terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Custo salarial sobe, mas produtividade fica estagnada na indústria

Autor(es): Por Arícia Martins e Carlos Giffoni | De São Paulo
Valor Econômico - 16/01/2012
 

Ao contrário do observado em outros anos de estagnação ou queda da produção, a indústria preservou sua mão de obra em 2011 e concedeu aumentos reais de salário. De janeiro a novembro de 2011, a folha de pagamento real aumentou 4,3% na indústria, custo explicado pela combinação de um crescimento de 1,1% do nível de emprego da indústria e de 3,15% no salário médio do setor, segundo dados da Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (Pimes), divulgada na sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Esse aumento do custo salarial de 2011 não foi compensado por ganhos de eficiência no setor. No mesmo período, e também segundo o IBGE, a produção avançou apenas 0,4%, mas foi acompanhada por um número de horas pagas 0,6% maior. Como resultado, a produtividade do trabalho na indústria encolheu 0,2% no ano, segundo cálculos do Valor.
Para especialistas em mercado de trabalho e indústria, os custos e dificuldades em demitir e readmitir funcionários em um período de desemprego baixo, associado à falta de mão de obra qualificada explicam esse descompasso entre salários pagos e produção. A última vez que o país viu uma taxa de desemprego comparativamente tão baixa como os 6% de boa parte do ano passado foi no Plano Cruzado, em 1986 - na época, a pesquisa do IBGE seguia outros critérios.
Díssidios mais robustos também impulsionaram a folha de pagamento da indústria no ano passado, assim como a baixa base de comparação, já que, em 2010, o ganho real dos trabalhadores do segmento foi fraco, de 1,4% segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE, observa Fabio Romão, da LCA Consultores. "É um número baixo". No mesmo ano, o rendimento médio real do total de trabalhadores aumentou 3,8%.
"O mercado de trabalho está apertado. Não é seguro para o setor industrial, mais organizado e que precisa de mão de obra com mais instrução, arriscar-se em aliviar a folha de pagamentos agora com demissões e, depois, considerando perspectivas de leve recuperação em 2012, correr atrás de recontratar esse profissional", diz Sérgio Mendonça, economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Karin Parodi, sócia da consultoria de recursos humanos Career Center, acredita que os salários pagos hoje também influenciam nessa postura. "Os salários da mão de obra qualificada no Brasil estão muito inflacionados, isso porque a educação no país não consegue abastecer a demanda por esses profissionais após sucessivos anos de crescimento. Ainda que a rotatividade no país tenha diminuído, o custo de recontratação pode ser muito alto. É difícil assumir esse risco", afirma.
Em 2003, quando a produção na indústria sofreu um forte ajuste para baixo e encerrou o ano com expansão fraca, de 0,3%, a folha de pagamento real havia recuado 4,3% e o emprego industrial, 0,5%. Naquele ano, a taxa de desemprego média foi de 12,3%, calcula Romão, da LCA.
Apesar da semelhança no quadro desfavorável para o setor, o cenário econômico em 2003 dificultou a manutenção do emprego naquele ano, na visão de Mendonça. "2003 também foi ruim para o PIB [avanço de 0,5%], o que explica em parte essa baixa produção da indústria. A inflação naquele ano também foi bem maior [9,3%] que no ano passado [6,5%], o que corroeu mais os ganhos salariais e dificultou as negociações no início do governo Lula", diz e le.
Para Júlio Gomes de Almeida, consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o mau momento vivido pela economia em 2003 explica porque, naquele período, o emprego industrial reagiu com rapidez à queda na produção, situação inversa ao ocorrido no ano passado, quando as demissões começaram em outubro - situação mais comum para o setor, no qual o emprego é o último elo da cadeia a ser atingido. "Em 2011, a produção foi se revelando fraca. 2003 foi um ano que já nasceu ruim."
A dinâmica inversa da indústria em 2010, que se recuperou após a crise, é outro fator que justifica a distância entre produtividade e salários em 2011, afirma Edgard Pereira, sócio da Edgard Pereira & Associados e professor da Unicamp, já que, na hora de se negociar os salários no ano passado, levou-se em conta uma produção 10,5% maior e uma inflação mais salgada. Como em 2011 a produção patinou e a alta de preços deve ser menor daqui em diante, o efeito dessa perda de fôlego será sentido pelos salários em 2012, diminuindo, ainda que moderadamente, o descompasso entre esses indicadores.
O economista Fabio Ramos, da Quest Investimentos, espera uma retomada "medíocre" da produtividade da indústria em 2012, em linha com uma produção pouco maior e com ganhos salariais menores. "Será muito difícil para o trabalhador no ano que vem pedir 10% de aumento nominal", diz, apontando que o crescimento da economia deve ser fraco no primeiro semestre.
Outro número que ajudou a indústria a compensar o custo salarial foi o faturamento, que, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), apresenta expansão real de 5,4% entre janeiro e outubro de 2011 frente igual período de 2010, último dado disponível. Segundo Gomes de Almeida, do Iedi, o acúmulo de estoques, que agora está sendo ajustado, e a maior importação de insumos são responsáveis por manter o aumento do faturamento mesmo com uma produção mais fraca.
"Uma parcela da indústria está se transformando em vendedora", avalia. Na avaliação de André Rebelo, assessor de assuntos estratégicos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a indústria está pagando caro por essa conta, uma vez que o faturamento do setor cresceu menos que a inflação nesse período. "Para fechar a conta, a indústria teve que reduzir margem e tenta aumentar a produtividade."

Indústria de média-alta tecnologia puxa déficit

Autor(es): Por Marta Watanabe | De São Paulo
Valor Econômico - 16/01/2012
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2012/1/16/industria-de-media-alta-tecnologia-puxa-deficit
 

Historicamente deficitários na balança comercial, os segmentos que dependem mais da importação de tecnologia desenvolvida no exterior passaram a contribuir menos para a deterioração do saldo total de exportações e importações da indústria brasileira de transformação. Com saldo negativo de US$ 29,98 bilhões em 2011, os setores de alta tecnologia registraram alta de 14,6% no déficit comercial, na comparação com o ano anterior. Quem mais contribuiu para o saldo negativo foi o segmento de média-alta tecnologia, cujo déficit cresceu 33,4% no mesmo período, atingindo US$ 52,36 bilhões em 2011. O déficit total da indústria de transformação em 2011 foi de US$ 48,74 bilhões.
Os cálculos da balança industrial de acordo com a intensidade tecnológica são do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Para Julio Gomes de Almeida, economista do Iedi, os dados revelam que a origem do crescimento do déficit comercial da indústria não está mais concentrada na produção de alta tecnologia, na qual se destacam os segmentos de aeronáutica, informática, TV, comunicação e os farmacêuticos.
A maior deterioração da balança da indústria em 2011 foi provocada principalmente por setores de média-alta tecnologia - automóveis, produtos químicos, bens de capital mecânicos e elétricos -, além de segmentos tradicionais de baixa tecnologia, como têxtil, vestuário e calçados. "O jogo é o mesmo, mas mudou a escalação", resume Almeida. O déficit comercial mantém a tendência de aumento, mas está sendo alimentado por setores com menor dependência tecnológica, explica. "Isso significa que estão pesando mais a falta de competitividade e os custos dos fatores de produção."
O economista lembra que nos segmentos de alta tecnologia o fraco desempenho da exportação foi o fator que pesou mais para o saldo negativo. A indústria aeronáutica exportou no ano passado 0,5% a menos do que em 2010 e a indústria brasileira de áudio, vídeo e telecomunicações amargou queda de 15,1% nos embarques. O total do segmento de alta tecnologia ficou com aumento de apenas 2,6% de exportação. As importações de alta tecnologia aumentaram 11,4%, bem abaixo da alta de 23,5% verificada no total da indústria de transformação.
No setor de média-alta tecnologia, porém, houve uma dinâmica diferente. As importações cresceram em ritmo acima da média, com alta de 25,9%. Nos segmentos de automóveis e produtos químicos (exceto farmacêuticos), por exemplo, as exportações também tiveram alta, mas em grande descompasso com o ritmo mais acelerado das importações. A indústria de automóveis exportou no ano passado 15,7% a mais do que em 2010, mas as importações cresceram 29,1% no mesmo período.
Em média-alta tecnologia estão segmentos que foram muito dinâmicos no período recente da economia brasileira, diz Almeida. O descompasso entre embarques e desembarques é um sinal do avanço das importações na economia do país, acredita. Apesar do dinamismo no mercado interno, lembra, são setores que aproveitaram parcialmente o crescimento econômico porque houve maior concorrência com os importados.
Silvio Campos Neto, economista da Tendências, acredita que a elevação de importados nesses segmentos não está restrita a bens finais, mas também à troca de insumos nacionais pelos adquiridos de fornecedores externos. O câmbio ainda foi favorável às importações e permitiu à indústria nacional melhorar sua competitividade com a compra de matéria-prima a preços mais baixos. "A maior concorrência com os importados ficou evidente no setor de veículos, o que resultou no aumento de imposto para os importados", diz, referindo-se ao Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), cuja alíquota aumentou em 30 pontos percentuais para carros comprados do exterior.
A expansão dos importados foi permitida pela expansão da classe média, que aumentou a demanda doméstica, diz Welber Barral, sócio da M Jorge Consultores. "A indústria nacional, porém, não conseguiu aproveitar esse crescimento para ganhar mercado."
No segmento de máquinas e bens de capital, diz Barral, há também um problema de falta de oferta nacional. "Máquinas e equipamentos para a indústria de petróleo e gás, por exemplo, são importados simplesmente porque o Brasil não produz", explica. Em outros segmentos, há, porém, a questão de competitividade. "A indústria do setor sofreu com o aumento de custos de produção local. Insumos como aço e eletricidade ficaram bem mais caros. Além disso, a indústria brasileira muitas vezes não é capaz de concorrer com a importação sustentada por mecanismos de financiamento externo, com juros muito baixos", acrescenta.
O que mais chama a atenção, diz Barral, são os segmentos que até pouco tempo contribuíram com superávit, viraram o sinal e agora vêm aprofundando o déficit. Além de automóveis, são exemplos os segmentos de têxteis, couros e calçados. De acordo com o levantamento do Iedi, essas três atividades tiveram déficit de US$ 1,5 bilhão em 2011. No ano passado, o saldo devedor foi de US$ 215 milhões, mas em 2009 esses segmentos ainda geravam superávit, de US$ 354 milhões. Nesses setores de mão de obra intensiva, pesou o custo com salários.

Salário maior e mais empregos formais reduzem jornada de trabalho no País

O brasileiro passa cada vez menos tempo no trabalho. Dados do Censo 2010 revelam que o porcentual das pessoas que trabalham mais de 45 horas por semana caiu quase pela metade em uma década. Em 2000, 44% dos trabalhadores do País passavam mais tempo que isso no serviço, número que baixou para 28% em 2010. Isso significa que, em números absolutos, 5 milhões de pessoas deixaram de trabalhar mais de 9 horas por dia.
A reportagem é de Luiz Guilherme Gerbelli e Rodrigo Burgarelli e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 16-01-2012. http://www.ihu.unisinos.br/noticias/505775-salariomaioremaisempregosformaisreduzemjornadadetrabalhonopais 

O número impressiona ainda mais quando se leva em conta que mais de 20 milhões de brasileiros - o equivalente a toda população da Grande São Paulo - ingressaram no mercado de trabalho nos últimos dez anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Ao mesmo tempo, cresceu a proporção de pessoas que trabalham menos de 14 horas por semana - o salto foi de 3% para 8,3% do total da população economicamente ativa, um ganho de 5 milhões de trabalhadores. A maior parcela da população tem uma jornada semanal que varia entre 40 horas e 44 horas.

A redução da jornada de trabalho nos últimos anos está diretamente ligada ao aumento real no salário do brasileiro - hoje, ganha-se mais por hora trabalhada que em 2000 - e também à formalização do mercado de trabalho. A porcentagem de trabalhadores com carteira assinada pulou de 36% para 44% entre 2000 e 2010 - na contramão, os funcionários sem carteira de trabalho caíram de 24% para 18%
. "A formalização do trabalho regula a jornada de trabalho e a hora extra. A empresa ou o empregador vão evitar de pagar hora extra, portanto, vão reduzir a jornada para o que é oficial", diz Arnaldo Mazzei Nogueira, professor doutor da FEA-USP e PUC-SP.

Pizza
Isso aconteceu, por exemplo, com grande parte dos entregadores da pizzaria Dídio, da Lapa. A profissão era bastante informal no início da década, mas pouco a pouco mais vagas com carteira assinada foram surgindo. Hoje, na Dídio, todos os entregadores trabalham em horário definido, com direito a férias e 13.º. "Dá uma tranquilidade que eu não tinha alguns anos atrás, quando trabalhava em outra pizzaria, não tinha hora para sair e ainda ganhava menos que aqui", conta Eduardo Evangelista Nunes, de 50 anos.

No Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Distrito Federal, os trabalhadores com carteira assinada já são maioria da população. Mas
alguns Estados ainda mantém um baixo contingente de profissionais com carteira de trabalho. Um exemplo é o Maranhão, onde apenas 20,8% são registrados. "Ainda há um grande contingente de trabalhadores sem regulação e que pode estar trabalhando jornadas insuportáveis", lembra Nogueira.

Mulheres
O mercado de trabalho mais feminino, tendência da última década, também colaborou para reduzir a jornada. A diferença da participação entre homens e mulheres em postos de trabalho caiu de 20 pontos porcentuais para apenas seis em dez anos. "As mulheres costumam trabalhar menos horas do que os homens e a inclusão delas deve ter reduzido a média de horas semanais", afirmou Regina Madalozzo, professora do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper).

No Piauí, Paraíba e Ceará, a mão de obra feminina já supera a masculina. Os outros Estados do Nordeste também lideram a porcentagem de mulheres no mercado. "Isso ocorreu por causa da melhora econômica da região, urbanização e expansão dos serviços e comércio", analisa Nogueira. O professor lembra que essa redução da diferença entre gêneros não reflete uma igualdade salarial. Levantamento de maio do ano passado, também do IBGE, mostrou que o salário médio da mulher é 20% menor que o do homem.

Qualificação
Para o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, outro fator que pode ter influenciado a redução da jornada de trabalho foi o aumento da quantidade de pessoas que divide o dia entre trabalho e estudos, de olho numa melhor qualificação. "Pode ser que essas pessoas tenham diminuído um pouco a carga de trabalho para poder ter mais tempo de estudo."

A formalização e o aumento da idade média dos trabalhadores deverá se acentuar nas próximas décadas. A perspectiva do País de se tornar a quinta maior economia do mundo até 2015 deverá exigir, sobretudo, um aumento da capacitação dos trabalhadores. "A palavra mais importante nos próximos anos será capacitação. O País vai precisar de pessoas capacitadas e qualificadas", afirma Regina.
'Workaholics' se concentram no Centro-Oeste

São Paulo pode até levar a fama, mas os paulistas não são os mais "workaholics" do País. Quem pass
a mais horas por dia trabalhando são os moradores do Centro-Oeste. Em Goiás, que ocupa o primeiro lugar, 32,6% das pessoas ocupadas trabalham mais de 45 horas por semana, ante 28,4% em São Paulo. Em segundo e terceiro lugar, estão Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, respectivamente.

A explicação, segundo especialistas, é a alta concentração de pessoas trabalhando em zonas rurais e a falta de sindicatos fortes e estruturados, já que a formalização do mercado de trabalho nesses locais é mais recente
.

As regiões Norte e Nordeste, por sua vez, são onde proporcionalmente há mais gente trabalhando menos de 14 horas por semana. O líder é o Maranhão, com 11,8% dos trabalhadores, seguido por Acre, Pará, Amazonas, Bahia e Pernambuco. Os motivos são o trabalho temporário em atividades extrativistas ou na agricultura de subsistência.

Outra prova da conexão entre formalização do mercado e jornada semanal média são os Estados que mais têm trabalhadores que passam de 40h a 44h semanais no serviço - a conexão entre os dois rankings é nítida. São Paulo e Santa Catarina, líderes na proporção de carteira assinada, ficam em 4º e 1º lugar na lista de Estados com mais gente trabalhando essa quantidade de horas por semana.


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Idosos na força de trabalho sobem 65% em dez anos

Outro recorte nos dados do Censo 2010 mostra forte tendência de envelhecimento do trabalhador brasileiro na última década. A quantidade de pessoas com mais de 60 anos que está no mercado de trabalho cresceu 65% desde 2000. O número pulou de 3,3 milhões para 5,4 milhões em 2010.
A reportagem é de Luiz Guilherme Gerbelli e Rodrigo Burgarelli e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 16-01-2012. http://www.ihu.unisinos.br/noticias/505776-idososnaforcadetrabalhosobem65emdezanos 

O crescimento foi registrado em todas as regiões. Prova disso é que, entre os Estados que lideram o ranking, estão locais tão distantes quanto
Distrito Federal (151%), Amapá (135%) e Santa Catarina (104,7%).

Traduzidos na realidade, os números indicam tanto um aumento absoluto na média de idade da população quanto a disposição dos brasileiros em trabalhar por mais tempo, mesmo depois de se aposentar. As regiões Norte e Centro-Oeste, locais de forte crescimento econômico nos últimos anos e recente formalização do mercado de trabalho, concentram a maior proporção de trabalhadores acima de 60 anos na sua força de trabalho.

Nessas duas regiões, quase 30% da população economicamente ativa tem mais de 60 anos. Já os Estados do Nordeste, com população mais jovem e baixa escolaridade nas gerações mais velhas, registram média menor que 25%
. Pesa também o fato de a qualidade de vida do Brasil aumentar gradativamente, ajudando a elevar a expectativa de vida do brasileiro, hoje em 73,5 anos, segundo a última medição do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Motivos
São dois os principais motivos que servem de estímulo para os trabalhadores com mais de 60 anos voltarem ao mercado de trabalho: complemento da renda e satisfação pessoal.

A professora aposentada Maria Gisella Puglisi, de 73 anos, ficou 18 anos sem exercer atividade remunerada e "depois que os filhos casaram" voltou a procurar emprego. Hoje, já tem três netos. "Eu sou dada a mudanças, gosto de me manter ativa", diz ela, que há oito anos trabalha numa unidade da Pizza Hut. "Cada dia tem uma novidade. Aqui sempre tem novidade, trabalho com muitos jovens", enfatiza. "Eu falo sempre para eles (os jovens) serem bons profissionais, porque é muito importante. Eles estão construindo o alicerce da carreira", diz Maria Gisella. Ela garante que o ritmo do trabalho não a assusta - são seis dias por semana, das 11 às 17 horas.

Além do salário complementar, a professora aposentada destaca os benefícios. "Além da ajuda (financeira), tem também o seguro saúde, o que acho fantástico." Desde 2003, a empresa contrata pessoas com mais de 60 anos e essa faixa etária já responde por 10% dos 700 funcionários da rede. O trabalho inicial é no atendimento, mas há casos de profissionais que já chegaram a gerente.

A presença dos trabalhadores com mais de 60 anos no mercado também é reflexo da falta da mão de obra qualificada. Segundo o diretor de Operações da consultoria de RH Human Brasil, Fernando Montero da Costa, com o aquecimento do mercado de trabalho, as empresas estão tendo de recorrer aos profissionais mais velhos para preencher vagas de nível técnico mais alto.

"Existia no mercado uma onda dizendo que as pessoas mais jovens têm mais energia, disposição. Depois da crise econômica, houve uma mudança e passou-se a valorizar também a experiência", diz. "Os selecionadores começaram a enxergar as pessoas mais seniores e também uma distribuição maior entre jovens e seniores nas equipes", diz Costa.

O aquecimento do mercado de trabalho foi importante para compensar a queda no número de empregadores, como indica o último Censo. Enquanto no início da década 2,9% dos brasileiros empregavam outros trabalhadores, hoje esse porcentual caiu para 1,9%. Isso significa que houve maior concentração no tamanho das empresas.

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