Autor(es): agência o globo:Vivian Oswald |
O Globo - 18/01/2012 |
Maioria das compras chinesas é de "commodities". Investimento no país soma US$9 bi BRASÍLIA. Diante do desaquecimento da economia mundial e do risco cada vez maior de recessão nos países desenvolvidos, a China já deixou claro que está em busca de novos mercados. A América Latina continua no topo da lista. De acordo com dados do Ministério das Relações Exteriores da China, o Brasil é o nono parceiro comercial daquele país, mas já é o primeiro do Bric (bloco que reúne Brasil, Rússia, Índia e China). A corrente de comércio entre chineses e brasileiros deve bater novo recorde em 2011. De janeiro a novembro de 2011, segundo estatísticas chinesas, estava em US$70 bilhões. Trata-se de um aumento de 37,4% em relação ao mesmo período do ano anterior. Desde 2009, a China é o principal comprador do Brasil e o seu segundo fornecedor. - Investimentos mútuos devem aumentar com cooperação nas áreas de energia, mineração, finanças, eletricidade e telecomunicações. Os investimentos chineses acumulados no Brasil somam US$9,2 bilhões - diz o vice-diretor do Departamento de América Latina da chancelaria chinesa, Li Baorong. Estatísticas do governo brasileiro mostram que, em pouco mais de uma década, a China saltou de 12º comprador de bens do Brasil à primeira posição. Em 2000, as exportações brasileiras para aquele país somaram US$1,08 bilhão, ou 1,97% de tudo o que o país vendeu ao exterior naquele ano. Mas, em 2010, bateram US$30,78 bilhões, ou 15,25% do total. Os americanos que, tradicionalmente, eram os maiores compradores de produtos brasileiros, perderam o primeiro lugar em 2009. Até 2000, o Brasil vendia aos americanos nada menos que 25% de tudo o que mandava para o exterior. EUA são o país que mais vende para o Brasil Os chineses também estão cada vez mais próximos dos americanos no ranking de fornecedores do Brasil. Hoje, os Estados Unidos se mantêm como o país que mais vende aos brasileiros no mundo, por apenas US$1 bilhão de diferença. Até novembro de 2011, exportaram US$31 bilhões para o mercado brasileiro. Apesar de ainda manter um superávit comercial com a China, a base das exportações brasileiras é de commodities, que têm valor agregado inferior aos manufaturados que os chineses conseguem cada vez mais vender ao país. Diante do volume maior de produtos made in China no país, o Brasil vem apertando as regras de importação, criando certificações especiais para várias categorias de produtos. No entanto, a maior preocupação agora já não está limitada a como lidar com as chamadas "bugigangas", e sim com máquinas e equipamentos de última geração que os chineses estão fabricando. - Anotamos a preocupação da presidente Dilma Rousseff em aumentar a venda de produtos brasileiros com maior valor agregado para a China. Os departamentos comerciais dos dois países estão trabalhando nisso - afirmou Li. |
China, de país rural a urbano
Autor(es): agência o globo: |
O Globo - 18/01/2012 http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2012/1/18/china-de-pais-rural-a-urbano |
Pela 1ª vez na História, população nas cidades supera a do campo. PIB no 4º trimestre fica acima do previsto e sobe 9,2% em 2011 Em meio ao anúncio de que a economia chinesa cresceu no quarto trimestre de 2011 a um ritmo anualizado de 8,9% - ligeiramente superior à previsão de 8,7% de analistas, mas no menor patamar em dez trimestres -, outra informação bem mais importante foi divulgada ontem pelo Escritório Nacional de Estatísticas, sem chamar atenção: em 2011, pela primeira vez em sua história, a população urbana da China superou a rural. O país, de 1,347 bilhão de habitantes, entra em 2012 com 690,7 milhões de chineses morando em áreas urbanas (51,2%) e 656,5 milhões em áreas rurais. Não é um fenômeno espontâneo, mas induzido pelo governo de Pequim, que já percebeu que o futuro da sua economia só estará garantido se o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) for de fato sustentável. Para isso, a China precisa reduzir sua enorme dependência das exportações (que hoje têm um peso de 38% no PIB) e dos investimentos públicos e privados (outros 35% do PIB) e apostar mais na criação de um sólido mercado consumidor doméstico. Desde o início da implementação das reformas econômicas na China, na década de 80, o governo de Pequim estimulou a migração controlada de sua população rural para os centros de forma a criar uma massa trabalhadora barata (e passiva), um fenômeno que justificou a transferência de milhares de fábricas de vários países para o território chinês nos últimos anos. De lá, as exportações chinesas - a maioria de empresas estrangeiras ali instaladas - ganharam o mundo. Crescimento garante estabilidade política Para os camponeses chineses, acostumados a trabalhar de sol a sol numa lavoura que mal lhes dá a chance de sobreviver com dignidade, um salário mensal de US$50 por uma jornada de 12 horas numa fábrica de cacarecos na grande cidade virou um belo projeto de vida, sobretudo entre os mais jovens e menos instruídos. O benefício da migração controlada foi a criação de uma classe média urbana e consumidora estimada em cerca de 250 milhões de pessoas (18,5% da população). Mas há percalços para este projeto de consolidação do mercado doméstico chinês. A começar pela natureza do governo, que de comunista hoje tem muito pouco. Como não há um sistema universal gratuito de saúde e as aposentadorias estão restritas ao funcionalismo público federal, às grandes estatais e às maiores empresas do setor privado, os chineses - empresas e famílias - poupam feroz mente para se garantir num futuro duvidoso. A taxa de poupança das famílias chega a 30% do PIB, enquanto as empresas poupam o equivalente a 26% do PIB. Desde a década de 90, o Politburo do Partido Comunista Chinês (PCC) vem discutindo uma saída para este impasse, sempre preocupado com a garantia do crescimento econômico. Afinal, o presidente Hu Jintao, o primeiro-ministro Wen Jiabao e suas bases de apoio sabem que, numa ditadura política que prende até blogueiros que criticam o governo, o desenvolvimento econômico é uma maneira de legitimizar a permanência do PCC no comando do país. Se o crescimento do PIB cai muito abaixo dos 8% ao ano, para os comunistas chineses, a estabilidade política corre riscos. Mas analistas preveem que o choque global oriundo da turbulência na zona do euro - e seus efeitos nas exportações chinesas - deve empurrar o PIB chinês para um patamar abaixo de 8% nos próximos meses. Segundo o "Financial Times", alguns chegam a apostar numa expansão de 7,5%. Esse quadro pressiona o governo a afrouxar as medidas de aperto adotadas no início de 2011 para conter a inflação anualizada, que caiu de 6,5% em julho para 4,1%, em dezembro. A meta do governo é 4% ao ano. A inflação acelerou depois que o governo ampliou os investimentos para estimular a economia, na crise financeira de 2008. Em todo o ano de 2011, a economia do país cresceu 9,2%, ante 10,4%, em 2010. E há as consequências da urbanização. Com a alta progressiva dos salários e presença maior das multinacionais, os chineses passaram a exigir remunerações ainda maiores e mais benefícios. Tanto que muitas empresas já decidiram expandir suas fábricas da China para países periféricos, como Vietnã ou Camboja. |
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