quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Cai o volume de derivativos na BM&F

Estoque de derivativos na BM&F encolhe na virada para 2012
Autor(es): Por Filipe Pacheco | De São Paulo
Valor Econômico - 25/01/2012

Pela primeira vez desde 2004, o mercado brasileiro de derivativos encolheu no início de ano. Os investidores apresentam uma exposição menor do que no começo de 2011 em contratos de juros, câmbio, índices e commodities negociados na BM&F. Mudanças na tributação, com a introdução do IOF sobre posições "vendidas" (apostando na baixa) em dólar, o aumento da volatilidade decorrente da crise internacional e a guinada na condução da política monetária em meados do ano passado explicam o movimento, segundo especialistas. Dados compilados pelo Valor, com colaboração de Paulo Fraletti, professor da FGV e do Insper, mostram que 2012 começa com uma exposição estimada em R$ 2,66 trilhões em contratos futuros na BM&F, em comparação aos R$ 3,14 trilhões do início de 2011.

O mercado brasileiro de derivativos encolheu neste início de 2012. Os investidores começaram o ano com exposição menor do que no início de 2011 em contratos de juros, câmbio, índices e commodities negociados na BM&F, dinâmica que se observa pela primeira vez em sete anos - sistematicamente, esse volume vinha crescendo ano a ano desde 2004. Mudanças na tributação, com a introdução do IOF sobre posições "vendidas" (apostando na baixa) em dólar, o aumento da volatilidade decorrente da crise internacional e a guinada na condução da política monetária em meados do ano passado estão por trás desse movimento, segundo especialistas.
Dados compilados pelo Valor, com colaboração do professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e do Insper, Paulo Fraletti, mostram que 2012 começou com uma exposição estimada em R$ 2,667 trilhões em contratos futuros na BM&F, em comparação aos R$ 3,143 trilhões que marcaram o início de 2011.
No cálculo feito, o valor estimado da exposição considera o preço médio de um contrato negociado no mês de dezembro multiplicado pelo número de contratos em aberto. "Nos períodos de maior incerteza, que seguiram grandes inversões de expectativas, como os últimos quadrimestres de 2008 e de 2011, os agentes reduzem suas próprias exposições", diz Fraletti. Entretanto, mesmo em 2009, logo após a quebra Lehman Brothers, que desencadeou a crise externa e que levou empresas brasileiras de grande porte, como Sadia e Aracruz, a terem fortes perdas com derivativos, não se observou uma retração como a de agora.
"Quando há uma crise, em um primeiro momento é natural que o investidor desmonte posições de forma rápida, e isso foi visto nesses períodos [fim de 2008 e de 2011]", diz Luciano Rostagno, economista-chefe do Banco WestLB. Mário Amigo, professor de finanças da Fipecafi, pondera que os custos das operações na BM&F também podem ter pesado. "Na BM&F, as partes têm de arcar com os custos decorrentes da composição de margem. Em tempos mais difíceis, esses valores entram na conta mais do que nunca e podem fazer a diferença", diz.
Os contratos de derivativos negociados na BM&F demandam o depósito de garantias, e em períodos de aperto, as transações de balcão com registro na Cetip, que não cobram a margem, tendem a ganhar mais espaço. Isso de fato ocorreu desta vez, mas não em volume suficiente para compensar a redução vista na BM&F. Procurada, a BM&F não concedeu entrevista.
O mercado futuro de juros é o segmento mais negociado na BM&F e o segundo com mais registros na Cetip. Nele, os agentes podem apostar na alta ou na queda da Selic no curto e no longo prazo, e por isso acompanham de perto a comunicação feita pelo Banco Central (BC) com indicações de que rumo a taxa seguirá. A mudança repentina na política monetária em agosto, quando o BC cortou o juro básico em 0,50 ponto percentual sem nenhuma indicação prévia, motivou um recuo nas posições. "O mercado de opções de juros vinha crescendo de forma contínua e teve um avanço forte em 2010. Mas a mudança de política fez com que muita gente perdesse dinheiro", diz o responsável pela mesa de juros de uma corretora paulista, que prefere não ser identificado.
Enquanto a exposição em contratos de derivativos na BM&F caiu entre o começo do ano passado e este início de 2012, na Cetip ela subiu. Ao se comparar o volume financeiro no fim de cada semestre nas duas casas, nota-se que o estoque em aberto na bolsa foi sempre pelo menos duas vezes maior que na Cetip.
Em períodos tranquilos, como 2007, essa diferença positiva chegou a ser quatro vezes maior. Mas em outros momentos de volatilidade marcante a proporção rompe com o ritmo de crescimento e chega a recuar fortemente. No final de 2011, o estoque financeiro registrado na Cetip, de R$ 552,3 bilhões, foi maior que nos dois anos anteriores, e superou aquele de 2008, quando foi de R$ 520,9 bilhões. "Como os contratos da BM&F são mais curtos e mais líquidos, o efeito da volatilidade é mais imediato que na Cetip, onde tendem a ser mais longos e carregados até o vencimento", acrescenta Fraletti.
Um ponto a favor da Cetip, diz Amigo, da Fipecafi, é que a casa permite o registro de instrumentos financeiros mais sofisticados e exóticos, como operações de hedge de vários tipos, notas e fundos de capital protegido e travas. "É em momentos de crise que você reconhece instrumentos de engenharia financeira sendo desenvolvidos em meio a um mercado que busca por alternativas. E a Cetip permite que as partes moldem os contratos da forma como acham mais interessante", diz.
No fim de julho, cerca de um mês antes do corte surpresa no juro feito pelo Copom e quando o valor do dólar despencava para as mínimas do ano, o governo entrou em ação e publicou a MP 539, que estabelecia o recolhimento de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre posição "vendida" em dólar em derivativos cambiais, que apostam na queda da moeda. A ação foi um fator inesperado e sem equivalência nos anos anteriores, e não agradou a investidores.
"Houve uma mudança nas regras do jogo, com um impacto claro da falta de clareza na comunicação por parte do governo. E o pior é que, depois de alguns meses, com o dólar em alta, a medida parou de fazer sentido e travou o mercado", diz um executivo de um banco de médio porte, que prefere não ser identificado. Contratos de derivativos de câmbio - usados muitas vezes para operações de "hedge" (proteção contra flutuação da moeda) - são os mais regitrados na Cetip.

***
A Cetip é a integradora do mercado financeiro. É uma companhia de capital aberto que oferece serviços de registro, central depositária, negociação e liquidação de ativos e títulos. Por meio de soluções de tecnologia e infraestrutura, proporciona liquidez, segurança e transparência para as operações financeiras, contribuindo para o desenvolvimento sustentável do mercado e da sociedade brasileira. A empresa é, também, a maior depositária de títulos privados de renda fixa da América Latina e a maior câmara de ativos privados do país.
Mais de 15 mil instituições participantes utilizam os serviços da Cetip. Entre eles, fundos de investimento; bancos comerciais, múltiplos e de investimento; corretoras e distribuidoras; financeiras, consórcios, empresas de leasing e crédito imobiliário; cooperativas de crédito e investidores estrangeiros; e empresas não financeiras, como fundações, concessionárias de veículos e seguradoras. Milhões de pessoas físicas são beneficiadas todos os dias por produtos e serviços prestados pela companhia, como processamento de TEDs e liquidação de DOCs, bem como registros de Gravame, CDBs e títulos de renda fixa.
Em 1986, em uma década que marcou o Brasil com grandes transformações, nascia a Cetip. À época, diversas mudanças aconteciam em âmbito político, econômico, social e cultural. A empresa — instituída pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), em 1984, e que passou a operar em março de 1986 — surgiu como o porto seguro das instituições financeiras e ajudou o Brasil a superar diversos desajustes financeiros e seus planos econômicos.
Dentre os muitos eventos que ocorreram nesses mais de 20 anos de história se destaca a implementação do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), em 2002. Isso possibilitou que os negócios cursados na companhia passassem a ser liquidados no mesmo dia (D+0). A Cetip, que realizou pesados investimentos para duplicação do parque de processamento de dados, monitoramento do fluxo operacional e aprimoramento dos controles internos, passou a apresentar modelo ímpar de negócios e significativas vantagens comparativas. A partir daí a empresa redefiniu conceitos corporativos, reviu a tecnologia empregada e reestruturou o acervo de sistemas, normas e processos.
A nova estrutura da companhia contribuiu para que ela se destacasse no mercado financeiro. Como resultado, em maio de 2008, os associados da Cetip aprovaram, em Assembleia Geral Extraordinária, a proposta de desmutualização e a transformação da empresa em uma sociedade anônima, e, em 28 de outubro de 2009, a companhia passou a ter capital aberto, com ações negociadas no Novo Mercado.
Um importante movimento ocorreu em dezembro de 2010, data em que a Cetip adquiriu a GRV Solutions, empresa brasileira fundada em 1995, que hoje representa a Unidade de Financiamentos da companhia. Com isso, a Cetip dobrou de tamanho e promoveu diversas mudanças de gestão, consolidando sua estrutura com ganhos de agilidade e eficiência. A sinergia operacional de ambos os negócios tem estreitado sua atuação junto aos clientes, parceiros e órgãos reguladores, espelhando a extraordinária abrangência e capilaridade da Cetip para o mercado financeiro nacional.


Sobra dólar e atuação do BC se faz necessária

Eduardo Campos
Valor Econômico - 25/01/2012
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2012/1/25/sobra-dolar-e-atuacao-do-bc-se-faz-necessaria

O mercado de câmbio está no exato oposto de dezembro, quando a falta de dólares levou o Banco Central (BC) a ofertar linha em moeda estrangeira. Agora, o "problema" é a sobra de divisa americana e quem tem poder para resolver a questão é o mesmo Banco Central.
Até o dia 20 de janeiro, o fluxo cambial estava positivo em US$ 6,654 bilhões, sendo US$ 5,083 bilhões de superávit na conta financeira e US$ 1,571 bilhão na conta comercial.
Com tal sobra de dólares e nenhuma atuação do BC no mercado à vista, quem absorve esse excesso de moeda que está no mercado são os bancos.
Não por acaso, as instituições financeiras nacionais saíram de uma posição vendida de US$ 1,583 bilhão em dezembro para um estoque comprado de US$ 4,840 bilhões no mercado à vista de câmbio agora em janeiro.
Na avaliação do economista da BGC Liquidez, Alfredo Barbutti, a autoridade monetária já teria motivos para retomar as compras no mercado à vista.
Desde 13 de setembro o BC não faz atuações no pronto.
Sem alguém para absorver o excesso de dólares no mercado é possível que apareçam distorções no mercado futuro de câmbio.
Sempre que o banco compra moeda à vista, automaticamente vende dólares no mercado futuro para garantir equilíbrio às suas posições.
"Em breve, se o BC não comprar essa sobra de dólar que está nas mãos dos bancos eles devem aumentar a pressão de venda no mercado futuro", diz o economista.
E essa oferta de divisa pode gerar distorções na formação da taxa do cupom cambial (juro em dólar) e colocar em situação difícil os investidores que estão comprados liquidamente em dólar no mercado futuro, como os investidores institucionais nacionais.
Olhando as posições na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), os investidores institucionais, categoria que inclui os fundos, apresentam posição líquida comprada de US$ 6,817 bilhões. Tal posição é composta por US$ 548 milhões vendidos em dólar futuro e outros US$ 7,365 bilhões comprados em cupom cambial (DDI).
Já os bancos estão liquidamente vendidos em US$ 9,074 bilhões, sendo US$ 3,223 bilhões em dólar futuro e outros US$ 5,851 bilhões em cupom cambial.
O estrangeiro, que sempre foi a principal contraparte dos bancos e um dos maiores agentes nesse mercado, está praticamente zerado. A posição comprada é de apenas US$ 97,550 milhões, sendo US$ 1,734 bilhão comprado em dólar futuro e US$ 1,637 bilhão vendido em cupom cambial.
Ontem, a taxa do FRA de cupom cambial de curto prazo voltou a apontar para baixo depois de firme valorização na segunda-feira.
A taxa do contrato para março caiu de 1,62% para 1,50%, voltando às mínimas históricas. Em dezembro, por exemplo, quando havia falta de moeda à vista, essa taxa do juro em dólar no mercado local oscilava acima de 2,5% (veja gráfico abaixo).
No pregão de ontem, o dólar comercial terminou o dia com leve alta de 0,05%, a R$ 1,753 na venda. Na máxima a moeda chegou a R$ 1,769, alta de 0,97%, mas as compras foram perdendo força ao longo do dia.
Na BM&F, a briga foi grande no fim do pregão. O contrato para fevereiro devolveu alta e caiu a R$ 1,755 (-0,25%), mas nos minutos finais da sessão os compradores voltaram a aparecer e o contrato apontava alta de 0,17%, a R$ 1,7625, antes do ajuste final de posições.
Ainda de acordo com Barbutti, por mais que haja receio quanto a possíveis medidas do governo para conter a valorização do real, é difícil lutar contra tal momento do mercado mundial, que é pautado por liquidez abundante e demanda por ativos de risco.
Na segunda-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltou a falar que não vai permitir a valorização do real.
"A economia mundial talvez encolha em 2012 ou cresça menos. Portanto, os mercados serão mais disputados - e aí temos um grande desafio, porque a nossa manufatura tem perdido terreno em relação à manufatura asiática, principalmente. O que nós faremos: vamos continuar com a política de impedir a valorização do câmbio. Não vamos permitir a valorização do câmbio", disse.
Tal postura do ministro leva a crer que além de medidas na área cambial, a Fazenda também pode estar preparando alguma coisa voltada ao comércio externo.
Outra fala de Mantega com repercussão nos mercados foi sobre a entrega de superávit primário "cheio" de 3,1% do PIB.
Segundo Mantega o corte no Orçamento será suficiente para que se entregue essa meta fiscal.
Dessa forma se pretende dar continuidade à mudança no mix de política econômica, com fiscal mais rigoroso e política monetária mais elástica.

Nenhum comentário:

Postar um comentário