de R$ 70 bilhões em iniciativas públicas e privadas com um diferencial. Mais de 60% desse montante está fora da região metropolitana de Salvador. Historicamente, o entorno da capital lidera a captação de recursos e geração de empregos em razão do polo de Camaçari e do centro industrial de Aratu.
A concentração ao redor da capital baiana pode ser explicada por alguns fatores. Um deles é a refinaria Landulpho Alves. A segunda maior planta de refino da Petrobras começou a ser construída em 1949, antes mesmo da fundação da companhia. Ao redor, foram surgindo empresas da cadeia petroquímica - central de matérias-primas, indústrias da segunda e terceira gerações. Um bom exemplo dessa evolução é o fato de 44% dos pneus produzidos no país virem de fábricas instaladas na Bahia. Outro fator importante é a proximidade ao mar, a portos e a rodovias. Com um território maior que o da França, o Estado baiano desenvolveu-se na faixa perto do litoral e onde havia condições logísticas.
Outro fator sempre pesou para a concentração espacial das riquezas, segundo José Geraldo dos Reis Santos, diretor-geral da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais (SEI) da Bahia. "Quase 30% da população está na zona rural. Dessa parcela, 32,9% encontram-se em extrema pobreza, vivendo em municípios pequenos [cerca de 60% dos municípios baianos têm até 20 mil habitantes]", afirma Santos.
A Bahia tornou-se um dos Estados mais beneficiados por programas sociais federais. Possui 1 milhão de aposentados rurais, 359 mil pessoas que recebem o Benefício por Prestação Continuada e 1,7 milhão de beneficiários do Bolsa Família. É o Estado brasileiro com o maior número de famílias cadastradas nesse programa. Somados somente os últimos dois benefícios, a Bahia recebeu entre janeiro e outubro do ano passado mais de R$ 3,7 bilhões - o equivalente ao investimento de 4,1 novas fábricas de automóveis iguais à Jac Motors.
Para o economista Genilson Santana, do Santander, outra característica da economia baiana deve ser motivo de alerta. Há uma concentração em fabricantes de produtos com preços fixados pelo comércio internacional. Santana afirma que mais de 50% do PIB da indústria baiana depende das exportações, enquanto a média brasileira é de 10%. O resultado é um ambiente mais suscetível a crises externas. Além disso, a economia concentra-se em companhias de capital intensivo. "Essa indústria exige planejamento de longo prazo. Um novo ciclo de investimento demora a ser feito."
Aos poucos, contudo, essas características começam a mudar. Um exemplo é a nova política industrial do Estado, anunciada no final de novembro. A verticalização de algumas cadeias produtivas e o incentivo ao surgimento de pequenos empreendedores fazem parte do projeto. "A diversificação a partir de micro e pequenas empresas é um dos vetores que estabelecemos para a economia", afirma o governador Jaques Wagner (PT).
"O Estado já conta com 650 mil famílias que vivem da AGRICULTURA FAMILIAR, temos um programa para artesanato, uma "lei de compras" [que dá prioridade aos pequenos empreendedores]. E há vários exemplos bem-sucedidos, como uma fábrica de chocolate baseada na AGRICULTURA FAMILIAR em Ibicaraí e uma cooperativa produtora de fécula de mandioca, com mais de 2.600 participantes, em Vitória da Conquista."
Outro vetor de crescimento é a interiorização, segundo o governador. O oeste baiano possui algumas das cidades que mais crescem graças ao agronegócio. A mineração acelera a chegada do desenvolvimento regional. A Bahia é o Estado com o maior número de pedidos de pesquisa. "Em mineração, fizemos mais leilões do que nos últimos 15 anos", afirma.
Os investimentos já começam a ter resultados macroeconômicos. Nos últimos sete anos, o Estado cresceu a uma taxa anual superior à média do país. Enquanto o Brasil cresceu em média 3,5%, a Bahia teve uma expansão de 4,2%. O Estado também conseguiu resultados sociais maiores. Enquanto o percentual de pobres caiu de 12% para 5% no Brasil entre 2003 e 2009, a queda na Bahia foi de 24,4% para 9,8%, segundo os critérios do Banco Mundial.
Para José de Freitas Mascarenhas, presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), um obstáculo importante está na infraestrutura para movimentação de cargas e logística. "É preciso melhorar a competitividade de nossa economia, sobretudo na questão portuária. Queremos um porto moderno." Ele defende a concessão portuária para que a iniciativa privada possa construir uma solução logística ampla, pronta para atender diferentes empresas. "Precisamos de uma solução que sirva para todo mundo, e não medidas que atendam uma ou outra empresa."
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Oeste tem melhor produtividade do mundo em grãos
O começo, nos anos 1980, não parecia promissor. O solo, relativamente pobre se comparado ao de outras regiões, não incendiava a imaginação de ninguém. A região era desacreditada; dizia-se que cerrado só dado ou herdado, diz Walter Horita, presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba). Ocupado depois de Mato Grosso e Goiás, o cerrado baiano tinha como atrativo o baixo preço da terra. Também pesou a favor os incentivos concedidos pelo governo federal, como o programa Desenvovimento dos Cerrados (Prodecer), para estimular a atividade agrícola nessas áreas.Trinta anos depois, as vantagens da agricultura no cerrado podem ser exemplificadas pela alta produtividade obtida em várias lavouras, como soja, milho e algodão. De acordo com levantamento da COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB), divulgado em dezembro, a produtividade do algodão em caroço é de 3.900 quilos por hectare na Bahia, Mato Grosso do Sul e Goiás - a maior do Brasil na safra 2011/12. Aqui estão os recordes mundiais de produtividade em culturas como soja e milho e, se considerado o algodão de sequeiro, também somos os maiores do mundo, diz o presidente da Aiba.
O carro-chefe do Oeste Baiano é a produção de soja, milho e algodão. Para a safra 2011/2012, segundo a Aiba, a soja ocupa 1 milhão de hectares, correspondendo à totalidade da área cultivada com a oleaginosa na Bahia, e a 5% da produção no Brasil. O milho ocupará 210 mil hectares, aumento de 37% em relação à safra anterior. O grão cultivado no Oeste corresponde a 27% da área plantada na Bahia e a 85% da produção.
O presidente da Aiba afirma que, na safra 2010/11, o Oeste Baiano bateu recordes mundiais de produtividade, registrando 56 sacas de 60 quilos por hectare de soja, 163 sacas por hectare de milho e 270 arrobas por hectare de algodão. (E.C.R.)
O carro-chefe do Oeste Baiano é a produção de soja, milho e algodão. Para a safra 2011/2012, segundo a Aiba, a soja ocupa 1 milhão de hectares, correspondendo à totalidade da área cultivada com a oleaginosa na Bahia, e a 5% da produção no Brasil. O milho ocupará 210 mil hectares, aumento de 37% em relação à safra anterior. O grão cultivado no Oeste corresponde a 27% da área plantada na Bahia e a 85% da produção.
O presidente da Aiba afirma que, na safra 2010/11, o Oeste Baiano bateu recordes mundiais de produtividade, registrando 56 sacas de 60 quilos por hectare de soja, 163 sacas por hectare de milho e 270 arrobas por hectare de algodão. (E.C.R.)
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Mais diversidade para poder crescer
Por Karla Spotorno | Para o Valor,de Salvador
Edson Ruiz/Valor / Edson Ruiz/ValorWagner: taxa de analfabetismo no Estado caiu 6,22 pontos percentuais entre 2001 e 2010, e a taxa brasileira, 2,78
O governador Jaques Wagner (PT) começa o segundo ano de seu segundo mandato com um desafio. Precisa aproveitar o bom momento da economia baiana para por em prática grandes projetos de infraestrutura e acompanhar de perto o andamento dos investimentos privados. Entre as diretrizes, estão interiorizar o desenvolvimento, diversificar a economia e ajudar na geração de micro e pequenos empreendimentos. Carioca de uma família judia de classe média e soteropolitano há quase 40 anos, o governador garante que "as energias estão muito mais soltas" na Bahia - especialmente para fazer negócios.
Valor: Em 2011, a Bahia recebeu investimentos da Basf, da Braskem, da Jac Motors, do Boticário, entre outros. Foi um ano recorde em novos projetos industriais?
Jaques Wagner: Não diria que o ano foi recorde. Os investimentos anunciados são fruto de um trabalho de muito tempo e não de um ano. É preciso entender que o Brasil está colhendo os bons resultados do controle macroeconômico que começou antes mesmo do governo Lula. E a Bahia está dentro desse cenário. A economia baiana tem características importantes que ajudam a compreender essa onda de investimentos. Somos o quinto território e a quarta maior população no país e temos três biomas muito ricos: a Mata Atlântica, o cerrado e a caatinga. Essa região semiárida é a mais pobre do Estado. Mas se você olhar, há algumas áreas desenvolvidas de grande excelência. O melhor café da Bahia vem dessa região. Temos produção de uva, de maçã, de azeitonas. As duas maiores cidades do Estado depois de Salvador (Feira de Santana e Vitória da Conquista) estão nessa região. Ou seja, é uma área com condições de se desenvolver mais. Na região da Mata Atlântica, estão os grandes fabricantes de papel e celulose e as maiores produtividades em floresta do mundo. No cerrado baiano, os produtores agrícolas conseguem índices de produtividade impressionantes de soja, algodão, milho.
Valor: Apesar dessa diversidade da economia baiana, que tem agronegócio, indústria de celulose, petroquímica, química, mineração, há uma concentração em atividades econômicas voltadas para o mercado externo. Cerca de 50% do PIB depende das exportações, enquanto o PIB brasileiro depende em 10% das vendas ao exterior. Como o Estado tem trabalhado para depender menos do comércio internacional?
Wagner: Essa é uma estrutura que não se muda da noite para o dia. Nossa preocupação é trazer empresas de bens de consumo e verticalizar algumas cadeias, como a do café, da soja, da algodão. Temos uma das melhores produções de algodão do país e nenhuma fiação e tecelagem no Estado. Quando tivermos mais indústrias produzindo e vendendo aqui, vou reduzir o problema de ter a indústria instalada aqui, comprando insumo de outros Estados e vendendo para outros países. Essa situação gera um custo em razão da Lei Kandir e pela estrutura fiscal do ICMS. Para mudar o cenário, definimos três nortes na nossa estratégia. Um é interiorizar. Em cinco anos do governo do PT no Estado, foram gerados 470 mil empregos formais com carteira assinada. Cerca de metade no interior. O outro norte é diversificar. Um exemplo é a setor da energia eólica que atraiu multinacionais, entre elas a General Electric. Pelos estudos, a Bahia tem "uma Itaipu e meia" em capacidade de geração de energia e é a segunda maior jazida de ventos do Brasil. O terceiro vetor de crescimento é o estímulo aos micro e pequenos empreendimentos. Criamos um programa para o artesanato, um selo para AGRICULTURA FAMILIAR. Isso é uma forma de reduzir a dependência que a economia baiana tem de grandes empresas.
Valor: A taxa de desemprego na Bahia é a mais alta do Brasil e quase o dobro da média brasileira segundo o IBGE. Alguns especialistas dizem que é uma vantagem ter excedente de mão de obra quando se caminha para o pleno emprego. Como o senhor encara esse problema?
Wagner: Os nossos números, mesmo sendo grandes, são declinantes. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, do Ministério do Trabalho (Caged), a Bahia tem gerado cerca de seis de cada dez novos empregos no Nordeste. Não sei se eu concordo com a tese de que esse excedente é bom, porque não há mão de obra especializada em excesso. Quem está desempregado precisa passar por uma qualificação para entrar no mercado de trabalho. Esse é nosso grande desafio.
Valor: Como o Estado tem trabalhado para contribuir para a qualificação da mão de obra e também para reduzir o analfabetismo?
Wagner: O analfabetismo é um problema estrutural na Bahia. É o retrato mais agudo da desigualdade historicamente existente no Estado. Quando assumimos o governo pela primeira vez, em 2007, decidimos mergulhar nos problemas sociais. Desde então, conseguimos alfabetizar mais de 850 mil pessoas com o Todos pela Alfabetização (Topa). Tem sido um verdadeiro mutirão, e os resultados aparecem. A Bahia é o Estado com o maior avanço em problemas sociais como esse. A taxa de analfabetismo caiu 6,22 pontos percentuais entre 2001 e 2010, e a taxa brasileira 2,78.
Valor: Em 2012, quais são as suas prioridades?
Wagner: Não dá para ficar inventando muita coisa neste ano. Tenho de manter o foco. A prioridade da minha gestão continua sendo a inclusão produtiva e social. Quero continuar gerando emprego e estimulando o empreendedorismo no Estado. Na prática, tenho mais dois anos e meio de governo. Em junho de 2014, já começa a disputa eleitoral. Por isso, não posso mudar o foco. Agora, é trabalhar para ver a realização dos projetos em infraestrutura e de melhoria da máquina pública.
Edson Ruiz/Valor / Edson Ruiz/ValorWagner: taxa de analfabetismo no Estado caiu 6,22 pontos percentuais entre 2001 e 2010, e a taxa brasileira, 2,78
O governador Jaques Wagner (PT) começa o segundo ano de seu segundo mandato com um desafio. Precisa aproveitar o bom momento da economia baiana para por em prática grandes projetos de infraestrutura e acompanhar de perto o andamento dos investimentos privados. Entre as diretrizes, estão interiorizar o desenvolvimento, diversificar a economia e ajudar na geração de micro e pequenos empreendimentos. Carioca de uma família judia de classe média e soteropolitano há quase 40 anos, o governador garante que "as energias estão muito mais soltas" na Bahia - especialmente para fazer negócios.
Valor: Em 2011, a Bahia recebeu investimentos da Basf, da Braskem, da Jac Motors, do Boticário, entre outros. Foi um ano recorde em novos projetos industriais?
Jaques Wagner: Não diria que o ano foi recorde. Os investimentos anunciados são fruto de um trabalho de muito tempo e não de um ano. É preciso entender que o Brasil está colhendo os bons resultados do controle macroeconômico que começou antes mesmo do governo Lula. E a Bahia está dentro desse cenário. A economia baiana tem características importantes que ajudam a compreender essa onda de investimentos. Somos o quinto território e a quarta maior população no país e temos três biomas muito ricos: a Mata Atlântica, o cerrado e a caatinga. Essa região semiárida é a mais pobre do Estado. Mas se você olhar, há algumas áreas desenvolvidas de grande excelência. O melhor café da Bahia vem dessa região. Temos produção de uva, de maçã, de azeitonas. As duas maiores cidades do Estado depois de Salvador (Feira de Santana e Vitória da Conquista) estão nessa região. Ou seja, é uma área com condições de se desenvolver mais. Na região da Mata Atlântica, estão os grandes fabricantes de papel e celulose e as maiores produtividades em floresta do mundo. No cerrado baiano, os produtores agrícolas conseguem índices de produtividade impressionantes de soja, algodão, milho.
Valor: Apesar dessa diversidade da economia baiana, que tem agronegócio, indústria de celulose, petroquímica, química, mineração, há uma concentração em atividades econômicas voltadas para o mercado externo. Cerca de 50% do PIB depende das exportações, enquanto o PIB brasileiro depende em 10% das vendas ao exterior. Como o Estado tem trabalhado para depender menos do comércio internacional?
Wagner: Essa é uma estrutura que não se muda da noite para o dia. Nossa preocupação é trazer empresas de bens de consumo e verticalizar algumas cadeias, como a do café, da soja, da algodão. Temos uma das melhores produções de algodão do país e nenhuma fiação e tecelagem no Estado. Quando tivermos mais indústrias produzindo e vendendo aqui, vou reduzir o problema de ter a indústria instalada aqui, comprando insumo de outros Estados e vendendo para outros países. Essa situação gera um custo em razão da Lei Kandir e pela estrutura fiscal do ICMS. Para mudar o cenário, definimos três nortes na nossa estratégia. Um é interiorizar. Em cinco anos do governo do PT no Estado, foram gerados 470 mil empregos formais com carteira assinada. Cerca de metade no interior. O outro norte é diversificar. Um exemplo é a setor da energia eólica que atraiu multinacionais, entre elas a General Electric. Pelos estudos, a Bahia tem "uma Itaipu e meia" em capacidade de geração de energia e é a segunda maior jazida de ventos do Brasil. O terceiro vetor de crescimento é o estímulo aos micro e pequenos empreendimentos. Criamos um programa para o artesanato, um selo para AGRICULTURA FAMILIAR. Isso é uma forma de reduzir a dependência que a economia baiana tem de grandes empresas.
Valor: A taxa de desemprego na Bahia é a mais alta do Brasil e quase o dobro da média brasileira segundo o IBGE. Alguns especialistas dizem que é uma vantagem ter excedente de mão de obra quando se caminha para o pleno emprego. Como o senhor encara esse problema?
Wagner: Os nossos números, mesmo sendo grandes, são declinantes. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, do Ministério do Trabalho (Caged), a Bahia tem gerado cerca de seis de cada dez novos empregos no Nordeste. Não sei se eu concordo com a tese de que esse excedente é bom, porque não há mão de obra especializada em excesso. Quem está desempregado precisa passar por uma qualificação para entrar no mercado de trabalho. Esse é nosso grande desafio.
Valor: Como o Estado tem trabalhado para contribuir para a qualificação da mão de obra e também para reduzir o analfabetismo?
Wagner: O analfabetismo é um problema estrutural na Bahia. É o retrato mais agudo da desigualdade historicamente existente no Estado. Quando assumimos o governo pela primeira vez, em 2007, decidimos mergulhar nos problemas sociais. Desde então, conseguimos alfabetizar mais de 850 mil pessoas com o Todos pela Alfabetização (Topa). Tem sido um verdadeiro mutirão, e os resultados aparecem. A Bahia é o Estado com o maior avanço em problemas sociais como esse. A taxa de analfabetismo caiu 6,22 pontos percentuais entre 2001 e 2010, e a taxa brasileira 2,78.
Valor: Em 2012, quais são as suas prioridades?
Wagner: Não dá para ficar inventando muita coisa neste ano. Tenho de manter o foco. A prioridade da minha gestão continua sendo a inclusão produtiva e social. Quero continuar gerando emprego e estimulando o empreendedorismo no Estado. Na prática, tenho mais dois anos e meio de governo. Em junho de 2014, já começa a disputa eleitoral. Por isso, não posso mudar o foco. Agora, é trabalhar para ver a realização dos projetos em infraestrutura e de melhoria da máquina pública.
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Investimentos ultrapassam R$ 70 bilhões
Por Karla Spotorno | Para o Valor, de Salvador
Um fluxo bilionário de investimentos nos próximos anos tem condições de mudar as características da economia baiana. O governo estadual calcula a injeção de mais de R$ 70 bilhões em projetos industriais, comerciais e também em infraestrutura, com geração de 80 mil empregos nos próximos cinco anos. Menos de 40% desse montante será aplicado na região metropolitana de Salvador, historicamente o principal destino dos investimentos na Bahia. A mudança é importante e contribui para desenvolver o interior do Estado. "É um novo paradigma. As pessoas sempre olharam para o litoral e para fora do Estado e ignoravam o interior. Nossa meta é a interiorização do desenvolvimento econômico", diz Zezéu Ribeiro, secretário estadual do planejamento da Bahia.
Os investimentos ocorrem em várias áreas. Os setores naval, químico, automotivo, de mineração, petróleo, celulose e borracha recebem alguns dos maiores aportes. Mas há também projetos na indústria de cosméticos, alimentos e bebidas, calçados e têxteis que contribuem para mudar a estrutura econômica concentrada na indústria da transformação e localizada próximo de Salvador.
Para atrair o capital privado, o governo mapeou as vocações regionais dividindo o Estado em Territórios de Identidade. São 27 regiões com características culturais, produtivas e geográficas semelhantes. Nessas áreas, em grande parte formadas por cidades com menos de 20 mil habitantes, são organizados consórcios públicos para a realização de obras e projetos comuns. "Já criamos nove consórcios e outros seis estão em formação", afirma Ribeiro.
A perspectiva na área logística é um atrativo importante, na opinião de James Correia, secretário estadual de indústria, comércio e mineração. "Começamos a ser vistos pelos investidores [especialmente do agronegócio e mineração] como um Estado com logística boa e barata", diz Correia. Um projeto grandioso e polêmico que beneficiará o transporte de GRÃOS e minérios é o Complexo Porto Sul. O projeto de R$ 8,1 bilhões prevê a construção de um conjunto industrial e portuário na região de Ilhéus com capacidade para movimentar 40 milhões de toneladas de cargas por ano e gerar 10 mil empregos diretos e indiretos.
O complexo foi criticado por ambientalistas, que apontam prejuízos à população, à fauna e à flora, mas segue em construção. O porto estará interligado à Ferrovia Oeste-Leste, que ligará a região de produção de soja, milho e algodão ao Oceano Atlântico.
Além do Complexo Porto Sul, o governo estadual prevê investimentos nos portos do polo industrial de Aratu e também no de Salvador. Na capital baiana, a intenção é criar um terminal de passageiros para receber os milhares de turistas que chegam à cidade pelos cruzeiros marítimos. Entre o fim de 2011 e o primeiro semestre deste ano, a expectativa é que 114 navios atraquem no porto soteropolitano. Nos aeroportos do Estado, foram anunciadas ampliações e melhorias em Salvador, Ilhéus, Vitória da Conquista, Luís Eduardo Magalhães e Porto Seguro. O investimento estimado chega a R$ 355,1 milhões.
Um dos grandes desafios dos empresários que chegam à Bahia está na busca de profissionais qualificados. A taxa de desemprego em 8,4% somada à taxa de analfabetismo de 16,6% sinalizam a falta de trabalhadores preparados para aproveitar as novas oportunidades de trabalho. Para mitigar esse grave problema social, o governo estadual realiza um projeto de alfabetização - que já capacitou 850 mil pessoas - e investe em cursos técnicos. Nos últimos cinco anos, multiplicou por 12 o número de alunos matriculados em programas de educação profissional. "O número de escolas técnicas passou de 34 em 2006 para 140 em 2011. Nossa preocupação está em formar técnicos e operadores", afirma Ribeiro.
Um fluxo bilionário de investimentos nos próximos anos tem condições de mudar as características da economia baiana. O governo estadual calcula a injeção de mais de R$ 70 bilhões em projetos industriais, comerciais e também em infraestrutura, com geração de 80 mil empregos nos próximos cinco anos. Menos de 40% desse montante será aplicado na região metropolitana de Salvador, historicamente o principal destino dos investimentos na Bahia. A mudança é importante e contribui para desenvolver o interior do Estado. "É um novo paradigma. As pessoas sempre olharam para o litoral e para fora do Estado e ignoravam o interior. Nossa meta é a interiorização do desenvolvimento econômico", diz Zezéu Ribeiro, secretário estadual do planejamento da Bahia.
Os investimentos ocorrem em várias áreas. Os setores naval, químico, automotivo, de mineração, petróleo, celulose e borracha recebem alguns dos maiores aportes. Mas há também projetos na indústria de cosméticos, alimentos e bebidas, calçados e têxteis que contribuem para mudar a estrutura econômica concentrada na indústria da transformação e localizada próximo de Salvador.
Para atrair o capital privado, o governo mapeou as vocações regionais dividindo o Estado em Territórios de Identidade. São 27 regiões com características culturais, produtivas e geográficas semelhantes. Nessas áreas, em grande parte formadas por cidades com menos de 20 mil habitantes, são organizados consórcios públicos para a realização de obras e projetos comuns. "Já criamos nove consórcios e outros seis estão em formação", afirma Ribeiro.
A perspectiva na área logística é um atrativo importante, na opinião de James Correia, secretário estadual de indústria, comércio e mineração. "Começamos a ser vistos pelos investidores [especialmente do agronegócio e mineração] como um Estado com logística boa e barata", diz Correia. Um projeto grandioso e polêmico que beneficiará o transporte de GRÃOS e minérios é o Complexo Porto Sul. O projeto de R$ 8,1 bilhões prevê a construção de um conjunto industrial e portuário na região de Ilhéus com capacidade para movimentar 40 milhões de toneladas de cargas por ano e gerar 10 mil empregos diretos e indiretos.
O complexo foi criticado por ambientalistas, que apontam prejuízos à população, à fauna e à flora, mas segue em construção. O porto estará interligado à Ferrovia Oeste-Leste, que ligará a região de produção de soja, milho e algodão ao Oceano Atlântico.
Além do Complexo Porto Sul, o governo estadual prevê investimentos nos portos do polo industrial de Aratu e também no de Salvador. Na capital baiana, a intenção é criar um terminal de passageiros para receber os milhares de turistas que chegam à cidade pelos cruzeiros marítimos. Entre o fim de 2011 e o primeiro semestre deste ano, a expectativa é que 114 navios atraquem no porto soteropolitano. Nos aeroportos do Estado, foram anunciadas ampliações e melhorias em Salvador, Ilhéus, Vitória da Conquista, Luís Eduardo Magalhães e Porto Seguro. O investimento estimado chega a R$ 355,1 milhões.
Um dos grandes desafios dos empresários que chegam à Bahia está na busca de profissionais qualificados. A taxa de desemprego em 8,4% somada à taxa de analfabetismo de 16,6% sinalizam a falta de trabalhadores preparados para aproveitar as novas oportunidades de trabalho. Para mitigar esse grave problema social, o governo estadual realiza um projeto de alfabetização - que já capacitou 850 mil pessoas - e investe em cursos técnicos. Nos últimos cinco anos, multiplicou por 12 o número de alunos matriculados em programas de educação profissional. "O número de escolas técnicas passou de 34 em 2006 para 140 em 2011. Nossa preocupação está em formar técnicos e operadores", afirma Ribeiro.
Recursos para modernizar portos
Valor Econômico - 18/01/2012 http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2012/1/18/recursos-para-modernizar-portos |
Os dois principais projetos no setor de transporte em implantação na Bahia envolvem cifras expressivas e seguem o modelo de integração intermodal. Um é voltado para o terminal de contêineres de Salvador, como R$ 700 milhões entre obras viárias, dragagem, pátios e equipamentos. A segunda obra, a ferrovia Oeste-Leste, é um megaprojeto de corredor de exportações de R$ 6 bilhões e 1,5 mil quilômetros, que desemboca em um porto de primeira classe no litoral sul do Estado. No centro da discussão sobre o sistema portuário baiano, José Rebouças, presidente da Companhia Docas do Estado da Bahia, admite que houve defasagem nos investimentos nos portos, mas afirma que a situação deve ser revertida com as obras recentes e futuras licitações de terminais nos portos administrados pela empresa. No caso dos contêineres, ele prevê uma revolução no transporte a partir de 2014, quando ficam prontas as obras de expansão do Canal do Panamá - trazendo grandes navios para o litoral brasileiro e para o terminal de Salvador, agora adaptado a embarcações de maior porte. A principal obra em favor do terminal de contêineres de Salvador é a Via Expressa Baía de Todos os Santos, que liga a BR-324, principal acesso viário da capital, ao porto, investimento de R$ 390 milhões, com previsão de conclusão para 2012. O governo federal assumiu ainda a dragagem do canal de acesso ao terminal, investindo mais R$ 110 milhões. Outros R$ 180 milhões foram gastos pela Wilson, Sons, operador do terminal de contêineres, para aquisição de guindastes e equipamentos. Com os investimentos, a capacidade do terminal de contêineres (Tecon) de Salvador vai mais do que dobrar, passando de 230 mil TEUS (unidade equivalente a um contêiner pequeno, de 20 pés) ao ano, para 530 mil TEUs. Segundo Demir Lourenço, diretor executivo do Tecon, com as novas instalações o terminal terá capacidade para receber os maiores navios de contêineres do mundo, com capacidade para até 14 mil TEUs - e que hoje nem aportam no país. O berço de atracação passará de 297 metros para 377 metros, e a profundidade do porto, de 12 para 15 metros. Um dos resultados dos investimentos será atrair carga produzida na Bahia, mas escoada por portos mais distantes por falta de infraestrutura ou linhas de navegação. Sem linhas para a Ásia, diz Lourenço, a produção de algodão do Oeste baiano - segunda maior do país - passou a ser escoada por portos do Sudeste e do Sul, como Santos (SP) e Paranaguá (PR). |
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