terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Investidores lucram com o agro

Isenção de imposto de renda atrai pessoas físicas a títulos do agronegócio
Luiz Silveira
31/jan/12
O bom momento do agro brasileiro está abrindo oportunidades de lucro também para as pessoas físicas das cidades. Cada vez mais gente tem investido suas economias em títulos do agronegócio, como indicam os números da Cetip, integradora do mercado financeiro que registra uma boa parte desses negócios.

No ano passado, o volume de títulos do agronegócio registrados na Cetip cresceu 43% sobre 2010, totalizando R$ 21 bilhões (veja o gráfico abaixo). A maior parte desse total está concentrada em Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs). “A grande vantagem das LCAs é que elas são isentas de imposto de renda para pessoas físicas, explica o gerente de desenvolvimento de produtos da Cetip, Ricardo Magalhães.
Os títulos do agronegócio servem para financiar as empresas do setor, em geral antecipando valores ou mercadorias que elas têm a receber. Com esses recursos, elas fortalecem os investimentos e o capital de giro. Os investidores que compram esses títulos estão, indiretamente, entregando o dinheiro para as empresas do agro. Em troca, recebem juros sobre o valor investido.
O lastro – ou garantia – dessas operações são os créditos que as empresas do agro têm a receber. No caso das LCAs, especificamente, elas são emitidas por bancos que emprestam os recursos captados ao agro; o lastro, então, são os financiamentos que o agro têm a pagar para o banco.
“Acreditamos que a demanda dos investidores hoje é até maior do que a oferta desses títulos, por isso trabalhamos para que cada vez mais operações de crédito possam servir de lastro para a emissão desses papéis”, conta Magalhães.
Uma prova de que a demanda está reprimida é que os bancos não costumam oferecer o investimento em LCAs para muitos clientes. Em algumas instituições financeiras, o investimento mínimo em LCAs é de R$ 100 mil. Há outros bancos que só emitem LCAs de R$ 1 milhão ou mais.
Embora não faça projeções para o mercado de títulos do agro, Magalhães afirma que o forte crescimento de 2012 não foi uma surpresa. “Esse mercado de títulos foi criado por uma lei de 2004, e o crescimento tem sido consistente desde 2007″, diz o executivo.






O Brasil é um país com vocação agrícola. O agro é um dos carros-chefes da economia nacional, responde por quase um terço do Produto Interno Bruto (PIB) e 40% das exportações.
Por isso o Sou Agro conversou com especialistas que deram orientações para quem quer ganhar com as oscilações das commodities agrícolas (açúcar, boi gordo, borracha, café, etanol, milho, soja, suco de laranja e trigo), produtos que têm o preço fixado em bolsas de mercadoria e futuro.

“Como no mercado de ações, a palavra-chave é volatilidade, existem tantas oportunidades na alta, quanto na baixa”, diz Flávio Lemos, diretor da Trader Brasil Escola de Investidores. Tanto pessoas físicas quanto jurídicas podem investir nesse mercado. Há uma infinidade de possibilidades, mas para quem está começando o melhor são os contratos futuros e de opção negociados em bolsas, como BM&FBovespa e bolsa de Chicago.

“Há também o mercado de balcão, que negocia mercadoria física, mas é recomendado para aqueles que entendem melhor o setor, porque os contratos são de maior complexidade e menor garantia”, diz Fernando Pimentel, diretor sócio da consultoria Agro Security Gestão de Agroativos.

Começando

O primeiro passo é abrir uma conta em uma corretora listada na bolsa. Na sequência, o interessado deverá decidir o tipo de derivativo, nome dado as operações do mercado financeiro de commodities. Nos contratos futuros, o investidor compra a commodity ao preço do momento e ela vai sofrendo ajustes diários de preço que são administrados pela corretora. Por isso, é preciso deixar uma margem de garantia, um valor em dinheiro para essas correções.

Já nos contratos de opção, que pode ser de compra ou de venda, a pessoa compra uma opção de commodity em um determinado valor e com o vencimento pré-determinado. “Por exemplo, ele paga para apostar que o preço da soja que ele comprou a R$ 40 vai subir. Se for para R$ 42, ele ganha a diferença. Se cair, ele não perde mais do que eu já pagou”, diz Pimentel.

O valor mínimo de investimento varia de acordo com a commodity e com o tipo de contrato, mas todas as opções estão disponíveis no site da BM&FBovespa.  Como no mercado de ações, o mercado de commodity trabalha com crédito.
O investidor não deposita o valor integral, mas apenas a margem de garantia do contrato, que é determinada pela bolsa. No caso da soja e do milho, os contratos são de 450 sacas cada. Segundos dados da Corretora Souza Barros, a margem de garantia do contrato de milho (CCM11) com vencimento em novembro está em torno de R$ 942.

Vale investir em commodities? 

Esta é uma pergunta que cada um tem que responder para si mesmo. As possibilidades de ganhos são altas, mas as de perda também. Tanto o mercado de ações quanto o de contratos agrícolas estão sujeitos a riscos. “Mas no mercado de commodities, os fatores que causam a volatilidade são diferentes. O clima é o principal: uma seca pode diminuir a oferta e levar o aumento de preços”, explica Pimentel.

Para Silvio Paixão, professor de macroeconomia da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi) “é preciso estudar o mercado. A corretora vai dar a opinião dela, mas o investidor tem que conhecer para acatar ou não”.

No ano passado, quem investiu em contratos de café, boi, milho ou soja foi bem sucedido. O café teve alta 79,3% em 2010, enquanto o índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) rendeu 1,04% e as ações preferências (PN) da Petrobrás caíram 22,96%.

“O importante é a pessoa separar um capital de risco do seu capital necessário para o dia a dia”, diz Lemos. Feito isso, ela pode abrir uma conta numa corretora ou aplicar num fundo que tenha contratos agrícolas. Para quem está procurando diversificar os investimentos, Lemos sugere que a aplicação em commodities não supere 5%.
“Eu tenho um perfil mais ousado, aplicaria 1/3 em commodities, 1/3 em renda fixa e 1/3 em opções”, diz Pimentel. “Mas se a pessoa é mais moderada, eu sugiro 50% em renda fixa, 25% em commodities e 25% em opções, já para os conservadores, o ideal é ficar só com renda fixa”, finaliza Pimentel.


Dança de cadeiras entre ações defensivas e mercado interno

Autor(es): Por Flavia Lima e Beatriz Cutait | De São Paulo
Valor Econômico - 31/01/2012
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2012/1/31/danca-de-cadeiras-entre-acoes-defensivas-e-mercado-interno

Além da arrancada do Índice Bovespa, outro movimento que ganha força neste início de 2012 é uma clara rotação das carteiras de investimentos, com as ações defensivas passando o bastão para os papéis cíclicos - ou seja, setores ligados à economia interna, como consumo e construção, e às commodities -, segmento que foi muito punido pelos investidores em 2011. A mudança sinaliza que o ano pode guardar mais e melhores oportunidades para quem continua disposto a correr riscos.
O desempenho das dez ações mais rentáveis em janeiro confirma essa percepção. Papéis como o da incorporadora MRV ou das varejistas Hypermarcas e Hering se destacam, em alta ao redor de 30% no período. As ações de PDG Realty, Brookfield, Lojas Renner, CSN, Rossi Residencial, Braskem e Petrobras completam o bloco das mais rentáveis. Na ponta oposta, aparece um punhado de ações boas pagadoras de dividendos que brilharam no ano passado, como Eletrobras, Telefónica e CPFL Energia.
Esse movimento é liderado por fundos de mercados emergentes e investidores institucionais, desapontados com o retorno ínfimo da renda fixa lá fora e preocupados em bater suas metas. Dados da consultoria EPFR Global indicam que os fundos de ações globais captaram US$ 8,6 bilhões na semana encerrada em 25 de janeiro - com metade disso sendo direcionado para as carteiras que investem em ações de países emergentes, com a América Latina em sua melhor semana desde o quatro trimestre de 2010.
"Acredito que 90% dos recursos que entraram na bolsa brasileira em janeiro vieram via ETF [Exchange-Traded Funds, na sigla em inglês, fundos que replicam índices]", diz o superintendente de renda variável da Itaú Asset Management, Gilberto Nagai. "Investidores não muito convencidos da alta compram o índice via ETFs, porque assim fica mais fácil se desfazer dos papéis", acrescenta Nagai. Essa é a explicação, segundo ele, para a alta de Petrobras e Vale em janeiro, com os investidores locais correndo atrás.
Isso não significa que não haja investidores já revendo as posições. "Estávamos mais positivos com relação à Petrobras e deu muito certo, mas achamos que talvez o fôlego de curto prazo do papel já tenha se esgotado", diz Carlos Firetti, analista-chefe da Bradesco Corretora.
Para ele, as ações da maior parte das empresas estão abaixo de seus valores históricos, o que indica que a bolsa não está cara olhando um horizonte de longo prazo. "Mas dada a minha percepção de risco atual, não me sinto confortável em falar que existem grandes barganhas", afirma Firetti.
Ainda assim, o gestor destaca entre seus papéis preferidos Cielo, Redecard e Cetip no setor de serviços financeiros, além de, entre os bancos, as ações do Santander. Em construção civil, "mais sensível aos juros mais baixos e à inflação", ele gosta de Cyrela, além de Alpargatas e de Droga Raia em consumo, "pelo vigor do crescimento e ganhos de sinergia".
Outro que aposta nos papéis chamados de cíclicos é Eduardo Castro, superintendente executivo de fundos da Santander Asset Management. Ele lembra, no entanto, que cresce a importância dos dados macroeconômicos globais para chancelar a recuperação mais firme da bolsa. "Se estes dados mostrarem uma desaceleração muito maior do que a esperada, isso vai ser muito ruim para os mercados", afirma. "Mas em se confirmando esta melhora na margem, são os cíclicos que devem puxar a bolsa", diz Castro. "O investidor deve estar atento porque 2012 ainda será um ano de gestão ativa dos portfólios", conclui.

A alta é para valer?

Autor(es): Por Flavia Lima e Beatriz Cutait | De São Paulo
Valor Econômico - 31/01/2012
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2012/1/31/a-alta-e-para-valer

Um tom de esperança ressurge no mercado acionário brasileiro em 2012 e já dá bons motivos para os investidores sorrirem. Após a tempestade de 2011, quando o Índice Bovespa perdeu mais de 18%, a bolsa parece enfrentar outro cenário neste ano. O índice deve fechar janeiro com alta ao redor de 10% com mostras de robustez. Ontem, por exemplo, quando sinais de crescente preocupação externa pareciam ter fôlego para arruinar o humor dos investidores, a bolsa oscilou, mas acabou encerrando o dia em queda de apenas 0,2%.
Mesmo diante do melhor janeiro desde 2006, não há ainda quem arrisque projetar para a bolsa brasileira uma reação à altura do que ocorreu no ano de 2009, quando, após ter sido derrubado pela crise externa, o Índice Bovespa conseguiu fechar em alta superior a 80%.
De toda forma, ao explicar o bom desempenho antecipado para o primeiro mês do ano, analistas e gestores avaliam que a aversão ao risco diminuiu puxada por um conjunto de fatores como uma esperada recuperação da economia brasileira nos dois primeiros trimestres deste ano. Além disso, sinais mais positivos da economia americana, puxados principalmente por dados do setor imobiliário e de sentimento do consumidor, deram um gás ao mercado.
Outro ponto importante está na atuação mais firme do Banco Central Europeu (BCE) em seu esforço para dar fôlego ao financiamento dos países periféricos, negligenciada pelos próprios gestores e analistas. Fora um pouso mais suave do que o esperado para a economia da China. Por tudo isso, os especialistas avaliam que a possibilidade de ruptura externa saiu de cena - ao menos no curto prazo.
"É claro que não dá para descartar a possibilidade de uma realização, porque a bolsa subiu muito rápido, mas hoje existem razões macroeconômicas para o índice efetivamente mudar de patamar", avalia Eduardo Castro, superintendente-executivo de fundos da Santander Asset Management.
Para Carlos Firetti, analista-chefe da Bradesco Corretora, "a grande surpresa para a bolsa talvez tenha sido o fato de que o risco minimizado de ruptura simplesmente não estava nos preços". Para ele, a bolsa está reagindo ao excesso de liquidez externa - alimentada não apenas pelo BCE como pelas indicações do Banco Central americano de que os juros se manterão baixos pelo menos até 2014 - até que um evento "mais restritivo", como um eventual calote da dívida grega em março, aconteça.
"Até lá, a bolsa tem espaço para continuar relativamente forte, embora eu não esteja convencido da sustentabilidade no longo prazo", diz o analista, que projeta 69 mil pontos para o índice.
"Depois das medidas do BCE, ninguém mais questiona se um banco pode quebrar por conta de liquidez, caindo bastante a possibilidade de ruptura e ficando apenas o risco de desaceleração da economia europeia", diz Gilberto Nagai, superintendente de renda variável da Itaú Asset Management. Vale lembrar que, ao fim de dezembro, o BCE inundou o setor bancário da Europa ao emprestar € 489,2 bilhões, numa operação com prazo de três anos que atingiu 523 bancos, praticamente 100% do sistema.
Outro sinal de que a alta do Ibovespa em janeiro pode não ser apenas fogo de palha é que os próprios gestores se mostram mais seguros ao falar sobre suas projeções para o índice em 2012. Se no fim do ano passado, os especialistas coalhavam de ressalvas suas projeções, agora boa parte deles consegue mostrar certa convicção com relação aos números, com alguns já dispostos a revisar para cima as suas projeções para o Ibovespa em 2012.
A Itaú Asset Management, por exemplo, se prepara para revisar agora em fevereiro suas previsões para o índice para 70 mil pontos, ante os 67 mil esperados anteriormente. "Prevíamos um crescimento de lucro de apenas 5% paras as empresas brasileiras em 2012 e agora falamos em 12% porque a economia do Brasil não vai se desacelerar tanto quanto se estimava e os lucros devem acompanhar o movimento", justifica Nagai, do Itaú.
Castro diz que o Santander não revisou os números para o Ibovespa - entre 70 mil e 72 mil pontos para 2012 -, mas ressalta que, atualmente, há mais segurança na previsão feita no ano passado, hoje muito mais para os 72 mil do que os 70 mil pontos.
Um tanto mais cauteloso, o BB Investimentos avalia que ainda ser cedo para rever sua projeção, de aposta do Ibovespa na casa dos 67 mil pontos em dezembro. "Toda mudança muito rápida gera desconfiança. E quando o milagre é muito grande, o santo desconfia", diz Hamilton Alves, analista sênior do BB Investimentos.
Olhando em retrospecto, após uma debandada geral comandada por um movimento de aversão ao risco - em 2011, os principais investidores da Bovespa, ou seja, estrangeiros, pessoa física e institucionais, retiraram juntos, liquidamente, quase R$ 14 bilhões - em janeiro a bolsa voltou a ser impulsionada pelo apetite de estrangeiros, desapontados com retornos baixíssimos da renda fixa lá fora. Prova disso é que, no mês, até o dia 26, a injeção líquida de recursos externos na Bovespa havia atingido expressivos R$ 6,254 bilhões.
Mas, apesar das oportunidades vistas pelos investidores internacionais, os locais seguiam cautelosos ao longo das primeiras semanas do ano, apenas resgatando recursos da bolsa. E a maior segurança e certo otimismo dos gestores pode ser um dos primeiros sinais de que esse posicionamento talvez esteja começando a mudar.
Para Will Landers, gestor de portfólio para América Latina da BlackRock, "o fundo do poço" para o Brasil foi o terceiro trimestre de 2011. "O quarto já foi melhor e agora também estamos com uma situação mais favorável", diz. "Vimos uma revisão das expectativas de resultados brasileiros para baixo no ano passado, o que deve ser alterado neste momento, com os juros um pouco mais baixos, o real mais forte e as commodities com um cenário melhor", afirma.
Segundo Landers, pelo menos do lado dos estrangeiros, nada deve mudar. Ele avalia que, junto à China, o mercado acionário brasileiro deve se manter como um dos principais destinos de fluxo internacional neste ano.
"A bolsa continua a ser negociada com desconto ante sua própria história e em relação a outros mercados emergentes, com exceção da Rússia. As companhias ainda mostram bons fundamentos e têm a ajuda do Banco Central, em meio ao corte de juros e a expectativa de inflação caindo", comenta Landers. Ainda que a Europa permaneça como principal risco à recuperação dos mercados, o gestor avalia que a retomada do Ibovespa poderá se consolidar mais cedo do que o previsto.

Ativos de risco "dançam" tal qual a música dos BCs

Eduardo Campos
Valor Econômico - 01/02/2012
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2012/2/1/ativos-de-risco-dancam-tal-qual-a-musica-dos-bcs
 

Janeiro ficou para trás e o mote do mês foi a tomada de ativos de risco. Sob a batuta do Banco Central Europeu (BCE), Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Banco da Inglaterra (BoE) e do Banco Central (BC) brasileiro, os investidores foram à compra de ações e commodities e saíram dos títulos do Tesouro e do dólar americano.
A máxima "don"t fight the Fed" (não lute contra o Fed) se mostrou válida em âmbito global, conforme os principais bancos centrais acenaram sua disposição em manter juros baixos a perder de vista e lançaram e acenaram programas de "Quantitative Easing".
Até o BC brasileiro entrou no esquema ao falar abertamente na possibilidade de taxa básica de um dígito - para alguns, mais clareza no discurso e, para outros, demonstração de engajamento global.
Juro baixo a perder de vista dá fôlego às bolsas e commodities
Além desse impulso dado pelas autoridades monetárias, indicadores positivos sobre a economia americana (principalmente) levaram o mercado a "comprar" a ideia de que a economia mundial pode estar em um ponto de inflexão.
Resta saber, agora, se tal ambiente prevalece ou se é só mais um episódio de melhora dentro de um quadro estrutural de debilidade econômica nos países desenvolvidos, resultado de um duro processo de desalavancagem após anos de endividamento irrestrito.
Momentos como esse já ocorreram anteriormente. Por isso, alguns investidores preferem a cautela em vez de dançar conforme a música tocada pelos bancos centrais.
Para o sócio da Teórica Investimentos, Rogério Freitas, não há como negar a melhora nos indicadores econômicos.
O problema é que essa melhora é ainda muito incipiente para ser tomada como fato.
Os dados divulgados são de alta frequência, portanto, mais voláteis e com menos capacidade de predizer tendências.
Ontem mesmo, alguns indicadores dos EUA já decepcionaram. O índice de atividade na Região de Chicago, caiu de 62,2 em dezembro, para 60,2 em janeiro, contrariando previsão de alta. E esse foi um dos primeiros dados a "surpreender para cima" no ano passado.
Outro indicador mencionado por Freitas é o Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre, que subiu 2,8%, ante previsão de 3%, sendo que boa parte do crescimento foi reflexo de variação de estoques.
Outro ponto questionado pelo especialista é a eficiência das ações de política monetária do Fed, BCE e outros BCs.
As injeções de liquidez e promessas de juros baixos empurram o mercado para os ativos de risco, seja pelo "dinheiro barato", ou pela expectativa de que essas ações vão resultar em crescimento econômico.
No entanto, diz Freitas, esse crescimento no lado real da economia não se confirma.
Esse "remédio" vem sendo utilizado desde 2008 e não se vê firme retomada do emprego e renda nos EUA. E na Europa, por mais que os países consigam rolar dívidas, o termo recessão acompanha as projeções econômicas e o desemprego (tirando a Alemanha da conta) segue em patamares recordes.
O Fed mantém um "QE3" sobre a mesa e na zona do euro, o BCE já tem contratada nova rodada de empréstimos ao setor financeiro em 29 de fevereiro. E o valor da operação de três anos com taxa de 1% pode passar do € 1 trilhão.
Por isso mesmo, pode ser difícil ver os mercados mudando completamente de cara no curto prazo.
Na visão de Freitas, apesar de os mercados reagirem de forma positiva a essa estratégia dos bancos centrais, o impacto de afrouxamentos adicionais é limitado na economia real.
"Os dados têm confirmado a ineficácia desse instrumento e em algum momento essa visão deverá ser precificada pelos agentes. Acreditamos que as políticas abusivamente frouxas, visando inflar artificialmente os preços dos ativos, têm incentivado a tomada de risco excessiva e, em algum momento, um grande ajuste deverá ser feito", diz o especialista.
Para boa parte do mercado não importa o que vai acontecer no futuro, o negócio é fazer dinheiro agora. Por isso mesmo, ao longo do mês não foi difícil ver gente "arrependida" de não ter ampliado ainda mais as posições em ativos de risco.
Freitas afirma que não tem problemas em alterar sua avaliação quanto ao cenário e mesmo sua estratégia de investimento. Mas prefere esperar por indicadores mais concretos e diz que o momento é, de fato, de mudança no ciclo econômico mundial.
Por ora, ele e sua equipe seguem acreditando que a economia mundial está perto de entrar em um novo período de enfraquecimento. Por isso, o especialista segue comprado em dólar e vendido em bolsa.
"Tentamos antecipar os movimentos do mercado e não apenas dançar conforme a música do momento", conclui.

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