01/01/2012 - O xerife da Conab No início de outubro, uma reunião da Associação Internacional das Justiças Militares levou a Istambul, na Turquia, o advogado gaúcho João Carlos Bona Garcia. Lá, o então diretor financeiro da entidade recebeu uma ligação de um conterrâneo. Era o ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho, convidando-o para ocupar a diretoria financeira da COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB), principal órgão de comercialização e de controle de estoques agrícolas do governo federal. "É aquela que andou saindo no noticiário?", perguntou Rona Garcia, numa alusão à crise que levou à demissão do antigo ocupante da cadeira, Oscar Jucá Neto, em julho, pivô das denúncias que provocaram a demissão do ministro Wagner Rossi, antecessor de Mendes Ribeiro. O ministro assentiu e Bona Garcia pediu um tempo para pensar até que retornasse ao Brasil e se encontrasse com o conterrâneo. Ao aceitar a proposta, estabeleceu uma condição: "Tenho uma data para entrar e outra para sair", disse Bona Garcia à DINHEIRO RURAL. "Ainda não sei quando, mas tenho uma data."Aos 65 anos, dr. Bona, como é mais conhecido, assumiu a diretoria financeira da CONAB em 7 de dezembro. Já o dia de sua saída dependerá da rapidez com que cumprir a missão atribuída por Mendes Ribeiro ao lhe confiai- o cargo. "Ele é de minha estrita confiança e agirá para resolver todos os problemas da CONAB", disse o ministro. Os problemas não são poucos. A estatal coleciona dívidas avaliadas em R$ 2 bilhões e responde a nove mil ações trabalhistas na Justiça, em sua maioria movidas por ex-funcionários demitidos no governo Fernando Collor, em 1991. Como parte da tarefa de colocar as finanças da estatal no azul está um mapeamento de todos os bens, incluindo 179 armazéns espalhados pelo Brasil, máquinas e caminhões utilizados na coleta e distribuição de alimentos país afora. Não está descartada a venda desses ativos para reequilibrar as contas da CONAB, que neste ano está administrando um orçamento de RS 2,96 bilhões. "A CONAB é uma companhia viável, mas que precisa ser fortalecida, remodelada e oxigenada", afirmou Bona Garcia. Juiz militar aposentado e ex-diretor financeiro do Banrisul, o banco estadual do governo do Rio Grande do Sul, Bona Garcia tem uma trajetória que se confunde com a da presidenta Dilma. Na década de 1960, militou contra a ditadura na Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Assim como Dilma, foi preso e torturado em 1970, antes de ser libertado no início de 1971 e exilado no Chile. Como Mendes Ribeiro, Bona Garcia se aproximou de Dilma nos círculos da política gaúcha nos anos 1980 e 1990. Ela no PDT e ele no PMDB, partido ao qual é filiado até hoje. Após a queda de Jucá Neto, Bona Garcia foi convocado para auxiliá-la na "faxina" promovida em áreas problemáticas do governo. Apesar de ser associado a termos como "xerife" e "ordem", o novo diretor prefere a distância dos rótulos. - "Aqui fazemos um trabalho coletivo e as decisões são de diretoria", afirmou. Apesar do discurso conciliador, Bona Garcia encontra a CONAB ainda na ressaca da crise de julho. Um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU), divulgado antes de sua posse, apontou uma série de irregularidades - entre elas pagamentos de R$ 6,5 milhões a empresas em nome de "laranjas" e prejuízo de R$ 20,5 milhões em 2010. No Prémio para Escoamento da Produção (PEP), que garante ao produtor o preço mínimo da produção. Para complicar, em 20 de dezembro, o presidente da CONAB, EVANGEVALDO MOREIRA DOS SANTOS, foi acusado de fraudar o exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Responsável pela administração dos estoques reguladores, a CONAB tem como tarefa enxugar o mercado em momento de excesso de produção e liberar quando há escassez. Uma das missões imediatas de Bona Garcia é obter a aprovação do contrato de gestão com o Ministério da Agricultura. Pelo documento, aCONAB começa a ter metas de desempenho. "A CONAB passa a ser obrigada a ter uma visão estratégica", disse. "Não se pode embarcar num voo cego." Ele também estabeleceu como prioridade renovar e valorizar o quadro de funcionários, cuja idade média é de 58 anos. Ou seja, 80% de seus 4.460 funcionários estão aptos a se aposentar. Bona Garcia vai pedir ao Executivo a abertura de um concurso público para rejuvenescer a estatal. Seus planos já repercutem entre os funcionários. Ao caminhar no jardim da CONAB com a DINHEIRO RURAL, um funcionário o abordou para dar-lhe apoio. "Muito prazer! Deixei um recado no Facebook do senhor!", disse. E se despediu. |
sexta-feira, 20 de janeiro de 2012
O xerife da Conab
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